RIO - A despeito das promoções da Black Friday, o comércio varejista registrou um desempenho fraco em novembro de 2022. O volume vendido recuou 0,6% em relação a outubro, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio divulgados nesta quarta-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, também houve perda de 0,6%.
“Os números divulgados hoje reforçam a tendência de que a economia brasileira está andando de lado, efeito dos juros altos no Brasil e da desaceleração da atividade econômica global como um todo. Com isso, projetamos um PIB (Produto Interno Bruto) em torno de zero, podendo até ser negativo, no quarto trimestre de 2022. Para 2023, a perspectiva é que o crescimento do PIB continue fraco”, disse Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em comentário.
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Seis das oito atividades que integram o comércio varejista registraram recuos nas vendas em novembro ante outubro de 2022: Combustíveis e lubrificantes (-5,4%), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,4%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-2,7%), Tecidos, vestuário e calçados (-0,8%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,3%), e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%).
Na direção oposta, houve expansão apenas em Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,7%) e Móveis e eletrodomésticos (2,2%). No comércio varejista ampliado, veículos registraram alta de 0,4%, enquanto Material de construção cresceu 3%.
“Foi um novembro ruim, lembrando que a Black Friday tem uma expectativa, e essa expectativa não se confirmou”, avaliou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
Segundo Santos, a inflação de alimentos reduziu o desempenho de supermercados. O setor de combustíveis também foi afetado pela elevação de preços, mas houve ainda uma redução de consumo, uma vez que a receita nominal encolheu, disse o pesquisador do IBGE.
Na comparação entre novembro de 2022 e novembro de 2021, o comércio varejista teve um crescimento de 1,5%, mas o varejo ampliado encolheu 1,4%.
“A política monetária é o principal fator que vem impactando o comércio de uma forma geral, principalmente em bens duráveis. Se compararmos o resultado interanual das vendas do varejo ampliado, isso fica mais evidente”, afirmou a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória.
Segundo Cristiano Santos, do IBGE, os varejistas que aderiram à Black Friday até conseguiram registrar crescimento nas vendas ou reduzir a magnitude das perdas, mas o saldo geral foi negativo ante novembro de 2021 em quatro das sete atividades que costumam aderir à campanha de liquidações: vestuário, informática e comunicação, outros artigos de uso pessoal e doméstico e material de construção. Os que escaparam do vermelho foram os setores de móveis e eletrodomésticos, artigos farmacêuticos e papelaria.
“A Black Friday não foi tão boa no ano passado (em 2021), esse ano (2022) conseguiu jogar um pouquinho mais para baixo”, resumiu o gerente do IBGE.
Cristiano Santos explicou que o fraco desempenho da Black Friday foi consequência de fatores como inflação, concessões de crédito sem expansão e estabilidade da massa de renda, inclusive advindas de programas assistenciais como o Auxílio Brasil.
“Ele (Auxílio Brasil) teve influência (nas vendas) mais para o mês de agosto, principalmente setembro, mas depois teve estabilidade. Então não tem rendimento extra adicional que vá fazer com que cresça (o consumo)”, explicou Santos.
Pré-pandemia
O volume de vendas do varejo encerrou novembro em patamar 2,6% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, as vendas operavam 1,6% abaixo do pré-covid.
Apenas os segmentos de artigos farmacêuticos, combustíveis e supermercados estão operando acima do patamar pré-crise sanitária: farmacêuticos operam 22,4% acima do pré-covid; combustíveis e lubrificantes, 12% acima; e supermercados, 4% acima.
Os veículos estão 9,3% aquém do nível de fevereiro de 2020; material de construção, 0,6% aquém; móveis e eletrodomésticos, 11,7% abaixo; vestuário, 24,1% abaixo; equipamentos de informática e comunicação, 12,9% abaixo; outros artigos de uso pessoal e domésticos, 3% abaixo; e livros e papelaria, 37,6% abaixo.
Santos confirmou que o bom desempenho concentrado apenas em atividades essenciais mostra que as famílias estão direcionando renda para consumo de bens essenciais em detrimento de supérfluos.
“Esse é um componente que é muito forte, essa alocação de recursos em bens essenciais, entre eles farmacêuticos e supermercados, nas famílias de baixa renda. Então acaba também influenciando nessas atividades que estão acima do patamar pré-pandemia”, disse o gerente da pesquisa do IBGE.
Apesar da perda de ritmo, o varejo deve encerrar o ano de 2022 com crescimento, após a alta de 1,4% nas vendas em 2021. De janeiro a novembro de 2022, as vendas acumulam crescimento de 1,1% em comparação com janeiro a novembro de 2021.
“(O volume vendido em) dezembro de 2022 teria que ser 9,2% menor que dezembro de 2021 para que o varejo acumulado (no ano) terminasse igual a 2021, zerado (0,0%)”, calculou Santos.
O avanço no volume vendido em 2022 ante 2021 foi impulsionado pela queda de preço dos combustíveis, pelos gastos das famílias com itens essenciais e pelo pagamento do Auxílio Brasil, enumerou Santos.
(Colaborou Italo Bertão Filho)