A Toyota está ficando para trás na corrida dos carros elétricos. Terá tempo de se recuperar?


Concorrentes como Tesla e BYD avançam no mercado com a lentidão da montadora japonesa para atender à demanda de consumidores e às pressões de governos

Por Jack Ewing e Ben Dooley
Atualização:

The New York Times - Rachel Culin se considerava uma fiel cliente da Toyota, uma das milhões de pessoas que apreciavam os híbridos da empresa, confiáveis e eficientes em termos de combustível. Mas, recentemente, ela comprou um Chevrolet Bolt elétrico para substituir seu Toyota Prius, porque a montadora japonesa tem sido muito lenta na venda de veículos elétricos.

“Onde estão as opções para as pessoas que amam a Toyota?” disse Culin, moradora de Mesa, Arizona. “É realmente triste.”

A Toyota, que já foi a marca líder entre os proprietários de carros com consciência ambiental, não conseguiu acompanhar as mudanças nas preferências dos consumidores e a pressão dos governos de todo o mundo para reduzir consideravelmente a queima de combustíveis fósseis, a principal causa das mudanças climáticas.

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Linha de montagem do Prius na fábrica de Tsutsumi, no Japão  Foto: Toru Hanai/Reuters

A empresa e o setor automobilístico japonês estão enfrentando o maior desafio comercial que já enfrentaram desde que se tornaram gigantes globais na década de 1980. A forma como responderão poderá determinar se permanecerão ou não no topo do setor automobilístico.

A Toyota, a maior montadora do mundo, é o núcleo de poder do grande setor automotivo do Japão. Ela tem alianças com montadoras menores, como a Subaru e a Mazda, e exerce enorme influência sobre autoridades governamentais e grupos do setor. A empresa também é uma grande empregadora nos Estados Unidos, com quase 30 mil funcionários em Kentucky, Indiana, Texas e outros Estados.

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Suas decisões comerciais podem ter implicações econômicas e ambientais de longo alcance. A Toyota, sem dúvida, fez mais para melhorar a eficiência do combustível e reduzir as emissões do que qualquer outra montadora estabelecida, sendo pioneira em carros híbridos, unindo um motor a gasolina com uma bateria e um motor elétrico. Mas, tendo apostado tanto nos híbridos, a empresa avançou lentamente para carros puramente elétricos, que não produzem emissões de escapamento.

Isso abriu espaço para a Tesla e a BYD, uma montadora chinesa, desafiarem o domínio da Toyota, oferecendo carros elétricos a bateria atraentes e acessíveis. A Toyota perdeu participação no mercado dos Estados Unidos e suas vendas na China caíram.

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Repeteco

As montadoras japonesas já passaram por isso antes. Mas, da última vez, eles eram os insurgentes.

Na década de 1970, com a alta dos preços dos combustíveis, os americanos começaram a substituir os carros que consumiam muita gasolina por modelos japoneses pequenos e econômicos, desafiando o domínio da General Motors, Ford Motor e Chrysler.

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Os métodos de fabricação da Toyota se tornaram sinônimo de eficiência de fabricação, e muitas fábricas adotaram o que ficou conhecido como “jeito Toyota” ou “método Toyota”.

Hoje, é a Toyota que está aprendendo com os rivais. A empresa está adotando técnicas da Tesla. Na China, ela se uniu à BYD na esperança de absorver sua tecnologia de motor elétrico e bateria.

“O estágio da batalha mudou”, disse Sanshiro Fukao, pesquisador sênior do Itochu Research Institute, e “a indústria automobilística japonesa, em particular, tem sido muito lenta para agir”.

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A Toyota, talvez, não consiga mais dar um tempo.

Durante a pandemia, o mercado automotivo global ultrapassou um marco que pegou as principais montadoras do mundo de surpresa. Em 2022, as vendas de veículos elétricos aumentaram em quase 70%, chegando a 7,7 milhões, superando as de veículos híbridos pela primeira vez, já que a demanda disparou na China, de acordo com a IDTechEx, uma consultoria de pesquisa de mercado.

A Toyota continua altamente lucrativa, com lucro de US$ 8,9 bilhões no trimestre encerrado em 30 de junho. No ano passado, ela vendeu 10,5 milhões de veículos, oito vezes mais do que a Tesla. Mas menos de 1% dos carros vendidos eram totalmente elétricos.

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Carro bZ4X, da Toyota, é o único modelo elétrico da marca japonesa à venda nos Estados Unidos Foto: Kiyoshi Ota/Bloomberg

A ausência de veículos elétricos tem sido especialmente cara na China, o maior mercado de automóveis do mundo. Em julho, as vendas da Toyota na China caíram mais de 15% em relação ao ano anterior.

Nos Estados Unidos, as vendas da Toyota aumentaram, mas menos do que as de outras montadoras. De junho a agosto, a participação da empresa no mercado de carros de passeio caiu de 15,1% no ano anterior para 13,8%, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Cox Automotive.

A Toyota reconheceu tacitamente que ficou muito atrás da Tesla e da BYD. A decisão tomada em janeiro pelo herdeiro da Toyota, Akio Toyoda, de renunciar ao cargo de CEO foi amplamente vista como um reconhecimento de que a empresa precisava de uma nova liderança para navegar na transformação do setor automotivo.

O senso de urgência foi agravado pelo salão do automóvel de Xangai em abril, disse Tatsuya Otani, um jornalista que passou décadas fazendo reportagens sobre o setor automotivo japonês.

Os veículos chineses presentes no salão apresentavam controles a bordo e opções de entretenimento que os faziam parecer mais com um iPhone sobre rodas do que com carros tradicionais. Os executivos japoneses ficaram surpresos ao ver o progresso que seus rivais chineses haviam feito, disse Otani.

A Toyota se recusou a disponibilizar executivos para entrevistas.

Carros elétricos da Toyota

O único Toyota totalmente elétrico vendido nos Estados Unidos é o bZ4X, um veículo utilitário esportivo que passou por um recall no ano passado porque parafusos defeituosos poderiam fazer com que as rodas caíssem - um passo em falso embaraçoso. Na China, a empresa também oferece um sedã elétrico, o BZ3. (A divisão Lexus, da Toyota, vende um modelo totalmente elétrico nos Estados Unidos e dois em alguns países).

Ao retornar de Xangai, os executivos da Toyota ordenaram que os funcionários fizessem uma apresentação às pressas sobre os planos da empresa para a produção de veículos elétricos. A Toyota compartilhou o plano menos de duas semanas antes da reunião anual da empresa, na qual os acionistas, irritados com o lento progresso dos carros movidos a bateria, propuseram uma resolução que pressionava a empresa a divulgar de forma mais clara suas metas em relação às mudanças climáticas.

A medida não foi aprovada, mas a rara expressão de discordância foi uma indicação de como a Toyota, que já foi elogiada como um modelo de tecnologia limpa, caiu em desgraça.

Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto

Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group

No mercado doméstico da Toyota, os consumidores demonstraram pouco apetite por carros elétricos a bateria, e o governo tem relutado em pressionar agressivamente por mudanças em um setor lucrativo.

Isso pode ser um problema para as montadoras japonesas, que tradicionalmente aprimoram sua tecnologia no país antes de comercializá-la no exterior, disse Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group, que trabalhou com o Ministério do Comércio do Japão para moldar a política nacional de veículos elétricos.

“Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto”, disse ele.

Avanço das chinesas

A BYD abriu dez concessionárias no Japão e planeja ter 100 até o final de 2025. A empresa chegou ao ponto de lançar um vídeo em agosto conclamando os fabricantes de automóveis chineses a “demolir as velhas lendas”, o que foi amplamente interpretado como uma referência aos fabricantes de automóveis japoneses e ocidentais.

Em um domingo recente, compradores em potencial esperavam pacientemente para dar uma volta com um SUV da BYD no bairro de Ikebukuro, em Tóquio. Os vendedores foram rápidos em apontar a elegibilidade do carro para milhares de dólares em subsídios do Ministério do Comércio do Japão, que alocou US$ 90 bilhões para promover carros elétricos a bateria.

Dois showrooms da Toyota nas proximidades estavam praticamente vazios.

Os clientes estão “satisfeitos” com as opções atuais, disse Masaki Nagasawa, vice-gerente de uma concessionária Toyota em Tóquio. “Para as pessoas que estão hesitantes, os subsídios são um incentivo para a compra”, mas a maioria dos clientes está preocupada com a autonomia dos carros elétricos e prefere os híbridos, disse ele.

A Toyota disse que está trabalhando em novas técnicas de produção e tecnologia de bateria inovadora que aumentariam a autonomia de seus carros e reduziriam o tempo necessário para carregá-los. A empresa afirmou que sua linha de produtos incluirá 10 novos veículos totalmente elétricos até 2026 e que seu objetivo será vender 3,5 milhões deles anualmente até 2030.

Marca de celulares BlackBerry perdeu liderança de mercado com a chegada do iPhone e de outros smartphones com tela sensível ao toque Foto: AFP

Em discurso na quarta-feira, em Tóquio, após a apresentação de um novo veículo híbrido plug-in de luxo, Simon Humphries, responsável pela marca e pelo design e diretor do conselho da Toyota, disse que a empresa estava lançando novas opções elétricas “mês a mês, ano a ano”.

Mas, acrescentou ele, embora haja uma “urgência” em introduzir novos carros movidos a bateria, “há urgência em todos os segmentos”.

As empresas de veículos elétricos estão se movendo rapidamente.

A Tesla está no caminho certo para vender quase 2 milhões de carros elétricos este ano e está construindo uma fábrica no México, onde se espera que seja produzido um carro vendido por cerca de US$ 25 mil. Nos Estados Unidos, o sedã Modelo 3 da empresa já é vendido por aproximadamente o mesmo preço de um Toyota Camry equipado de forma comparável, depois que os incentivos federais e estaduais são levados em conta.

A BYD está se expandindo rapidamente fora da China, inclusive na Europa, América Latina e Sudeste Asiático. Sua extensa linha de elétricos inclui modelos mais baratos do que os sedãs mais acessíveis da Toyota e um gigantesco SUV de luxo que é vendido por cerca de US$ 150 mil.

Assim como a Apple, o Google e a Samsung rapidamente desbancaram a Nokia e a BlackBerry no setor de telefonia móvel, dizem alguns analistas, a Tesla e a BYD podem estar tão à frente na fabricação de carros elétricos até 2026 que a Toyota poderá ter dificuldades para alcançá-las.

Mas as autoridades japonesas são mais otimistas.

As pessoas têm carros por mais tempo, portanto a transição não será tão rápida quanto a dos celulares, disse Naoki Kobayashi, vice-diretor da divisão de automóveis do Ministério do Comércio.

Ele reconhece que a Toyota enfrenta um grande desafio, mas, acrescentou, “ao contrário dos smartphones, ainda temos tempo”. / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

The New York Times - Rachel Culin se considerava uma fiel cliente da Toyota, uma das milhões de pessoas que apreciavam os híbridos da empresa, confiáveis e eficientes em termos de combustível. Mas, recentemente, ela comprou um Chevrolet Bolt elétrico para substituir seu Toyota Prius, porque a montadora japonesa tem sido muito lenta na venda de veículos elétricos.

“Onde estão as opções para as pessoas que amam a Toyota?” disse Culin, moradora de Mesa, Arizona. “É realmente triste.”

A Toyota, que já foi a marca líder entre os proprietários de carros com consciência ambiental, não conseguiu acompanhar as mudanças nas preferências dos consumidores e a pressão dos governos de todo o mundo para reduzir consideravelmente a queima de combustíveis fósseis, a principal causa das mudanças climáticas.

Linha de montagem do Prius na fábrica de Tsutsumi, no Japão  Foto: Toru Hanai/Reuters

A empresa e o setor automobilístico japonês estão enfrentando o maior desafio comercial que já enfrentaram desde que se tornaram gigantes globais na década de 1980. A forma como responderão poderá determinar se permanecerão ou não no topo do setor automobilístico.

A Toyota, a maior montadora do mundo, é o núcleo de poder do grande setor automotivo do Japão. Ela tem alianças com montadoras menores, como a Subaru e a Mazda, e exerce enorme influência sobre autoridades governamentais e grupos do setor. A empresa também é uma grande empregadora nos Estados Unidos, com quase 30 mil funcionários em Kentucky, Indiana, Texas e outros Estados.

Suas decisões comerciais podem ter implicações econômicas e ambientais de longo alcance. A Toyota, sem dúvida, fez mais para melhorar a eficiência do combustível e reduzir as emissões do que qualquer outra montadora estabelecida, sendo pioneira em carros híbridos, unindo um motor a gasolina com uma bateria e um motor elétrico. Mas, tendo apostado tanto nos híbridos, a empresa avançou lentamente para carros puramente elétricos, que não produzem emissões de escapamento.

Isso abriu espaço para a Tesla e a BYD, uma montadora chinesa, desafiarem o domínio da Toyota, oferecendo carros elétricos a bateria atraentes e acessíveis. A Toyota perdeu participação no mercado dos Estados Unidos e suas vendas na China caíram.

Repeteco

As montadoras japonesas já passaram por isso antes. Mas, da última vez, eles eram os insurgentes.

Na década de 1970, com a alta dos preços dos combustíveis, os americanos começaram a substituir os carros que consumiam muita gasolina por modelos japoneses pequenos e econômicos, desafiando o domínio da General Motors, Ford Motor e Chrysler.

Os métodos de fabricação da Toyota se tornaram sinônimo de eficiência de fabricação, e muitas fábricas adotaram o que ficou conhecido como “jeito Toyota” ou “método Toyota”.

Hoje, é a Toyota que está aprendendo com os rivais. A empresa está adotando técnicas da Tesla. Na China, ela se uniu à BYD na esperança de absorver sua tecnologia de motor elétrico e bateria.

“O estágio da batalha mudou”, disse Sanshiro Fukao, pesquisador sênior do Itochu Research Institute, e “a indústria automobilística japonesa, em particular, tem sido muito lenta para agir”.

A Toyota, talvez, não consiga mais dar um tempo.

Durante a pandemia, o mercado automotivo global ultrapassou um marco que pegou as principais montadoras do mundo de surpresa. Em 2022, as vendas de veículos elétricos aumentaram em quase 70%, chegando a 7,7 milhões, superando as de veículos híbridos pela primeira vez, já que a demanda disparou na China, de acordo com a IDTechEx, uma consultoria de pesquisa de mercado.

A Toyota continua altamente lucrativa, com lucro de US$ 8,9 bilhões no trimestre encerrado em 30 de junho. No ano passado, ela vendeu 10,5 milhões de veículos, oito vezes mais do que a Tesla. Mas menos de 1% dos carros vendidos eram totalmente elétricos.

Carro bZ4X, da Toyota, é o único modelo elétrico da marca japonesa à venda nos Estados Unidos Foto: Kiyoshi Ota/Bloomberg

A ausência de veículos elétricos tem sido especialmente cara na China, o maior mercado de automóveis do mundo. Em julho, as vendas da Toyota na China caíram mais de 15% em relação ao ano anterior.

Nos Estados Unidos, as vendas da Toyota aumentaram, mas menos do que as de outras montadoras. De junho a agosto, a participação da empresa no mercado de carros de passeio caiu de 15,1% no ano anterior para 13,8%, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Cox Automotive.

A Toyota reconheceu tacitamente que ficou muito atrás da Tesla e da BYD. A decisão tomada em janeiro pelo herdeiro da Toyota, Akio Toyoda, de renunciar ao cargo de CEO foi amplamente vista como um reconhecimento de que a empresa precisava de uma nova liderança para navegar na transformação do setor automotivo.

O senso de urgência foi agravado pelo salão do automóvel de Xangai em abril, disse Tatsuya Otani, um jornalista que passou décadas fazendo reportagens sobre o setor automotivo japonês.

Os veículos chineses presentes no salão apresentavam controles a bordo e opções de entretenimento que os faziam parecer mais com um iPhone sobre rodas do que com carros tradicionais. Os executivos japoneses ficaram surpresos ao ver o progresso que seus rivais chineses haviam feito, disse Otani.

A Toyota se recusou a disponibilizar executivos para entrevistas.

Carros elétricos da Toyota

O único Toyota totalmente elétrico vendido nos Estados Unidos é o bZ4X, um veículo utilitário esportivo que passou por um recall no ano passado porque parafusos defeituosos poderiam fazer com que as rodas caíssem - um passo em falso embaraçoso. Na China, a empresa também oferece um sedã elétrico, o BZ3. (A divisão Lexus, da Toyota, vende um modelo totalmente elétrico nos Estados Unidos e dois em alguns países).

Ao retornar de Xangai, os executivos da Toyota ordenaram que os funcionários fizessem uma apresentação às pressas sobre os planos da empresa para a produção de veículos elétricos. A Toyota compartilhou o plano menos de duas semanas antes da reunião anual da empresa, na qual os acionistas, irritados com o lento progresso dos carros movidos a bateria, propuseram uma resolução que pressionava a empresa a divulgar de forma mais clara suas metas em relação às mudanças climáticas.

A medida não foi aprovada, mas a rara expressão de discordância foi uma indicação de como a Toyota, que já foi elogiada como um modelo de tecnologia limpa, caiu em desgraça.

Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto

Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group

No mercado doméstico da Toyota, os consumidores demonstraram pouco apetite por carros elétricos a bateria, e o governo tem relutado em pressionar agressivamente por mudanças em um setor lucrativo.

Isso pode ser um problema para as montadoras japonesas, que tradicionalmente aprimoram sua tecnologia no país antes de comercializá-la no exterior, disse Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group, que trabalhou com o Ministério do Comércio do Japão para moldar a política nacional de veículos elétricos.

“Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto”, disse ele.

Avanço das chinesas

A BYD abriu dez concessionárias no Japão e planeja ter 100 até o final de 2025. A empresa chegou ao ponto de lançar um vídeo em agosto conclamando os fabricantes de automóveis chineses a “demolir as velhas lendas”, o que foi amplamente interpretado como uma referência aos fabricantes de automóveis japoneses e ocidentais.

Em um domingo recente, compradores em potencial esperavam pacientemente para dar uma volta com um SUV da BYD no bairro de Ikebukuro, em Tóquio. Os vendedores foram rápidos em apontar a elegibilidade do carro para milhares de dólares em subsídios do Ministério do Comércio do Japão, que alocou US$ 90 bilhões para promover carros elétricos a bateria.

Dois showrooms da Toyota nas proximidades estavam praticamente vazios.

Os clientes estão “satisfeitos” com as opções atuais, disse Masaki Nagasawa, vice-gerente de uma concessionária Toyota em Tóquio. “Para as pessoas que estão hesitantes, os subsídios são um incentivo para a compra”, mas a maioria dos clientes está preocupada com a autonomia dos carros elétricos e prefere os híbridos, disse ele.

A Toyota disse que está trabalhando em novas técnicas de produção e tecnologia de bateria inovadora que aumentariam a autonomia de seus carros e reduziriam o tempo necessário para carregá-los. A empresa afirmou que sua linha de produtos incluirá 10 novos veículos totalmente elétricos até 2026 e que seu objetivo será vender 3,5 milhões deles anualmente até 2030.

Marca de celulares BlackBerry perdeu liderança de mercado com a chegada do iPhone e de outros smartphones com tela sensível ao toque Foto: AFP

Em discurso na quarta-feira, em Tóquio, após a apresentação de um novo veículo híbrido plug-in de luxo, Simon Humphries, responsável pela marca e pelo design e diretor do conselho da Toyota, disse que a empresa estava lançando novas opções elétricas “mês a mês, ano a ano”.

Mas, acrescentou ele, embora haja uma “urgência” em introduzir novos carros movidos a bateria, “há urgência em todos os segmentos”.

As empresas de veículos elétricos estão se movendo rapidamente.

A Tesla está no caminho certo para vender quase 2 milhões de carros elétricos este ano e está construindo uma fábrica no México, onde se espera que seja produzido um carro vendido por cerca de US$ 25 mil. Nos Estados Unidos, o sedã Modelo 3 da empresa já é vendido por aproximadamente o mesmo preço de um Toyota Camry equipado de forma comparável, depois que os incentivos federais e estaduais são levados em conta.

A BYD está se expandindo rapidamente fora da China, inclusive na Europa, América Latina e Sudeste Asiático. Sua extensa linha de elétricos inclui modelos mais baratos do que os sedãs mais acessíveis da Toyota e um gigantesco SUV de luxo que é vendido por cerca de US$ 150 mil.

Assim como a Apple, o Google e a Samsung rapidamente desbancaram a Nokia e a BlackBerry no setor de telefonia móvel, dizem alguns analistas, a Tesla e a BYD podem estar tão à frente na fabricação de carros elétricos até 2026 que a Toyota poderá ter dificuldades para alcançá-las.

Mas as autoridades japonesas são mais otimistas.

As pessoas têm carros por mais tempo, portanto a transição não será tão rápida quanto a dos celulares, disse Naoki Kobayashi, vice-diretor da divisão de automóveis do Ministério do Comércio.

Ele reconhece que a Toyota enfrenta um grande desafio, mas, acrescentou, “ao contrário dos smartphones, ainda temos tempo”. / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

The New York Times - Rachel Culin se considerava uma fiel cliente da Toyota, uma das milhões de pessoas que apreciavam os híbridos da empresa, confiáveis e eficientes em termos de combustível. Mas, recentemente, ela comprou um Chevrolet Bolt elétrico para substituir seu Toyota Prius, porque a montadora japonesa tem sido muito lenta na venda de veículos elétricos.

“Onde estão as opções para as pessoas que amam a Toyota?” disse Culin, moradora de Mesa, Arizona. “É realmente triste.”

A Toyota, que já foi a marca líder entre os proprietários de carros com consciência ambiental, não conseguiu acompanhar as mudanças nas preferências dos consumidores e a pressão dos governos de todo o mundo para reduzir consideravelmente a queima de combustíveis fósseis, a principal causa das mudanças climáticas.

Linha de montagem do Prius na fábrica de Tsutsumi, no Japão  Foto: Toru Hanai/Reuters

A empresa e o setor automobilístico japonês estão enfrentando o maior desafio comercial que já enfrentaram desde que se tornaram gigantes globais na década de 1980. A forma como responderão poderá determinar se permanecerão ou não no topo do setor automobilístico.

A Toyota, a maior montadora do mundo, é o núcleo de poder do grande setor automotivo do Japão. Ela tem alianças com montadoras menores, como a Subaru e a Mazda, e exerce enorme influência sobre autoridades governamentais e grupos do setor. A empresa também é uma grande empregadora nos Estados Unidos, com quase 30 mil funcionários em Kentucky, Indiana, Texas e outros Estados.

Suas decisões comerciais podem ter implicações econômicas e ambientais de longo alcance. A Toyota, sem dúvida, fez mais para melhorar a eficiência do combustível e reduzir as emissões do que qualquer outra montadora estabelecida, sendo pioneira em carros híbridos, unindo um motor a gasolina com uma bateria e um motor elétrico. Mas, tendo apostado tanto nos híbridos, a empresa avançou lentamente para carros puramente elétricos, que não produzem emissões de escapamento.

Isso abriu espaço para a Tesla e a BYD, uma montadora chinesa, desafiarem o domínio da Toyota, oferecendo carros elétricos a bateria atraentes e acessíveis. A Toyota perdeu participação no mercado dos Estados Unidos e suas vendas na China caíram.

Repeteco

As montadoras japonesas já passaram por isso antes. Mas, da última vez, eles eram os insurgentes.

Na década de 1970, com a alta dos preços dos combustíveis, os americanos começaram a substituir os carros que consumiam muita gasolina por modelos japoneses pequenos e econômicos, desafiando o domínio da General Motors, Ford Motor e Chrysler.

Os métodos de fabricação da Toyota se tornaram sinônimo de eficiência de fabricação, e muitas fábricas adotaram o que ficou conhecido como “jeito Toyota” ou “método Toyota”.

Hoje, é a Toyota que está aprendendo com os rivais. A empresa está adotando técnicas da Tesla. Na China, ela se uniu à BYD na esperança de absorver sua tecnologia de motor elétrico e bateria.

“O estágio da batalha mudou”, disse Sanshiro Fukao, pesquisador sênior do Itochu Research Institute, e “a indústria automobilística japonesa, em particular, tem sido muito lenta para agir”.

A Toyota, talvez, não consiga mais dar um tempo.

Durante a pandemia, o mercado automotivo global ultrapassou um marco que pegou as principais montadoras do mundo de surpresa. Em 2022, as vendas de veículos elétricos aumentaram em quase 70%, chegando a 7,7 milhões, superando as de veículos híbridos pela primeira vez, já que a demanda disparou na China, de acordo com a IDTechEx, uma consultoria de pesquisa de mercado.

A Toyota continua altamente lucrativa, com lucro de US$ 8,9 bilhões no trimestre encerrado em 30 de junho. No ano passado, ela vendeu 10,5 milhões de veículos, oito vezes mais do que a Tesla. Mas menos de 1% dos carros vendidos eram totalmente elétricos.

Carro bZ4X, da Toyota, é o único modelo elétrico da marca japonesa à venda nos Estados Unidos Foto: Kiyoshi Ota/Bloomberg

A ausência de veículos elétricos tem sido especialmente cara na China, o maior mercado de automóveis do mundo. Em julho, as vendas da Toyota na China caíram mais de 15% em relação ao ano anterior.

Nos Estados Unidos, as vendas da Toyota aumentaram, mas menos do que as de outras montadoras. De junho a agosto, a participação da empresa no mercado de carros de passeio caiu de 15,1% no ano anterior para 13,8%, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Cox Automotive.

A Toyota reconheceu tacitamente que ficou muito atrás da Tesla e da BYD. A decisão tomada em janeiro pelo herdeiro da Toyota, Akio Toyoda, de renunciar ao cargo de CEO foi amplamente vista como um reconhecimento de que a empresa precisava de uma nova liderança para navegar na transformação do setor automotivo.

O senso de urgência foi agravado pelo salão do automóvel de Xangai em abril, disse Tatsuya Otani, um jornalista que passou décadas fazendo reportagens sobre o setor automotivo japonês.

Os veículos chineses presentes no salão apresentavam controles a bordo e opções de entretenimento que os faziam parecer mais com um iPhone sobre rodas do que com carros tradicionais. Os executivos japoneses ficaram surpresos ao ver o progresso que seus rivais chineses haviam feito, disse Otani.

A Toyota se recusou a disponibilizar executivos para entrevistas.

Carros elétricos da Toyota

O único Toyota totalmente elétrico vendido nos Estados Unidos é o bZ4X, um veículo utilitário esportivo que passou por um recall no ano passado porque parafusos defeituosos poderiam fazer com que as rodas caíssem - um passo em falso embaraçoso. Na China, a empresa também oferece um sedã elétrico, o BZ3. (A divisão Lexus, da Toyota, vende um modelo totalmente elétrico nos Estados Unidos e dois em alguns países).

Ao retornar de Xangai, os executivos da Toyota ordenaram que os funcionários fizessem uma apresentação às pressas sobre os planos da empresa para a produção de veículos elétricos. A Toyota compartilhou o plano menos de duas semanas antes da reunião anual da empresa, na qual os acionistas, irritados com o lento progresso dos carros movidos a bateria, propuseram uma resolução que pressionava a empresa a divulgar de forma mais clara suas metas em relação às mudanças climáticas.

A medida não foi aprovada, mas a rara expressão de discordância foi uma indicação de como a Toyota, que já foi elogiada como um modelo de tecnologia limpa, caiu em desgraça.

Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto

Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group

No mercado doméstico da Toyota, os consumidores demonstraram pouco apetite por carros elétricos a bateria, e o governo tem relutado em pressionar agressivamente por mudanças em um setor lucrativo.

Isso pode ser um problema para as montadoras japonesas, que tradicionalmente aprimoram sua tecnologia no país antes de comercializá-la no exterior, disse Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group, que trabalhou com o Ministério do Comércio do Japão para moldar a política nacional de veículos elétricos.

“Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto”, disse ele.

Avanço das chinesas

A BYD abriu dez concessionárias no Japão e planeja ter 100 até o final de 2025. A empresa chegou ao ponto de lançar um vídeo em agosto conclamando os fabricantes de automóveis chineses a “demolir as velhas lendas”, o que foi amplamente interpretado como uma referência aos fabricantes de automóveis japoneses e ocidentais.

Em um domingo recente, compradores em potencial esperavam pacientemente para dar uma volta com um SUV da BYD no bairro de Ikebukuro, em Tóquio. Os vendedores foram rápidos em apontar a elegibilidade do carro para milhares de dólares em subsídios do Ministério do Comércio do Japão, que alocou US$ 90 bilhões para promover carros elétricos a bateria.

Dois showrooms da Toyota nas proximidades estavam praticamente vazios.

Os clientes estão “satisfeitos” com as opções atuais, disse Masaki Nagasawa, vice-gerente de uma concessionária Toyota em Tóquio. “Para as pessoas que estão hesitantes, os subsídios são um incentivo para a compra”, mas a maioria dos clientes está preocupada com a autonomia dos carros elétricos e prefere os híbridos, disse ele.

A Toyota disse que está trabalhando em novas técnicas de produção e tecnologia de bateria inovadora que aumentariam a autonomia de seus carros e reduziriam o tempo necessário para carregá-los. A empresa afirmou que sua linha de produtos incluirá 10 novos veículos totalmente elétricos até 2026 e que seu objetivo será vender 3,5 milhões deles anualmente até 2030.

Marca de celulares BlackBerry perdeu liderança de mercado com a chegada do iPhone e de outros smartphones com tela sensível ao toque Foto: AFP

Em discurso na quarta-feira, em Tóquio, após a apresentação de um novo veículo híbrido plug-in de luxo, Simon Humphries, responsável pela marca e pelo design e diretor do conselho da Toyota, disse que a empresa estava lançando novas opções elétricas “mês a mês, ano a ano”.

Mas, acrescentou ele, embora haja uma “urgência” em introduzir novos carros movidos a bateria, “há urgência em todos os segmentos”.

As empresas de veículos elétricos estão se movendo rapidamente.

A Tesla está no caminho certo para vender quase 2 milhões de carros elétricos este ano e está construindo uma fábrica no México, onde se espera que seja produzido um carro vendido por cerca de US$ 25 mil. Nos Estados Unidos, o sedã Modelo 3 da empresa já é vendido por aproximadamente o mesmo preço de um Toyota Camry equipado de forma comparável, depois que os incentivos federais e estaduais são levados em conta.

A BYD está se expandindo rapidamente fora da China, inclusive na Europa, América Latina e Sudeste Asiático. Sua extensa linha de elétricos inclui modelos mais baratos do que os sedãs mais acessíveis da Toyota e um gigantesco SUV de luxo que é vendido por cerca de US$ 150 mil.

Assim como a Apple, o Google e a Samsung rapidamente desbancaram a Nokia e a BlackBerry no setor de telefonia móvel, dizem alguns analistas, a Tesla e a BYD podem estar tão à frente na fabricação de carros elétricos até 2026 que a Toyota poderá ter dificuldades para alcançá-las.

Mas as autoridades japonesas são mais otimistas.

As pessoas têm carros por mais tempo, portanto a transição não será tão rápida quanto a dos celulares, disse Naoki Kobayashi, vice-diretor da divisão de automóveis do Ministério do Comércio.

Ele reconhece que a Toyota enfrenta um grande desafio, mas, acrescentou, “ao contrário dos smartphones, ainda temos tempo”. / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

The New York Times - Rachel Culin se considerava uma fiel cliente da Toyota, uma das milhões de pessoas que apreciavam os híbridos da empresa, confiáveis e eficientes em termos de combustível. Mas, recentemente, ela comprou um Chevrolet Bolt elétrico para substituir seu Toyota Prius, porque a montadora japonesa tem sido muito lenta na venda de veículos elétricos.

“Onde estão as opções para as pessoas que amam a Toyota?” disse Culin, moradora de Mesa, Arizona. “É realmente triste.”

A Toyota, que já foi a marca líder entre os proprietários de carros com consciência ambiental, não conseguiu acompanhar as mudanças nas preferências dos consumidores e a pressão dos governos de todo o mundo para reduzir consideravelmente a queima de combustíveis fósseis, a principal causa das mudanças climáticas.

Linha de montagem do Prius na fábrica de Tsutsumi, no Japão  Foto: Toru Hanai/Reuters

A empresa e o setor automobilístico japonês estão enfrentando o maior desafio comercial que já enfrentaram desde que se tornaram gigantes globais na década de 1980. A forma como responderão poderá determinar se permanecerão ou não no topo do setor automobilístico.

A Toyota, a maior montadora do mundo, é o núcleo de poder do grande setor automotivo do Japão. Ela tem alianças com montadoras menores, como a Subaru e a Mazda, e exerce enorme influência sobre autoridades governamentais e grupos do setor. A empresa também é uma grande empregadora nos Estados Unidos, com quase 30 mil funcionários em Kentucky, Indiana, Texas e outros Estados.

Suas decisões comerciais podem ter implicações econômicas e ambientais de longo alcance. A Toyota, sem dúvida, fez mais para melhorar a eficiência do combustível e reduzir as emissões do que qualquer outra montadora estabelecida, sendo pioneira em carros híbridos, unindo um motor a gasolina com uma bateria e um motor elétrico. Mas, tendo apostado tanto nos híbridos, a empresa avançou lentamente para carros puramente elétricos, que não produzem emissões de escapamento.

Isso abriu espaço para a Tesla e a BYD, uma montadora chinesa, desafiarem o domínio da Toyota, oferecendo carros elétricos a bateria atraentes e acessíveis. A Toyota perdeu participação no mercado dos Estados Unidos e suas vendas na China caíram.

Repeteco

As montadoras japonesas já passaram por isso antes. Mas, da última vez, eles eram os insurgentes.

Na década de 1970, com a alta dos preços dos combustíveis, os americanos começaram a substituir os carros que consumiam muita gasolina por modelos japoneses pequenos e econômicos, desafiando o domínio da General Motors, Ford Motor e Chrysler.

Os métodos de fabricação da Toyota se tornaram sinônimo de eficiência de fabricação, e muitas fábricas adotaram o que ficou conhecido como “jeito Toyota” ou “método Toyota”.

Hoje, é a Toyota que está aprendendo com os rivais. A empresa está adotando técnicas da Tesla. Na China, ela se uniu à BYD na esperança de absorver sua tecnologia de motor elétrico e bateria.

“O estágio da batalha mudou”, disse Sanshiro Fukao, pesquisador sênior do Itochu Research Institute, e “a indústria automobilística japonesa, em particular, tem sido muito lenta para agir”.

A Toyota, talvez, não consiga mais dar um tempo.

Durante a pandemia, o mercado automotivo global ultrapassou um marco que pegou as principais montadoras do mundo de surpresa. Em 2022, as vendas de veículos elétricos aumentaram em quase 70%, chegando a 7,7 milhões, superando as de veículos híbridos pela primeira vez, já que a demanda disparou na China, de acordo com a IDTechEx, uma consultoria de pesquisa de mercado.

A Toyota continua altamente lucrativa, com lucro de US$ 8,9 bilhões no trimestre encerrado em 30 de junho. No ano passado, ela vendeu 10,5 milhões de veículos, oito vezes mais do que a Tesla. Mas menos de 1% dos carros vendidos eram totalmente elétricos.

Carro bZ4X, da Toyota, é o único modelo elétrico da marca japonesa à venda nos Estados Unidos Foto: Kiyoshi Ota/Bloomberg

A ausência de veículos elétricos tem sido especialmente cara na China, o maior mercado de automóveis do mundo. Em julho, as vendas da Toyota na China caíram mais de 15% em relação ao ano anterior.

Nos Estados Unidos, as vendas da Toyota aumentaram, mas menos do que as de outras montadoras. De junho a agosto, a participação da empresa no mercado de carros de passeio caiu de 15,1% no ano anterior para 13,8%, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Cox Automotive.

A Toyota reconheceu tacitamente que ficou muito atrás da Tesla e da BYD. A decisão tomada em janeiro pelo herdeiro da Toyota, Akio Toyoda, de renunciar ao cargo de CEO foi amplamente vista como um reconhecimento de que a empresa precisava de uma nova liderança para navegar na transformação do setor automotivo.

O senso de urgência foi agravado pelo salão do automóvel de Xangai em abril, disse Tatsuya Otani, um jornalista que passou décadas fazendo reportagens sobre o setor automotivo japonês.

Os veículos chineses presentes no salão apresentavam controles a bordo e opções de entretenimento que os faziam parecer mais com um iPhone sobre rodas do que com carros tradicionais. Os executivos japoneses ficaram surpresos ao ver o progresso que seus rivais chineses haviam feito, disse Otani.

A Toyota se recusou a disponibilizar executivos para entrevistas.

Carros elétricos da Toyota

O único Toyota totalmente elétrico vendido nos Estados Unidos é o bZ4X, um veículo utilitário esportivo que passou por um recall no ano passado porque parafusos defeituosos poderiam fazer com que as rodas caíssem - um passo em falso embaraçoso. Na China, a empresa também oferece um sedã elétrico, o BZ3. (A divisão Lexus, da Toyota, vende um modelo totalmente elétrico nos Estados Unidos e dois em alguns países).

Ao retornar de Xangai, os executivos da Toyota ordenaram que os funcionários fizessem uma apresentação às pressas sobre os planos da empresa para a produção de veículos elétricos. A Toyota compartilhou o plano menos de duas semanas antes da reunião anual da empresa, na qual os acionistas, irritados com o lento progresso dos carros movidos a bateria, propuseram uma resolução que pressionava a empresa a divulgar de forma mais clara suas metas em relação às mudanças climáticas.

A medida não foi aprovada, mas a rara expressão de discordância foi uma indicação de como a Toyota, que já foi elogiada como um modelo de tecnologia limpa, caiu em desgraça.

Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto

Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group

No mercado doméstico da Toyota, os consumidores demonstraram pouco apetite por carros elétricos a bateria, e o governo tem relutado em pressionar agressivamente por mudanças em um setor lucrativo.

Isso pode ser um problema para as montadoras japonesas, que tradicionalmente aprimoram sua tecnologia no país antes de comercializá-la no exterior, disse Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group, que trabalhou com o Ministério do Comércio do Japão para moldar a política nacional de veículos elétricos.

“Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto”, disse ele.

Avanço das chinesas

A BYD abriu dez concessionárias no Japão e planeja ter 100 até o final de 2025. A empresa chegou ao ponto de lançar um vídeo em agosto conclamando os fabricantes de automóveis chineses a “demolir as velhas lendas”, o que foi amplamente interpretado como uma referência aos fabricantes de automóveis japoneses e ocidentais.

Em um domingo recente, compradores em potencial esperavam pacientemente para dar uma volta com um SUV da BYD no bairro de Ikebukuro, em Tóquio. Os vendedores foram rápidos em apontar a elegibilidade do carro para milhares de dólares em subsídios do Ministério do Comércio do Japão, que alocou US$ 90 bilhões para promover carros elétricos a bateria.

Dois showrooms da Toyota nas proximidades estavam praticamente vazios.

Os clientes estão “satisfeitos” com as opções atuais, disse Masaki Nagasawa, vice-gerente de uma concessionária Toyota em Tóquio. “Para as pessoas que estão hesitantes, os subsídios são um incentivo para a compra”, mas a maioria dos clientes está preocupada com a autonomia dos carros elétricos e prefere os híbridos, disse ele.

A Toyota disse que está trabalhando em novas técnicas de produção e tecnologia de bateria inovadora que aumentariam a autonomia de seus carros e reduziriam o tempo necessário para carregá-los. A empresa afirmou que sua linha de produtos incluirá 10 novos veículos totalmente elétricos até 2026 e que seu objetivo será vender 3,5 milhões deles anualmente até 2030.

Marca de celulares BlackBerry perdeu liderança de mercado com a chegada do iPhone e de outros smartphones com tela sensível ao toque Foto: AFP

Em discurso na quarta-feira, em Tóquio, após a apresentação de um novo veículo híbrido plug-in de luxo, Simon Humphries, responsável pela marca e pelo design e diretor do conselho da Toyota, disse que a empresa estava lançando novas opções elétricas “mês a mês, ano a ano”.

Mas, acrescentou ele, embora haja uma “urgência” em introduzir novos carros movidos a bateria, “há urgência em todos os segmentos”.

As empresas de veículos elétricos estão se movendo rapidamente.

A Tesla está no caminho certo para vender quase 2 milhões de carros elétricos este ano e está construindo uma fábrica no México, onde se espera que seja produzido um carro vendido por cerca de US$ 25 mil. Nos Estados Unidos, o sedã Modelo 3 da empresa já é vendido por aproximadamente o mesmo preço de um Toyota Camry equipado de forma comparável, depois que os incentivos federais e estaduais são levados em conta.

A BYD está se expandindo rapidamente fora da China, inclusive na Europa, América Latina e Sudeste Asiático. Sua extensa linha de elétricos inclui modelos mais baratos do que os sedãs mais acessíveis da Toyota e um gigantesco SUV de luxo que é vendido por cerca de US$ 150 mil.

Assim como a Apple, o Google e a Samsung rapidamente desbancaram a Nokia e a BlackBerry no setor de telefonia móvel, dizem alguns analistas, a Tesla e a BYD podem estar tão à frente na fabricação de carros elétricos até 2026 que a Toyota poderá ter dificuldades para alcançá-las.

Mas as autoridades japonesas são mais otimistas.

As pessoas têm carros por mais tempo, portanto a transição não será tão rápida quanto a dos celulares, disse Naoki Kobayashi, vice-diretor da divisão de automóveis do Ministério do Comércio.

Ele reconhece que a Toyota enfrenta um grande desafio, mas, acrescentou, “ao contrário dos smartphones, ainda temos tempo”. / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

The New York Times - Rachel Culin se considerava uma fiel cliente da Toyota, uma das milhões de pessoas que apreciavam os híbridos da empresa, confiáveis e eficientes em termos de combustível. Mas, recentemente, ela comprou um Chevrolet Bolt elétrico para substituir seu Toyota Prius, porque a montadora japonesa tem sido muito lenta na venda de veículos elétricos.

“Onde estão as opções para as pessoas que amam a Toyota?” disse Culin, moradora de Mesa, Arizona. “É realmente triste.”

A Toyota, que já foi a marca líder entre os proprietários de carros com consciência ambiental, não conseguiu acompanhar as mudanças nas preferências dos consumidores e a pressão dos governos de todo o mundo para reduzir consideravelmente a queima de combustíveis fósseis, a principal causa das mudanças climáticas.

Linha de montagem do Prius na fábrica de Tsutsumi, no Japão  Foto: Toru Hanai/Reuters

A empresa e o setor automobilístico japonês estão enfrentando o maior desafio comercial que já enfrentaram desde que se tornaram gigantes globais na década de 1980. A forma como responderão poderá determinar se permanecerão ou não no topo do setor automobilístico.

A Toyota, a maior montadora do mundo, é o núcleo de poder do grande setor automotivo do Japão. Ela tem alianças com montadoras menores, como a Subaru e a Mazda, e exerce enorme influência sobre autoridades governamentais e grupos do setor. A empresa também é uma grande empregadora nos Estados Unidos, com quase 30 mil funcionários em Kentucky, Indiana, Texas e outros Estados.

Suas decisões comerciais podem ter implicações econômicas e ambientais de longo alcance. A Toyota, sem dúvida, fez mais para melhorar a eficiência do combustível e reduzir as emissões do que qualquer outra montadora estabelecida, sendo pioneira em carros híbridos, unindo um motor a gasolina com uma bateria e um motor elétrico. Mas, tendo apostado tanto nos híbridos, a empresa avançou lentamente para carros puramente elétricos, que não produzem emissões de escapamento.

Isso abriu espaço para a Tesla e a BYD, uma montadora chinesa, desafiarem o domínio da Toyota, oferecendo carros elétricos a bateria atraentes e acessíveis. A Toyota perdeu participação no mercado dos Estados Unidos e suas vendas na China caíram.

Repeteco

As montadoras japonesas já passaram por isso antes. Mas, da última vez, eles eram os insurgentes.

Na década de 1970, com a alta dos preços dos combustíveis, os americanos começaram a substituir os carros que consumiam muita gasolina por modelos japoneses pequenos e econômicos, desafiando o domínio da General Motors, Ford Motor e Chrysler.

Os métodos de fabricação da Toyota se tornaram sinônimo de eficiência de fabricação, e muitas fábricas adotaram o que ficou conhecido como “jeito Toyota” ou “método Toyota”.

Hoje, é a Toyota que está aprendendo com os rivais. A empresa está adotando técnicas da Tesla. Na China, ela se uniu à BYD na esperança de absorver sua tecnologia de motor elétrico e bateria.

“O estágio da batalha mudou”, disse Sanshiro Fukao, pesquisador sênior do Itochu Research Institute, e “a indústria automobilística japonesa, em particular, tem sido muito lenta para agir”.

A Toyota, talvez, não consiga mais dar um tempo.

Durante a pandemia, o mercado automotivo global ultrapassou um marco que pegou as principais montadoras do mundo de surpresa. Em 2022, as vendas de veículos elétricos aumentaram em quase 70%, chegando a 7,7 milhões, superando as de veículos híbridos pela primeira vez, já que a demanda disparou na China, de acordo com a IDTechEx, uma consultoria de pesquisa de mercado.

A Toyota continua altamente lucrativa, com lucro de US$ 8,9 bilhões no trimestre encerrado em 30 de junho. No ano passado, ela vendeu 10,5 milhões de veículos, oito vezes mais do que a Tesla. Mas menos de 1% dos carros vendidos eram totalmente elétricos.

Carro bZ4X, da Toyota, é o único modelo elétrico da marca japonesa à venda nos Estados Unidos Foto: Kiyoshi Ota/Bloomberg

A ausência de veículos elétricos tem sido especialmente cara na China, o maior mercado de automóveis do mundo. Em julho, as vendas da Toyota na China caíram mais de 15% em relação ao ano anterior.

Nos Estados Unidos, as vendas da Toyota aumentaram, mas menos do que as de outras montadoras. De junho a agosto, a participação da empresa no mercado de carros de passeio caiu de 15,1% no ano anterior para 13,8%, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Cox Automotive.

A Toyota reconheceu tacitamente que ficou muito atrás da Tesla e da BYD. A decisão tomada em janeiro pelo herdeiro da Toyota, Akio Toyoda, de renunciar ao cargo de CEO foi amplamente vista como um reconhecimento de que a empresa precisava de uma nova liderança para navegar na transformação do setor automotivo.

O senso de urgência foi agravado pelo salão do automóvel de Xangai em abril, disse Tatsuya Otani, um jornalista que passou décadas fazendo reportagens sobre o setor automotivo japonês.

Os veículos chineses presentes no salão apresentavam controles a bordo e opções de entretenimento que os faziam parecer mais com um iPhone sobre rodas do que com carros tradicionais. Os executivos japoneses ficaram surpresos ao ver o progresso que seus rivais chineses haviam feito, disse Otani.

A Toyota se recusou a disponibilizar executivos para entrevistas.

Carros elétricos da Toyota

O único Toyota totalmente elétrico vendido nos Estados Unidos é o bZ4X, um veículo utilitário esportivo que passou por um recall no ano passado porque parafusos defeituosos poderiam fazer com que as rodas caíssem - um passo em falso embaraçoso. Na China, a empresa também oferece um sedã elétrico, o BZ3. (A divisão Lexus, da Toyota, vende um modelo totalmente elétrico nos Estados Unidos e dois em alguns países).

Ao retornar de Xangai, os executivos da Toyota ordenaram que os funcionários fizessem uma apresentação às pressas sobre os planos da empresa para a produção de veículos elétricos. A Toyota compartilhou o plano menos de duas semanas antes da reunião anual da empresa, na qual os acionistas, irritados com o lento progresso dos carros movidos a bateria, propuseram uma resolução que pressionava a empresa a divulgar de forma mais clara suas metas em relação às mudanças climáticas.

A medida não foi aprovada, mas a rara expressão de discordância foi uma indicação de como a Toyota, que já foi elogiada como um modelo de tecnologia limpa, caiu em desgraça.

Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto

Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group

No mercado doméstico da Toyota, os consumidores demonstraram pouco apetite por carros elétricos a bateria, e o governo tem relutado em pressionar agressivamente por mudanças em um setor lucrativo.

Isso pode ser um problema para as montadoras japonesas, que tradicionalmente aprimoram sua tecnologia no país antes de comercializá-la no exterior, disse Kazutoshi Tominaga, diretor administrativo do Boston Consulting Group, que trabalhou com o Ministério do Comércio do Japão para moldar a política nacional de veículos elétricos.

“Se o Japão, como mercado, não mudar para a eletrificação, não teremos um lugar para testar o produto”, disse ele.

Avanço das chinesas

A BYD abriu dez concessionárias no Japão e planeja ter 100 até o final de 2025. A empresa chegou ao ponto de lançar um vídeo em agosto conclamando os fabricantes de automóveis chineses a “demolir as velhas lendas”, o que foi amplamente interpretado como uma referência aos fabricantes de automóveis japoneses e ocidentais.

Em um domingo recente, compradores em potencial esperavam pacientemente para dar uma volta com um SUV da BYD no bairro de Ikebukuro, em Tóquio. Os vendedores foram rápidos em apontar a elegibilidade do carro para milhares de dólares em subsídios do Ministério do Comércio do Japão, que alocou US$ 90 bilhões para promover carros elétricos a bateria.

Dois showrooms da Toyota nas proximidades estavam praticamente vazios.

Os clientes estão “satisfeitos” com as opções atuais, disse Masaki Nagasawa, vice-gerente de uma concessionária Toyota em Tóquio. “Para as pessoas que estão hesitantes, os subsídios são um incentivo para a compra”, mas a maioria dos clientes está preocupada com a autonomia dos carros elétricos e prefere os híbridos, disse ele.

A Toyota disse que está trabalhando em novas técnicas de produção e tecnologia de bateria inovadora que aumentariam a autonomia de seus carros e reduziriam o tempo necessário para carregá-los. A empresa afirmou que sua linha de produtos incluirá 10 novos veículos totalmente elétricos até 2026 e que seu objetivo será vender 3,5 milhões deles anualmente até 2030.

Marca de celulares BlackBerry perdeu liderança de mercado com a chegada do iPhone e de outros smartphones com tela sensível ao toque Foto: AFP

Em discurso na quarta-feira, em Tóquio, após a apresentação de um novo veículo híbrido plug-in de luxo, Simon Humphries, responsável pela marca e pelo design e diretor do conselho da Toyota, disse que a empresa estava lançando novas opções elétricas “mês a mês, ano a ano”.

Mas, acrescentou ele, embora haja uma “urgência” em introduzir novos carros movidos a bateria, “há urgência em todos os segmentos”.

As empresas de veículos elétricos estão se movendo rapidamente.

A Tesla está no caminho certo para vender quase 2 milhões de carros elétricos este ano e está construindo uma fábrica no México, onde se espera que seja produzido um carro vendido por cerca de US$ 25 mil. Nos Estados Unidos, o sedã Modelo 3 da empresa já é vendido por aproximadamente o mesmo preço de um Toyota Camry equipado de forma comparável, depois que os incentivos federais e estaduais são levados em conta.

A BYD está se expandindo rapidamente fora da China, inclusive na Europa, América Latina e Sudeste Asiático. Sua extensa linha de elétricos inclui modelos mais baratos do que os sedãs mais acessíveis da Toyota e um gigantesco SUV de luxo que é vendido por cerca de US$ 150 mil.

Assim como a Apple, o Google e a Samsung rapidamente desbancaram a Nokia e a BlackBerry no setor de telefonia móvel, dizem alguns analistas, a Tesla e a BYD podem estar tão à frente na fabricação de carros elétricos até 2026 que a Toyota poderá ter dificuldades para alcançá-las.

Mas as autoridades japonesas são mais otimistas.

As pessoas têm carros por mais tempo, portanto a transição não será tão rápida quanto a dos celulares, disse Naoki Kobayashi, vice-diretor da divisão de automóveis do Ministério do Comércio.

Ele reconhece que a Toyota enfrenta um grande desafio, mas, acrescentou, “ao contrário dos smartphones, ainda temos tempo”. / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

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