Tecnologias de inteligência artificial ganham força e se espalham por diversos setores, inclusive nas escolas. No entanto, para a cientista da computação Nina da Hora, robôs e inteligências artificiais não substituem o papel do professor em sala de aula.
“Temos a tendência de achar que tecnologias resolvem lacunas de relacionamento e comunicação”, afirmou ela nesta segunda-feira, 29, durante o Fórum Reconstrução da Educação, realizado pelo Estadão. “É um algoritmo que, em teoria, conheceria mais do aluno que o próprio professor, que passa a manhã inteira com o aluno”, diz Nina, que também é integrante do Conselho de Segurança do TikTok Brasil.
Para ela, é necessário encontrar maneiras de inserir tecnologias no ambiente escolar e a saída está em colocar professores e alunos como atores centrais nesse processo. “Se tornou urgente debater como vamos equilibrar o uso das tecnologias no ambiente educacional. E, para isso, precisamos olhar para o contexto do trabalho do professor”, diz.
“Eu ouvi aqui (no Fórum Reconstrução da Educação) sobre gamificação e a importância de softwares, mas me preocupa que essa importância seja colocada acima do conhecimento que a equipe escolar tem com relação a determinado aluno por conviver com ele, por tocar nele e por olhar nos olhos dele”, explica.
Ela conta que, em conversas com neurocientistas, teve oportunidade de entender mais sobre a relação entre educação e tecnologia de inteligência artificial, por exemplo. “O primeiro impacto negativo dessa transição é que o aluno não consegue entender qual o seu limite na hora do foco e do estudo”, revela. “No digital, você pode passar mais de cinco horas lendo e no dia seguinte não lembrar de nada do que você leu porque não estava entendendo os limites e as pausas que deveriam ser feitas neste período”, completa.
A situação é diferente quando o estudo acontece fora das telas por meio dos livros. “Quando você está folheando o livro, você está fazendo um exercício, você movimenta outras partes do corpo além do cérebro. Automaticamente você vai sentir o cansaço e vai fazer uma pausa”, diz.
Outro ponto levantado pelos neurocientistas é que o cérebro humano não trabalha com a ideia de exaustão. Isso significa que longos períodos de trabalho e estudo não significam crescimento profissional. Pelo contrário. “Nosso cérebro trabalha com pausas. Então são nos momentos de pausa, como o café, que nosso cérebro começa a assimilar o que foi aprendido até então.”
Entretanto, os computadores, sim, trabalham por exaustão. “Quanto mais dados, mais informações eu compartilhar com essas máquinas, melhores elas vão ficar”, diz. “E nós não somos essas máquinas. Alunos, gestores e professores precisam das pausas para dar conta da produtividade imposta na educação hoje.”
Programação
- 15/5 – Educação no Brasil hoje e recomposição da aprendizagem (veja como foi);
- 16/5 – Ensino integral e professores (veja como foi);
- 18/5 – Educação infantil e alfabetização (veja como foi);
- 23/5 – Ensino médio; (veja como foi);
- 25/5 – Ensino fundamental 2 e tecnologia (veja como foi);
- 29/5 – Fórum Reconstrução da Educação. (veja como foi)
Reconstrução da Educação é uma realização do Estadão, em parceria com a Fundação Itaú, Fundação Lemann, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Vivo Telefônica, Instituto Natura e Instituto Península. E tem o apoio do Consed, da Undime e do Todos Pela Educação.