Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados na segunda-feira (3) apontam uma tendência verificada em edições anteriores: um avanço na primeira etapa do ensino fundamental, mas muita dificuldade nas duas etapas seguintes, em especial no ensino médio. Ao passo que o indicador de 5,8 nos anos iniciais faz o país se aproximar da meta de 2021 (6,0), as metas para os anos finais e o ensino médio já parecem longe de serem alcançadas.
Nos anos finais do ensino fundamental, ao menos, vemos a consolidação de algumas boas redes. É o caso do município de Sobral (CE), que chegou a um Ideb de 7,2 na rede pública, e de Novo Horizonte (SP), com 6,7. Já o ensino médio carece de bons exemplos. Dois Lajeados (RS), com população inferior a 5 mil habitantes, é o melhor município na rede pública, com Ideb de apenas 5,7. Há estados, como é o caso de Espírito Santo, Goiás e Pernambuco empreendendo esforços para avançar e conseguindo, por enquanto, melhorias no nível de escolas. Mas, considerando redes ou mesmo pequenos municípios, o resultado de Dois Lajeados, o melhor do país, fica abaixo da média da rede privada, que também enfrenta problemas.
Quando olhamos para o desempenho em matemática no ensino médio, o diferencial em relação à rede privada é ainda mais gritante. Mesmo a rede privada com menor desempenho médio em matemática em 2017 (Alagoas, com nota 299,1) se sai melhor que a melhor rede estadual (Espírito Santo, com nota 280,8). Assim, nessa etapa de ensino já estão consolidadas desigualdades de aprendizado que certamente contribuem para a manutenção da desigualdade de renda brasileira em patamares elevados.
Se levarmos em consideração que na transição do ensino fundamental para o ensino médio há um aumento da evasão escolar que não é capturada pelo Ideb, os dados são ainda mais alarmantes.
O desafio no Ensino Médio já é tão grande que chama a atenção o Ministério da Educação (MEC) querer sinalizá-lo como ainda maior. Ao estabelecer, a partir dos resultados divulgados, critérios para aprendizado adequado muito mais exigentes do que o estabelecido por especialistas e avaliações estaduais, o MEC apontou 0,6% dos alunos com aprendizado adequado em língua portuguesa na rede pública. Se utilizássemos, por exemplo, o critério adotado pela rede estadual de São Paulo no Saresp, chegaríamos a um percentual consideravelmente maior:22,7%. Cenário ainda muito preocupante, mas que ilustra que temos uma parcela de alunos na rede pública aprendendo no Brasil, e não podemos desestimular quem conseguiu garantir isso.
*Ernesto Martins é diretor-fundador do Iede; Luiz Scorzafave é professor da USP e membro do comitê técnico do Iede.