Apesar de ser clara a necessidade atual de profissionais criativos, que sabem inovar, se comunicar e trabalhar em equipe, pouco se olha para a educação. Os mesmos pais que buscam essas qualidades no mundo do trabalho em seus funcionários às vezes querem os filhos em escolas de ensino tradicional, em que o professor passa a maior parte do tempo na frente da sala despejando conteúdo.
Diversas pesquisas internacionais já mostraram que a interação, a conversa, o trabalho conjunto entre alunos, com mediação de professores bem formados para isso, são essenciais para a aprendizagem.
Mas nada adianta um professor que simplesmente junta as crianças em grupo para resolver cálculos, por exemplo, porque obviamente alguns vão acabar copiando daquele que já sabe fazer. As atividades precisam ser pensadas para exigir reflexão e construção conjunta, como por exemplo, entender o funcionamento de uma lanterna ou resolver um problema ético.
Ensinar a dar aulas com trabalho em grupo (ou groupwork, em inglês) é parte importante de um dos mais conceituados programas de formação de professores do mundo, o Stanford Teacher Education Program (STEP), da Universidade de Stanford, na Califórnia. Lá, diferente daqui, a formação de professores da educação básica é uma pós graduação, com um título de mestre.
Os professores são ensinados, em aulas teóricas e práticas, como ajudar os alunos a trabalhar com as ideias dos outros, ter discussões racionais e organizadas, vivenciar resoluções criativas dos problemas e ter o orgulho de produzir algo muito mais interessante do que faria sozinho. Atividades, todas elas, essenciais para adultos em contextos sociais e de trabalho.
Uma das maiores estudiosas do assunto, que foi diretora por décadas do STEP, a professora emérita da Faculdade de Educação de Stanford, Rachel Lotan, diz que os trabalhos em grupo também são poderosos para trazer equidade para a sala de aula. “O aprendizado não é só cognitivo e, sim, emocional e social”, afirma.
Ela conta a história de uma professora que juntou o menino que parecia saber tudo de Matemática com a menina que não se sentia segura nas contas, mas fazia perguntas tão boas que o ajudavam a descobrir os resultados. Depois de um tempo, ambos queriam trabalhar sempre juntos e entenderam que as habilidades são múltiplas e, em grupos, todos contribuem com algo para aprendizagem.
É papel do professor derrubar rótulos e status dos tais alunos “mais inteligentes” da sala, observar e valorizar as habilidades de cada criança, para que todas participem e aprendam, afirma Rachel em seu livro, já traduzido para o português, Planejando o Trabalho em Grupo (Penso Editora). “O professor precisa convencer a turma de que ninguém é tão bom em tudo e que todo mundo por contribuir com alguma coisa.”
Na educação, qualidade para poucos não é qualidade, como diz o professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Francisco Soares. Em um país como o Brasil, que precisa atacar urgentemente a desigualdade educacional e que tem professores sendo formados sem sequer pisar numa sala de aula, as evidências sobre trabalhos em grupo dão uma pista de como buscar excelência. Não dá para clamarmos por um país com mais equidade, cheio de cabeças pensantes e inovadoras em tempos de inteligência artificial, e mantermos uma escola arcaica com docentes só passando lição na lousa.