A escola pode ser uma grande aliada da família na identificação e acolhimento das crianças e jovens com habilidades extraordinárias
Você já deve ter escutado uma história impressionante de uma criança que aprendeu a falar com pouquíssimos meses de idade ou que passou em um vestibular muito concorrido ainda na infância. Esses exemplos podem dar a falsa ideia de que identificar uma pessoa superdotada é fácil. "Definir superdotação é um processo polêmico, complexo e instável", esclarece Juliana Gois, orientadora educacional de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco.
Isso porque uma criança pode estar muito acima da média da população da idade dela e, ainda assim, não ser considerada superdotada. E como fazer essa diferenciação é uma discussão que divide opiniões. De acordo com a Associação Mensa Brasil, que é a afiliada brasileira da mais prestigiada organização de alto quociente de inteligência (QI) do mundo, o único requisito de ingresso é possuir QI acima de 98% da população em geral, comprovado por teste referendado de inteligência. Já na avaliação de muitos psicopedagogos e treinadores de esportes, por exemplo, é necessário considerar também outros aspectos, como o psicológico e motor, para chegar a essa conclusão.
Como no Brasil não existe um mapeamento oficial e os testes não são de fácil acesso, o desafio é ainda maior, já que a identificação dos primeiros sinais depende da colaboração entre a família e a escola - o que faz muita diferença. Além de poder garantir que a criança ou jovem tenha o estudo adequado, ao identificar e avaliar as altas habilidades do filho(a), os pais podem dar o suporte emocional necessário e buscar especialistas para ajudá-los.
"Muitas vezes, quando não há identificação precoce, as crianças superdotadas apresentam desinteresse pela escola, mostram-se mais vulneráveis a críticas e, ainda, podem manifestar problemas de conduta, como indisciplina, dificuldade no seguimento de regras e questionamentos constantes", alerta Juliana.
Mas como os pais podem identificar essa condição?
Segundo a Secretaria da Educação Especial do Ministério da Educação, existem alguns sinais que podem ser percebidos no dia a dia e que podem sugerir que seu filho(a) é superdotado(a). São eles:
- Curiosidade aguçada;
- Repertório de vocabulário avançado para a idade;
- Perfil de líder;
- Autoconfiança;
- Interesses específicos e especial dedicação a eles;
- Alfabetização precoce;
- Criatividade;
- Ótima memória;
- Facilidade de aprendizagem;
- Excelente desempenho em um ou mais componentes em relação aos seus pares;
- Realização de observações;
- Conhecimentos específicos que não foram ensinados por outrem, como outro idioma, nome de diferentes países do mundo, etc.;
- Estilo próprio para a resolução de situações problemas;
- Persistência a fim de atingir um objetivo.
"Vale ressaltar que a presença dessas características não é suficiente para definir se trata-se de uma criança superdotada, mas sim propulsora para a busca de avaliação com um especialista", pontua Juliana. A orientadora educacional reforça que o laudo da superdotação requer a aplicação por neuropsicólogos e psicólogos de testes de inteligência específicos que mensuram o QI do indivíduo.
Parceria entre família e escola é muito importante na inclusão
Segundo cartilha da Secretaria de Educação Especial sobre Práticas Educacionais para Alunos com Altas Habilidades/Superdotação, o ambiente familiar ideal para o desenvolvimento de talento "combina afetividade, apoio, estímulos e expectativa por altos padrões de desempenho dos filhos". No entanto, a falta de informação e debate sobre as características e necessidades dos filhos com altas habilidades pode deixar os pais confusos, sentindo-se isolados e sem apoio. Por isso, a comunicação entre família e escola é imprescindível.
"Existem diversas formas de atendimento educacional especializado caso um aluno seja superdotado, tais como: adaptação curricular, possibilidade de aceleração de séries, incentivo à participação de projetos extracurriculares", explica Juliana. "Contudo, reforçamos que deve ser considerado não apenas o QI, mas também as demais habilidades cognitivas, os aspectos emocionais e sociais do aluno", completa a orientadora educacional do Rio Branco.
Unindo os esforços, junto com os profissionais necessários, escola e família serão capazes de promover mais bem-estar e desenvolvimento às crianças e aos jovens superdotados, além de garantir o florescimento de grandes talentos para o futuro.