Na noite da sexta-feira, 19, estudantes denunciaram um professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap) de fazer apologia ao nazismo. No sábado, 20, a instituição prometeu “apuração rigorosa”. Conforme apurou o Estadão, porém, falas ofensivas e preconceituosas do docente chamaram atenção dos alunos ao menos desde 2017, e a fotografia, que viralizou agora, na verdade, compôs denúncia do final do ano passado, que, segundo os discentes, ficou restrita a uma nota de repúdio da coordenação do curso.
No Twitter, alunos postaram foto de professor com uma garrafa d’água adesivada com um símbolo supremacista. Segundo eles, tratava-se de uma aula do curso de enfermagem.
O Estadão conseguiu falar com a estudante autora da imagem. “Fui aluna do professor em 2022. Durante o decorrer das aulas as falas ofensivas às minorias me chamaram atenção”, contou ela, que pediu para ter a identidade preservada.
O relato se soma ao de Janaina Corrêa, diretora de Mulheres da UNE, de 26 anos, que foi aluna do docente entre 2017 e 2018, quando ainda cursava Enfermagem na Unifap - hoje, cursa Ciências Sociais. Ela conta que, durante o período, presenciou atitudes e discursos “preconceituosos”, com “teor machista e homofóbico”, do docente. Jana, porém, diz não ter visto a garrafa com o adesivo durante o período.
“Durante o semestre, observei o adesivo na garrafa que estava nas mãos dele, mas foi muito rápido e não consegui provas”, relatou a estudante autora da imagem. Foi só mais ao final do segundo semestre do ano passado que ela conseguiu fotografar o adesivo.
“A pauta foi levada à coordenação, que se mostrou omissa enviando apenas uma nota de repúdio por e-mail”, conta. O Estadão levou esse relato à Unifap, que ainda não se manifestou. A reportagem também tentou falar com o docente, sem sucesso.
No Brasil, a apologia ao nazismo é crime previsto na Lei do Racismo (7.716/1989). A regra prevê reclusão de um a três anos e multa.
“Foi um susto quando vi a repercussão (nas redes sociais), já que isso aconteceu no final do ano passado e não era apenas eu que tinha essas fotos. Mesmo assim, sinto uma mistura de sentimentos. Medo de represálias, mas satisfação por ver o professor exposto. Espero uma posição firme e apuração séria da Universidade, é necessário um afastamento urgente”, afirmou.
Escolas viram alvo de neonazistas
Conforme mostrou o Estadão, em dezembro, aumentam os ataques de caráter neonazista em escolas e universidades, que vão de rabiscos nas paredes até violência com uso de armas. A escolha pelas instituições de ensino é simbólica, uma vez que representam espaços de disputa cultural de ideologias.
Especialistas destacam ser preciso esforço de educação antinazista, com formação crítica. Mas as escolas não podem estar sozinhas. A solução inclui também identificar e reprimir infratores, bem como ações para coibir conteúdos discriminatórios em redes sociais.