Banco de questões escasso evita mudança a curto prazo no Enem


Banco Nacional de Itens (BNI) do exame não deve ter agora mais do que 200 perguntas; alterações afetariam equilíbrio da prova

Por Renata Cafardo

O tamanho limitado do banco de questões, a complexidade da montagem da prova e a reação de servidores às pressões explicam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de domingo. Mesmo com a recente crise no Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), apareceram questões sobre luta de classes, desigualdade de gênero e uma música de Chico Buarque. Os temas surpreenderam professores e candidatos, que esperavam um teste com “a cara do governo”, como havia dito o presidente Jair Bolsonaro.

Ao todo, a prova tem 180 questões – todas as usadas neste ano foram elaboradas em 2019 ou antes. Segundo o Estadão apurou, o chamado Banco Nacional de Itens (BNI) do Enem não deve ter agora mais de 200 questões. Isso porque não foram feitas novas em 2020 e 2021, por causa da pandemia. Como são necessárias ao menos duas provas por ano (uma para eventual reaplicação), a quantidade é ínfima. Este ano, chegaram a ser removidas 24 perguntas de uma primeira versão da prova, por terem assuntos potencialmente “sensíveis” pelos critérios da cúpula do Inep. Foram sugeridas substitutas, mas o teste ficou sem equilíbrio entre perguntas fáceis, médias e difíceis. A solução diante da falta de questões, conforme revelou o Estadão, foi levar 13 dos itens de volta para o exame.

continua após a publicidade

Uma das que retornaram foi a pergunta sobre luta de classes, segundo servidores. Ela trazia um texto de Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista. E por que o governo não incluiu novas questões, alinhadas a ideias do governo ou usou outros autores? O processo de criar itens é complexo e pode levar meses. Para elaborar novas questões, o Inep precisa fazer um edital para contratar colaboradores externos, com análise de currículo e experiência em avaliações. Os itens propostos por eles precisam seguir uma matriz de referência da prova – não é uma lista de conteúdos, mas competências e habilidades que devem ser avaliadas.

Candidatos chegam para o primeiro dia de prova do Enem no câmpus da UERJ, no Rio;registro civil foitema da Redação Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Depois, essas perguntas passam pelo filtro de técnicos do Inep e nem todas são incorporadas. No início do ano, o presidente do órgão, Danilo Dupas, tentou indicar professores para essa equipe, sem passar por edital. O grupo incluía até uma docente criacionista. Após reação dos servidores, ele desistiu, como mostrou o Estadão.

continua após a publicidade

Servidores afirmam que não houve mudança de conteúdo das questões ou manipulação das perguntas já prontas, o que ficaria registrado no sistema eletrônico do Inep. Isso também afetaria a calibragem da prova – qualquer mudança pode alterar a capacidade de discriminar o candidato.

A estratégia usada pela cúpula do Ministério da Educação (MEC) foi a de retirar o máximo de questões consideradas problemáticas. Em 2019, uma comissão externa barrou 66 questões com “abordagens controversas” e “teor ofensivo”. Já em 2020 o então diretor de Avaliação Básica do Inep, general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, foi o responsável por escolher o que não deveria estar na prova. Os dois movimentos, de 2019 e 2020, reduziram ainda mais o banco de itens.

A falta de temas frequentes no ensino médio chamou a atenção de professores de colégios e cursinhos. A questão mais recente sobre a História do Brasil que surgiu domingo falava do suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954. A ditadura militar não aparece na prova desde 2019, quando começou a gestão Bolsonaro. Entre 2010 e 2018 houve sempre uma questão sobre o tema. Neste ano, uma das questões trazia música do cantor Zé Ramalho, Admirável Gado Novo, de 1979 (na ditadura). Mas não tratava do período histórico. “Era sobre interpretação de texto, conceitual”, diz o professor de História do Descomplica, João Daniel de Almeida. “A prova foi boa, mas não sabemos o que ficou de fora.”

continua após a publicidade

O banco escasso de itens preocupa especialistas. “Se não resolver a bagunça no Inep, pode ter prejuízos para o próximo ano, que se constrói agora. Tem de planejar o pré-teste, revisão de questões”, diz uma professora que assessora o Enem. Já houve edital e novas questões estão sendo preparadas. Parte delas precisa passar pelo pré-teste, ou seja, ser aplicada para alunos de ensino médio para calibragem. Outras, por segurança, são inéditas, mas submetidas a um rigoroso processo de análise técnica. Só depois, a questão vai para o banco de itens e está apta para ser escolhida – ou rejeitada.

O tamanho limitado do banco de questões, a complexidade da montagem da prova e a reação de servidores às pressões explicam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de domingo. Mesmo com a recente crise no Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), apareceram questões sobre luta de classes, desigualdade de gênero e uma música de Chico Buarque. Os temas surpreenderam professores e candidatos, que esperavam um teste com “a cara do governo”, como havia dito o presidente Jair Bolsonaro.

Ao todo, a prova tem 180 questões – todas as usadas neste ano foram elaboradas em 2019 ou antes. Segundo o Estadão apurou, o chamado Banco Nacional de Itens (BNI) do Enem não deve ter agora mais de 200 questões. Isso porque não foram feitas novas em 2020 e 2021, por causa da pandemia. Como são necessárias ao menos duas provas por ano (uma para eventual reaplicação), a quantidade é ínfima. Este ano, chegaram a ser removidas 24 perguntas de uma primeira versão da prova, por terem assuntos potencialmente “sensíveis” pelos critérios da cúpula do Inep. Foram sugeridas substitutas, mas o teste ficou sem equilíbrio entre perguntas fáceis, médias e difíceis. A solução diante da falta de questões, conforme revelou o Estadão, foi levar 13 dos itens de volta para o exame.

Uma das que retornaram foi a pergunta sobre luta de classes, segundo servidores. Ela trazia um texto de Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista. E por que o governo não incluiu novas questões, alinhadas a ideias do governo ou usou outros autores? O processo de criar itens é complexo e pode levar meses. Para elaborar novas questões, o Inep precisa fazer um edital para contratar colaboradores externos, com análise de currículo e experiência em avaliações. Os itens propostos por eles precisam seguir uma matriz de referência da prova – não é uma lista de conteúdos, mas competências e habilidades que devem ser avaliadas.

Candidatos chegam para o primeiro dia de prova do Enem no câmpus da UERJ, no Rio;registro civil foitema da Redação Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Depois, essas perguntas passam pelo filtro de técnicos do Inep e nem todas são incorporadas. No início do ano, o presidente do órgão, Danilo Dupas, tentou indicar professores para essa equipe, sem passar por edital. O grupo incluía até uma docente criacionista. Após reação dos servidores, ele desistiu, como mostrou o Estadão.

Servidores afirmam que não houve mudança de conteúdo das questões ou manipulação das perguntas já prontas, o que ficaria registrado no sistema eletrônico do Inep. Isso também afetaria a calibragem da prova – qualquer mudança pode alterar a capacidade de discriminar o candidato.

A estratégia usada pela cúpula do Ministério da Educação (MEC) foi a de retirar o máximo de questões consideradas problemáticas. Em 2019, uma comissão externa barrou 66 questões com “abordagens controversas” e “teor ofensivo”. Já em 2020 o então diretor de Avaliação Básica do Inep, general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, foi o responsável por escolher o que não deveria estar na prova. Os dois movimentos, de 2019 e 2020, reduziram ainda mais o banco de itens.

A falta de temas frequentes no ensino médio chamou a atenção de professores de colégios e cursinhos. A questão mais recente sobre a História do Brasil que surgiu domingo falava do suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954. A ditadura militar não aparece na prova desde 2019, quando começou a gestão Bolsonaro. Entre 2010 e 2018 houve sempre uma questão sobre o tema. Neste ano, uma das questões trazia música do cantor Zé Ramalho, Admirável Gado Novo, de 1979 (na ditadura). Mas não tratava do período histórico. “Era sobre interpretação de texto, conceitual”, diz o professor de História do Descomplica, João Daniel de Almeida. “A prova foi boa, mas não sabemos o que ficou de fora.”

O banco escasso de itens preocupa especialistas. “Se não resolver a bagunça no Inep, pode ter prejuízos para o próximo ano, que se constrói agora. Tem de planejar o pré-teste, revisão de questões”, diz uma professora que assessora o Enem. Já houve edital e novas questões estão sendo preparadas. Parte delas precisa passar pelo pré-teste, ou seja, ser aplicada para alunos de ensino médio para calibragem. Outras, por segurança, são inéditas, mas submetidas a um rigoroso processo de análise técnica. Só depois, a questão vai para o banco de itens e está apta para ser escolhida – ou rejeitada.

O tamanho limitado do banco de questões, a complexidade da montagem da prova e a reação de servidores às pressões explicam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de domingo. Mesmo com a recente crise no Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), apareceram questões sobre luta de classes, desigualdade de gênero e uma música de Chico Buarque. Os temas surpreenderam professores e candidatos, que esperavam um teste com “a cara do governo”, como havia dito o presidente Jair Bolsonaro.

Ao todo, a prova tem 180 questões – todas as usadas neste ano foram elaboradas em 2019 ou antes. Segundo o Estadão apurou, o chamado Banco Nacional de Itens (BNI) do Enem não deve ter agora mais de 200 questões. Isso porque não foram feitas novas em 2020 e 2021, por causa da pandemia. Como são necessárias ao menos duas provas por ano (uma para eventual reaplicação), a quantidade é ínfima. Este ano, chegaram a ser removidas 24 perguntas de uma primeira versão da prova, por terem assuntos potencialmente “sensíveis” pelos critérios da cúpula do Inep. Foram sugeridas substitutas, mas o teste ficou sem equilíbrio entre perguntas fáceis, médias e difíceis. A solução diante da falta de questões, conforme revelou o Estadão, foi levar 13 dos itens de volta para o exame.

Uma das que retornaram foi a pergunta sobre luta de classes, segundo servidores. Ela trazia um texto de Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista. E por que o governo não incluiu novas questões, alinhadas a ideias do governo ou usou outros autores? O processo de criar itens é complexo e pode levar meses. Para elaborar novas questões, o Inep precisa fazer um edital para contratar colaboradores externos, com análise de currículo e experiência em avaliações. Os itens propostos por eles precisam seguir uma matriz de referência da prova – não é uma lista de conteúdos, mas competências e habilidades que devem ser avaliadas.

Candidatos chegam para o primeiro dia de prova do Enem no câmpus da UERJ, no Rio;registro civil foitema da Redação Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Depois, essas perguntas passam pelo filtro de técnicos do Inep e nem todas são incorporadas. No início do ano, o presidente do órgão, Danilo Dupas, tentou indicar professores para essa equipe, sem passar por edital. O grupo incluía até uma docente criacionista. Após reação dos servidores, ele desistiu, como mostrou o Estadão.

Servidores afirmam que não houve mudança de conteúdo das questões ou manipulação das perguntas já prontas, o que ficaria registrado no sistema eletrônico do Inep. Isso também afetaria a calibragem da prova – qualquer mudança pode alterar a capacidade de discriminar o candidato.

A estratégia usada pela cúpula do Ministério da Educação (MEC) foi a de retirar o máximo de questões consideradas problemáticas. Em 2019, uma comissão externa barrou 66 questões com “abordagens controversas” e “teor ofensivo”. Já em 2020 o então diretor de Avaliação Básica do Inep, general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, foi o responsável por escolher o que não deveria estar na prova. Os dois movimentos, de 2019 e 2020, reduziram ainda mais o banco de itens.

A falta de temas frequentes no ensino médio chamou a atenção de professores de colégios e cursinhos. A questão mais recente sobre a História do Brasil que surgiu domingo falava do suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954. A ditadura militar não aparece na prova desde 2019, quando começou a gestão Bolsonaro. Entre 2010 e 2018 houve sempre uma questão sobre o tema. Neste ano, uma das questões trazia música do cantor Zé Ramalho, Admirável Gado Novo, de 1979 (na ditadura). Mas não tratava do período histórico. “Era sobre interpretação de texto, conceitual”, diz o professor de História do Descomplica, João Daniel de Almeida. “A prova foi boa, mas não sabemos o que ficou de fora.”

O banco escasso de itens preocupa especialistas. “Se não resolver a bagunça no Inep, pode ter prejuízos para o próximo ano, que se constrói agora. Tem de planejar o pré-teste, revisão de questões”, diz uma professora que assessora o Enem. Já houve edital e novas questões estão sendo preparadas. Parte delas precisa passar pelo pré-teste, ou seja, ser aplicada para alunos de ensino médio para calibragem. Outras, por segurança, são inéditas, mas submetidas a um rigoroso processo de análise técnica. Só depois, a questão vai para o banco de itens e está apta para ser escolhida – ou rejeitada.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.