Em 2016, nas Olimpíadas do Rio, o atleta brasileiro da Marcha Atlética, Caio Bonfim, disse se sentir feliz por ter sido o quarto colocado na prova de 20 km, apesar de ter chegado apenas cinco segundos atrás do medalhista de bronze. Caio havia sido o 39º colocado em Londres, quatro anos antes. Em toda competição - e as Olimpíadas de Matemática estão obviamente incluídas -, espera-se resultado. E não qualquer resultado. Vivemos inseridos em uma cultura em que o 2º colocado é tão perdedor quanto os demais além do melhor colocado. No entanto, preparando os alunos para as Olimpíadas de Matemática, percebi que o grande - e maior - ganho que se obtém ao participar dessas competições é o desenvolvimento acadêmico e pessoal do próprio aluno, assim como o atleta brasileiro considerou uma conquista ter melhorado o seu desempenho, a despeito de não ter ganhado uma medalha.
Nas aulas preparatórias para as Olimpíadas de Matemática desenvolvidas no Colégio Pentágono, os alunos, em grupos heterogêneos em relação à idade e à série, são submetidos a desafios matemáticos de nível olímpico. Depois do primeiro contato, da leitura e da interpretação do enunciado, começam as conversas entre eles, traçando caminhos possíveis para a resolução. A troca é fundamental nessa etapa, pois não se trata apenas de saber ou não um conteúdo, mas, principalmente, de perceber aonde se quer chegar por um caminho viável através da Matemática. Posteriormente, eles testam a possível resolução e, nesse ponto, há um desejo coletivo da resolução do problema. Tendo-o superado, um dos alunos deve expor a resolução passo a passo para todos os demais. Isto reforça o sentido coletivo da busca pela solução e enriquece o próprio esforço porque dá sentido a cada passo desenvolvido. Se não houve a superação do desafio, volta-se ao passo da leitura e da interpretação, mas, agora, o professor já tem um papel mais ativo, apontando palavras-chave ou conceitos que possam auxiliá-los. E, assim, segue, até que o desafio proposto seja superado para que venha o próximo. Dessa forma, superar esses desafios em conjunto, trocando suas diferentes perspectivas sobre um problema e explicando posteriormente aos demais alunos a sua resolução, acaba por transcender a busca por resultados. Mas nem sempre foi assim.
No início, havia uma grande obsessão por resultados e a competição entre eles era inevitável. Muitos sequer gostavam de participar das aulas, temendo que o resultado não fosse satisfatório, evitando a frustração. Com o passar das aulas e expondo-se coletivamente a desafios cada vez maiores, os alunos perceberam que já haviam atingido um nível diferente do que estavam na primeira aula. E isso era o que realmente importava. O resultado passava a ser uma decorrência do esforço e do empenho, mas a motivação primeira já não era essa. A preparação para as Olimpíadas era o que motivava o aluno, e não a Olimpíada em si. A competição havia dado lugar à cooperação pois os alunos percebiam que, quanto mais cooperassem, melhores competidores se tornariam. A participação nas aulas preparatórias para as Olimpíadas promoveu, dessa forma, o desenvolvimento acadêmico dos alunos, tornando-os mais competitivos mas, também, resultou em desenvolvimento pessoal, criando coletividade e cooperação.
Diego Mantoanelli Silva Professor de Matemática do Colégio Pentágono