Criado na periferia do Recife, Fred Ramon, de 23 anos, viu o sonho conquistado em 2021 ser ameaçado. Aprovado em nove universidades dos Estados Unidos, ele escolheu estudar na Whittier College, localizada na Califórnia, ao ganhar uma bolsa de 70% para cursar Ciências da Computação. O restante das despesas eram pagas por um doador anônimo que, no final de 2023, informou não conseguir mais ajudá-lo, alegando problemas financeiros.
“Meu sonho se tornou realidade após esse doador (que prefere não se identificar) me ajudar financeiramente até este momento. Foi assim que consegui morar nos EUA. Mas, infelizmente, no final do ano passado, ele entrou em contato comigo dizendo que não teria mais condições de continuar me ajudando porque estava com sérias dificuldades financeiras. Aí, entrei em desespero”, relatou o estudante.
Chegando ao sexto semestre da graduação, Ramon ainda tem mais três pela frente - ele se forma em maio de 2025. Para tentar se manter, faz estágio como analista de dados em um escritório onde recebe US$ 40 semanais (equivalente a aproximadamente R$ 200), mas o valor não cobre todos os gastos. Por isso, ele abriu uma vaquinha virtual com o objetivo de arrecadar R$ 200 mil para custear a reta final do curso. A mensalidade na instituição custa R$ 15 mil (cerca de US$ 3 mil).
O link da vaquinha virtual é o https://www.vakinha.com.br/4248989. Até esta terça-feira, 5, ele já havia arrecadado R$ 72 mil.
Ramon diz que não pode contar com a ajuda da mãe, que é faxineira e não tem condições de arcar com as despesas. “O que tem me ajudado nesse momento são as pessoas que se sensibilizam com a minha história. Eu sou o único da família a entrar em uma universidade. Eu sou um jovem negro, da periferia, em um país distante, muito caro e estou lutando para chegar até o fim”, disse.
Quando concluir a graduação, ele quer voltar ao Brasil para ajudar em projetos com foco em desenvolvimento de tecnologia para pessoas de baixa renda. O estudante informou que a universidade tem apoiado para que ele não desista da graduação, muitas vezes até mudando a data do pagamento para ele arcar com o custo.
O Estadão entrou em contato com a Whittier College por e-mail e a universidade diz que faz o “possível para fornecer o suporte necessário para garantir que os alunos concluam os estudos”. Além disso, informou que existem “serviços de apoio ao estudante na Divisão de Vida Estudantil ajudando com fundos de emergência para aqueles que enfrentam crises financeiras inesperadas. Esses fundos podem fornecer assistência de curto prazo para despesas como moradia, alimentação e transporte”.
Em busca dos seus sonhos, Ramon sempre foi curioso e estava à frente de projetos sociais. Também é envolvido em artes como a dança contemporânea e até trabalhou em um cruzeiro antes da pandemia. Desde a adolescência gostava de músicas pop e norte-americana, o que fez ele se interessar em aprender inglês e procurar cursinhos populares com aulas do idioma.
Além da Whittier College, ele foi aprovado na Universidade de Inovação ASU; Manhattanville College; Florida Tech; Temple University; University of Arizona; Stetson University; Adelphi University; e University of La Verne.
Associação de estudantes brasileiros no exterior ajuda alunos negros
A BRASA, associação de alunos brasileiros no exterior, reúne mais de 90 mil estudantes. Entre as atividades desenvolvidas, a entidade promove palestras, mentorias e capacitações para quem deseja estudar fora do Brasil.
Em 2021, foi criado o programa BRASA Black Honors, que prevê orientação e suporte financeiro especificamente para jovens negros de baixa renda.
Mais informação: bolsas.gobrasa.org
*Este conteúdo foi produzido em parceria com o BRASA, responsável pelo programa BRASA Black Honors