Por André Pereira Lindenberg
Presente na obra, "Um, Nenhum e Cem Mil", o dramaturgo Luigi Pirandello, no conto "o espelho", aborda o reconhecimento da imagem de si mesmo pelo personagem central da trama. Seja na literatura, na dramaturgia sonora, em intervenções e instalações, a arte torna o seu autor, um espelho. Por esses meios, ele se torna capaz de refletir o mundo com seus sentidos atentos. Assim, o artista filtra as emoções que quer demonstrar e as coloca em evidência por meio da arte. A atmosfera que envolve a Arte e a Vida, reside em um lugar que ultrapassa os muros da escola e gera conexões em outros espaços de existência social, como por exemplo, o palco.
Na disciplina eletiva de Artes Cênicas, dentro do Colégio Pentágono, os jovens do Ensino Médio vivenciam um processo artístico, próximo ao que ocorre em muitas companhias de teatro da capital. Eles escolhem o seu local de protagonismo no espetáculo, por meio de laboratórios artísticos, que envolvem a criação da dramaturgia, sonoplastia, iluminação, figurino e cenário. Eles decidem coletivamente o planejamento da estreia, convite, captação de imagens até a linguagem cênica. Todas essas esferas particulares são definidas em diálogos entre eles e o que aparenta ser um trabalho hercúleo, é de leveza, pois cada um opta a sua área de atuação a qualquer momento do processo. Há iluminadores, cantores, atores e diretores de cenas, um exercício constante de um "espectador" ativo. O que era uma aula de teatro, se torna a construção de uma peça em todas suas esferas, e o mais importante, tudo parte dos próprios estudantes.
É nesse processo que existe a beleza do referido "espelho" de Pirandello: o estado de presença e encontro do Eu e do Outro. Nasce, ali, o lugar de fala dos sentimentos com os jovens, um espaço que o teatro proporciona de existência sem julgamentos. É pela raridade de um lugar como este para o diálogo, e pela potência do desenvolvimento cognitivo coletivo, que o teatro se torna tão importante nas escolas. A convivência focada no ato de observar, de espelhar, de gerar empatia cognitiva e afetiva permite que os jovens reflitam sobre o outro e também sobre a imagem do que vê à sua volta.
O indício técnico estudado pelos alunos se apresenta no repertório de expressão que o artista-educando manifesta quando une emoção, escuta ativa e objetivo consciente. O resultado é um deslocamento de introspecção de massa sonora, que é gerido de escutas internas (pensamentos) e externas ao longo de sua vida. Ele se vê de frente com um processo de investigação do seu percurso pessoal e nesta imersão por dentro de si. O veículo artístico é o transporte das estruturas emocionais para o diálogo com o público. A Arte desenvolve as habilidades socioemocionais trazendo relevância do protagonismo de jovens, que podem desenvolver excelência acadêmica em experiências práticas, em uma academia que treina e exercita os sentimentos e emoções. A arte complexa de educar envolve, também, a percepção do tempo certo de cada indivíduo para finalizar os seus ciclos, sejam os cronológicos, semestrais, temporais, ou aqueles internos de um tempo Kairós. Um tempo a ser vivido.
André Pereira Lindenberg é Assessor de Arte do Colégio Pentágono