Ataques a escolas: polícias distribuem cartilhas sobre como agir. O que dizem os especialistas?


Método ‘correr, se esconder e lutar’ é usado em outro países em situações de perigo

Por Isabel Gomes
Atualização:

Episódios recentes de violência no ambiente escolar no Brasil vêm despertando a atenção de autoridades e para a criação de medidas e políticas públicas destinadas à prevenção contra novos atentados e à promoção de segurança dentro do ambiente escolar. Uma das orientações que tem se difundido é o método “Run, Hide & Fight”, que em português significa correr, se esconder e lutar.

O protocolo, utilizado mundialmente em situações de perigo como um ataque, orienta que a pessoa fuja se houver oportunidade. Caso contrário, que se esconda e que não faça barulho e, se tiver contato com o agressor havendo perigo iminente à vida, que lute. Especialistas defendem que, como medida de segurança, a ação pode não ser o melhor caminho, e que é preciso pensar antes em prevenção.

O método é recomendado pela Polícia Militar do Paraná e pela Polícia Militar de Santa Catarina, por exemplo. Nas redes sociais, a polícia paranaense divulgou recentemente uma cartilha contendo essas instruções. Já em Santa Catarina, de acordo com a pasta, a técnica será difundida como forma de prevenção, entre professores e funcionários para se defenderem de possíveis ações criminosas.

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“Eu acredito que há um grande equívoco, do ponto de vista da prevenção, a abordagem da autodefesa. A defesa pessoal é bacana, mas ela não funciona na perspectiva de segurança pública. O que funciona é uma política integrada. É preciso articular segurança, educação, saúde, assistência, Ministério Público e Conselho Tutelar, construindo soluções múltiplas, porque é um problema multifatorial”, argumenta Aline Kerber, especialista em Segurança Pública e Prevenção da Violência na Escola.

A socióloga defende que a implementação da política pública é “complexa”. “Ela não funciona para o problema que se quer atacar. Tem que ter treinamento para diálogo, para resolver os problemas de forma pacífica e isso, efetivamente, vai construir espaços mais seguros para as pessoas. É preciso treinar jovens para que eles saibam resolver conflitos.”

O ponto de vista é compartilhado pelo advogado Felippe Angeli, gerente de Advocacy do Instituto Sou da Paz, organização não governamental dedicada à redução de violência no Brasil. Angeli alerta que é preciso ter cuidado para que instruções como o método “Run, Hide & Fight” não gerem pânico e contribuam para um efeito contágio. “Eu acredito que não é benéfico, não serve ao que se propõe, que é aumentar a proteção. Não traz soluções, desloca a responsabilidade para as vítimas, ocasionando uma pressão suplementar.”

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Segundo o advogado, para além das rondas no entorno das instituições de ensino e na difusão do método de segurança pessoal, o papel do setor de segurança na prevenção à violência escolar se faz, sobretudo, na investigação, especialmente no que se refere aos ambientes virtuais de discussão, que têm sido apontados como a raiz do incentivo e apologia aos ataques.

Nesse sentido, a especialista em segurança pública Aline Kerber enfatiza que a inserção do policiamento nas escolas, por si só, não é uma “solução mágica”, mas que o trabalho, aliado à gestão de informação, pode ser um bom aliado na prevenção. “É preciso fazer um policiamento inteligente, que depende de locais, horários e dias da semana com maior chances de crime. Isso produz, além do reconhecimento das violências, a capacidade de tomar uma decisão baseada em evidências.”

Cartilha divulgada pela polícia paranaense com orientações em caso de situações de violência em escolas. Foto: Polícia Militar do Paraná/Reprodução
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Aline avalia que a recomendação de enfrentamento ao agressor é o maior risco. “Não tem garantia de treinamento. E, mais do que isso, são crianças, elas não necessariamente têm força. O ideal é sempre que fuja, e talvez nem tanto o se esconda, porque a gente sabe que em casos como esses a orientação é tentar se afastar.”

Consultorias de segurança em ambiente escolar afirmam que o desenvolvimento de protocolos podem ajudar a garantir que a comunidade tenha mais organização para lidar com uma situação de perigo. Entretanto, para que funcionem de forma efetiva, é necessário que sejam implementados com um treinamento que envolva, necessariamente, toda a comunidade escolar e que contenha procedimentos claros, respeitando as características próprias do local.

Esse é um ponto também questionado pela socióloga. “Não tem como o protocolo ser implementado de forma efetiva em todas as escolas. Até porque a infraestrutura difere muito de uma escola para outra. O que dá para implementar é protocolo de ações integradas, com escola, segurança e outros órgãos públicos. Isso tudo pode e deve para fortalecer um trabalho integrado e que possa efetivamente ser de pronta resposta.”

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O diálogo como ferramenta de prevenção

Tratando-se de métodos importados, para além da defesa pessoal, uma das medidas destacadas pela pesquisadora Danila Di Pietro, que estuda o desenvolvimento de convivência ética na educação, é a aprendizagem socioemocional na base curricular, o que vem sendo indicado pelos Estados Unidos.

“O que a gente tem recomendado é que precisa ser abordado esse assunto na escola, mas há um modo de fazer isso. Você não pode deixar de considerar que tem sentimentos e preocupações preexistentes. É preciso iniciar o assunto de uma forma mais amistosa, perguntar o que os alunos estão escutando sobre o tema. Porque dependendo de quem vai levar esse discurso, você instaura o pânico”, afirma Danila.

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A conversa com crianças e adolescentes, seja em casa ou na escola, é uma ferramenta de prevenção defendida pelos especialistas. Iniciativas de mediação de conflito, criação de grupos de apoio, promoção de diálogo e escuta são ações que a escola pode tomar na criação de uma cultura de paz, de acordo com Aline Kerber. Em vista disso, o advogado Felippe Angeli, do Sou da Paz, reforça a importância da escola engajar os pais a conversarem com os filhos e criarem uma rede de proteção.

Esse é um dos métodos indicados pela cartilha divulgada pela Polícia Civil de Goiás, que traz instruções para o ambiente virtual e para o ambiente familiar. O conteúdo enfatiza o cuidado necessário por parte dos pais com cyberbullying e com o acesso de crianças e adolescentes na internet. A cartilha ainda orienta que os responsáveis estejam atentos às mochilas dos filhos e, sobretudo, ao comportamento deles. “Não deixe de investir em tempo de qualidade e fortalecer laços de relacionamento. Negligência, violência familiar, ambiente tóxico, são possíveis influenciadores comportamentos destrutivos”, descreve o manual.

Os especialistas defendem que, dessa forma, tendo a prevenção atrelada aos motivadores do problema, é possível conter ações de violência nas escolas, conforme enfatiza Danila: “Para que esses atos não aconteçam novamente, para que esse policial armado não precise estar na escola, para que a escola volta ao seu papel origem emancipador, de educar essas meninas e meninas”.

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Confira orientações

  • Denunciar às autoridades suspeitas de planos de ataques em escolas e faculdades. O governo federal criou um canal para recebimento de informações sobre ameaças e ataques contra escolas. Para realizar a denúncia, é preciso preencher um curto formulário que não exige identificação no endereço www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura. Veja aqui como fazer. Para que haja investigação, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo orienta que é preciso registrar boletim de ocorrência.
  • Não espalhe nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens fotos e vídeos cujas informações não têm a veracidade checada. “Ao receberem denúncias, é fundamental que os alunos ou responsáveis entrem em contato com a diretoria da escola para informar e saber a verdade sobre a suspeita, em vez de espalhar boatos para outros pais”, diz nota técnica do Instituto Sou da Paz. Para especialistas e autoridades, grande parte do conteúdo que circula nas redes sociais é de boatos ou desinformação. A disseminação de conteúdos do tipo pode aumentar a sensação de insegurança e produzir o “efeito contágio” – replicação de violências inspiradas nessas mensagens. “Quanto mais as pessoas causam pânico e compartilhando ameaças falsas, mais atrapalham as investigações, sobrecarregam os agentes de segurança nas investigações e também acionam gatilhos para potenciais imitadores”, alerta a pesquisadora da USP Michele Prado, que estuda o extremismo online.
  • Denuncie postagens nocivas às próprias redes. Várias das plataformas têm seus próprios canais de denúncia, onde mensagens de ódio ou supostas ameaças de ataque podem ser denunciadas. No WhatsApp, por exemplo, denúncias devem ser enviadas para o email support@whatsapp.com, detalhando o ocorrido com o máximo de informações e até anexando uma captura de tela. O usuário ou grupo denunciado, segundo o WhatsApp, não recebe notificação sobre isso. O TikTok também tem um canal de denúncias, que pode ser acessado aqui.
  • Evite entrar em pânico. Especialistas alertam que disseminar fotos e vídeos ou se render ao desespero não resolvem o problema. “O pânico é desagregador”, diz Ilana Katz, psicanalista que integra a Rede Nacional de Pesquisas em Saúde Mental de Crianças e Adolescentes. Busque informações oficiais e orientações dos educadores do local onde você ou seu filho estuda. Não acredite, sem verificar, em mensagens sobre ataques ou suspensão de atividades – muitos deles são falsos. “Existem fake news falando de ameaça todo dia. Se gerar esse pânico, quem quer fazer esse processo de gerar terror e paralisar a escola vai soltar notícia toda semana”, diz Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime, entidade que reúne os secretários municipais de Educação.
  • Especialistas recomendam aos pais e professores não apavorar crianças e adolescentes com excesso de informações ou pânico sobre o risco de ataques. O tipo de diálogo deve ser ajustado conforme a idade e maturidade da criança, considerando que as notícias já circulam na mídia e em redes sociais. Ou seja, em muitos casos não adianta esconder, mas contextualizar, orientar e acolher. “No universo da criança, é importante escutá-la e tentar pôr em imagens, pôr em narrativas, pôr em palavras. É muito comum que quando a gente faça isso, a ameaça diminua de tamanho”, disse o psicanalista Christian Dunker à Rádio Eldorado.
  • Não hostilize outros pais, alunos e professores. Diante do estresse e do ineditismo da situação, é natural que haja alguma dificuldade ou dúvidas sobre como agir também por parte dos professores e das escolas. É direito das famílias demandar diálogo transparente sobre o assunto, mas também ajudar na construção coletiva de informações. Já as suspeitas e denúncias devem ser comunicadas às autoridades.
  • Entenda as medidas. É importante que as famílias levem em conta que é importante ter ações de segurança para as escolas, mas tratar apenas como um caso de polícia não é a solução. É importante saber se o colégio tem ações pedagógicas e de atenção à saúde mental que identifique e previna problemas.

Episódios recentes de violência no ambiente escolar no Brasil vêm despertando a atenção de autoridades e para a criação de medidas e políticas públicas destinadas à prevenção contra novos atentados e à promoção de segurança dentro do ambiente escolar. Uma das orientações que tem se difundido é o método “Run, Hide & Fight”, que em português significa correr, se esconder e lutar.

O protocolo, utilizado mundialmente em situações de perigo como um ataque, orienta que a pessoa fuja se houver oportunidade. Caso contrário, que se esconda e que não faça barulho e, se tiver contato com o agressor havendo perigo iminente à vida, que lute. Especialistas defendem que, como medida de segurança, a ação pode não ser o melhor caminho, e que é preciso pensar antes em prevenção.

O método é recomendado pela Polícia Militar do Paraná e pela Polícia Militar de Santa Catarina, por exemplo. Nas redes sociais, a polícia paranaense divulgou recentemente uma cartilha contendo essas instruções. Já em Santa Catarina, de acordo com a pasta, a técnica será difundida como forma de prevenção, entre professores e funcionários para se defenderem de possíveis ações criminosas.

“Eu acredito que há um grande equívoco, do ponto de vista da prevenção, a abordagem da autodefesa. A defesa pessoal é bacana, mas ela não funciona na perspectiva de segurança pública. O que funciona é uma política integrada. É preciso articular segurança, educação, saúde, assistência, Ministério Público e Conselho Tutelar, construindo soluções múltiplas, porque é um problema multifatorial”, argumenta Aline Kerber, especialista em Segurança Pública e Prevenção da Violência na Escola.

A socióloga defende que a implementação da política pública é “complexa”. “Ela não funciona para o problema que se quer atacar. Tem que ter treinamento para diálogo, para resolver os problemas de forma pacífica e isso, efetivamente, vai construir espaços mais seguros para as pessoas. É preciso treinar jovens para que eles saibam resolver conflitos.”

O ponto de vista é compartilhado pelo advogado Felippe Angeli, gerente de Advocacy do Instituto Sou da Paz, organização não governamental dedicada à redução de violência no Brasil. Angeli alerta que é preciso ter cuidado para que instruções como o método “Run, Hide & Fight” não gerem pânico e contribuam para um efeito contágio. “Eu acredito que não é benéfico, não serve ao que se propõe, que é aumentar a proteção. Não traz soluções, desloca a responsabilidade para as vítimas, ocasionando uma pressão suplementar.”

Segundo o advogado, para além das rondas no entorno das instituições de ensino e na difusão do método de segurança pessoal, o papel do setor de segurança na prevenção à violência escolar se faz, sobretudo, na investigação, especialmente no que se refere aos ambientes virtuais de discussão, que têm sido apontados como a raiz do incentivo e apologia aos ataques.

Nesse sentido, a especialista em segurança pública Aline Kerber enfatiza que a inserção do policiamento nas escolas, por si só, não é uma “solução mágica”, mas que o trabalho, aliado à gestão de informação, pode ser um bom aliado na prevenção. “É preciso fazer um policiamento inteligente, que depende de locais, horários e dias da semana com maior chances de crime. Isso produz, além do reconhecimento das violências, a capacidade de tomar uma decisão baseada em evidências.”

Cartilha divulgada pela polícia paranaense com orientações em caso de situações de violência em escolas. Foto: Polícia Militar do Paraná/Reprodução

Aline avalia que a recomendação de enfrentamento ao agressor é o maior risco. “Não tem garantia de treinamento. E, mais do que isso, são crianças, elas não necessariamente têm força. O ideal é sempre que fuja, e talvez nem tanto o se esconda, porque a gente sabe que em casos como esses a orientação é tentar se afastar.”

Consultorias de segurança em ambiente escolar afirmam que o desenvolvimento de protocolos podem ajudar a garantir que a comunidade tenha mais organização para lidar com uma situação de perigo. Entretanto, para que funcionem de forma efetiva, é necessário que sejam implementados com um treinamento que envolva, necessariamente, toda a comunidade escolar e que contenha procedimentos claros, respeitando as características próprias do local.

Esse é um ponto também questionado pela socióloga. “Não tem como o protocolo ser implementado de forma efetiva em todas as escolas. Até porque a infraestrutura difere muito de uma escola para outra. O que dá para implementar é protocolo de ações integradas, com escola, segurança e outros órgãos públicos. Isso tudo pode e deve para fortalecer um trabalho integrado e que possa efetivamente ser de pronta resposta.”

O diálogo como ferramenta de prevenção

Tratando-se de métodos importados, para além da defesa pessoal, uma das medidas destacadas pela pesquisadora Danila Di Pietro, que estuda o desenvolvimento de convivência ética na educação, é a aprendizagem socioemocional na base curricular, o que vem sendo indicado pelos Estados Unidos.

“O que a gente tem recomendado é que precisa ser abordado esse assunto na escola, mas há um modo de fazer isso. Você não pode deixar de considerar que tem sentimentos e preocupações preexistentes. É preciso iniciar o assunto de uma forma mais amistosa, perguntar o que os alunos estão escutando sobre o tema. Porque dependendo de quem vai levar esse discurso, você instaura o pânico”, afirma Danila.

A conversa com crianças e adolescentes, seja em casa ou na escola, é uma ferramenta de prevenção defendida pelos especialistas. Iniciativas de mediação de conflito, criação de grupos de apoio, promoção de diálogo e escuta são ações que a escola pode tomar na criação de uma cultura de paz, de acordo com Aline Kerber. Em vista disso, o advogado Felippe Angeli, do Sou da Paz, reforça a importância da escola engajar os pais a conversarem com os filhos e criarem uma rede de proteção.

Esse é um dos métodos indicados pela cartilha divulgada pela Polícia Civil de Goiás, que traz instruções para o ambiente virtual e para o ambiente familiar. O conteúdo enfatiza o cuidado necessário por parte dos pais com cyberbullying e com o acesso de crianças e adolescentes na internet. A cartilha ainda orienta que os responsáveis estejam atentos às mochilas dos filhos e, sobretudo, ao comportamento deles. “Não deixe de investir em tempo de qualidade e fortalecer laços de relacionamento. Negligência, violência familiar, ambiente tóxico, são possíveis influenciadores comportamentos destrutivos”, descreve o manual.

Os especialistas defendem que, dessa forma, tendo a prevenção atrelada aos motivadores do problema, é possível conter ações de violência nas escolas, conforme enfatiza Danila: “Para que esses atos não aconteçam novamente, para que esse policial armado não precise estar na escola, para que a escola volta ao seu papel origem emancipador, de educar essas meninas e meninas”.

Confira orientações

  • Denunciar às autoridades suspeitas de planos de ataques em escolas e faculdades. O governo federal criou um canal para recebimento de informações sobre ameaças e ataques contra escolas. Para realizar a denúncia, é preciso preencher um curto formulário que não exige identificação no endereço www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura. Veja aqui como fazer. Para que haja investigação, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo orienta que é preciso registrar boletim de ocorrência.
  • Não espalhe nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens fotos e vídeos cujas informações não têm a veracidade checada. “Ao receberem denúncias, é fundamental que os alunos ou responsáveis entrem em contato com a diretoria da escola para informar e saber a verdade sobre a suspeita, em vez de espalhar boatos para outros pais”, diz nota técnica do Instituto Sou da Paz. Para especialistas e autoridades, grande parte do conteúdo que circula nas redes sociais é de boatos ou desinformação. A disseminação de conteúdos do tipo pode aumentar a sensação de insegurança e produzir o “efeito contágio” – replicação de violências inspiradas nessas mensagens. “Quanto mais as pessoas causam pânico e compartilhando ameaças falsas, mais atrapalham as investigações, sobrecarregam os agentes de segurança nas investigações e também acionam gatilhos para potenciais imitadores”, alerta a pesquisadora da USP Michele Prado, que estuda o extremismo online.
  • Denuncie postagens nocivas às próprias redes. Várias das plataformas têm seus próprios canais de denúncia, onde mensagens de ódio ou supostas ameaças de ataque podem ser denunciadas. No WhatsApp, por exemplo, denúncias devem ser enviadas para o email support@whatsapp.com, detalhando o ocorrido com o máximo de informações e até anexando uma captura de tela. O usuário ou grupo denunciado, segundo o WhatsApp, não recebe notificação sobre isso. O TikTok também tem um canal de denúncias, que pode ser acessado aqui.
  • Evite entrar em pânico. Especialistas alertam que disseminar fotos e vídeos ou se render ao desespero não resolvem o problema. “O pânico é desagregador”, diz Ilana Katz, psicanalista que integra a Rede Nacional de Pesquisas em Saúde Mental de Crianças e Adolescentes. Busque informações oficiais e orientações dos educadores do local onde você ou seu filho estuda. Não acredite, sem verificar, em mensagens sobre ataques ou suspensão de atividades – muitos deles são falsos. “Existem fake news falando de ameaça todo dia. Se gerar esse pânico, quem quer fazer esse processo de gerar terror e paralisar a escola vai soltar notícia toda semana”, diz Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime, entidade que reúne os secretários municipais de Educação.
  • Especialistas recomendam aos pais e professores não apavorar crianças e adolescentes com excesso de informações ou pânico sobre o risco de ataques. O tipo de diálogo deve ser ajustado conforme a idade e maturidade da criança, considerando que as notícias já circulam na mídia e em redes sociais. Ou seja, em muitos casos não adianta esconder, mas contextualizar, orientar e acolher. “No universo da criança, é importante escutá-la e tentar pôr em imagens, pôr em narrativas, pôr em palavras. É muito comum que quando a gente faça isso, a ameaça diminua de tamanho”, disse o psicanalista Christian Dunker à Rádio Eldorado.
  • Não hostilize outros pais, alunos e professores. Diante do estresse e do ineditismo da situação, é natural que haja alguma dificuldade ou dúvidas sobre como agir também por parte dos professores e das escolas. É direito das famílias demandar diálogo transparente sobre o assunto, mas também ajudar na construção coletiva de informações. Já as suspeitas e denúncias devem ser comunicadas às autoridades.
  • Entenda as medidas. É importante que as famílias levem em conta que é importante ter ações de segurança para as escolas, mas tratar apenas como um caso de polícia não é a solução. É importante saber se o colégio tem ações pedagógicas e de atenção à saúde mental que identifique e previna problemas.

Episódios recentes de violência no ambiente escolar no Brasil vêm despertando a atenção de autoridades e para a criação de medidas e políticas públicas destinadas à prevenção contra novos atentados e à promoção de segurança dentro do ambiente escolar. Uma das orientações que tem se difundido é o método “Run, Hide & Fight”, que em português significa correr, se esconder e lutar.

O protocolo, utilizado mundialmente em situações de perigo como um ataque, orienta que a pessoa fuja se houver oportunidade. Caso contrário, que se esconda e que não faça barulho e, se tiver contato com o agressor havendo perigo iminente à vida, que lute. Especialistas defendem que, como medida de segurança, a ação pode não ser o melhor caminho, e que é preciso pensar antes em prevenção.

O método é recomendado pela Polícia Militar do Paraná e pela Polícia Militar de Santa Catarina, por exemplo. Nas redes sociais, a polícia paranaense divulgou recentemente uma cartilha contendo essas instruções. Já em Santa Catarina, de acordo com a pasta, a técnica será difundida como forma de prevenção, entre professores e funcionários para se defenderem de possíveis ações criminosas.

“Eu acredito que há um grande equívoco, do ponto de vista da prevenção, a abordagem da autodefesa. A defesa pessoal é bacana, mas ela não funciona na perspectiva de segurança pública. O que funciona é uma política integrada. É preciso articular segurança, educação, saúde, assistência, Ministério Público e Conselho Tutelar, construindo soluções múltiplas, porque é um problema multifatorial”, argumenta Aline Kerber, especialista em Segurança Pública e Prevenção da Violência na Escola.

A socióloga defende que a implementação da política pública é “complexa”. “Ela não funciona para o problema que se quer atacar. Tem que ter treinamento para diálogo, para resolver os problemas de forma pacífica e isso, efetivamente, vai construir espaços mais seguros para as pessoas. É preciso treinar jovens para que eles saibam resolver conflitos.”

O ponto de vista é compartilhado pelo advogado Felippe Angeli, gerente de Advocacy do Instituto Sou da Paz, organização não governamental dedicada à redução de violência no Brasil. Angeli alerta que é preciso ter cuidado para que instruções como o método “Run, Hide & Fight” não gerem pânico e contribuam para um efeito contágio. “Eu acredito que não é benéfico, não serve ao que se propõe, que é aumentar a proteção. Não traz soluções, desloca a responsabilidade para as vítimas, ocasionando uma pressão suplementar.”

Segundo o advogado, para além das rondas no entorno das instituições de ensino e na difusão do método de segurança pessoal, o papel do setor de segurança na prevenção à violência escolar se faz, sobretudo, na investigação, especialmente no que se refere aos ambientes virtuais de discussão, que têm sido apontados como a raiz do incentivo e apologia aos ataques.

Nesse sentido, a especialista em segurança pública Aline Kerber enfatiza que a inserção do policiamento nas escolas, por si só, não é uma “solução mágica”, mas que o trabalho, aliado à gestão de informação, pode ser um bom aliado na prevenção. “É preciso fazer um policiamento inteligente, que depende de locais, horários e dias da semana com maior chances de crime. Isso produz, além do reconhecimento das violências, a capacidade de tomar uma decisão baseada em evidências.”

Cartilha divulgada pela polícia paranaense com orientações em caso de situações de violência em escolas. Foto: Polícia Militar do Paraná/Reprodução

Aline avalia que a recomendação de enfrentamento ao agressor é o maior risco. “Não tem garantia de treinamento. E, mais do que isso, são crianças, elas não necessariamente têm força. O ideal é sempre que fuja, e talvez nem tanto o se esconda, porque a gente sabe que em casos como esses a orientação é tentar se afastar.”

Consultorias de segurança em ambiente escolar afirmam que o desenvolvimento de protocolos podem ajudar a garantir que a comunidade tenha mais organização para lidar com uma situação de perigo. Entretanto, para que funcionem de forma efetiva, é necessário que sejam implementados com um treinamento que envolva, necessariamente, toda a comunidade escolar e que contenha procedimentos claros, respeitando as características próprias do local.

Esse é um ponto também questionado pela socióloga. “Não tem como o protocolo ser implementado de forma efetiva em todas as escolas. Até porque a infraestrutura difere muito de uma escola para outra. O que dá para implementar é protocolo de ações integradas, com escola, segurança e outros órgãos públicos. Isso tudo pode e deve para fortalecer um trabalho integrado e que possa efetivamente ser de pronta resposta.”

O diálogo como ferramenta de prevenção

Tratando-se de métodos importados, para além da defesa pessoal, uma das medidas destacadas pela pesquisadora Danila Di Pietro, que estuda o desenvolvimento de convivência ética na educação, é a aprendizagem socioemocional na base curricular, o que vem sendo indicado pelos Estados Unidos.

“O que a gente tem recomendado é que precisa ser abordado esse assunto na escola, mas há um modo de fazer isso. Você não pode deixar de considerar que tem sentimentos e preocupações preexistentes. É preciso iniciar o assunto de uma forma mais amistosa, perguntar o que os alunos estão escutando sobre o tema. Porque dependendo de quem vai levar esse discurso, você instaura o pânico”, afirma Danila.

A conversa com crianças e adolescentes, seja em casa ou na escola, é uma ferramenta de prevenção defendida pelos especialistas. Iniciativas de mediação de conflito, criação de grupos de apoio, promoção de diálogo e escuta são ações que a escola pode tomar na criação de uma cultura de paz, de acordo com Aline Kerber. Em vista disso, o advogado Felippe Angeli, do Sou da Paz, reforça a importância da escola engajar os pais a conversarem com os filhos e criarem uma rede de proteção.

Esse é um dos métodos indicados pela cartilha divulgada pela Polícia Civil de Goiás, que traz instruções para o ambiente virtual e para o ambiente familiar. O conteúdo enfatiza o cuidado necessário por parte dos pais com cyberbullying e com o acesso de crianças e adolescentes na internet. A cartilha ainda orienta que os responsáveis estejam atentos às mochilas dos filhos e, sobretudo, ao comportamento deles. “Não deixe de investir em tempo de qualidade e fortalecer laços de relacionamento. Negligência, violência familiar, ambiente tóxico, são possíveis influenciadores comportamentos destrutivos”, descreve o manual.

Os especialistas defendem que, dessa forma, tendo a prevenção atrelada aos motivadores do problema, é possível conter ações de violência nas escolas, conforme enfatiza Danila: “Para que esses atos não aconteçam novamente, para que esse policial armado não precise estar na escola, para que a escola volta ao seu papel origem emancipador, de educar essas meninas e meninas”.

Confira orientações

  • Denunciar às autoridades suspeitas de planos de ataques em escolas e faculdades. O governo federal criou um canal para recebimento de informações sobre ameaças e ataques contra escolas. Para realizar a denúncia, é preciso preencher um curto formulário que não exige identificação no endereço www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura. Veja aqui como fazer. Para que haja investigação, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo orienta que é preciso registrar boletim de ocorrência.
  • Não espalhe nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens fotos e vídeos cujas informações não têm a veracidade checada. “Ao receberem denúncias, é fundamental que os alunos ou responsáveis entrem em contato com a diretoria da escola para informar e saber a verdade sobre a suspeita, em vez de espalhar boatos para outros pais”, diz nota técnica do Instituto Sou da Paz. Para especialistas e autoridades, grande parte do conteúdo que circula nas redes sociais é de boatos ou desinformação. A disseminação de conteúdos do tipo pode aumentar a sensação de insegurança e produzir o “efeito contágio” – replicação de violências inspiradas nessas mensagens. “Quanto mais as pessoas causam pânico e compartilhando ameaças falsas, mais atrapalham as investigações, sobrecarregam os agentes de segurança nas investigações e também acionam gatilhos para potenciais imitadores”, alerta a pesquisadora da USP Michele Prado, que estuda o extremismo online.
  • Denuncie postagens nocivas às próprias redes. Várias das plataformas têm seus próprios canais de denúncia, onde mensagens de ódio ou supostas ameaças de ataque podem ser denunciadas. No WhatsApp, por exemplo, denúncias devem ser enviadas para o email support@whatsapp.com, detalhando o ocorrido com o máximo de informações e até anexando uma captura de tela. O usuário ou grupo denunciado, segundo o WhatsApp, não recebe notificação sobre isso. O TikTok também tem um canal de denúncias, que pode ser acessado aqui.
  • Evite entrar em pânico. Especialistas alertam que disseminar fotos e vídeos ou se render ao desespero não resolvem o problema. “O pânico é desagregador”, diz Ilana Katz, psicanalista que integra a Rede Nacional de Pesquisas em Saúde Mental de Crianças e Adolescentes. Busque informações oficiais e orientações dos educadores do local onde você ou seu filho estuda. Não acredite, sem verificar, em mensagens sobre ataques ou suspensão de atividades – muitos deles são falsos. “Existem fake news falando de ameaça todo dia. Se gerar esse pânico, quem quer fazer esse processo de gerar terror e paralisar a escola vai soltar notícia toda semana”, diz Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime, entidade que reúne os secretários municipais de Educação.
  • Especialistas recomendam aos pais e professores não apavorar crianças e adolescentes com excesso de informações ou pânico sobre o risco de ataques. O tipo de diálogo deve ser ajustado conforme a idade e maturidade da criança, considerando que as notícias já circulam na mídia e em redes sociais. Ou seja, em muitos casos não adianta esconder, mas contextualizar, orientar e acolher. “No universo da criança, é importante escutá-la e tentar pôr em imagens, pôr em narrativas, pôr em palavras. É muito comum que quando a gente faça isso, a ameaça diminua de tamanho”, disse o psicanalista Christian Dunker à Rádio Eldorado.
  • Não hostilize outros pais, alunos e professores. Diante do estresse e do ineditismo da situação, é natural que haja alguma dificuldade ou dúvidas sobre como agir também por parte dos professores e das escolas. É direito das famílias demandar diálogo transparente sobre o assunto, mas também ajudar na construção coletiva de informações. Já as suspeitas e denúncias devem ser comunicadas às autoridades.
  • Entenda as medidas. É importante que as famílias levem em conta que é importante ter ações de segurança para as escolas, mas tratar apenas como um caso de polícia não é a solução. É importante saber se o colégio tem ações pedagógicas e de atenção à saúde mental que identifique e previna problemas.

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