A volta do horário de verão está em discussão no Governo Federal para gerar economia de energia elétrica ao País, mas a medida pode também ampliar as vendas de alguns setores. Bares, restaurantes e varejistas de rua são os negócios que se beneficiariam da medida, extinta em 2019.
Segundo estimativa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o horário de verão é importante porque pode aumentar o faturamento dos negócios do setor em até 15%. Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, diz que as vantagens da mudança nos relógios é positiva para os negócios de alimentação fora do lar, mas também impacta positivamente todos os setores da economia pela tarifa de energia. A associação apoia a volta do horário de verão há cinco anos.
“Quando tem horário de verão, o nosso setor fatura até 50% a mais das 18h às 21h e isso representa um faturamento de 10% a 15% a mais sobre o todo. É necessário dizer que, num setor que está apertado, isso é muito importante. Temos ainda hoje mais de 20% das empresas com prejuízos, mais da metade sem lucrar, e com quatro em cada 10 com dívidas atrasadas. Todo faturamento é muito importante”, diz Solmucci. Ele afirma ainda não entender a relutância do governo em voltar com o horário de verão.
O varejo também considera a mudança nos relógios como positiva, especialmente para lojas de rua. Em ambos os casos, a luz solar permitirá aos lojistas ampliar o horário de funcionamento e, assim, aumentando as possibilidades de vendas.
O professor e coordenador do Centro em Excelência em Varejo da FGV EAESP, Maurício Morgado, afirma que o horário de verão leva a população a ficar mais tempo na rua após o expediente - ou nos fins de semana. Isso significa um estímulo a mais para frequentar bares e restaurantes e lojas de varejo, incluindo até mesmo os supermercados.
“Acho que (o horário de verão) realmente colabora para o movimento do varejo. Obviamente, não é milagroso, mas o pessoal vai perceber alguns pontos porcentuais de aumento no faturamento como um todo”, afirma Morgado. A estimativa é de que o horário ampliado de luz solar pode aumentar em 5% as vendas do varejo.
De acordo com especialistas, os únicos setores que são contra a volta do horário de verão são o agronegócio e a aviação, uma vez que a mudança nos relógios levaria a ajustes nas operações dos seus negócios, eventualmente resultando em prejuízos.
A Associação Brasileira de Companhias Aéreas (Abear), a Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA), a International Air Transport Association (IATA) e a Junta de Representantes das Companhias Aéreas Internacionais do Brasil (JURCAIB) se dizem preocupadas com a volta do horário de verão. O motivo seria a falta de tempo suficiente para adequar as operações aéreas. “A entrada súbita do horário de verão causará, por parte das empresas aéreas brasileiras, alterações de horários em cidades brasileiras e internacionais que não aderem à nova hora legal de Brasília. Isso mudará a hora de saída/chegada dos voos, podendo gerar a perda do embarque pelos clientes por apresentação tardia e eventual perda de conectividade”, diz, em nota, apesar de o assunto estar em discussão no governo desde o começo do ano.
Economia para o setor elétrico
Segundo estudo técnico do Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), o horário de verão alivia o aumento da carga que ocorre entre 18h e 19h, adiando o pico de uso de energia em até duas horas. A medida de atrasar os relógios também pode gerar economia no custo da operação entre os meses de outubro e fevereiro de R$ 244 milhões a R$ 356 milhões, a depender da quantidade de chuvas.
O principal motivo é o uso da energia solar, que tem 19,5% de participação na matriz elétrica brasileira, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar). O uso da energia fotovoltaica alivia picos de uso de outras fontes de energia, como hidrelétrica e térmica, reduzindo custos de operação. Com o horário de verão, o pico de geração de energia é deslocado das 18h para às 20h, quando não há mais possibilidade de geração de energia solar.
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População favorável
Uma pesquisa da Abrasel, feita com três mil pessoas em setembro, mostrou que 54,9% dos entrevistados são favoráveis à volta do horário de verão ainda em 2024. Os detratores foram 25,8%.
A maioria, 43,6%, indicou a economia de energia elétrica como principal razão para o desejo da mudança dos relógios. Por outro lado, 39,9% dos entrevistados disseram que a medida não gera economia. Já 16,4% disseram que não sabem ou não têm certeza.
A margem de erro da pesquisa da Abrasel é de dois pontos porcentuais para mais ou menos, e o levantamento tem um nível de confiança de 95%.
Procurados, o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), a Sociedade Brasileira do Varejo e Comércio (SBVC), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) não responderam ou não comentaram sobre o impacto da volta do horário de verão para seus setores.