‘Em turismo, País tem chance de dar uma goleada’, diz CEO do grupo TTWGroup


Empresário afirma que políticas ‘equivocadas’ do passado resultaram em números ‘pífios’ de visitantes

Por Sonia Racy
Foto: PAULO GIANDALIA/AE
Entrevista comEduardo GazFundador e CEO da TTWGroup

Para o fundador e CEO da TTWGroup, Eduardo Gaz, o Brasil tem condições de “dar de goleada” quando o assunto é atrair o viajante estrangeiro que esteja à procura de um turismo autêntico, que privilegie o contato com a natureza, com os habitantes. Ele afirma que políticas mal executadas no passado resultaram em números “pífios” de visitantes.

Mas se diz otimista. Fundador de uma pequena agência aberta em 1997 que oferecia pacotes a brasileiros que queriam esquiar no exterior (a SkiBrasil), o empresário percebeu que havia uma oportunidade de inverter o fluxo e atrair turistas estrangeiros interessados na natureza de que o Brasil dispõe, e passou a oferecer pacotes que valorizassem a experiência.

“Ver um estrangeiro saindo daqui com um sorriso e com uma experiência agradável é a realização”, diz o empresário, que hoje comanda a TTWGroup, que, além da SkiBrasil, reúne as marcas Selections, SkiUSA, TTWLab e VeryLatin. A seguir, trechos da entrevista ao Estadão.

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Por que o Brasil, com toda a riqueza que tem, com todas as opções de turismo, é pouco considerado como ponto turístico?

A gente teve no passado uma política de promoção do Brasil no exterior, a meu ver, bastante equivocada. A gente sempre colocou em evidência predicados como o futebol, o samba, que, claro, são riquezas nacionais. Mas existe uma infinidade de outros atrativos no Brasil que não foram devidamente divulgados. A política (para o setor) muda a cada governo; então, isso prejudicou muito essa possibilidade de divulgação do Brasil no exterior, fazendo com que os números de visitantes sejam pífios. Entretanto, a atual gestão da Embratur tem escutado muito mais o ‘trade’, tem feito uma promoção muito mais assertiva nos locais e nos eventos que são mais importantes. Então, a gente tem visto uma mudança nesse posicionamento e nessa percepção do Brasil lá fora. Toma muito tempo, não é uma coisa do dia para a noite, mas acho que agora estamos num caminho muito bom.

A infraestrutura oferecida é adequada ao turista?

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A gente ainda tem quilômetros, milhas, léguas para andar com a infraestrutura. Tem muito a ser feito em todos os aspectos, seja na infraestrutura de aeroportos e portos, seja na parte da hotelaria, seja na parte do serviço. Ainda tem muito a percorrer para elevar esse turismo a padrões internacionais.

Para Eduardo Gaz, Brasil tem infinidade de atrativos no Brasil que não foram devidamente divulgados Foto: Paulo Giandalia/Agência Estado

Vietnã recebe 6 milhões de turistas por ano, o mesmo que o Brasil. Isso é chocante, porque o Vietnã abriu agora para o turismo. Falta essa política ou falta uma política de longo prazo?

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Eu acho que falta, sim, uma política de longo prazo, e falta uma política que seja assertiva nas medidas que ela toma para promover o Brasil. A gente teve num passado recente problemas com um turismo horroroso, de exploração sexual. A gente luta contra isso. Mas, na medida em que a gente vai lá fora e a única coisa que a gente foca é eventualmente uma mulata sambando num carnaval, a gente acaba reforçando essa imagem. Então, falta uma política de longo prazo e uma política que seja sustentável do turismo em todos os aspectos.

Com o mundo batendo no martelo da economia sustentável, da valorização da natureza que o nosso País tem para dar e vender, você acha que temos alguma chance de conseguir marcar um gol nesse placar?

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Todas as chances. A gente tem chance de sair de goleada. Porque a beleza natural que o País oferece, a calidez, o povo brasileiro, se bem orientado a gente consegue trazer esse turista. Porque o turista que vem para cá, hoje, busca essa experiência, ele está buscando a natureza, a convivência com a população local, autenticidade. Esse é o novo turismo. Essa é a busca das pessoas que saem das grandes metrópoles em países desenvolvidos, e, quando eles chegam aqui, ficam boquiabertos com o que veem. É só continuar o trabalho que está sendo feito por parte da Embratur, da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association). E tem uma coisa importante. Muitas vezes, eles acabam erroneamente focando num turismo de baixa renda. E a primeira onda de turismo, como estratégia, deveria ser um turista que tem um alto grau de exigência. Porque esse turista consome muito, deixa muita riqueza. E ele, com esse grau de exigência, vai elevando o padrão da entrega e, com isso, você cria um círculo virtuoso, no qual esse cara vai voltar para o país dele e vai falar maravilhas do Brasil, o amigo dele vai vir. O Vietnã fez isso, o Butão está fazendo isso, a Coreia do Sul. A gente tem cases de sucesso pelo mundo que é só a gente olhar e replicar. Os destinos e os hotéis passaram a entender isso, e a gente tem hoje uma infinidade de novos hotéis no Nordeste, no Pantanal. Você pega hoje, por exemplo, no Pantanal um projeto como um safári da pousada Cayman. A gente traz americanos, europeus, e eles ficam de queixo caído.

Tirando a internet, a IA, o que mudou no turismo de 30 anos para cá?

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É outro planeta. Há 30 anos, a busca das pessoas era para fazer um check no mapa. Já fui a Paris, Roma, Nova York, Buenos Aires... Era uma coisa muito ligada à compra, que é um negócio que, inclusive, o brasileiro infelizmente ainda carrega até hoje. As pessoas estavam buscando um check no mapa e voltar com um casaco de couro de Buenos Aires. Hoje, a busca é por conhecimento e experiência. A busca do autêntico. A busca é você poder estar com o pé na areia numa praia no meio do nada, comendo ali o peixe que o cara pescou faz 15 minutos. É isso que as pessoas buscam hoje cada vez mais.

E como você vê o turismo daqui a 10, 20 anos?

Acho que cada vez mais as pessoas estão buscando se reconectar. Com elas mesmas, com os lugares, com a natureza, com as famílias. As pessoas consomem menos coisas e mais experiências. A gente tem visto três gerações de famílias viajando juntas. Antes, a pessoa passava três noites aqui, três noites ali... Isso acabou, a pessoa quer ficar num lugar só, quer conhecer o lugar a fundo, andar a pé na rua...

Para o fundador e CEO da TTWGroup, Eduardo Gaz, o Brasil tem condições de “dar de goleada” quando o assunto é atrair o viajante estrangeiro que esteja à procura de um turismo autêntico, que privilegie o contato com a natureza, com os habitantes. Ele afirma que políticas mal executadas no passado resultaram em números “pífios” de visitantes.

Mas se diz otimista. Fundador de uma pequena agência aberta em 1997 que oferecia pacotes a brasileiros que queriam esquiar no exterior (a SkiBrasil), o empresário percebeu que havia uma oportunidade de inverter o fluxo e atrair turistas estrangeiros interessados na natureza de que o Brasil dispõe, e passou a oferecer pacotes que valorizassem a experiência.

“Ver um estrangeiro saindo daqui com um sorriso e com uma experiência agradável é a realização”, diz o empresário, que hoje comanda a TTWGroup, que, além da SkiBrasil, reúne as marcas Selections, SkiUSA, TTWLab e VeryLatin. A seguir, trechos da entrevista ao Estadão.

Por que o Brasil, com toda a riqueza que tem, com todas as opções de turismo, é pouco considerado como ponto turístico?

A gente teve no passado uma política de promoção do Brasil no exterior, a meu ver, bastante equivocada. A gente sempre colocou em evidência predicados como o futebol, o samba, que, claro, são riquezas nacionais. Mas existe uma infinidade de outros atrativos no Brasil que não foram devidamente divulgados. A política (para o setor) muda a cada governo; então, isso prejudicou muito essa possibilidade de divulgação do Brasil no exterior, fazendo com que os números de visitantes sejam pífios. Entretanto, a atual gestão da Embratur tem escutado muito mais o ‘trade’, tem feito uma promoção muito mais assertiva nos locais e nos eventos que são mais importantes. Então, a gente tem visto uma mudança nesse posicionamento e nessa percepção do Brasil lá fora. Toma muito tempo, não é uma coisa do dia para a noite, mas acho que agora estamos num caminho muito bom.

A infraestrutura oferecida é adequada ao turista?

A gente ainda tem quilômetros, milhas, léguas para andar com a infraestrutura. Tem muito a ser feito em todos os aspectos, seja na infraestrutura de aeroportos e portos, seja na parte da hotelaria, seja na parte do serviço. Ainda tem muito a percorrer para elevar esse turismo a padrões internacionais.

Para Eduardo Gaz, Brasil tem infinidade de atrativos no Brasil que não foram devidamente divulgados Foto: Paulo Giandalia/Agência Estado

Vietnã recebe 6 milhões de turistas por ano, o mesmo que o Brasil. Isso é chocante, porque o Vietnã abriu agora para o turismo. Falta essa política ou falta uma política de longo prazo?

Eu acho que falta, sim, uma política de longo prazo, e falta uma política que seja assertiva nas medidas que ela toma para promover o Brasil. A gente teve num passado recente problemas com um turismo horroroso, de exploração sexual. A gente luta contra isso. Mas, na medida em que a gente vai lá fora e a única coisa que a gente foca é eventualmente uma mulata sambando num carnaval, a gente acaba reforçando essa imagem. Então, falta uma política de longo prazo e uma política que seja sustentável do turismo em todos os aspectos.

Com o mundo batendo no martelo da economia sustentável, da valorização da natureza que o nosso País tem para dar e vender, você acha que temos alguma chance de conseguir marcar um gol nesse placar?

Todas as chances. A gente tem chance de sair de goleada. Porque a beleza natural que o País oferece, a calidez, o povo brasileiro, se bem orientado a gente consegue trazer esse turista. Porque o turista que vem para cá, hoje, busca essa experiência, ele está buscando a natureza, a convivência com a população local, autenticidade. Esse é o novo turismo. Essa é a busca das pessoas que saem das grandes metrópoles em países desenvolvidos, e, quando eles chegam aqui, ficam boquiabertos com o que veem. É só continuar o trabalho que está sendo feito por parte da Embratur, da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association). E tem uma coisa importante. Muitas vezes, eles acabam erroneamente focando num turismo de baixa renda. E a primeira onda de turismo, como estratégia, deveria ser um turista que tem um alto grau de exigência. Porque esse turista consome muito, deixa muita riqueza. E ele, com esse grau de exigência, vai elevando o padrão da entrega e, com isso, você cria um círculo virtuoso, no qual esse cara vai voltar para o país dele e vai falar maravilhas do Brasil, o amigo dele vai vir. O Vietnã fez isso, o Butão está fazendo isso, a Coreia do Sul. A gente tem cases de sucesso pelo mundo que é só a gente olhar e replicar. Os destinos e os hotéis passaram a entender isso, e a gente tem hoje uma infinidade de novos hotéis no Nordeste, no Pantanal. Você pega hoje, por exemplo, no Pantanal um projeto como um safári da pousada Cayman. A gente traz americanos, europeus, e eles ficam de queixo caído.

Tirando a internet, a IA, o que mudou no turismo de 30 anos para cá?

É outro planeta. Há 30 anos, a busca das pessoas era para fazer um check no mapa. Já fui a Paris, Roma, Nova York, Buenos Aires... Era uma coisa muito ligada à compra, que é um negócio que, inclusive, o brasileiro infelizmente ainda carrega até hoje. As pessoas estavam buscando um check no mapa e voltar com um casaco de couro de Buenos Aires. Hoje, a busca é por conhecimento e experiência. A busca do autêntico. A busca é você poder estar com o pé na areia numa praia no meio do nada, comendo ali o peixe que o cara pescou faz 15 minutos. É isso que as pessoas buscam hoje cada vez mais.

E como você vê o turismo daqui a 10, 20 anos?

Acho que cada vez mais as pessoas estão buscando se reconectar. Com elas mesmas, com os lugares, com a natureza, com as famílias. As pessoas consomem menos coisas e mais experiências. A gente tem visto três gerações de famílias viajando juntas. Antes, a pessoa passava três noites aqui, três noites ali... Isso acabou, a pessoa quer ficar num lugar só, quer conhecer o lugar a fundo, andar a pé na rua...

Para o fundador e CEO da TTWGroup, Eduardo Gaz, o Brasil tem condições de “dar de goleada” quando o assunto é atrair o viajante estrangeiro que esteja à procura de um turismo autêntico, que privilegie o contato com a natureza, com os habitantes. Ele afirma que políticas mal executadas no passado resultaram em números “pífios” de visitantes.

Mas se diz otimista. Fundador de uma pequena agência aberta em 1997 que oferecia pacotes a brasileiros que queriam esquiar no exterior (a SkiBrasil), o empresário percebeu que havia uma oportunidade de inverter o fluxo e atrair turistas estrangeiros interessados na natureza de que o Brasil dispõe, e passou a oferecer pacotes que valorizassem a experiência.

“Ver um estrangeiro saindo daqui com um sorriso e com uma experiência agradável é a realização”, diz o empresário, que hoje comanda a TTWGroup, que, além da SkiBrasil, reúne as marcas Selections, SkiUSA, TTWLab e VeryLatin. A seguir, trechos da entrevista ao Estadão.

Por que o Brasil, com toda a riqueza que tem, com todas as opções de turismo, é pouco considerado como ponto turístico?

A gente teve no passado uma política de promoção do Brasil no exterior, a meu ver, bastante equivocada. A gente sempre colocou em evidência predicados como o futebol, o samba, que, claro, são riquezas nacionais. Mas existe uma infinidade de outros atrativos no Brasil que não foram devidamente divulgados. A política (para o setor) muda a cada governo; então, isso prejudicou muito essa possibilidade de divulgação do Brasil no exterior, fazendo com que os números de visitantes sejam pífios. Entretanto, a atual gestão da Embratur tem escutado muito mais o ‘trade’, tem feito uma promoção muito mais assertiva nos locais e nos eventos que são mais importantes. Então, a gente tem visto uma mudança nesse posicionamento e nessa percepção do Brasil lá fora. Toma muito tempo, não é uma coisa do dia para a noite, mas acho que agora estamos num caminho muito bom.

A infraestrutura oferecida é adequada ao turista?

A gente ainda tem quilômetros, milhas, léguas para andar com a infraestrutura. Tem muito a ser feito em todos os aspectos, seja na infraestrutura de aeroportos e portos, seja na parte da hotelaria, seja na parte do serviço. Ainda tem muito a percorrer para elevar esse turismo a padrões internacionais.

Para Eduardo Gaz, Brasil tem infinidade de atrativos no Brasil que não foram devidamente divulgados Foto: Paulo Giandalia/Agência Estado

Vietnã recebe 6 milhões de turistas por ano, o mesmo que o Brasil. Isso é chocante, porque o Vietnã abriu agora para o turismo. Falta essa política ou falta uma política de longo prazo?

Eu acho que falta, sim, uma política de longo prazo, e falta uma política que seja assertiva nas medidas que ela toma para promover o Brasil. A gente teve num passado recente problemas com um turismo horroroso, de exploração sexual. A gente luta contra isso. Mas, na medida em que a gente vai lá fora e a única coisa que a gente foca é eventualmente uma mulata sambando num carnaval, a gente acaba reforçando essa imagem. Então, falta uma política de longo prazo e uma política que seja sustentável do turismo em todos os aspectos.

Com o mundo batendo no martelo da economia sustentável, da valorização da natureza que o nosso País tem para dar e vender, você acha que temos alguma chance de conseguir marcar um gol nesse placar?

Todas as chances. A gente tem chance de sair de goleada. Porque a beleza natural que o País oferece, a calidez, o povo brasileiro, se bem orientado a gente consegue trazer esse turista. Porque o turista que vem para cá, hoje, busca essa experiência, ele está buscando a natureza, a convivência com a população local, autenticidade. Esse é o novo turismo. Essa é a busca das pessoas que saem das grandes metrópoles em países desenvolvidos, e, quando eles chegam aqui, ficam boquiabertos com o que veem. É só continuar o trabalho que está sendo feito por parte da Embratur, da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association). E tem uma coisa importante. Muitas vezes, eles acabam erroneamente focando num turismo de baixa renda. E a primeira onda de turismo, como estratégia, deveria ser um turista que tem um alto grau de exigência. Porque esse turista consome muito, deixa muita riqueza. E ele, com esse grau de exigência, vai elevando o padrão da entrega e, com isso, você cria um círculo virtuoso, no qual esse cara vai voltar para o país dele e vai falar maravilhas do Brasil, o amigo dele vai vir. O Vietnã fez isso, o Butão está fazendo isso, a Coreia do Sul. A gente tem cases de sucesso pelo mundo que é só a gente olhar e replicar. Os destinos e os hotéis passaram a entender isso, e a gente tem hoje uma infinidade de novos hotéis no Nordeste, no Pantanal. Você pega hoje, por exemplo, no Pantanal um projeto como um safári da pousada Cayman. A gente traz americanos, europeus, e eles ficam de queixo caído.

Tirando a internet, a IA, o que mudou no turismo de 30 anos para cá?

É outro planeta. Há 30 anos, a busca das pessoas era para fazer um check no mapa. Já fui a Paris, Roma, Nova York, Buenos Aires... Era uma coisa muito ligada à compra, que é um negócio que, inclusive, o brasileiro infelizmente ainda carrega até hoje. As pessoas estavam buscando um check no mapa e voltar com um casaco de couro de Buenos Aires. Hoje, a busca é por conhecimento e experiência. A busca do autêntico. A busca é você poder estar com o pé na areia numa praia no meio do nada, comendo ali o peixe que o cara pescou faz 15 minutos. É isso que as pessoas buscam hoje cada vez mais.

E como você vê o turismo daqui a 10, 20 anos?

Acho que cada vez mais as pessoas estão buscando se reconectar. Com elas mesmas, com os lugares, com a natureza, com as famílias. As pessoas consomem menos coisas e mais experiências. A gente tem visto três gerações de famílias viajando juntas. Antes, a pessoa passava três noites aqui, três noites ali... Isso acabou, a pessoa quer ficar num lugar só, quer conhecer o lugar a fundo, andar a pé na rua...

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