Redações do Enem de 2012 foram avaliadas com nota mil, a máxima, mesmo com erros graves de ortografia, como as palavras “rasoavel”, “enchergar” e “trousse”. Na internet, um estudante postou sua redação em que, mesmo transcrevendo o hino do Palmeiras, conseguiu nota 500. Educadores apontam falhas nos critérios de correção.
Redações com nota máxima e erros graves foram reveladas pelo jornal O Globo na segunda-feira. Vários textos têm problemas de concordância, acentuação e pontuação.
Para Rogério Chociay, professor aposentado de Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), as palavras erradas em redações com nota mil evidenciam o principal problema do Enem: o seu “gigantismo”. “A banca corretora tem de ser 100% treinada no domínio da Língua Portuguesa. Isso é algo difícil de se garantir.”
O Ministério da Educação informou que “a análise de texto é feita como um todo e que eventuais erros de grafia não significam que o aluno não domine os padrões da língua”. Segundo o MEC, uma redação pode ter pontuação máxima mesmo com falhas. “A tolerância deve-se à consideração, e isto é relevante do ponto de vista pedagógico, de ser o participante do Enem, por definição, um egresso do ensino médio.”
A redação é avaliada a partir de cinco critérios, valendo 200 pontos cada. Com relação à “norma padrão da língua”, a matriz do exame exige que o participante demonstre “excelente domínio”, sem ou com “pouquíssimos” desvios gramaticais “leves e de convenções da escrita”.
A consultora em educação Ilona Becskeházy critica a imprecisão dos critérios. “É solto demais e tinha de ser super específico. Único antídoto é uma grade clara de critérios”, diz Ilona, que defende que os erros sejam numerados. A consultora afirma que esse é um problema do sistema educacional brasileiro. “Nas salas de aula, só o professor sabe o critério que usa para corrigir.”
Não são só os erros de ortografia colocam em xeque a correção dos textos. Segundo o edital, fugir do tema proposto é motivo de zerar a nota da redação. No entanto, um estudante mineiro que escreveu uma receita de miojo na redação conseguiu nota 560. Em São José do Rio Preto, no interior paulista, outro candidato escreveu o hino do Palmeiras inteiro. E tirou 500 – quase metade (48,4%) dos inscritos não conseguiram esse desempenho em 2012. O texto, postado em sua página no Facebook, ainda tem palavras grafadas de maneira errada – como “hostenta”. Na rede social, um colega brincou: “Só ganhou 500 porque o Palmeiras foi pra segunda divisão. Caso contrário era mil na certa.”