Aos 20 anos, Enem se consolida como a maior prova do País, mas deve mudar


Após diversas alterações e a participação de 100 milhões de alunos, o exame está em fase de amadurecimento, com uma nova matriz curricular e mudanças na aplicação; edição deste ano será aplicada nos dias 4 e 11 de novembro

Por Isabela Palhares
Atualização:

Para ele, foi apenas um treino. Para ela, é a principal chance de conseguir a tão sonhada vaga em Medicina. Em 20 anos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou de uma avaliação de desempenho ao fim da educação básica para se tornar o maior vestibular do País – e o segundo do mundo. Depois de muitas mudanças e 100 milhões de inscritos, a prova, que ocorre nos dias 4 e 11 de novembro, está em amadurecimento, com nova matriz curricular e alterações na aplicação sendo estudadas.

O médico Daniel Doca, de 37 anos, foi um dos 157 mil jovens que se inscreveram para a primeira edição, em 1998, criada para servir como um referencial dos conhecimentos adquiridos no ensino médio. Ele lembra que foi incentivado pelo pai, professor do cursinho Objetivo, a fazer o exame como um treino para os vestibulares. “Estava muito tranquilo porque para mim era um simulado, uma oportunidade de saber como estava em relação aos outros estudantes. Não tinha pressão.” 

Médico Daniel Doca, de 37 anos, foi um dos 157 mil jovens que se inscreveram para a primeira edição, em 1998 Foto: Epitacio Pessoa/Estadão
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O Enem começou a caminhar para a atual amplitude já no ano seguinte de sua criação, quando importantes instituições do País, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), passaram a usar a nota do exame como um dos critérios para seleção de ingressantes. E foi, a partir de 2009, que firmou sua importância, com a criação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), substituindo os vestibulares das instituições federais para selecionar alunos.

Atualmente, é o exame que seleciona os estudantes para 240 mil vagas em 130 instituições públicas brasileiras, além de particulares e de outros países, como Portugal. A adesão das universidades ao Enem foi proporcional ao aumento da pressão que passou a exercer em jovens, como Giovanna Castanheira, de 20 anos. Aluna de escola pública, ela enxerga a prova como a principal porta de entrada para o ensino superior. 

(O Enem) me dá um leque imenso de oportunidades. Se for bem, posso entrar em universidades do País todo”, diz a aluna, que estuda e trabalha para ter bolsa no cursinho Poliedro. No ano passado, ela chegou a ficar na lista de espera para uma vaga em Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

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Giovanna Castanheira, de 20 anos, enxerga o Enem como a principal porta de entrada para o ensino superior Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Sua preferência é pela USP, que passou a usar o Enem também para selecionar alunos, além do vestibular próprio, a Fuvest. “Acredito que pelo Enem seja mais fácil, porque é uma prova mais ampla. Está bastante conteudista, mas ainda avalia outras habilidades do aluno, o que eu acho mais justo”, diz a jovem, que é filha de uma dona de casa e um motorista de ônibus e busca ser a primeira da família a fazer uma faculdade. 

Exame se aperfeiçou, mas precisa de melhorias, diz ex-presidente do Inep

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Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) na época da criação do Enem, Maria Helena Guimarães de Castro diz que o exame se firmou como uma das principais políticas educacionais do País e não corre riscos, mas ainda precisa de melhorias. Para ela, a nova matriz curricular (que estabelece os conteúdos cobrados na prova) que está sendo desenhada é fundamental para o aperfeiçoamento. 

“Até 2009 era mais uma prova de conhecimentos gerais, mas, quando se transformou em vestibular, ficou mais conteudista por uma demanda dos reitores. O problema é que, a cada pedido das faculdades, a matriz do Enem foi virando uma colcha de retalhos”, avalia. 

Idealizadora do Enem e atual presidente do Inep, Maria Inês Fini diz que a nova matriz vai seguir as orientações da Reforma do Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular – ainda em discussão – que só devem ser implementadas em 2021.

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“Vamos fazer os ajustes de acordo com o que a base nos indicar, que é uma visão mais abrangente de aprendizado. Não podemos só pensar nos conteúdos tradicionais e como avaliá-los, mas também associá-los a outras habilidades e competências adquiridas pelos alunos.” 

Para Maria Inês, a discussão atual sobre a matriz curricular marca o início da “terceira onda” do Enem. “Temos uma avaliação forte e importante, reconhecida internacionalmente. Agora, ela vai ser aprimorada.”

Com 5,5 milhões de inscritos para a edição deste ano, o Enem é a segunda maior prova de acesso ao ensino superior do mundo, atrás apenas do Gaokao, o vestibular chinês, que tem anualmente cerca de 9 milhões de inscrições. 

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Enem precisa de mudança logística, dizem educadoras

Para as duas educadoras, uma mudança importante para os próximos anos é a forma de aplicação do exame – e elas defendem que seja feito online. Maria Inês explica que, mesmo com o investimento em tecnologia, a aplicação seria mais barata e segura. Em 2017, a prova custou R$ 505,5 milhões – apenas 25% dos gastos são cobertos pelo valor da taxa de inscrição, de R$ 82 – e envolveu mais de 600 mil pessoas na elaboração, distribuição, aplicação e correção do exame.

“É muito espetaculoso e hoje já temos tecnologia que poderia tornar o processo mais simples e seguir o exemplo de grandes vestibulares do mundo, como o SAT nos Estados Unidos”, diz Maria Helena. Para ela, essa alteração deveria ser uma das prioridades do próximo ministro da Educação, já que a transição para uma prova totalmente online pode demorar alguns anos. A digitalização também possibilitaria realizar o Enem mais de uma vez ao ano. 

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O candidato Fernando Haddad (PT) afirma que pretende aprimorar a produção da prova, ampliando os bancos de questões para fazer várias edições do exame ao longo do ano em versão digital. Também afirmou que quer retomar o “caráter reflexivo” da prova para testar a capacidade de raciocínio e não a de memorização. A campanha de Jair Bolsonaro (PSL) foi procurada, mas não respondeu se tem alguma proposta para o Enem.

“Sempre podemos aperfeiçoar a prova, mas ela nunca vai deixar de existir. O Enem não é do MEC, não vai ser de Bolsonaro nem de Haddad. Ele é do Brasil, uma conquista do estudante”, diz Maria Inês.

Em 2009, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) enfrentou seu maior problema: o vazamento da prova dois dias antes da aplicação e seu cancelamento. Um novo teste foi aplicado mais de dois meses depois. A falha prejudicou 4,1 milhões de candidatos em todo o País.

O vazamento foi revelado pelo Estado depois que uma dupla de golpistas conseguiu uma cópia da prova e tentou vender a dois jornalistas. Eles marcaram um encontro com os criminosos, memorizaram parte das perguntas do exame e informaram o Ministério da Educação (MEC) da falha. 

No ano seguinte, a pasta alterou regras de segurança da gráfica responsável pela impressão da prova, mas houve outro problema: o vazamento do tema da Redação em Remanso, na Bahia, por uma professora. Em 2011, foi uma escola particular de Fortaleza que ficou no centro das suspeitas. O colégio foi acusado de ter vazado 14 questões da prova para seus alunos. 

Para ele, foi apenas um treino. Para ela, é a principal chance de conseguir a tão sonhada vaga em Medicina. Em 20 anos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou de uma avaliação de desempenho ao fim da educação básica para se tornar o maior vestibular do País – e o segundo do mundo. Depois de muitas mudanças e 100 milhões de inscritos, a prova, que ocorre nos dias 4 e 11 de novembro, está em amadurecimento, com nova matriz curricular e alterações na aplicação sendo estudadas.

O médico Daniel Doca, de 37 anos, foi um dos 157 mil jovens que se inscreveram para a primeira edição, em 1998, criada para servir como um referencial dos conhecimentos adquiridos no ensino médio. Ele lembra que foi incentivado pelo pai, professor do cursinho Objetivo, a fazer o exame como um treino para os vestibulares. “Estava muito tranquilo porque para mim era um simulado, uma oportunidade de saber como estava em relação aos outros estudantes. Não tinha pressão.” 

Médico Daniel Doca, de 37 anos, foi um dos 157 mil jovens que se inscreveram para a primeira edição, em 1998 Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

O Enem começou a caminhar para a atual amplitude já no ano seguinte de sua criação, quando importantes instituições do País, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), passaram a usar a nota do exame como um dos critérios para seleção de ingressantes. E foi, a partir de 2009, que firmou sua importância, com a criação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), substituindo os vestibulares das instituições federais para selecionar alunos.

Atualmente, é o exame que seleciona os estudantes para 240 mil vagas em 130 instituições públicas brasileiras, além de particulares e de outros países, como Portugal. A adesão das universidades ao Enem foi proporcional ao aumento da pressão que passou a exercer em jovens, como Giovanna Castanheira, de 20 anos. Aluna de escola pública, ela enxerga a prova como a principal porta de entrada para o ensino superior. 

(O Enem) me dá um leque imenso de oportunidades. Se for bem, posso entrar em universidades do País todo”, diz a aluna, que estuda e trabalha para ter bolsa no cursinho Poliedro. No ano passado, ela chegou a ficar na lista de espera para uma vaga em Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Giovanna Castanheira, de 20 anos, enxerga o Enem como a principal porta de entrada para o ensino superior Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Sua preferência é pela USP, que passou a usar o Enem também para selecionar alunos, além do vestibular próprio, a Fuvest. “Acredito que pelo Enem seja mais fácil, porque é uma prova mais ampla. Está bastante conteudista, mas ainda avalia outras habilidades do aluno, o que eu acho mais justo”, diz a jovem, que é filha de uma dona de casa e um motorista de ônibus e busca ser a primeira da família a fazer uma faculdade. 

Exame se aperfeiçou, mas precisa de melhorias, diz ex-presidente do Inep

Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) na época da criação do Enem, Maria Helena Guimarães de Castro diz que o exame se firmou como uma das principais políticas educacionais do País e não corre riscos, mas ainda precisa de melhorias. Para ela, a nova matriz curricular (que estabelece os conteúdos cobrados na prova) que está sendo desenhada é fundamental para o aperfeiçoamento. 

“Até 2009 era mais uma prova de conhecimentos gerais, mas, quando se transformou em vestibular, ficou mais conteudista por uma demanda dos reitores. O problema é que, a cada pedido das faculdades, a matriz do Enem foi virando uma colcha de retalhos”, avalia. 

Idealizadora do Enem e atual presidente do Inep, Maria Inês Fini diz que a nova matriz vai seguir as orientações da Reforma do Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular – ainda em discussão – que só devem ser implementadas em 2021.

“Vamos fazer os ajustes de acordo com o que a base nos indicar, que é uma visão mais abrangente de aprendizado. Não podemos só pensar nos conteúdos tradicionais e como avaliá-los, mas também associá-los a outras habilidades e competências adquiridas pelos alunos.” 

Para Maria Inês, a discussão atual sobre a matriz curricular marca o início da “terceira onda” do Enem. “Temos uma avaliação forte e importante, reconhecida internacionalmente. Agora, ela vai ser aprimorada.”

Com 5,5 milhões de inscritos para a edição deste ano, o Enem é a segunda maior prova de acesso ao ensino superior do mundo, atrás apenas do Gaokao, o vestibular chinês, que tem anualmente cerca de 9 milhões de inscrições. 

Enem precisa de mudança logística, dizem educadoras

Para as duas educadoras, uma mudança importante para os próximos anos é a forma de aplicação do exame – e elas defendem que seja feito online. Maria Inês explica que, mesmo com o investimento em tecnologia, a aplicação seria mais barata e segura. Em 2017, a prova custou R$ 505,5 milhões – apenas 25% dos gastos são cobertos pelo valor da taxa de inscrição, de R$ 82 – e envolveu mais de 600 mil pessoas na elaboração, distribuição, aplicação e correção do exame.

“É muito espetaculoso e hoje já temos tecnologia que poderia tornar o processo mais simples e seguir o exemplo de grandes vestibulares do mundo, como o SAT nos Estados Unidos”, diz Maria Helena. Para ela, essa alteração deveria ser uma das prioridades do próximo ministro da Educação, já que a transição para uma prova totalmente online pode demorar alguns anos. A digitalização também possibilitaria realizar o Enem mais de uma vez ao ano. 

O candidato Fernando Haddad (PT) afirma que pretende aprimorar a produção da prova, ampliando os bancos de questões para fazer várias edições do exame ao longo do ano em versão digital. Também afirmou que quer retomar o “caráter reflexivo” da prova para testar a capacidade de raciocínio e não a de memorização. A campanha de Jair Bolsonaro (PSL) foi procurada, mas não respondeu se tem alguma proposta para o Enem.

“Sempre podemos aperfeiçoar a prova, mas ela nunca vai deixar de existir. O Enem não é do MEC, não vai ser de Bolsonaro nem de Haddad. Ele é do Brasil, uma conquista do estudante”, diz Maria Inês.

Em 2009, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) enfrentou seu maior problema: o vazamento da prova dois dias antes da aplicação e seu cancelamento. Um novo teste foi aplicado mais de dois meses depois. A falha prejudicou 4,1 milhões de candidatos em todo o País.

O vazamento foi revelado pelo Estado depois que uma dupla de golpistas conseguiu uma cópia da prova e tentou vender a dois jornalistas. Eles marcaram um encontro com os criminosos, memorizaram parte das perguntas do exame e informaram o Ministério da Educação (MEC) da falha. 

No ano seguinte, a pasta alterou regras de segurança da gráfica responsável pela impressão da prova, mas houve outro problema: o vazamento do tema da Redação em Remanso, na Bahia, por uma professora. Em 2011, foi uma escola particular de Fortaleza que ficou no centro das suspeitas. O colégio foi acusado de ter vazado 14 questões da prova para seus alunos. 

Para ele, foi apenas um treino. Para ela, é a principal chance de conseguir a tão sonhada vaga em Medicina. Em 20 anos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou de uma avaliação de desempenho ao fim da educação básica para se tornar o maior vestibular do País – e o segundo do mundo. Depois de muitas mudanças e 100 milhões de inscritos, a prova, que ocorre nos dias 4 e 11 de novembro, está em amadurecimento, com nova matriz curricular e alterações na aplicação sendo estudadas.

O médico Daniel Doca, de 37 anos, foi um dos 157 mil jovens que se inscreveram para a primeira edição, em 1998, criada para servir como um referencial dos conhecimentos adquiridos no ensino médio. Ele lembra que foi incentivado pelo pai, professor do cursinho Objetivo, a fazer o exame como um treino para os vestibulares. “Estava muito tranquilo porque para mim era um simulado, uma oportunidade de saber como estava em relação aos outros estudantes. Não tinha pressão.” 

Médico Daniel Doca, de 37 anos, foi um dos 157 mil jovens que se inscreveram para a primeira edição, em 1998 Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

O Enem começou a caminhar para a atual amplitude já no ano seguinte de sua criação, quando importantes instituições do País, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), passaram a usar a nota do exame como um dos critérios para seleção de ingressantes. E foi, a partir de 2009, que firmou sua importância, com a criação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), substituindo os vestibulares das instituições federais para selecionar alunos.

Atualmente, é o exame que seleciona os estudantes para 240 mil vagas em 130 instituições públicas brasileiras, além de particulares e de outros países, como Portugal. A adesão das universidades ao Enem foi proporcional ao aumento da pressão que passou a exercer em jovens, como Giovanna Castanheira, de 20 anos. Aluna de escola pública, ela enxerga a prova como a principal porta de entrada para o ensino superior. 

(O Enem) me dá um leque imenso de oportunidades. Se for bem, posso entrar em universidades do País todo”, diz a aluna, que estuda e trabalha para ter bolsa no cursinho Poliedro. No ano passado, ela chegou a ficar na lista de espera para uma vaga em Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Giovanna Castanheira, de 20 anos, enxerga o Enem como a principal porta de entrada para o ensino superior Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Sua preferência é pela USP, que passou a usar o Enem também para selecionar alunos, além do vestibular próprio, a Fuvest. “Acredito que pelo Enem seja mais fácil, porque é uma prova mais ampla. Está bastante conteudista, mas ainda avalia outras habilidades do aluno, o que eu acho mais justo”, diz a jovem, que é filha de uma dona de casa e um motorista de ônibus e busca ser a primeira da família a fazer uma faculdade. 

Exame se aperfeiçou, mas precisa de melhorias, diz ex-presidente do Inep

Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) na época da criação do Enem, Maria Helena Guimarães de Castro diz que o exame se firmou como uma das principais políticas educacionais do País e não corre riscos, mas ainda precisa de melhorias. Para ela, a nova matriz curricular (que estabelece os conteúdos cobrados na prova) que está sendo desenhada é fundamental para o aperfeiçoamento. 

“Até 2009 era mais uma prova de conhecimentos gerais, mas, quando se transformou em vestibular, ficou mais conteudista por uma demanda dos reitores. O problema é que, a cada pedido das faculdades, a matriz do Enem foi virando uma colcha de retalhos”, avalia. 

Idealizadora do Enem e atual presidente do Inep, Maria Inês Fini diz que a nova matriz vai seguir as orientações da Reforma do Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular – ainda em discussão – que só devem ser implementadas em 2021.

“Vamos fazer os ajustes de acordo com o que a base nos indicar, que é uma visão mais abrangente de aprendizado. Não podemos só pensar nos conteúdos tradicionais e como avaliá-los, mas também associá-los a outras habilidades e competências adquiridas pelos alunos.” 

Para Maria Inês, a discussão atual sobre a matriz curricular marca o início da “terceira onda” do Enem. “Temos uma avaliação forte e importante, reconhecida internacionalmente. Agora, ela vai ser aprimorada.”

Com 5,5 milhões de inscritos para a edição deste ano, o Enem é a segunda maior prova de acesso ao ensino superior do mundo, atrás apenas do Gaokao, o vestibular chinês, que tem anualmente cerca de 9 milhões de inscrições. 

Enem precisa de mudança logística, dizem educadoras

Para as duas educadoras, uma mudança importante para os próximos anos é a forma de aplicação do exame – e elas defendem que seja feito online. Maria Inês explica que, mesmo com o investimento em tecnologia, a aplicação seria mais barata e segura. Em 2017, a prova custou R$ 505,5 milhões – apenas 25% dos gastos são cobertos pelo valor da taxa de inscrição, de R$ 82 – e envolveu mais de 600 mil pessoas na elaboração, distribuição, aplicação e correção do exame.

“É muito espetaculoso e hoje já temos tecnologia que poderia tornar o processo mais simples e seguir o exemplo de grandes vestibulares do mundo, como o SAT nos Estados Unidos”, diz Maria Helena. Para ela, essa alteração deveria ser uma das prioridades do próximo ministro da Educação, já que a transição para uma prova totalmente online pode demorar alguns anos. A digitalização também possibilitaria realizar o Enem mais de uma vez ao ano. 

O candidato Fernando Haddad (PT) afirma que pretende aprimorar a produção da prova, ampliando os bancos de questões para fazer várias edições do exame ao longo do ano em versão digital. Também afirmou que quer retomar o “caráter reflexivo” da prova para testar a capacidade de raciocínio e não a de memorização. A campanha de Jair Bolsonaro (PSL) foi procurada, mas não respondeu se tem alguma proposta para o Enem.

“Sempre podemos aperfeiçoar a prova, mas ela nunca vai deixar de existir. O Enem não é do MEC, não vai ser de Bolsonaro nem de Haddad. Ele é do Brasil, uma conquista do estudante”, diz Maria Inês.

Em 2009, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) enfrentou seu maior problema: o vazamento da prova dois dias antes da aplicação e seu cancelamento. Um novo teste foi aplicado mais de dois meses depois. A falha prejudicou 4,1 milhões de candidatos em todo o País.

O vazamento foi revelado pelo Estado depois que uma dupla de golpistas conseguiu uma cópia da prova e tentou vender a dois jornalistas. Eles marcaram um encontro com os criminosos, memorizaram parte das perguntas do exame e informaram o Ministério da Educação (MEC) da falha. 

No ano seguinte, a pasta alterou regras de segurança da gráfica responsável pela impressão da prova, mas houve outro problema: o vazamento do tema da Redação em Remanso, na Bahia, por uma professora. Em 2011, foi uma escola particular de Fortaleza que ficou no centro das suspeitas. O colégio foi acusado de ter vazado 14 questões da prova para seus alunos. 

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