As vendas de veículos no País caíram 10,33% na primeira quinzena de outubro, ante o mesmo período do mês passado, segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 16, pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Os resultados confirmam a desaceleração do crescimento dessa indústria apontada pelo IBGE no mês de agosto, que registrou uma alta de 2,9%. Foram comercializados 202.158 veículos, contra 225.459 nos 15 primeiros dias de setembro. Veja também: Consultor responde a dúvidas sobre crise Como o mundo reage à crise Entenda a disparada do dólar e seus efeitos Especialistas dão dicas de como agir no meio da crise A cronologia da crise financeira Dicionário da crise Para o presidente da Fenabrave, porém, é cedo para afirmar que a redução das vendas seja reflexo da crise financeira internacional. Segundo o executivo, a redução do ritmo de vendas já era esperada neste final de ano, em função da expectativa de um ajuste natural do mercado. Reze concordou que muitos consumidores podem estar assustados com a instabilidade vivida na economia mundial, o que poderia resultar no adiamento da compra do carro novo, mas ressalta que é preciso esperar mais tempo para afirmar de forma categórica que a turbulência internacional está afetando vendas do setor. "Os números da primeira quinzena não servem de termômetro. Precisamos esperar para ver como vai fechar o mês", afirmou. Fontes do setor garantem, no entanto, que, a queda deve-se à redução dos prazos de financiamento, ao aumento das taxas de juros e maior seletividade na concessão de crédito, movimento dado pelos bancos e financeiras justamente por conta das incertezas sobre o rumo da economia. O próprio presidente da Fenabrave afirmou que os juros passaram da casa de 25% ao ano para uma faixa entre 30% e 35% nos últimos meses, mas ressaltou que as promoções que vem sendo realizadas por muitas montadoras e seus bancos, com a manutenção de taxas de 0,99% ao mês é suficiente para manter o fôlego das vendas. 2009 Para o ano que vem, analistas prevêem que o impacto da escassez do crédito sobre o setor será ainda maior. De acordo com os especialistas ouvidos pela Agência Estado, a tendência é de que as vendas do setor cresçam entre 4% e 5% em 2009, um resultado muito abaixo do aumento de 20% que eles projetaram para 2008. Para Francisco Pessoa, economista da LCA, a desaceleração nos próximos meses será inevitável, não apenas por causa do agravamento da crise mundial, mas também por causa da trajetória de alta da taxa básica de juros (Selic) iniciada em abril. Outro motivo para a perda de ritmo citado por Pessoa é que boa parte da demanda já foi atendida. "É um bem caro para ter e manter", lembrou. A LCA projeta que a venda varejista de veículos automotores vai desacelerar de cerca de 20% em 2008 para 5% no ano que vem e a estimativa, no cenário básico da consultoria, foi feita antes mesmo da crise financeira internacional se acentuar. Pessoa admitiu que a crise traz uma piora adicional na oferta de crédito, na confiança do consumidor e no mercado de trabalho mas avaliou que, ainda assim, será mantido o cenário básico de aumento de 5% nas vendas em 2009, com algum viés de baixa. Alexandre Andrade, analista da Tendências, também avaliou que a crise agravou o cenário de desaceleração do setor que já se configurava para 2009. "Certamente as taxas de crescimento que serão apresentadas em vendas e produção (de veículos) no ano que vem serão muito mais modestas do que em 2008 e 2007", disse. Para 2009, Andrade esperava, antes do agravamento da crise, uma expansão entre 12% a 13%. Agora, acredita que essa projeção poderá ser revisada para 4%. Segundo ele, o menor ritmo de aumento responderá a uma deterioração no cenário de recuperação da renda, menor oferta de crédito e a uma piora na confiança do consumidor por causa da crise. "Não vai haver retração das vendas, mas acomodação do crescimento em um patamar mais baixo", afirmou. O segmento de automóveis terá um papel crucial no desempenho da produção industrial em 2008. Do crescimento acumulado de 6,0% na produção de janeiro a agosto deste ano, 28%, ou 1,68 ponto, veio de veículos automotores. Caso a demanda por automóveis caia no ano que vem, não apenas o comércio varejista, mas também a indústria, será afetada.
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