BRASÍLIA E SÃO PAULO - O apagão cibernético, nesta sexta-feira, 19, teve impactos diferentes por setor no Brasil. Interrupções em atividades do sistema financeiro, problemas no atendimento a clientes de hospitais, companhias de energia elétrica e transtornos em check-in em aeroportos estão entre as consequências locais do apagão global em sistemas de computadores. Confira abaixo a situação em 10 setores, a partir das informações de instituições públicas, órgãos de regulação, entidades e companhias.
Aeroportos
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou que nenhuma das companhias aéreas associadas teve a operação afetada. Enquanto Gol e Latam disseram não terem sido impactadas pelo incidente, a Azul, que não é associada à Abear, informou que voos poderiam sofrer atrasos em função do apagão e pediu aos clientes com voos marcados para esta sexta-feira que ainda não tivessem realizado o check-in que chegassem ao aeroporto mais cedo e fossem ao balcão de atendimento da companhia.
O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) informou que houve problemas nos sistemas de check-in de algumas companhias aéreas, que provocaram “alguns atrasos pontuais em voos, mas sem impactos na operação de pousos e decolagens até o momento no Brasil”, mas o apagão não afetou o controle de tráfego aéreo do País.
A Anac também divulgou nota mais cedo, destacando que monitorava a situação e estava em contato com os operadores aéreos e aeroportuários para avaliar e reduzir eventuais impactos no setor: “É importante destacar que, em casos de atrasos de voo, cancelamento ou interrupção do serviço, aplicam-se as disposições da Resolução nº 400 da Anac, que trata das condições gerais de transporte aéreo”, disse a agência em nota.
A Aena informou que os sistemas estavam funcionando normalmente em todos os 17 aeroportos administrados pela concessionária, inclusive Congonhas, e que não tinham ocorrido impactos nas operações de pouso e decolagem.
Além de Congonhas, a Aena administra os aeroportos de Recife (PE), Maceió (AL), João Pessoa (PB), Aracaju (SE), Juazeiro do Norte (CE) Campina Grande (PB), Campo Grande (MS), Uberlândia (MG), Santarém (PA), Marabá (PA), Montes Claros (MG), Parauapebas (PA), Uberaba (MG), Altamira (PA), Ponta Porã (MS) e Corumbá (MS).
Bancos e fintechs
O Nubank informou que a maior parte de seus serviços operava normalmente, mas tinham ocorrido impacto sobre as operações de canais de atendimento ao cliente. “O Nubank informa que seus serviços seguem operando normalmente. O único impacto identificado até o momento está na operação dos canais de atendimento ao cliente, levando a um tempo maior do que o habitual nas interações”, disse a fintech em nota enviada ao Estadão/Broadcast.
O Bradesco informou, no início da tarde, que seus canais digitais voltaram a operar normalmente e acrescentou que, eventualmente, poderiam ocorrer registros isolados de intermitência. A nota do Bradesco foi divulgada após o banco ter informado, pela manhã, que os canais digitais passavam por instabilidade por conta do apagão cibernético global.
O banco de investimentos BTG Pactual informou que seus aplicativos seguiam no ar, mas funcionalidades conectadas a serviços externos ao banco poderiam ser afetadas em caso de indisponibilidade de terceiros. Pela manhã, operadores afirmaram ao Estadão/Broadcast que estavam com problemas para operar nas áreas destinadas à Bolsa de Valores e as funcionalidades oferecidas pelo banco como corretora de investimentos.
O Pan, que teve problemas, disse que vieram de uma atualização de software de um fornecedor, e não atribuiu a falha diretamente ao evento global.
A XP Investimentos, por meio de mensagem no WhatsApp, pediu que clientes aguardassem a normalização dos serviços afetados: “Informamos que nossos produtos foram impactados pela falha global nos sistemas da Microsoft”.
A Stone informou que constatou instabilidades com o fornecedor de antifraude Crowdstrike, afetando a área de softwares da Linx e o Pagar.me, mas “os serviços financeiros e de pagamentos via maquininha não sofreram impactos e continuam operando normalmente”. A companhia destacou ainda que seu time de tecnologia acompanhava a situação para normalizar 100% das operações “o mais rápido possível”.
O PagBank (ex-PagSeguro), que opera um banco digital e uma das maiores empresas de maquininhas de cartão do País, afirmou não ter sido afetado pelo apagão.
O Neon, fintech, informou que o funcionamento dos serviços foi restabelecido. Em nota, relatou que “seu aplicativo sofreu instabilidade nesta manhã em decorrência da crise global de tecnologia. O funcionamento dos serviços foi restabelecido e todo o time técnico da Neon continua trabalhando arduamente para minimizar quaisquer impactos para seus clientes”.
O Banco Central informou que todos os seus sistemas estavam “funcionando normalmente”.
Bolsa
A B3 informou que “nenhum de seus serviços e plataformas de operação foi afetado pela falha técnica que atingiu diversos setores globalmente”.
A companhia, assim, reforçou que os sistemas continuavam “operando e aptos para pleno funcionamento do mercado”.
Energia elétrica
A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) informou que o apagão global afetou “temporariamente sistemas de atendimento aos consumidores de algumas empresas do segmento”. A entidade citou como exemplo call centers e aplicativos. O envio de equipes de campo também foi afetado e, alternativamente, exigiu comunicação via rádio.
Entre as empresas que tiveram problema, estão a Neoenergia, a Cemig, a Light e a Copel. Nesta última, o impacto se deu durante a madrugada. A CPFL informou que as operações foram mantidas, mesmo com o evento, “já que não faz uso da plataforma afetada”.
A Eletrobras informou que não teve as operações impactadas pelo apagão cibernético.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que coordena e controla a geração e a transmissão de energia elétrica em todo o Sistema Interligado Nacional (SIN), disse em nota que sua infraestrutura não está diretamente sujeita ao evento, já que o incidente foi causado por um produto que não é utilizado pela instituição, e que o apagão cibernético global “não trouxe impactos para as atividades da empresa e nem para a operação do Sistema Interligado Nacional”.
Estradas
O Ministério dos Transportes informou que o apagão cibernético afetou o sistema de manifestos de cargas de ferrovias da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mas a situação havia sido normalizada. O impacto, segundo a ANTT, foi pontual e não atingiu usuários de rodovias.
Segundo a agência, a equipe responsável restabeleceu integralmente todas as ligações e sistemas, que passaram a operar normalmente.
“Foi pontual, durou pouco tempo, pois as equipes de TI restabeleceram todas as ligações e sistemas”, disse o secretário executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro.
Governo federal
O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos informou que o sistema gov.br não foi afetado pelo apagão cibernético global. “Até o momento não houve registro de incidentes pelos órgãos referentes a esse evento adverso Microsoft. O Ministério da Gestão, por meio do Centro Integrado de Segurança Cibernética do Governo Digital, está monitorando a situação. Caso exista necessidade, alertaremos as instituições públicas com as recomendações técnicas a serem adotadas”, informou.
Procurada, a Receita Federal informou que a comunicação sobre o ataque cibernético estava concentrada no Ministério da Gestão e do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), que já havia informado que não tinha ocorrido nenhum impacto nos serviços nem nas operações da empresa.
Hospitais
O apagão cibernético global também afetou o funcionamento de hospitais de São Paulo.
De acordo com o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp), cinco de 73 unidades consultadas pela entidade admitiram ter sofrido impactos, como instabilidade em sistemas e atraso nos atendimentos. Os que não foram impactados não utilizavam o provedor de cibersegurança CrowdStrike, apontado como sistema afetado pela falha.
O SindHosp não informou o nome dos cinco hospitais prejudicados, o Estadão obteve a confirmação de problemas no Albert Einstein, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e no Sírio-Libanês
De toda forma, o presidente do SindHosp , Francisco Balestrin, afirmou que os pacientes podiam ficar tranquilos porque as unidades estavam “atentas para garantir o atendimento com a melhor qualidade possível”.
No momento do apagão, os computadores do Hospital das Clínicas da USP que usam a plataforma Windows 10 no HCFMUSP foram afetados. O hospital afirmou em nota que o sistema já estava “em processo de estabilização, sem prejuízos relevantes aos serviços assistenciais”.
O apagão cibernético afetou os sistemas de todas as unidades do Hospital Sírio-libanês, já restabelecidos, “sem grande impacto para nossos pacientes”, segundo afirmou a assessoria de imprensa do hospital. A origem do problema foi a atualização do software de segurança da Microsoft.
Houve suspensão temporária do serviço de coleta de exames laboratoriais, uma vez que a empresa parceira que processa as amostras estava enfrentando o mesmo problema de instabilidade. Somente às 12h30min a coleta foi restabelecida. “Todos os hospitais e unidades estão operando normalmente, com processos e serviços fluindo sem intercorrências”, informou o Sírio.
O Hospital Albert Einstein afirmou que observou impacto da falha global já na madrugada, “o que permitiu as correções necessárias”. O hospital não informou quais foram os serviços afetados e se os atendimentos chegaram a ser impactados. Em nota enviada por volta das 13h, disse apenas que, “no momento, os sistemas já estão restabelecidos e que “não há nenhum setor de atendimento aos pacientes inoperante”.
Judiciário
O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou nota afirmando que um dos sistemas que a Corte utiliza havia sido afetado pelo apagão cibernético mundial, mas que os principais serviços já tinham sido restabelecidos.
“Por volta das 7h, o portal do STF foi restabelecido. Os sistemas judiciais e os principais sistemas administrativos já estão funcionando adequadamente. Serviços de apoio, principalmente utilizados pelo público interno, ainda estão sendo reativados. Assim que tudo estiver completamente normalizado, o público externo e o público interno que utilizam os serviços do STF serão comunicados”, diz a nota.
Telefonia
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que não havia registro de impacto no setor.
Varejo
O Grupo Carrefour Brasil informou que utiliza a plataforma Azure, da Microsoft, que teve uma interrupção em seu serviço de nuvem. A companhia não especificou os problemas sofridos, mas informou que já tinha conseguido sanar alguns problemas e estava “trabalhando para restabelecer serviços que foram afetados”.
Participaram desta cobertura: Bárbara Giovani, Beatriz Capirazi, Caroline Aragaki, Cícero Cotrim, Cristiane Barbieri, Elisa Calmon, Fabiana Cambricoli, Fernanda Trisotto, Lavínia Kaucz, Luiz Araújo, Mateus Fagundes, Matheus Piovesana, Renan Monteiro e Talita Nascimento