Venda de bancos e socorro de BCs ganham força para conter risco de crise bancária


Medidas são apontadas por analistas e investidores como cruciais para que o segmento recupere a confiança e evite a queda de novas instituições financeiras à frente

Por Aline Bronzati

NOVA YORK - Uma combinação de venda de bancos nos Estados Unidos e na Europa e medidas de socorro por parte de bancos centrais pode ser a saída para evitar que uma crise no setor se alastre e coloque em xeque a estabilidade financeira global à medida que a inflação pressiona para a contínua subida de juros nas economias desenvolvidas. Ambos os caminhos são apontados por analistas e investidores como cruciais para que o segmento bancário, envolto de uma turbulência nas últimas semanas, recupere a confiança e evite a queda de novos dominós à frente.

Nos Estados Unidos, três bancos fecharam as portas em questão de dias, levantando temores no mercado em relação à saúde de instituições regionais e de menor porte no país. Embora os reguladores americanos tenham agido rápido para socorrer os depositantes, com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) oferecendo uma linha de liquidez adicional, a continuidade da turbulência pode exigir mais medidas, bem como uma onda de fusões de aquisições (M&A, na sigla em inglês).

Do outro lado do Atlântico, a aquisição do suíço Credit Suisse por um sócio de peso também pode ser a saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos e que ganhou novo capítulo na quarta-feira, 15. Nomes como o do rival UBS e do J. Safra Sarasin, baseado na Suíça e controlado pela família Safra, são citados por analistas como possíveis compradores.

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A venda das operações globais do Credit ganhou força em reação à crise desencadeada após o seu principal acionista, o Saudi National Bank, sinalizar que não concederia mais fôlego financeiro ao banco suíço no futuro caso fosse necessário. Uma restrição regulatória e estatutária o impede, porém, de elevar a sua fatia para mais de 10% no Credit. Atualmente, o saudita possui 9,88% do capital do banco.

Em paralelo, o Credit anunciou nesta quinta-feira que terá apoio de uma linha de até 50 bilhões de francos suíços, o equivalente a quase R$ 285 bilhões, por parte do Banco Nacional da Suíça (SNB, o banco central do país).

Para analistas do JPMorgan, o suporte de liquidez do SNB é insuficiente, e a venda do banco, “especialmente ao UBS”, é o “mais provável” de três cenários desenhados por eles. “Vemos o suporte de liquidez do SNB como insuficiente e acreditamos que a situação do Credit Suisse é sobre problemas contínuos de confiança do mercado com sua estratégia de banco de investimento e erosão contínua da franquia”, dizem, em nota a clientes.

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Nos EUA, o First Republic Bank, com sede em São Francisco e foco no segmento private e de gestão de fortunas, está sendo socorrido por pesos pesados de Wall Street. JPMorgan, Citigroup, Bank of America e outros bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley vão injetar US$ 30 bilhões na instituição como uma forma de garantir que a instituição tenha liquidez para continuar atendendo os seus clientes.

O resgate de 11 bancos vem após suas ações amargarem fortes perdas em Wall Street da esteira da quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank. Em um mês, os papéis do First Republic Bank acumulam perdas de mais de 70% na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse).

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Aquisição do Credit Suisse por sócio de peso pode ser saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos Foto: Hannah McKay/Reuters

DPGE americano

Diante do fechamento de três bancos nos Estados Unidos em questão de dias, os reguladores americanos correram para agir e evitar que a crise bancária se espalhasse pela maior economia do mundo. Juntos, o Fed, o Tesouro dos EUA e a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), uma espécie de FGC americana, decidiram garantir todos os clientes do SVB e do Signature para além da regra que impõe o limite de até US$ 250 mil a cada depositante. Além disso, o Fed criou um programa de emergência para apoiar bancos de menor porte nos EUA. O First Republic Bank foi um dos bancos a aderir à linha.

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A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou a senadores americanos nesta quinta-feira que uma das razões para o governo de Joe Biden ter decidido intervir nos bancos que colapsaram foi por reconhecer o risco de contágio para o sistema. Segundo ela, outras instituições “poderiam ser vítimas” de corridas de saques a depósitos como ocorreu com o SVB.

Governo Biden decidiu intervir nos bancos que colapsaram devido a risco de contágio para o sistemas, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen Foto: Sarah Silbiger/The New York Times

Para o megainvestidor de Wall Street Bill Ackman, da gestora Pershing Square, o problema não foi sanado e mais dominós do setor bancário podem cair à frente. Na sua visão, a “falha” do governo Biden em fornecer uma garantia temporária para todos os depósitos do sistema americano está causando uma “crise bancária desnecessária” e que pode ter um efeito “profundamente negativo” na maior economia do mundo.

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“Três dominós caíram e outro está a caminho. O mercado encontrará sua(s) próxima(s) vítima(s) se esta cair”, disse Ackman, sem mencionar nomes. Ele defende a criação de uma garantia temporária de depósitos, cujo regime seria capitaneado pela FDIC, com “garantias maiores” e taxas escalonadas com base na qualidade de crédito dos bancos americanos.

A sugestão do megainvestidor de Wall Street remete ao que o Banco Central (BC) brasileiro fez com a criação dos chamados Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE). A ferramenta foi lançada em meio à crise internacional de 2008 para salvar os bancos médios no País e ganhou uma nova versão no início da pandemia. “O Fed poderia negociar com a FDIC para criar algo parecido. Faria sentido e daria conta da grande maioria dos problemas no setor bancário americano”, avalia um analista de bancos, baseado nos EUA.

Além disso, o BC atuou ainda junto aos grandes bancos no Brasil para apoiarem bancos menores em meio a fuga de depósitos de bancos pequenos para os de maior porte, o chamado “flight to quality”, expressão em inglês que significa “voo para a qualidade”.

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Nos EUA, um movimento de migração de recursos também foi visto na última semana, com uma enxurrada de recursos batendo à porta de grandes bancos como o JPMorgan, Citigroup, Bank of America, Wells Fargo. No Brasil, os cinco maiores bancos têm em mãos 85% do mercado. Nos EUA, essa proporção é de 51%.

NOVA YORK - Uma combinação de venda de bancos nos Estados Unidos e na Europa e medidas de socorro por parte de bancos centrais pode ser a saída para evitar que uma crise no setor se alastre e coloque em xeque a estabilidade financeira global à medida que a inflação pressiona para a contínua subida de juros nas economias desenvolvidas. Ambos os caminhos são apontados por analistas e investidores como cruciais para que o segmento bancário, envolto de uma turbulência nas últimas semanas, recupere a confiança e evite a queda de novos dominós à frente.

Nos Estados Unidos, três bancos fecharam as portas em questão de dias, levantando temores no mercado em relação à saúde de instituições regionais e de menor porte no país. Embora os reguladores americanos tenham agido rápido para socorrer os depositantes, com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) oferecendo uma linha de liquidez adicional, a continuidade da turbulência pode exigir mais medidas, bem como uma onda de fusões de aquisições (M&A, na sigla em inglês).

Do outro lado do Atlântico, a aquisição do suíço Credit Suisse por um sócio de peso também pode ser a saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos e que ganhou novo capítulo na quarta-feira, 15. Nomes como o do rival UBS e do J. Safra Sarasin, baseado na Suíça e controlado pela família Safra, são citados por analistas como possíveis compradores.

A venda das operações globais do Credit ganhou força em reação à crise desencadeada após o seu principal acionista, o Saudi National Bank, sinalizar que não concederia mais fôlego financeiro ao banco suíço no futuro caso fosse necessário. Uma restrição regulatória e estatutária o impede, porém, de elevar a sua fatia para mais de 10% no Credit. Atualmente, o saudita possui 9,88% do capital do banco.

Em paralelo, o Credit anunciou nesta quinta-feira que terá apoio de uma linha de até 50 bilhões de francos suíços, o equivalente a quase R$ 285 bilhões, por parte do Banco Nacional da Suíça (SNB, o banco central do país).

Para analistas do JPMorgan, o suporte de liquidez do SNB é insuficiente, e a venda do banco, “especialmente ao UBS”, é o “mais provável” de três cenários desenhados por eles. “Vemos o suporte de liquidez do SNB como insuficiente e acreditamos que a situação do Credit Suisse é sobre problemas contínuos de confiança do mercado com sua estratégia de banco de investimento e erosão contínua da franquia”, dizem, em nota a clientes.

Nos EUA, o First Republic Bank, com sede em São Francisco e foco no segmento private e de gestão de fortunas, está sendo socorrido por pesos pesados de Wall Street. JPMorgan, Citigroup, Bank of America e outros bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley vão injetar US$ 30 bilhões na instituição como uma forma de garantir que a instituição tenha liquidez para continuar atendendo os seus clientes.

O resgate de 11 bancos vem após suas ações amargarem fortes perdas em Wall Street da esteira da quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank. Em um mês, os papéis do First Republic Bank acumulam perdas de mais de 70% na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse).

Aquisição do Credit Suisse por sócio de peso pode ser saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos Foto: Hannah McKay/Reuters

DPGE americano

Diante do fechamento de três bancos nos Estados Unidos em questão de dias, os reguladores americanos correram para agir e evitar que a crise bancária se espalhasse pela maior economia do mundo. Juntos, o Fed, o Tesouro dos EUA e a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), uma espécie de FGC americana, decidiram garantir todos os clientes do SVB e do Signature para além da regra que impõe o limite de até US$ 250 mil a cada depositante. Além disso, o Fed criou um programa de emergência para apoiar bancos de menor porte nos EUA. O First Republic Bank foi um dos bancos a aderir à linha.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou a senadores americanos nesta quinta-feira que uma das razões para o governo de Joe Biden ter decidido intervir nos bancos que colapsaram foi por reconhecer o risco de contágio para o sistema. Segundo ela, outras instituições “poderiam ser vítimas” de corridas de saques a depósitos como ocorreu com o SVB.

Governo Biden decidiu intervir nos bancos que colapsaram devido a risco de contágio para o sistemas, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen Foto: Sarah Silbiger/The New York Times

Para o megainvestidor de Wall Street Bill Ackman, da gestora Pershing Square, o problema não foi sanado e mais dominós do setor bancário podem cair à frente. Na sua visão, a “falha” do governo Biden em fornecer uma garantia temporária para todos os depósitos do sistema americano está causando uma “crise bancária desnecessária” e que pode ter um efeito “profundamente negativo” na maior economia do mundo.

“Três dominós caíram e outro está a caminho. O mercado encontrará sua(s) próxima(s) vítima(s) se esta cair”, disse Ackman, sem mencionar nomes. Ele defende a criação de uma garantia temporária de depósitos, cujo regime seria capitaneado pela FDIC, com “garantias maiores” e taxas escalonadas com base na qualidade de crédito dos bancos americanos.

A sugestão do megainvestidor de Wall Street remete ao que o Banco Central (BC) brasileiro fez com a criação dos chamados Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE). A ferramenta foi lançada em meio à crise internacional de 2008 para salvar os bancos médios no País e ganhou uma nova versão no início da pandemia. “O Fed poderia negociar com a FDIC para criar algo parecido. Faria sentido e daria conta da grande maioria dos problemas no setor bancário americano”, avalia um analista de bancos, baseado nos EUA.

Além disso, o BC atuou ainda junto aos grandes bancos no Brasil para apoiarem bancos menores em meio a fuga de depósitos de bancos pequenos para os de maior porte, o chamado “flight to quality”, expressão em inglês que significa “voo para a qualidade”.

Nos EUA, um movimento de migração de recursos também foi visto na última semana, com uma enxurrada de recursos batendo à porta de grandes bancos como o JPMorgan, Citigroup, Bank of America, Wells Fargo. No Brasil, os cinco maiores bancos têm em mãos 85% do mercado. Nos EUA, essa proporção é de 51%.

NOVA YORK - Uma combinação de venda de bancos nos Estados Unidos e na Europa e medidas de socorro por parte de bancos centrais pode ser a saída para evitar que uma crise no setor se alastre e coloque em xeque a estabilidade financeira global à medida que a inflação pressiona para a contínua subida de juros nas economias desenvolvidas. Ambos os caminhos são apontados por analistas e investidores como cruciais para que o segmento bancário, envolto de uma turbulência nas últimas semanas, recupere a confiança e evite a queda de novos dominós à frente.

Nos Estados Unidos, três bancos fecharam as portas em questão de dias, levantando temores no mercado em relação à saúde de instituições regionais e de menor porte no país. Embora os reguladores americanos tenham agido rápido para socorrer os depositantes, com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) oferecendo uma linha de liquidez adicional, a continuidade da turbulência pode exigir mais medidas, bem como uma onda de fusões de aquisições (M&A, na sigla em inglês).

Do outro lado do Atlântico, a aquisição do suíço Credit Suisse por um sócio de peso também pode ser a saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos e que ganhou novo capítulo na quarta-feira, 15. Nomes como o do rival UBS e do J. Safra Sarasin, baseado na Suíça e controlado pela família Safra, são citados por analistas como possíveis compradores.

A venda das operações globais do Credit ganhou força em reação à crise desencadeada após o seu principal acionista, o Saudi National Bank, sinalizar que não concederia mais fôlego financeiro ao banco suíço no futuro caso fosse necessário. Uma restrição regulatória e estatutária o impede, porém, de elevar a sua fatia para mais de 10% no Credit. Atualmente, o saudita possui 9,88% do capital do banco.

Em paralelo, o Credit anunciou nesta quinta-feira que terá apoio de uma linha de até 50 bilhões de francos suíços, o equivalente a quase R$ 285 bilhões, por parte do Banco Nacional da Suíça (SNB, o banco central do país).

Para analistas do JPMorgan, o suporte de liquidez do SNB é insuficiente, e a venda do banco, “especialmente ao UBS”, é o “mais provável” de três cenários desenhados por eles. “Vemos o suporte de liquidez do SNB como insuficiente e acreditamos que a situação do Credit Suisse é sobre problemas contínuos de confiança do mercado com sua estratégia de banco de investimento e erosão contínua da franquia”, dizem, em nota a clientes.

Nos EUA, o First Republic Bank, com sede em São Francisco e foco no segmento private e de gestão de fortunas, está sendo socorrido por pesos pesados de Wall Street. JPMorgan, Citigroup, Bank of America e outros bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley vão injetar US$ 30 bilhões na instituição como uma forma de garantir que a instituição tenha liquidez para continuar atendendo os seus clientes.

O resgate de 11 bancos vem após suas ações amargarem fortes perdas em Wall Street da esteira da quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank. Em um mês, os papéis do First Republic Bank acumulam perdas de mais de 70% na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse).

Aquisição do Credit Suisse por sócio de peso pode ser saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos Foto: Hannah McKay/Reuters

DPGE americano

Diante do fechamento de três bancos nos Estados Unidos em questão de dias, os reguladores americanos correram para agir e evitar que a crise bancária se espalhasse pela maior economia do mundo. Juntos, o Fed, o Tesouro dos EUA e a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), uma espécie de FGC americana, decidiram garantir todos os clientes do SVB e do Signature para além da regra que impõe o limite de até US$ 250 mil a cada depositante. Além disso, o Fed criou um programa de emergência para apoiar bancos de menor porte nos EUA. O First Republic Bank foi um dos bancos a aderir à linha.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou a senadores americanos nesta quinta-feira que uma das razões para o governo de Joe Biden ter decidido intervir nos bancos que colapsaram foi por reconhecer o risco de contágio para o sistema. Segundo ela, outras instituições “poderiam ser vítimas” de corridas de saques a depósitos como ocorreu com o SVB.

Governo Biden decidiu intervir nos bancos que colapsaram devido a risco de contágio para o sistemas, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen Foto: Sarah Silbiger/The New York Times

Para o megainvestidor de Wall Street Bill Ackman, da gestora Pershing Square, o problema não foi sanado e mais dominós do setor bancário podem cair à frente. Na sua visão, a “falha” do governo Biden em fornecer uma garantia temporária para todos os depósitos do sistema americano está causando uma “crise bancária desnecessária” e que pode ter um efeito “profundamente negativo” na maior economia do mundo.

“Três dominós caíram e outro está a caminho. O mercado encontrará sua(s) próxima(s) vítima(s) se esta cair”, disse Ackman, sem mencionar nomes. Ele defende a criação de uma garantia temporária de depósitos, cujo regime seria capitaneado pela FDIC, com “garantias maiores” e taxas escalonadas com base na qualidade de crédito dos bancos americanos.

A sugestão do megainvestidor de Wall Street remete ao que o Banco Central (BC) brasileiro fez com a criação dos chamados Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE). A ferramenta foi lançada em meio à crise internacional de 2008 para salvar os bancos médios no País e ganhou uma nova versão no início da pandemia. “O Fed poderia negociar com a FDIC para criar algo parecido. Faria sentido e daria conta da grande maioria dos problemas no setor bancário americano”, avalia um analista de bancos, baseado nos EUA.

Além disso, o BC atuou ainda junto aos grandes bancos no Brasil para apoiarem bancos menores em meio a fuga de depósitos de bancos pequenos para os de maior porte, o chamado “flight to quality”, expressão em inglês que significa “voo para a qualidade”.

Nos EUA, um movimento de migração de recursos também foi visto na última semana, com uma enxurrada de recursos batendo à porta de grandes bancos como o JPMorgan, Citigroup, Bank of America, Wells Fargo. No Brasil, os cinco maiores bancos têm em mãos 85% do mercado. Nos EUA, essa proporção é de 51%.

NOVA YORK - Uma combinação de venda de bancos nos Estados Unidos e na Europa e medidas de socorro por parte de bancos centrais pode ser a saída para evitar que uma crise no setor se alastre e coloque em xeque a estabilidade financeira global à medida que a inflação pressiona para a contínua subida de juros nas economias desenvolvidas. Ambos os caminhos são apontados por analistas e investidores como cruciais para que o segmento bancário, envolto de uma turbulência nas últimas semanas, recupere a confiança e evite a queda de novos dominós à frente.

Nos Estados Unidos, três bancos fecharam as portas em questão de dias, levantando temores no mercado em relação à saúde de instituições regionais e de menor porte no país. Embora os reguladores americanos tenham agido rápido para socorrer os depositantes, com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) oferecendo uma linha de liquidez adicional, a continuidade da turbulência pode exigir mais medidas, bem como uma onda de fusões de aquisições (M&A, na sigla em inglês).

Do outro lado do Atlântico, a aquisição do suíço Credit Suisse por um sócio de peso também pode ser a saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos e que ganhou novo capítulo na quarta-feira, 15. Nomes como o do rival UBS e do J. Safra Sarasin, baseado na Suíça e controlado pela família Safra, são citados por analistas como possíveis compradores.

A venda das operações globais do Credit ganhou força em reação à crise desencadeada após o seu principal acionista, o Saudi National Bank, sinalizar que não concederia mais fôlego financeiro ao banco suíço no futuro caso fosse necessário. Uma restrição regulatória e estatutária o impede, porém, de elevar a sua fatia para mais de 10% no Credit. Atualmente, o saudita possui 9,88% do capital do banco.

Em paralelo, o Credit anunciou nesta quinta-feira que terá apoio de uma linha de até 50 bilhões de francos suíços, o equivalente a quase R$ 285 bilhões, por parte do Banco Nacional da Suíça (SNB, o banco central do país).

Para analistas do JPMorgan, o suporte de liquidez do SNB é insuficiente, e a venda do banco, “especialmente ao UBS”, é o “mais provável” de três cenários desenhados por eles. “Vemos o suporte de liquidez do SNB como insuficiente e acreditamos que a situação do Credit Suisse é sobre problemas contínuos de confiança do mercado com sua estratégia de banco de investimento e erosão contínua da franquia”, dizem, em nota a clientes.

Nos EUA, o First Republic Bank, com sede em São Francisco e foco no segmento private e de gestão de fortunas, está sendo socorrido por pesos pesados de Wall Street. JPMorgan, Citigroup, Bank of America e outros bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley vão injetar US$ 30 bilhões na instituição como uma forma de garantir que a instituição tenha liquidez para continuar atendendo os seus clientes.

O resgate de 11 bancos vem após suas ações amargarem fortes perdas em Wall Street da esteira da quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank. Em um mês, os papéis do First Republic Bank acumulam perdas de mais de 70% na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse).

Aquisição do Credit Suisse por sócio de peso pode ser saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos Foto: Hannah McKay/Reuters

DPGE americano

Diante do fechamento de três bancos nos Estados Unidos em questão de dias, os reguladores americanos correram para agir e evitar que a crise bancária se espalhasse pela maior economia do mundo. Juntos, o Fed, o Tesouro dos EUA e a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), uma espécie de FGC americana, decidiram garantir todos os clientes do SVB e do Signature para além da regra que impõe o limite de até US$ 250 mil a cada depositante. Além disso, o Fed criou um programa de emergência para apoiar bancos de menor porte nos EUA. O First Republic Bank foi um dos bancos a aderir à linha.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou a senadores americanos nesta quinta-feira que uma das razões para o governo de Joe Biden ter decidido intervir nos bancos que colapsaram foi por reconhecer o risco de contágio para o sistema. Segundo ela, outras instituições “poderiam ser vítimas” de corridas de saques a depósitos como ocorreu com o SVB.

Governo Biden decidiu intervir nos bancos que colapsaram devido a risco de contágio para o sistemas, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen Foto: Sarah Silbiger/The New York Times

Para o megainvestidor de Wall Street Bill Ackman, da gestora Pershing Square, o problema não foi sanado e mais dominós do setor bancário podem cair à frente. Na sua visão, a “falha” do governo Biden em fornecer uma garantia temporária para todos os depósitos do sistema americano está causando uma “crise bancária desnecessária” e que pode ter um efeito “profundamente negativo” na maior economia do mundo.

“Três dominós caíram e outro está a caminho. O mercado encontrará sua(s) próxima(s) vítima(s) se esta cair”, disse Ackman, sem mencionar nomes. Ele defende a criação de uma garantia temporária de depósitos, cujo regime seria capitaneado pela FDIC, com “garantias maiores” e taxas escalonadas com base na qualidade de crédito dos bancos americanos.

A sugestão do megainvestidor de Wall Street remete ao que o Banco Central (BC) brasileiro fez com a criação dos chamados Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE). A ferramenta foi lançada em meio à crise internacional de 2008 para salvar os bancos médios no País e ganhou uma nova versão no início da pandemia. “O Fed poderia negociar com a FDIC para criar algo parecido. Faria sentido e daria conta da grande maioria dos problemas no setor bancário americano”, avalia um analista de bancos, baseado nos EUA.

Além disso, o BC atuou ainda junto aos grandes bancos no Brasil para apoiarem bancos menores em meio a fuga de depósitos de bancos pequenos para os de maior porte, o chamado “flight to quality”, expressão em inglês que significa “voo para a qualidade”.

Nos EUA, um movimento de migração de recursos também foi visto na última semana, com uma enxurrada de recursos batendo à porta de grandes bancos como o JPMorgan, Citigroup, Bank of America, Wells Fargo. No Brasil, os cinco maiores bancos têm em mãos 85% do mercado. Nos EUA, essa proporção é de 51%.

NOVA YORK - Uma combinação de venda de bancos nos Estados Unidos e na Europa e medidas de socorro por parte de bancos centrais pode ser a saída para evitar que uma crise no setor se alastre e coloque em xeque a estabilidade financeira global à medida que a inflação pressiona para a contínua subida de juros nas economias desenvolvidas. Ambos os caminhos são apontados por analistas e investidores como cruciais para que o segmento bancário, envolto de uma turbulência nas últimas semanas, recupere a confiança e evite a queda de novos dominós à frente.

Nos Estados Unidos, três bancos fecharam as portas em questão de dias, levantando temores no mercado em relação à saúde de instituições regionais e de menor porte no país. Embora os reguladores americanos tenham agido rápido para socorrer os depositantes, com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) oferecendo uma linha de liquidez adicional, a continuidade da turbulência pode exigir mais medidas, bem como uma onda de fusões de aquisições (M&A, na sigla em inglês).

Do outro lado do Atlântico, a aquisição do suíço Credit Suisse por um sócio de peso também pode ser a saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos e que ganhou novo capítulo na quarta-feira, 15. Nomes como o do rival UBS e do J. Safra Sarasin, baseado na Suíça e controlado pela família Safra, são citados por analistas como possíveis compradores.

A venda das operações globais do Credit ganhou força em reação à crise desencadeada após o seu principal acionista, o Saudi National Bank, sinalizar que não concederia mais fôlego financeiro ao banco suíço no futuro caso fosse necessário. Uma restrição regulatória e estatutária o impede, porém, de elevar a sua fatia para mais de 10% no Credit. Atualmente, o saudita possui 9,88% do capital do banco.

Em paralelo, o Credit anunciou nesta quinta-feira que terá apoio de uma linha de até 50 bilhões de francos suíços, o equivalente a quase R$ 285 bilhões, por parte do Banco Nacional da Suíça (SNB, o banco central do país).

Para analistas do JPMorgan, o suporte de liquidez do SNB é insuficiente, e a venda do banco, “especialmente ao UBS”, é o “mais provável” de três cenários desenhados por eles. “Vemos o suporte de liquidez do SNB como insuficiente e acreditamos que a situação do Credit Suisse é sobre problemas contínuos de confiança do mercado com sua estratégia de banco de investimento e erosão contínua da franquia”, dizem, em nota a clientes.

Nos EUA, o First Republic Bank, com sede em São Francisco e foco no segmento private e de gestão de fortunas, está sendo socorrido por pesos pesados de Wall Street. JPMorgan, Citigroup, Bank of America e outros bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley vão injetar US$ 30 bilhões na instituição como uma forma de garantir que a instituição tenha liquidez para continuar atendendo os seus clientes.

O resgate de 11 bancos vem após suas ações amargarem fortes perdas em Wall Street da esteira da quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank. Em um mês, os papéis do First Republic Bank acumulam perdas de mais de 70% na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse).

Aquisição do Credit Suisse por sócio de peso pode ser saída para o conglomerado suíço superar a crise de credibilidade que enfrenta há anos Foto: Hannah McKay/Reuters

DPGE americano

Diante do fechamento de três bancos nos Estados Unidos em questão de dias, os reguladores americanos correram para agir e evitar que a crise bancária se espalhasse pela maior economia do mundo. Juntos, o Fed, o Tesouro dos EUA e a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), uma espécie de FGC americana, decidiram garantir todos os clientes do SVB e do Signature para além da regra que impõe o limite de até US$ 250 mil a cada depositante. Além disso, o Fed criou um programa de emergência para apoiar bancos de menor porte nos EUA. O First Republic Bank foi um dos bancos a aderir à linha.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou a senadores americanos nesta quinta-feira que uma das razões para o governo de Joe Biden ter decidido intervir nos bancos que colapsaram foi por reconhecer o risco de contágio para o sistema. Segundo ela, outras instituições “poderiam ser vítimas” de corridas de saques a depósitos como ocorreu com o SVB.

Governo Biden decidiu intervir nos bancos que colapsaram devido a risco de contágio para o sistemas, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen Foto: Sarah Silbiger/The New York Times

Para o megainvestidor de Wall Street Bill Ackman, da gestora Pershing Square, o problema não foi sanado e mais dominós do setor bancário podem cair à frente. Na sua visão, a “falha” do governo Biden em fornecer uma garantia temporária para todos os depósitos do sistema americano está causando uma “crise bancária desnecessária” e que pode ter um efeito “profundamente negativo” na maior economia do mundo.

“Três dominós caíram e outro está a caminho. O mercado encontrará sua(s) próxima(s) vítima(s) se esta cair”, disse Ackman, sem mencionar nomes. Ele defende a criação de uma garantia temporária de depósitos, cujo regime seria capitaneado pela FDIC, com “garantias maiores” e taxas escalonadas com base na qualidade de crédito dos bancos americanos.

A sugestão do megainvestidor de Wall Street remete ao que o Banco Central (BC) brasileiro fez com a criação dos chamados Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE). A ferramenta foi lançada em meio à crise internacional de 2008 para salvar os bancos médios no País e ganhou uma nova versão no início da pandemia. “O Fed poderia negociar com a FDIC para criar algo parecido. Faria sentido e daria conta da grande maioria dos problemas no setor bancário americano”, avalia um analista de bancos, baseado nos EUA.

Além disso, o BC atuou ainda junto aos grandes bancos no Brasil para apoiarem bancos menores em meio a fuga de depósitos de bancos pequenos para os de maior porte, o chamado “flight to quality”, expressão em inglês que significa “voo para a qualidade”.

Nos EUA, um movimento de migração de recursos também foi visto na última semana, com uma enxurrada de recursos batendo à porta de grandes bancos como o JPMorgan, Citigroup, Bank of America, Wells Fargo. No Brasil, os cinco maiores bancos têm em mãos 85% do mercado. Nos EUA, essa proporção é de 51%.

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