RIO - Após quatro meses de falta de fôlego, as vendas do comércio varejista brasileiro cresceram 1,1% em setembro ante agosto. No varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, o avanço foi de 1,5%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgados nesta quarta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A melhora foi influenciada por fatores pontuais, como a deflação de combustíveis e de alimentos, assim como pelo aumento no valor do Auxílio Brasil, justificou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE. Ele lembra que a receita nominal obtida pelo setor cresceu bem menos no período: a alta foi de 0,2% no varejo restrito e de 1,0% no varejo ampliado. Quando descontada a deflação registrada no mês, os valores, em volume, ficaram maiores.
“A alta no varejo tem a ver com deflação”, afirmou Santos.
O pesquisador lembra que, em setembro, houve redução nos preços dos combustíveis e dos alimentos dentro da inflação apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. “Como tivemos variação negativa nos preços, isso vai impactar não só na receita, mas também no volume”, explicou Santos.
O aumento no valor do Auxílio Brasil também ajudou a melhorar as vendas de maneira geral, assim como o crescimento da massa de renda real da população ocupada no mercado de trabalho, acrescenta o pesquisador do IBGE.
“Possivelmente estamos vendo um impacto maior de disponibilidade de renda com as transferências diretas (feitas pelo governo)”, avaliou Mirella Hirakawa, economista sênior da gestora de recursos AZ Quest Investimentos. “Há um direcionamento do consumo para uma cesta de bens mais essenciais e de tíquete mais baixo, que pode ser explicado pelo efeito da disponibilidade de renda do Auxílio Brasil.”
Seis das oito atividades que integram o comércio varejista registraram avanços nas vendas em setembro ante agosto: livros e papelaria (2,5%), equipamentos de informática e comunicação (1,7%), combustíveis (1,3%), supermercados (1,2%), vestuário e calçados (0,7%) e artigos farmacêuticos e de perfumaria (0,6%). Na direção oposta, as atividades com resultados negativos foram móveis e eletrodomésticos (-0,1%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui as lojas de departamento (-1,0%). No comércio varejista ampliado, as vendas de veículos caíram 0,1%, enquanto material de construção ficou estagnado (0,0%).
Segundo Eduardo Vilarim, economista do Banco Original, a alta dos juros segue impedindo um desempenho melhor das vendas de bens de maior valor agregado, como eletrodomésticos e eletroeletrônicos. O consumo desses itens costuma ser mais dependente de linhas de crédito, que estão mais caras.
“O encarecimento do consumo atrelado ao aumento da inadimplência e endividamento da população sugerem continuidade dessa tendência de desaceleração do varejo ampliado”, previu Vilarim, em nota.
Cristiano Santos, do IBGE, concorda que o endividamento e a inadimplência em patamares crescentes, assim como os juros elevados, vêm sustentando a falta de dinamismo vista no varejo nos últimos meses. Para Santos, o avanço nas vendas em setembro é considerado pontual, “extremamente ancorado no resultado de combustíveis e lubrificantes e de hipermercados e supermercados”.
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“O resultado é positivo na maioria das atividades, mas a contribuição desse 1,1% (de alta em setembro) está bastante concentrada nessas duas atividades”, ressaltou.
O volume de vendas do varejo chegou a setembro em patamar 2,8% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, porém, as vendas operam 1,5% abaixo do pré-covid. Apenas os segmentos de artigos farmacêuticos, combustíveis, supermercados e material de construção estão operando acima do patamar pré-crise sanitária.
“A maioria continua abaixo do pré-pandemia”, observou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
O segmento de artigos farmacêuticos opera em patamar 20,8% acima do pré-crise sanitária; combustíveis e lubrificantes, 18,7% acima; material de construção, 2,8% acima; e supermercados, 3,8% acima. Os veículos estão 8,0% aquém do nível de fevereiro de 2020; móveis e eletrodomésticos, 17,0% abaixo; vestuário, 17,8% abaixo; equipamentos de informática e comunicação, 12,4% abaixo; outros artigos de uso pessoal e domésticos, 5,3% abaixo; e livros e papelaria, 31,2% abaixo.
As vendas do comércio varejista recuaram 1,1% no terceiro trimestre de 2022 ante o segundo trimestre. Na comparação com o terceiro trimestre de 2021, houve queda de 0,3% no terceiro trimestre deste ano.
No varejo ampliado, as vendas caíram 1,2% no terceiro trimestre de 2022 ante o segundo trimestre. Em relação ao terceiro trimestre de 2021, as vendas recuaram 2,3% no terceiro trimestre de 2022. /COLABOROU Marianna Gualter