A Petrobras foi o centro das atenções do mercado nesta sexta-feira, 8, um dia após a publicação de seu balanço financeiro de 2023. Apesar de a estatal ter reportado o segundo maior lucro da sua história (R$ 124,6 bilhões), ainda que em queda de 33,8% frente ao recorde de 2022, a frustração dos investidores em relação ao corte de dividendos extraordinários dominou a cena e pesou sobre os ativos, levando a baixa de 10,57% (ON) e 10,37% (PN). O mercado esperava algo entre US$ 3 bilhões e US$ 9 bilhões de dividendos extras.
A decisão da maioria do conselho de administração da estatal de mandar o lucro remanescente do quarto trimestre para uma reserva de remuneração de capital, e não para dividendos extraordinários, fez com que a empresa perdesse R$ 56 bilhões em valor de mercado em um único dia. No pior momento, a perda chegou a mais de R$ 70 bilhões.
Mesmo após o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, esclarecer aos acionistas que os dividendos extraordinários retidos não serão usados para investimentos ou para pagar dívidas, o temor do mercado sobre o risco da alocação do capital e a possível influência do governo nas decisões não se dissiparam.
“Essa novela (dos dividendos) continua, não acabou”, disse o executivo, indicando que a reserva será usada apenas para pagamento de dividendos e que isso pode ocorrer “a qualquer momento”.
Somado a isso, a Petrobras também teve as recomendações de compra alteradas por pelo menos três bancos: Bank of America (BofA), Bradesco BBI e Santander, que rebaixaram as ações para neutra. Agora, a estatal passa a valer R$ 477,5 bilhões, apagando todos os seis recordes que havia alcançado em fevereiro.
“O dia foi bastante agitado, com o Ibovespa já iniciando em queda de quase 2% e cedendo 2 mil pontos. Mas conseguiu reduzir as perdas ao longo da tarde, ficando em torno de 1%. Com o movimento negativo gerado em Petrobras, outra estatal importante, Banco do Brasil, também acabou pagando o pato”, diz Nilson Marcelo, analista quantitativo da CM Capital, referindo-se ao temor de ingerência do governo em empresas de economia mista. O Banco do Brasil (ON) fechou em baixa de 0,98%.
Para Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, há o temor no mercado sobre a retenção de caixa na companhia que poderia ser distribuído aos acionistas. “Fica a dúvida se pode gerar o retorno mínimo requerido pelos investidores, ou se haverá destruição de valor para os acionistas”, afirma.
A percepção de risco também aumentou devido a novas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sentido de transformar aumento de arrecadação em mais gasto público. Nesse cenário, o dólar à vista subiu 0,96%, a R$ 4,9811, enquanto os juros futuros mostraram elevação, com destaque para os vencimentos de janeiro de 2027 e de 2029.
Com o tombo da Petrobras, o mercado optou por uma troca de posição dentro do mesmo setor e voltou sua atenção compradora para as petrolíferas juniores. Enquanto a Petrobras dominou a ponta negativa do índice, as três petroleiras menores marcaram presença no campo de maiores altas do Ibovespa: 3R Petroleum subiu 4,28%, seguida de PetroReconcavo (+3,14%) e Prio (+3,11%). O desempenho das juniores também destoa da baixa de mais de 1% dos contratos futuros do petróleo./Com Caroline Aragaki, Amélia Alves e Luís Eduardo Leal