Vaca louca: Brasil deixa de faturar US$ 17 milhões por dia com suspensão de venda de carne à China


Especialistas avaliam, porém, que exportações tendem a ser repostas após liberação dos embarques, sem prejuízo ao produtor brasileiro, e acreditam em rápida retomada do comércio com o gigante asiático

Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – O peso do consumo chinês no mercado da carne bovina brasileira fica mais evidente quando se verifica o impacto diário da paralisação no embarque desses produtos para o gigante asiático. As estimativas apontam que o Brasil deve deixar de faturar cerca de US$ 17 milhões por dia com o fechamento temporário do comércio desse produto, por causa do caso confirmado de mal da vaca louca em um animal no Pará.

As estimativas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) indicam para um mercado que movimenta cerca de US$ 500 milhões por mês. Porém, para José Augusto de Castro, presidente da AEB, apesar do impacto financeiro imediato, a tendência é de que as exportações logo sejam repostas, sem prejuízo ao produtor brasileiro, dado o tamanho da demanda chinesa.

“Não acredito que vamos perder mercado. O que deve ocorrer, apenas, é adiamento de embarques da produção, ou a transferência de carne para outros países, até que tudo se normalize”, disse o especialista.

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Especialistas acreditam que suspensão das exportações de carne bovina à China devido a caso isolado de mal da vaca louca deve ser resolvido em, no máximo, um mês. Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

Castro viu como positiva a atuação rápida do governo em se posicionar sobre o caso de mal da vaca louca identificado em uma pequena fazenda em Marabá, no Pará. “O Brasil seguiu todos os protocolos, se adiantou. Acreditamos que deva resolver rapidamente a situação, em cerca de 30 dias, por ser um caso atípico, e não uma contaminação clássica”, comentou.

O especialista também afasta a possibilidade de os Estados Unidos, que são o segundo maior comprador da carne brasileira, adotarem medida de suspensão como a da China. “Acho muito difícil os Estados Unidos aderirem a isso. Mais do que nossos compradores, eles são nossos grandes concorrentes no mercado de carnes da China. Qualquer atitude desse tipo seria vista como eventual retaliação ao Brasil”, comentou.

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Protocolo sanitário rígido

O professor de agronegócio global do Insper, Marcos Sawaya Jank, afirma que o protocolo sanitário adotado pelo Brasil com a China é o único no mundo que impõe corte das exportações em situações de casos atípicos do mal da vaca louca. Ele afirma que o protocolo deve entrar na pauta da viagem de Lula ao país asiático.

Como mostrou o Estadão, o governo brasileiro tenta acelerar os protocolos sanitários para regularizar a exportação de carne bovina para a China antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcar para um encontro bilateral com o presidente chines Xi Jinping, previsto para o dia 28 de março.

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O caso atípico é aquele que envolve um único animal, e não a contaminação de um rebanho. No caso de Marabá, o animal, que já foi abatido e, segundo análises feitas, desenvolveu uma doença degenerativa cerebral – ou seja, sem ter contato ou contaminação com outros animais.

O protocolo entre Brasil e China que levou à paralisação das exportações da carne nacional entrou em junho de 2015, quando surgiu no País outro caso atípico de mal vaca louca. Foi quando o Brasil aderiu à regra com aquele que é o seu maior mercado.

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“Veja que o Brasil nunca registrou um caso de contaminação clássica de mal da vaca louca. Isso aconteceu em alguns países da Europa. Por aqui, sempre foi um ou outro caso isolado, sem envolver contaminação. É a situação de um animal de mais idade que sofre uma mutação, mas não transmite nada”, diz Jank.

A boi abatido com a doença tinha nove anos. Mesmo são, não havia nenhuma possibilidade de o animal ser exportado para a China, uma vez que o país só compra animais com, no máximo, 30 meses – ou seja, dois anos e meio de idade.

“Eu acredito que, com a ida do presidente Lula à China, prevista para o fim de março, o Brasil tem uma ótima oportunidade de rever essa regra, porque o momento das relações bilaterais é excelente. Todos os fatores conspiram para rever isso”, afirma Jank. “É claro que tem de haver transparência e um controle real, mas para situações que realmente exijam esse tipo de medida.”

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Além da paralisação das exportações em 2015, houve casos atípicos de mal da vaca louca no Brasil em 2019 e em 2021, quando o fechamento chegou a durar quase quatro meses.

“Acredito, dessa vez, devemos ter uma rápida solução, porque as relações entre os países estão muito boas. Não temos mais os atritos que vimos no governo passado, quando havia certo embate diplomático e pouca vontade para resolver”, comenta Jank.

Alessandro Azzoni, conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), avalia que o Brasil faz um controle pecuário reconhecido internacionalmente e que isso deve reduzir o tempo da paralisação. “A incidência de um único caso no Brasil faz com que o protocolo seja seguido à risca, como em 2021, quando o país deixou de exportar carne para China por 100 dias, entre setembro e outubro”, comentou. “À época, havia apenas dois casos relatados em Mato Grosso e Minas Gerais.”

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Alcides Torres, analista de mercado da Scot Consultoria, reforça que o Brasil é considerado um país de risco baixíssimo com relação à doença. “Nosso rebanho é alimentado por capim, criado em pastagens. Mesmo quando é confinado, não recebe resíduos de origem animal. É proibido usar, por exemplo, farinha de sangue, farinha de carne e farinha de ossos”, comenta. “Tudo isso é proibido e há, inclusive, penalização severa se não cumprir essas regras.”

Torres também acredita numa resposta rápida da China, para regularizar a situação. Caso se prolongue, o destino da carne produzida poderia ser consumido, em parte, pelo mercado nacional. “Se, eventualmente, isso se estender, parte dessa carne vai para o mercado interno e a gente até poderia ter queda do preço no mercado atacadista, podendo haver repasse dessa queda aos consumidores finais, mas isso é mera especulação”, avalia, acreditando numa retomada das exportações no curto prazo.

Mercado gigante

A China é o maior comprador da carne brasileira, tendo respondido por 57% das exportações do produto nacional em janeiro, com a movimentação de US$ 485 milhões. O segundo maior consumidor são os Estados Unidos, com 9,4% das exportações e movimentação de US$ 79 milhões em janeiro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

O potencial de crescimento do mercado chinês é exponencial, apontam especialistas, dado que hoje o consumo de carne bovina por ano na China é de 5 quilos por pessoa – enquanto no Brasil essa média é de 25 quilos por pessoa.

BRASÍLIA – O peso do consumo chinês no mercado da carne bovina brasileira fica mais evidente quando se verifica o impacto diário da paralisação no embarque desses produtos para o gigante asiático. As estimativas apontam que o Brasil deve deixar de faturar cerca de US$ 17 milhões por dia com o fechamento temporário do comércio desse produto, por causa do caso confirmado de mal da vaca louca em um animal no Pará.

As estimativas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) indicam para um mercado que movimenta cerca de US$ 500 milhões por mês. Porém, para José Augusto de Castro, presidente da AEB, apesar do impacto financeiro imediato, a tendência é de que as exportações logo sejam repostas, sem prejuízo ao produtor brasileiro, dado o tamanho da demanda chinesa.

“Não acredito que vamos perder mercado. O que deve ocorrer, apenas, é adiamento de embarques da produção, ou a transferência de carne para outros países, até que tudo se normalize”, disse o especialista.

Especialistas acreditam que suspensão das exportações de carne bovina à China devido a caso isolado de mal da vaca louca deve ser resolvido em, no máximo, um mês. Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

Castro viu como positiva a atuação rápida do governo em se posicionar sobre o caso de mal da vaca louca identificado em uma pequena fazenda em Marabá, no Pará. “O Brasil seguiu todos os protocolos, se adiantou. Acreditamos que deva resolver rapidamente a situação, em cerca de 30 dias, por ser um caso atípico, e não uma contaminação clássica”, comentou.

O especialista também afasta a possibilidade de os Estados Unidos, que são o segundo maior comprador da carne brasileira, adotarem medida de suspensão como a da China. “Acho muito difícil os Estados Unidos aderirem a isso. Mais do que nossos compradores, eles são nossos grandes concorrentes no mercado de carnes da China. Qualquer atitude desse tipo seria vista como eventual retaliação ao Brasil”, comentou.

Protocolo sanitário rígido

O professor de agronegócio global do Insper, Marcos Sawaya Jank, afirma que o protocolo sanitário adotado pelo Brasil com a China é o único no mundo que impõe corte das exportações em situações de casos atípicos do mal da vaca louca. Ele afirma que o protocolo deve entrar na pauta da viagem de Lula ao país asiático.

Como mostrou o Estadão, o governo brasileiro tenta acelerar os protocolos sanitários para regularizar a exportação de carne bovina para a China antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcar para um encontro bilateral com o presidente chines Xi Jinping, previsto para o dia 28 de março.

O caso atípico é aquele que envolve um único animal, e não a contaminação de um rebanho. No caso de Marabá, o animal, que já foi abatido e, segundo análises feitas, desenvolveu uma doença degenerativa cerebral – ou seja, sem ter contato ou contaminação com outros animais.

O protocolo entre Brasil e China que levou à paralisação das exportações da carne nacional entrou em junho de 2015, quando surgiu no País outro caso atípico de mal vaca louca. Foi quando o Brasil aderiu à regra com aquele que é o seu maior mercado.

“Veja que o Brasil nunca registrou um caso de contaminação clássica de mal da vaca louca. Isso aconteceu em alguns países da Europa. Por aqui, sempre foi um ou outro caso isolado, sem envolver contaminação. É a situação de um animal de mais idade que sofre uma mutação, mas não transmite nada”, diz Jank.

A boi abatido com a doença tinha nove anos. Mesmo são, não havia nenhuma possibilidade de o animal ser exportado para a China, uma vez que o país só compra animais com, no máximo, 30 meses – ou seja, dois anos e meio de idade.

“Eu acredito que, com a ida do presidente Lula à China, prevista para o fim de março, o Brasil tem uma ótima oportunidade de rever essa regra, porque o momento das relações bilaterais é excelente. Todos os fatores conspiram para rever isso”, afirma Jank. “É claro que tem de haver transparência e um controle real, mas para situações que realmente exijam esse tipo de medida.”

Além da paralisação das exportações em 2015, houve casos atípicos de mal da vaca louca no Brasil em 2019 e em 2021, quando o fechamento chegou a durar quase quatro meses.

“Acredito, dessa vez, devemos ter uma rápida solução, porque as relações entre os países estão muito boas. Não temos mais os atritos que vimos no governo passado, quando havia certo embate diplomático e pouca vontade para resolver”, comenta Jank.

Alessandro Azzoni, conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), avalia que o Brasil faz um controle pecuário reconhecido internacionalmente e que isso deve reduzir o tempo da paralisação. “A incidência de um único caso no Brasil faz com que o protocolo seja seguido à risca, como em 2021, quando o país deixou de exportar carne para China por 100 dias, entre setembro e outubro”, comentou. “À época, havia apenas dois casos relatados em Mato Grosso e Minas Gerais.”

Alcides Torres, analista de mercado da Scot Consultoria, reforça que o Brasil é considerado um país de risco baixíssimo com relação à doença. “Nosso rebanho é alimentado por capim, criado em pastagens. Mesmo quando é confinado, não recebe resíduos de origem animal. É proibido usar, por exemplo, farinha de sangue, farinha de carne e farinha de ossos”, comenta. “Tudo isso é proibido e há, inclusive, penalização severa se não cumprir essas regras.”

Torres também acredita numa resposta rápida da China, para regularizar a situação. Caso se prolongue, o destino da carne produzida poderia ser consumido, em parte, pelo mercado nacional. “Se, eventualmente, isso se estender, parte dessa carne vai para o mercado interno e a gente até poderia ter queda do preço no mercado atacadista, podendo haver repasse dessa queda aos consumidores finais, mas isso é mera especulação”, avalia, acreditando numa retomada das exportações no curto prazo.

Mercado gigante

A China é o maior comprador da carne brasileira, tendo respondido por 57% das exportações do produto nacional em janeiro, com a movimentação de US$ 485 milhões. O segundo maior consumidor são os Estados Unidos, com 9,4% das exportações e movimentação de US$ 79 milhões em janeiro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

O potencial de crescimento do mercado chinês é exponencial, apontam especialistas, dado que hoje o consumo de carne bovina por ano na China é de 5 quilos por pessoa – enquanto no Brasil essa média é de 25 quilos por pessoa.

BRASÍLIA – O peso do consumo chinês no mercado da carne bovina brasileira fica mais evidente quando se verifica o impacto diário da paralisação no embarque desses produtos para o gigante asiático. As estimativas apontam que o Brasil deve deixar de faturar cerca de US$ 17 milhões por dia com o fechamento temporário do comércio desse produto, por causa do caso confirmado de mal da vaca louca em um animal no Pará.

As estimativas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) indicam para um mercado que movimenta cerca de US$ 500 milhões por mês. Porém, para José Augusto de Castro, presidente da AEB, apesar do impacto financeiro imediato, a tendência é de que as exportações logo sejam repostas, sem prejuízo ao produtor brasileiro, dado o tamanho da demanda chinesa.

“Não acredito que vamos perder mercado. O que deve ocorrer, apenas, é adiamento de embarques da produção, ou a transferência de carne para outros países, até que tudo se normalize”, disse o especialista.

Especialistas acreditam que suspensão das exportações de carne bovina à China devido a caso isolado de mal da vaca louca deve ser resolvido em, no máximo, um mês. Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

Castro viu como positiva a atuação rápida do governo em se posicionar sobre o caso de mal da vaca louca identificado em uma pequena fazenda em Marabá, no Pará. “O Brasil seguiu todos os protocolos, se adiantou. Acreditamos que deva resolver rapidamente a situação, em cerca de 30 dias, por ser um caso atípico, e não uma contaminação clássica”, comentou.

O especialista também afasta a possibilidade de os Estados Unidos, que são o segundo maior comprador da carne brasileira, adotarem medida de suspensão como a da China. “Acho muito difícil os Estados Unidos aderirem a isso. Mais do que nossos compradores, eles são nossos grandes concorrentes no mercado de carnes da China. Qualquer atitude desse tipo seria vista como eventual retaliação ao Brasil”, comentou.

Protocolo sanitário rígido

O professor de agronegócio global do Insper, Marcos Sawaya Jank, afirma que o protocolo sanitário adotado pelo Brasil com a China é o único no mundo que impõe corte das exportações em situações de casos atípicos do mal da vaca louca. Ele afirma que o protocolo deve entrar na pauta da viagem de Lula ao país asiático.

Como mostrou o Estadão, o governo brasileiro tenta acelerar os protocolos sanitários para regularizar a exportação de carne bovina para a China antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcar para um encontro bilateral com o presidente chines Xi Jinping, previsto para o dia 28 de março.

O caso atípico é aquele que envolve um único animal, e não a contaminação de um rebanho. No caso de Marabá, o animal, que já foi abatido e, segundo análises feitas, desenvolveu uma doença degenerativa cerebral – ou seja, sem ter contato ou contaminação com outros animais.

O protocolo entre Brasil e China que levou à paralisação das exportações da carne nacional entrou em junho de 2015, quando surgiu no País outro caso atípico de mal vaca louca. Foi quando o Brasil aderiu à regra com aquele que é o seu maior mercado.

“Veja que o Brasil nunca registrou um caso de contaminação clássica de mal da vaca louca. Isso aconteceu em alguns países da Europa. Por aqui, sempre foi um ou outro caso isolado, sem envolver contaminação. É a situação de um animal de mais idade que sofre uma mutação, mas não transmite nada”, diz Jank.

A boi abatido com a doença tinha nove anos. Mesmo são, não havia nenhuma possibilidade de o animal ser exportado para a China, uma vez que o país só compra animais com, no máximo, 30 meses – ou seja, dois anos e meio de idade.

“Eu acredito que, com a ida do presidente Lula à China, prevista para o fim de março, o Brasil tem uma ótima oportunidade de rever essa regra, porque o momento das relações bilaterais é excelente. Todos os fatores conspiram para rever isso”, afirma Jank. “É claro que tem de haver transparência e um controle real, mas para situações que realmente exijam esse tipo de medida.”

Além da paralisação das exportações em 2015, houve casos atípicos de mal da vaca louca no Brasil em 2019 e em 2021, quando o fechamento chegou a durar quase quatro meses.

“Acredito, dessa vez, devemos ter uma rápida solução, porque as relações entre os países estão muito boas. Não temos mais os atritos que vimos no governo passado, quando havia certo embate diplomático e pouca vontade para resolver”, comenta Jank.

Alessandro Azzoni, conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), avalia que o Brasil faz um controle pecuário reconhecido internacionalmente e que isso deve reduzir o tempo da paralisação. “A incidência de um único caso no Brasil faz com que o protocolo seja seguido à risca, como em 2021, quando o país deixou de exportar carne para China por 100 dias, entre setembro e outubro”, comentou. “À época, havia apenas dois casos relatados em Mato Grosso e Minas Gerais.”

Alcides Torres, analista de mercado da Scot Consultoria, reforça que o Brasil é considerado um país de risco baixíssimo com relação à doença. “Nosso rebanho é alimentado por capim, criado em pastagens. Mesmo quando é confinado, não recebe resíduos de origem animal. É proibido usar, por exemplo, farinha de sangue, farinha de carne e farinha de ossos”, comenta. “Tudo isso é proibido e há, inclusive, penalização severa se não cumprir essas regras.”

Torres também acredita numa resposta rápida da China, para regularizar a situação. Caso se prolongue, o destino da carne produzida poderia ser consumido, em parte, pelo mercado nacional. “Se, eventualmente, isso se estender, parte dessa carne vai para o mercado interno e a gente até poderia ter queda do preço no mercado atacadista, podendo haver repasse dessa queda aos consumidores finais, mas isso é mera especulação”, avalia, acreditando numa retomada das exportações no curto prazo.

Mercado gigante

A China é o maior comprador da carne brasileira, tendo respondido por 57% das exportações do produto nacional em janeiro, com a movimentação de US$ 485 milhões. O segundo maior consumidor são os Estados Unidos, com 9,4% das exportações e movimentação de US$ 79 milhões em janeiro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

O potencial de crescimento do mercado chinês é exponencial, apontam especialistas, dado que hoje o consumo de carne bovina por ano na China é de 5 quilos por pessoa – enquanto no Brasil essa média é de 25 quilos por pessoa.

BRASÍLIA – O peso do consumo chinês no mercado da carne bovina brasileira fica mais evidente quando se verifica o impacto diário da paralisação no embarque desses produtos para o gigante asiático. As estimativas apontam que o Brasil deve deixar de faturar cerca de US$ 17 milhões por dia com o fechamento temporário do comércio desse produto, por causa do caso confirmado de mal da vaca louca em um animal no Pará.

As estimativas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) indicam para um mercado que movimenta cerca de US$ 500 milhões por mês. Porém, para José Augusto de Castro, presidente da AEB, apesar do impacto financeiro imediato, a tendência é de que as exportações logo sejam repostas, sem prejuízo ao produtor brasileiro, dado o tamanho da demanda chinesa.

“Não acredito que vamos perder mercado. O que deve ocorrer, apenas, é adiamento de embarques da produção, ou a transferência de carne para outros países, até que tudo se normalize”, disse o especialista.

Especialistas acreditam que suspensão das exportações de carne bovina à China devido a caso isolado de mal da vaca louca deve ser resolvido em, no máximo, um mês. Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

Castro viu como positiva a atuação rápida do governo em se posicionar sobre o caso de mal da vaca louca identificado em uma pequena fazenda em Marabá, no Pará. “O Brasil seguiu todos os protocolos, se adiantou. Acreditamos que deva resolver rapidamente a situação, em cerca de 30 dias, por ser um caso atípico, e não uma contaminação clássica”, comentou.

O especialista também afasta a possibilidade de os Estados Unidos, que são o segundo maior comprador da carne brasileira, adotarem medida de suspensão como a da China. “Acho muito difícil os Estados Unidos aderirem a isso. Mais do que nossos compradores, eles são nossos grandes concorrentes no mercado de carnes da China. Qualquer atitude desse tipo seria vista como eventual retaliação ao Brasil”, comentou.

Protocolo sanitário rígido

O professor de agronegócio global do Insper, Marcos Sawaya Jank, afirma que o protocolo sanitário adotado pelo Brasil com a China é o único no mundo que impõe corte das exportações em situações de casos atípicos do mal da vaca louca. Ele afirma que o protocolo deve entrar na pauta da viagem de Lula ao país asiático.

Como mostrou o Estadão, o governo brasileiro tenta acelerar os protocolos sanitários para regularizar a exportação de carne bovina para a China antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcar para um encontro bilateral com o presidente chines Xi Jinping, previsto para o dia 28 de março.

O caso atípico é aquele que envolve um único animal, e não a contaminação de um rebanho. No caso de Marabá, o animal, que já foi abatido e, segundo análises feitas, desenvolveu uma doença degenerativa cerebral – ou seja, sem ter contato ou contaminação com outros animais.

O protocolo entre Brasil e China que levou à paralisação das exportações da carne nacional entrou em junho de 2015, quando surgiu no País outro caso atípico de mal vaca louca. Foi quando o Brasil aderiu à regra com aquele que é o seu maior mercado.

“Veja que o Brasil nunca registrou um caso de contaminação clássica de mal da vaca louca. Isso aconteceu em alguns países da Europa. Por aqui, sempre foi um ou outro caso isolado, sem envolver contaminação. É a situação de um animal de mais idade que sofre uma mutação, mas não transmite nada”, diz Jank.

A boi abatido com a doença tinha nove anos. Mesmo são, não havia nenhuma possibilidade de o animal ser exportado para a China, uma vez que o país só compra animais com, no máximo, 30 meses – ou seja, dois anos e meio de idade.

“Eu acredito que, com a ida do presidente Lula à China, prevista para o fim de março, o Brasil tem uma ótima oportunidade de rever essa regra, porque o momento das relações bilaterais é excelente. Todos os fatores conspiram para rever isso”, afirma Jank. “É claro que tem de haver transparência e um controle real, mas para situações que realmente exijam esse tipo de medida.”

Além da paralisação das exportações em 2015, houve casos atípicos de mal da vaca louca no Brasil em 2019 e em 2021, quando o fechamento chegou a durar quase quatro meses.

“Acredito, dessa vez, devemos ter uma rápida solução, porque as relações entre os países estão muito boas. Não temos mais os atritos que vimos no governo passado, quando havia certo embate diplomático e pouca vontade para resolver”, comenta Jank.

Alessandro Azzoni, conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), avalia que o Brasil faz um controle pecuário reconhecido internacionalmente e que isso deve reduzir o tempo da paralisação. “A incidência de um único caso no Brasil faz com que o protocolo seja seguido à risca, como em 2021, quando o país deixou de exportar carne para China por 100 dias, entre setembro e outubro”, comentou. “À época, havia apenas dois casos relatados em Mato Grosso e Minas Gerais.”

Alcides Torres, analista de mercado da Scot Consultoria, reforça que o Brasil é considerado um país de risco baixíssimo com relação à doença. “Nosso rebanho é alimentado por capim, criado em pastagens. Mesmo quando é confinado, não recebe resíduos de origem animal. É proibido usar, por exemplo, farinha de sangue, farinha de carne e farinha de ossos”, comenta. “Tudo isso é proibido e há, inclusive, penalização severa se não cumprir essas regras.”

Torres também acredita numa resposta rápida da China, para regularizar a situação. Caso se prolongue, o destino da carne produzida poderia ser consumido, em parte, pelo mercado nacional. “Se, eventualmente, isso se estender, parte dessa carne vai para o mercado interno e a gente até poderia ter queda do preço no mercado atacadista, podendo haver repasse dessa queda aos consumidores finais, mas isso é mera especulação”, avalia, acreditando numa retomada das exportações no curto prazo.

Mercado gigante

A China é o maior comprador da carne brasileira, tendo respondido por 57% das exportações do produto nacional em janeiro, com a movimentação de US$ 485 milhões. O segundo maior consumidor são os Estados Unidos, com 9,4% das exportações e movimentação de US$ 79 milhões em janeiro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

O potencial de crescimento do mercado chinês é exponencial, apontam especialistas, dado que hoje o consumo de carne bovina por ano na China é de 5 quilos por pessoa – enquanto no Brasil essa média é de 25 quilos por pessoa.

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