A dificuldade para conseguir preencher as tradicionais vagas temporárias de fim de ano tem levado as empresas de recrutamento a montar um exército de “caça trabalhador” para conseguir atender à demanda de contratações. A agência de recursos humanos Employer, especializada em trabalho temporário, por exemplo, reforçou sua equipe de 700 funcionário com 45 novos recrutadores, entre psicólogos e especialistas em recursos humanos, seja em início de carreira ou mais experientes.
O número de admissões corresponde a praticamente um profissional por filial - a agência tem 42 unidades espalhadas por dez Estados. Em anos anteriores, houve um aumento de recrutadores no segundo semestre, período em que a atividade econômica costuma aquecer por conta da Black Friday e do Natal. No entanto, o número de contratações de recrutadores deste ano é significativamente superior ao observado em períodos anteriores.
A situação atípica vivida pela Employer e outras agências de emprego temporário reflete a dificuldade que essas companhias enfrentam para admitir temporários com o desemprego em níveis muito baixos. No trimestre encerrado em setembro, a taxa de desemprego ficou em 6,4% da População Economicamente Ativa (PEA). É a menor marca para o período desde o início da série histórica do indicador em 2012, segundo a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No último trimestre de 2024, a oferta de vagas temporárias no mercado de trabalho deve chegar a 450 mil, segundo cálculos da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), que reúne 130 empresas do setor. Se a projeção se confirmar, será o maior volume dos últimos anos - em linha com a quantidade de vagas abertas entre outubro e dezembro de 2023, quando o aumento foi de quase 18% em relação a 2022.
“O último trimestre do ano passado foi muito bom”, diz o presidente da Aserttem, Alexandre Leite Lopes. A oferta de vagas temporárias estabilizada em níveis elevados, segundo ele, é uma boa notícia. Isso porque a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 10,75% ao ano, está elevada e a perspectiva é de que ela continue subindo nos próximos meses para segurar o avanço da inflação.
“Tem cliente que chega pedindo 400 trabalhadores, mas eu não tenho máquina de fazer gente”, diz o vice-presidente da Employer, Marcelo Abreu. Uma das alternativas para conseguir completar as vagas foi ampliar a equipe de recrutadores para ir à caça de candidatos, que hoje estão mais “raros” e mais exigentes nas negociações. “Normalmente eu fechava uma vaga em, no máximo, duas semanas. Atualmente, levo até um mês”, conta o executivo.
De boca em boca
Além de contratar mais recrutadores para conseguir atender à demanda, as agências de temporários ampliaram as fontes onde buscam os candidatos. “Estamos trabalhando dobrado e aumentamos as fontes de pesquisa”, conta Lopes, da Aserttem.
Normalmente os candidatos são “garimpados” nas plataformas de currículos. Na atual conjuntura, porém, as agências estão recorrendo também aos Centros de Apoio ao Trabalhador (Cats), sobretudo nas cidades menores, diz Lopes.
As redes sociais profissionais, como o LinkedIn, também entraram no radar dos recrutadores como fonte de currículos, além da propaganda de boca em boca. As agências divulgam as oportunidades de emprego para os seus empregados para que eles repassem a parentes, amigos e vizinhos, por exemplo.
Diante da dificuldade de recrutar candidatos, tanto temporários como efetivos, há empresas que adotaram a estratégia do “carro da vaga”, inspirado no famoso carro da pamonha. A Premium Essential Kitchen, rede nacional de restaurantes empresariais, colocou um carro equipado com alto-falante que percorre as ruas da periferia de grandes cidades e de municípios do interior, avisando data, local do evento de recrutamento e as vagas disponíveis.
Flexibilidade
Para facilitar as contratações num cenário de escassez de mão de obra, as agências ficaram mais flexíveis em relação à experiência exigida dos candidatos, diz Lopes, da Asserttem.
Quanto ao aumento na remuneração e benefícios extras para atrair trabalhadores, o presidente da entidade explica que as agências que assinam a carteira de trabalho dos temporários não podem, por lei, oferecer salários ou benefícios diferentes dos recebidos pelos empregados efetivos da companhia para a qual esses trabalhadores prestarão serviços.
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Esse é mais um entrave ao preenchimento de vagas num cenário de escassez de trabalhadores. “O pleno emprego dificulta um pouco mais (as contratações), mas a gente corre atrás”, afirma Lopes.
Oferta recorde em São Paulo
“Todas as lojas estão com placas de ‘Precisa-se’”, diz o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo e da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, fazendo alusão ao forte recrutamento de temporários este ano.
Segundo o dirigente sindical, a oferta de vagas temporárias para o comércio da cidade de São Paulo, entre setembro e dezembro deste ano, deve atingir 70 mil, bem acima dos 50 mil postos em 2023 e dos 40 mil em 2022. “É a maior oferta de trabalho temporário no comércio dos últimos dez anos”, diz.
De acordo com a Asserttem, nesta época do ano historicamente há uma demanda grande de temporários por parte das lojas físicas, sobretudo para as áreas de vendas e estoque.
Com a mudança dos hábitos de consumo, no entanto, a tendência é de crescimento de temporários também nos setores ligados ao comércio eletrônico, tanto nas empresas de varejo e marketplaces quanto no setor de logística que está envolvido nessa cadeia de serviços.
Nas projeções da entidade, a indústria responderá neste ano pela maior fatia das admissões de temporários (45%), seguida por serviços (35%), comércio (15%) e outros (5%).
Varejo de luxo
O varejo de luxo também acelerou a contrações de temporários este ano. Levantamento da Page Interim, unidade do PageGroup especializada em recrutamento temporário e terceirizado, mostra que as empresas do setor já abriram 500 vagas de temporárias, de olho na Black Friday. A expectativa é de que novos postos estejam disponíveis até o final do ano. Em 2023, foram abertas apenas 20 vagas temporárias para o varejo de luxo, segundo Bruno Martins, diretor da consultoria.
“O varejo de luxo apresenta um cenário mais assertivo neste ano, refletindo uma necessidade de recuperação após um período desafiador”, afirma. Segundo o executivo, as empresas do setor de luxo estão fortalecendo suas equipes em posições estratégicas, especialmente nas áreas de vendas, produção, apoio de loja e departamento pessoal.