O termo original em inglês, blended learning, ganhou força a partir do primeiro boom da internet no final da década de 1990 e poderia ser traduzido para o português como aprendizado semi-presencial, ou seja, aquele aprendizado que mistura (blend) interações educacionais presenciais com interações educacionais online. Embora eu não traga nenhuma estatística específica sobre o crescimento da adoção deste formato de aprendizado no mundo, posso afirmar que tenho notado um crescimento cada vez mais rápido em sua adoção. Isso porque há muitos anos tenho o hábito de acompanhar o assunto pelo Twitter, seguindo escolas, universidades e especialistas em tecnologias para a educação.
Mas por que acompanho estes profissionais e o termo há tanto tempo? Porque tive o privilégio de ter sido um dos precursores na adoção e promoção deste termo no mundo. Confesso que quando eu e minha equipe decidimos utilizá-lo lá na Europa em 2010, ficamos inseguros sobre nossa decisão. Ao liderar o departamento de cursos a distância de uma das principais universidades da Europa me encontrei com um grande dilema: como classificar alguns dos cursos da universidade? Eles não eram completamente a distância pois exigiam períodos presenciais. A expressão blended já existia e era usada timidamente por algumas instituições de ensino, mas em geral ela era popularmente mais associada a whisky do que a qualquer forma de educação ou treinamento.
Compramos o risco e decidimos adotar o termo em larga escala mesmo assim, classificando todos os cursos que possuíam esta característica como cursos blended. É verdade que adicionamos um asterisco à expressão, com uma explicação sempre presente nos rodapés das páginas de internet e dos folhetos dizendo "blended: aprendizado que combina períodos presenciais com períodos interativos online." Logo em seguida, percebemos que muitas pessoas se simpatizaram com o termo: professores, alunos, funcionários e até profissionais de outras universidades passaram a utilizar o termo depois disso.
Mas porque esta adoção ainda está tão lenta aqui no Brasil? Nunca comentei isso publicamente, mas embora isso possa soar um pouco elitista, devo dizer que umas das coisas que mais me impressionaram neste meu recente regresso ao Brasil foi a má qualidade das conexões de internet e celular em geral no país em pleno 2014. Ainda me surpreendo por mal conseguir usar o 3G da minha operadora (Vivo) em plena Avenida Paulista (raramente o serviço funciona adequadamente). E pelo Brasil afora o serviço chega a ser pior. Em casa, para conseguir dar minhas aulas online pelo mundo afora, contratei uma internet de 50 Mbps (NET) que funciona quase sempre a 30 Mbps, a um preço bem salgado e com um serviço não muito confiável, pois ela cai de vez em quando (por sorte ainda não caiu bem durante uma aula ao vivo).
Mas a internet brasileira é realmente tão ruim a ponto de estar prejudicando a nossa educação? Bem, segundo o último relatório sobre o estado da internet (2013), da empresa Akamai, o Brasil ocupa simplesmente a 83ª posição mundial no ranking de velocidade de internet. Enquanto a média mundial é de 3.8 Mbps, o Brasil conta com uma conexão média de 2.7 Mbps. Na América Latina ficamos apenas a frente da Costa Rica (101ª posição com 2.1 Mbps), Venezuela (121ª com 1.5 Mbps), Paraguay (125ª com 1.4 Mbps) e Bolivia (135ª com 1.0 Mbps). Assim não há educação a distância - de qualidade - que resista. Como sempre, somente alguns poucos privilegiados poderão estudar baixo esta metodologia. Quanto à posição do Brasil nos rankings internacionais de educação acho que nem preciso citar.
* Obs: Não culpo as operadoras citadas como únicas responsáveis pela má qualidade do serviço. Este não foi o intuito da menções. Todos os meus amigos se queixam de suas operadoras. Acho que o problema é conjuntural, estrutural. Os impostos são caros, a burocracia é ferrenha e a corrupção e ineficiência endêmicas e generalizadas encarecem e prejudicam quase tudo por aqui, tanto para as empresas grandes, médias ou pequenas como para os cidadãos comuns. ***
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