RIO – No período pré-pandemia, 46,219 milhões de brasileiros viviam com algum grau de pobreza não monetária (relativa às dimensões para além da renda), o equivalente a 22,3% da população. Quase metade deles moravam na região Nordeste. Os dados são do estudo Evolução dos Indicadores não Monetários de Pobreza e Qualidade de Vida no Brasil, com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa também apontou ainda que havia 132,102 milhões de brasileiros vivendo com algum grau de vulnerabilidade, 63,8% da população, sendo pouco mais de um terço deles no Nordeste e outro terço no Sudeste.
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Para o cálculo da pobreza e vulnerabilidade não monetárias, o estudo mensura o acesso dos habitantes a seis dimensões de qualidade de vida: moradia; serviços de utilidade pública; saúde e alimentação; educação; acesso aos serviços financeiros e padrão de vida; e transporte e lazer. O objetivo é identificar perdas e desigualdades na qualidade de vida da população.
O grupo que vive com algum grau de pobreza inclui pessoas com perdas em pelo menos um terço dos quesitos investigados. Já o grupo em situação de vulnerabilidade inclui pessoas com perdas em pelo menos um sexto dos quesitos investigados. Todas as pessoas em situação de pobreza também são contabilizadas como vulneráveis, lembrou o IBGE.
“Como a gente trabalha com aquelas seis dimensões e de forma não monetária, aspectos como os serviços públicos que te atendem, o entorno do seu domicílio, tudo isso impacta na classificação de privações dessas pessoas. Então, a maior parte da população sofre algum tipo de privação, por questões que independem da própria renda. Quando a gente está trabalhando com aspectos não monetários, a gente consegue captar essa vulnerabilidade ou pobreza mesmo para pessoas que têm altíssima renda, porque independem do dinheiro que elas têm. Mesmo que more no melhor condomínio, numa mansão, você não consegue interferir no saneamento básico que tem na região, na violência que sofre, no engarrafamento, coisas do gênero”, exemplificou Luciana Alves dos Santos, analista do IBGE.
O levantamento do IBGE registrou melhora nas condições de qualidade de vida da população em relação à POF 2008-2009, quando a proporção de pessoas vivendo com algum grau de pobreza era de 44,2%, o equivalente a 84,126 milhões de habitantes. O contingente de brasileiros com algum grau de vulnerabilidade também era mais elevado à época, 155,384 milhões, 81,7% da população do País.
Segundo os dados mais recentes, da POF 2017-2018, o maior contingente de pessoas com algum grau de pobreza não monetária estava no Nordeste, 21,589 milhões de pessoas (o equivalente a 38,2% da população local), seguido por Sudeste (11,027 milhões, ou 12,6% da população da região), Norte (7,782 milhões, 43,8% dos habitantes locais), Centro-Oeste (3,195 milhões, 20,1% da população local) e Sul (2,627 milhões, 8,9% dos habitantes da região).
Quanto à distribuição das pessoas com algum grau de vulnerabilidade, o Nordeste também liderou em termos de contingente, 46,484 milhões de pessoas (o equivalente a 82,3% da população local), seguido por Sudeste (45,468 milhões, ou 52,1% da população da região), Norte (15,318 milhões, 86,2% dos habitantes locais), Centro-Oeste (10,820 milhões, 68,2% da população local) e Sul (14,011 milhões, 47,3% dos habitantes da região).
As áreas urbanas tinham maior número absoluto de pessoas convivendo com a pobreza e a vulnerabilidade não monetária, porque concentravam uma população muito maior do que a das áreas rurais. No entanto, na zona rural, 51,1% da população vivia com algum grau de pobreza, contra uma fatia de 17,3% dos habitantes da zona urbana. No meio rural, 92,9% da população apresentava algum grau de vulnerabilidade, ante uma fatia de 58,8% dos moradores de áreas urbanas.
Nos quase dez anos que separaram as duas POFs, houve redução no Índice de Pobreza Multidimensional não monetário em todas as grandes regiões do País, assim como em todos os grupos de cor ou raça, sexo e grau de escolaridade da pessoa de referência da família. Apesar da melhora disseminada, os resultados ainda revelam a persistência de desigualdades estruturais.
As famílias com pessoa de referência de cor preta ou parda permaneceram com índice de pobreza quase três vezes maior que o do grupo com pessoa de referência branca. Os lares liderados por homens também permaneceram com índice de pobreza menor que os comandados por mulheres. Já o índice de pobreza de famílias com pessoa de referência sem instrução foi sete vezes maior do que o das lideradas por pessoa de referência com ensino médio completo. Esse último grupo com ensino médio, por sua vez, tinha índice de pobreza mais de três vezes superior ao de quem tinha ensino superior completo.
Na POF 2017-2018, todas as dimensões pesquisadas de acesso à qualidade de vida tiveram importância no resultado do índice de vulnerabilidade, com apenas pequena diferença nas intensidades. As maiores contribuições foram de privações no acesso aos serviços financeiros e padrão de vida (19,5%), educação (18,6%) e transporte e lazer (16,8%).
No índice de pobreza, os principais impactos foram de privações em saúde e alimentação (17,0%), educação (17,6%) e acesso aos serviços financeiros e padrão de vida (19,2%), enquanto a moradia (14,7%) foi a que menos contribuiu para a média geral.