Economistas mundo afora estão debruçados em seus modelos e suas planilhas para projetar o crescimento do PIB neste ano. O grau de incerteza é enorme, pois nem sequer se sabe a dimensão da pandemia de coronavírus.
As estimativas de crescimento do PIB mundial têm se encontrado em um intervalo entre 1% e 2,6%. Seria bom poder, com segurança, descartar o resultado de 2009, de contração de quase 1%, segundo o FMI.
A recessão mundial está batendo à porta. Só não se sabe o tamanho. O crescimento mundial abaixo de 2,0-2,5% já é considerado recessão por muitos analistas, pois países emergentes naturalmente crescem mais e puxam a média global para cima.
A crise atual guarda pouca relação com a de 2008/2009, quando houve um colapso do crédito mundial. Na falta de informações confiáveis sobre a situação financeira de empresas e bancos, ninguém queria emprestar para ninguém por medo do calote.
A receita para defesa era clara e foi utilizada: os bancos centrais inundaram a economia mundial de liquidez, que se manteve elevada desde então.
Havia atenuantes para emergentes, contribuindo para conter o contágio: a crise ter origem em economias avançadas e a China ter conseguido conduzir políticas de estímulo. O resultado foi que, grosso modo, os emergentes puderam adotar políticas anticíclicas, como estímulos monetário e fiscal. Em crises passadas, esses países foram obrigados a fazer arrocho. O resultado foi uma recuperação rápida, em “V”, ainda que não a ponto de gerar bons números em 2009, inclusive da economia brasileira.
O quadro agora é bem diferente. A crise começou na China, o principal motor da economia mundial, especialmente para os emergentes. O espaço para políticas tradicionais de estímulo é pequeno: os juros estão baixos, já há muita liquidez e não há espaço para expansão fiscal. Mesmo que houvesse instrumentos, a eficácia seria limitada.
A primeira linha de defesa, na verdade, é minimizar o contágio das pessoas, de forma a conter o próprio contágio na economia.
O impacto na economia brasileira é inevitável, como ficou claro pelo comportamento dos mercados, mesmo que não houvesse chance de epidemia em nosso território. Há vários canais de contágio econômico: alta do dólar, que implica pressão de custos e dificuldades na tomada de decisão de empresas; falta de insumos em alguns setores, como já apontado pela indústria automobilística; encolhimento do comércio mundial; piora da confiança de investidores e perdas de capital, entre outros. A lista não é pequena.
Está difícil qualquer convicção sobre as projeções de crescimento no Brasil. Há baixa visibilidade. Por um lado, há o efeito do corte de juros do Banco Central a se materializar. Por outro, o quadro muda rapidamente com o risco de uma epidemia no País. Em caso de situação mais crítica nos grandes centros urbanos, o impacto na economia será ainda maior.
Sobre as respostas do governo, será necessário, em primeiro lugar, avaliar a capacidade de conter o contágio de pessoas.
Na agenda econômica, a discussão principal não é a capacidade do BC de conter a alta do dólar ou cortar mais ou menos a taxa Selic. Isso é detalhe.
É necessário viabilizar recursos para a saúde e avançar tempestivamente nas medidas para reduzir a rigidez do orçamento (a chamada PEC emergencial). Ter plano de voo na economia será essencial para preservar a confiança no País, o que requer pacificar a relação com o Congresso. Já se fala em crescimento de 1%, enquanto não dá para descartar algo mais próximo de 2%. São cenários possíveis. Difícil atribuir probabilidades neste momento. Na realidade, qualquer previsão agora é pouco confiável.
Com a palavra, os profissionais da saúde.