Após supostas ameaças de ataques nesta quinta-feira, 20, às escolas no País, redes públicas tiveram salas mais vazias e atividades sobre convivência pacífica e valorização da educação. As faltas também foram ampliadas, segundo Estados, por se tratar de véspera de feriado, quando em geral a ausência já é maior. Entre as escolas particulares de São Paulo, a redução de alunos foi menos significativa. Crianças levaram flores para os professores e participaram de conversas sobre cultura da paz.
Em uma escola estadual de Mauá, na Grande São Paulo, só cerca de 60 dos 500 estudantes apareceram nesta quinta. “Mesmo com um processo de conscientização dos estudantes e seus responsáveis, muitos deles comentaram que não viriam para escola, visto que estão aflitos e inseguros”, disse o professor André Sapanos. Segundo ele, que é coordenador do sindicato dos professores na região, o mesmo ocorreu em outras escolas do ABC.
Em outra escola estadual, no Sacomã, zona sul, havia nesta manhã apenas cinco alunos por sala, segudo relatos dos professores. Em outras, as informações foram de 25% de faltas. Houve também unidades que usaram a quinta-feira para realizar reuniões pedagógicas com professores e dispensaram os alunos, já que esta quinta era o último dia do primeiro bimestre na rede estadual oficialmente.
A secretaria estadual da Educação informou que deve divulgar um balanço de faltas durante a tarde. Segundo a Secretaria de Segurança de São Paulo, o policiamento foi reforçado nas imediações das escolas e não houve nenhum incidente até o fim da manhã. Foi aumentado o “número de policiais na ronda ostensiva, com o efetivo operacional reserva que atua, normalmente, na administração de unidades”, segundo a pasta.
Na escolas particulares de elite, a presença, segundo apurou o Estadão, ficou em torno de 80% nesta manhã. A véspera de feriado também influencia normalmente as faltas porque muitas famílias viajam, segundo diretores.
No Colégio Pentágono, que tem unidades em Perdizes e no Alphaville, a maior ausência foi entre alunos do ensino médio, com 35% de faltas. Entre os pequenos, houve roda de leitura e distruibuição de balões brancos.
Na Escola Projeto Vida, na zona norte, a maioria dos estudantes estava presente nesta manhã. A instituição fez palestras para os pais nesta semana sobre conscientização e combate à violência e contratou uma empresa de seguraça privada para fazer rondas. “As crianças trouxeram flores para professores e funcionários e fizemos uma prática de mindfulness para desejar paz e coisas boas. Procuramos ritualizar de uma maneira positiva”, disse a diretora Monica Padroni.
A Camino School, na Pompéia, zona oeste, registrou mais faltas nas salas de fundamental 2 e ensino médio, com um total de 50% dos alunos presentes. “O clima foi muio legal com quem veio, trouxeram flores, distribuíram abraços. Recebemos também a visita da polícia militar e civil”, diz a diretora Letícia Lyle. No Colégio Magno, na zona sul, as faltas ficaram em torno de 20% entre os alunos mais velhos. Segundo a diretora Claudia Tricate, a frequência foi normal entre as crianças da educação infantil. “Fizemos jogos cooperativos, dinâmicas, produção de conteúdo digital”, disse.
A reportagem do Estadão conversou com secretários da educação de Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará, Piauí, Espítiro Santo. Somente Piauí informou não ter diminuição da presença de alunos. Em todas elas, as escolas promovem atividades para celebração da paz, com desenhos, balões, flores, e conscientização sobre bullying e violência, segundo os secretários.
“A frequência está mais baixa, em especial nas áreas mais turísticas, mas as escolas estão focadas em acolher os alunos e trabalhar a importância da paz”, afirmou o secretário muncipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha. O mesmo foi dito pelo secretário municipal de São Paulo, Fernando Padula. Na capital, a rede também teve rodas de conversa, de crianças e adultos, confeccção de cartazes com mensagens de paz e outras atividades. Ferreirinha e Padula passaram a manhã visitando escolas
Em Recife, a frequencia das escolas municipais foi desigual. Segundo o secretário de educação Fred Amâncio, houve entre 40% e 90% de presença durante a manhã. Muitas escolas promoveram atividades para celebração da paz, com pinturas e brancos e m média cerca de 60% de presença. “Acredito que se encerramos o dia assim, voltaremos a normalidade total na próxima semana”, disse Amâncio.
No início da semana, alguns movimentos passaram a incentivar uma mudança de narrativa após supostas ameaças de ataques nesta quinta-feira. “Juntos, podemos resgatar a potência das escolas e permitir que seus professores, estudantes e todos de suas comunidades construam um futuro de civilidade, respeito e democracia”, diz outro movimento, o Manifesto pela Escola sem Medo, lançado na segunda-feira pela Associação Nova Escola. “Como mudar esse cenário? Não é se fechando nem se isolando. É se abrindo para a conversa, o diálogo e a escuta. É discutindo soluções e engajando cada indivíduo e toda a sociedade ao mesmo tempo.”