Pelo menos 1,66 milhão de brasileiros trabalham, atualmente, como entregadores ou motoristas de aplicativos no País. A maioria é formada por homens, da classe C, que se autodeclara como preta e parda, tem mais de 30 anos e só estudou até o ensino médio, segundo um estudo da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec).
Os dados fazem parte da primeira pesquisa sobre mobilidade urbana e logística de entregas da Amobitec, em parceria com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). O estudo mapeou informações sobre perfil dos trabalhadores, como raça, rendimento médio e jornada diária de trabalho utilizando dados cedidos por plataformas como iFood, 99, Uber, Zé Delivery e Amazon.
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Segundo o diretor-executivo da Amobitec, André Porto, os resultados do levantamento devem auxiliar o poder público nas discussões de futuras políticas públicas voltadas ao grupo de trabalhadores vinculados às plataformas virtuais de mobilidade, trazendo novas informações que ainda não haviam sido viabilizadas em outras pesquisas do segmento. “Nós queremos qualificar a discussão pública”, diz.
Porto ainda acredita que a pesquisa deve ajudar as próprias empresas que forneceram os dados a repensar suas políticas na relação com os prestadores de serviço. “Eu tenho certeza de que as empresas têm uma preocupação com os entregadores e motoristas e certamente elas utilizarão os dados para ter um diálogo mais produtivo com os entregadores”, afirma.
O executivo lembra que a primeira edição do documento foi desenvolvida com a ajuda das principais marcas do mercado, que cederam parte da sua base de dados, cujas informações são consideradas estratégicas para os negócios. “Muitas vezes é difícil juntar dados de empresas distintas e formar um dado único sobre aquilo”, conta Porto.
Perfil dos trabalhadores
Dados da pesquisa mostram que o País tem aproximadamente 1,660 milhão de pessoas trabalhando como motoristas e entregadores em serviços de aplicativos no Brasil, dos quais 1.274.281 atuam como motoristas e outros 385.742 trabalham como entregadores.
Conforme divulgado pela Amobitec e Cebrap, com a base de informações das companhias, o levantamento sobre mobilidade também realizou uma pesquisa qualitativa que ouviu 3.025 profissionais (1.507 entregadores e 1.518 motoristas) de todo o País, para entender a rotina de trabalho desse grupo. Os dados foram coletados entre agosto e novembro de 2022, e uma segunda fase de divulgação deve ocorrer ainda nos próximos meses.
O estudo também levantou informações sobre a jornada de trabalho média dos trabalhadores. Conforme os resultados, os motoristas costumam trabalhar entre 22 e 31 horas semanais, enquanto a rotina de trabalho dos entregadores pode variar de 13 e 17 horas semanais. A variação, segundo a Amobitec, se deve ao fato de alguns trabalhadores verem os aplicativos como a sua principal fonte de renda, ou como uma forma complementar aos ganhos.
Assim como a jornada de trabalho, outro ponto com variação nas relações de trabalho de motoristas e entregadores é quanto ao rendimento mensal. A pesquisa estima que a renda líquida dos trabalhadores, já descontados os custos de operação, para 40h semanais, pode variar entre R$ 2.925 e R$ 4.756 por mês no caso de motoristas e para entregadores, entre R$ 1.980 e R$ 3.039.
“Os ganhos observados para as duas categorias são superiores ao salário mínimo e à remuneração média do mercado para pessoas com a mesma escolaridade, dependendo da forma de engajamento do trabalhador com os aplicativos”, diz o levantamento.
‘Bico temporário’ ou renda extra?
Outro ponto avaliado pela primeira edição do estudo foi a relação dos trabalhadores por aplicativos com o desemprego, emprego formal e trabalhos para obter uma renda extra. Segundo o levantamento da Amobitec, 43% dos motoristas entrevistados afirmaram que estavam desempregados quando decidiram iniciar o trabalho nas plataformas de prestação de serviço, enquanto 57% deles afirmavam já ter alguma outra atividade econômica. Atualmente, 63% dos motoristas por aplicativo atuam exclusivamente dentro das plataformas.
Quando avaliados os mesmos critérios para os entregadores por aplicativos, o resultado mostra que 70% do grupo já tinha alguma atividade econômica prévia, enquanto mais da metade deles, ou 52%, tinha nas plataformas de prestação de serviço sua única fonte de renda.
André Porto, executivo da Amobitec, adianta que a expectativa da entidade é transformar o levantamento sobre mobilidade urbana e logística de entregas em um estudo recorrente, mas que até o momento, o órgão não tem previsão se a periodicidade deve ser anual, ou realizada a cada dois anos.