Se, por um lado, candidatos se dedicam o ano todo aos estudos para conseguir uma vaga na faculdade, quem faz parte da elaboração da prova também tem uma longa jornada para preparar o exame que vai decidir o futuro de muitos estudantes. E não adianta só o conhecimento técnico: é preciso explorar itens que sejam atrativos na formulação das questões e estar atento a temas atuais.
Respondendo pela principal seleção estadual, na Universidade de São Paulo (USP), a Fuvest trabalha com 30 elaboradores e 10 revisores. “Temos ainda funcionárias internas que trabalham no atendimento às bancas, na revisão. Tudo para deixar com cara de questão da Fuvest, com melhoria das imagens, dos mapas, dos gráficos e das tabelas”, afirma Gustavo Monaco, diretor executivo da Fuvest.
Em média, as bancas são formadas por três elaboradores (todos professores da USP), que ficam dedicados para cada uma das disciplinas. No caso de Português, por envolver mais questões, são quatro pessoas. Todas as bancas se reúnem dentro do prédio da Fuvest, em uma sala própria para a elaboração das questões. “Nem os funcionários da Fuvest sabem quem são os professores da banca. A gente realiza outros exames, além do vestibular”, diz Monaco.
Entre o primeiro e o último encontro demora quase o ano todo. A primeira etapa e uma primeira revisão levam em torno de dois meses. “A primeira reunião é para tentar definir os assuntos. Posteriormente, marcam novas reuniões. Trazem imagens, mapas, gráficos, tabelas, trechos de algum artigo, de algum livro, de algum texto que ajude a elaborar as questões”, observa ele.
Em seguida, as perguntas são entregues para o revisor. “Ele vem até a USP para avaliar se a questão está boa, mas pode melhorar, ou se a questão já foi cobrada no ano passado”, revela Monaco. Esse parecer é devolvido aos elaboradores. Em algumas questões, também é possível que as bancas explorem um mesmo tema. “Por exemplo, que a banca de História tenha trabalhado um tema que sirva a Inglês.”
Assim a Fuvest atinge um cenário com 120 a 130 questões em setembro. Desse total, é preciso escolher 90 da primeira fase, além daquelas da segunda fase. Nesse contexto, elimina-se o que é menos atual.
Fechadas as 90 questões, existe o trabalho de curadoria. “É preciso ver quais os elos que a gente pode fazer entre as questões, para que a prova conte uma história”, diz o diretor executivo, citando a possibilidade de uso em várias disciplinas. Ainda no mês de outubro, essa etapa será concluída e as provas, impressas.
No próximo mês, ocorre ainda o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na prática o maior vestibular público do País. Suas questões são elaboradas por especialistas, selecionados por meio de edital de chamada pública para colaboradores do Banco Nacional de Itens (BNI), com base em critérios de formação acadêmica, experiência docente e experiência em avaliação educacional em larga escala.
Conforme o Inep, as ações envolvem a capacitação de colaboradores, a elaboração, a revisão e a pré-testagem dos itens, para mensurar dificuldade. A prova também passa por cuidadosa revisão linguística e, em seguida, é diagramada.
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Universidades particulares
No caso da Fundação Getulio Vargas, a elaboração do exame é feita por uma banca de cada disciplina, e algumas vezes essa banca é formada por professores da própria FGV, e em outras vezes não, dependendo da disciplina. “Toda banca tem no mínimo dois elaboradores, porque o processo normal é que um dos elaboradores faz uma questão, ou parte das questões, e o outro revisa de maneira independente”, afirma Paulo Cezar Carvalho, coordenador acadêmico do vestibular da FGV de São Paulo, Rio e Brasília. Há ainda a revisão de português.
Além disso, a FGV tem um revisor crítico, que é um professor generalista, que domina a maior parte das disciplinas que compõem o vestibular. “Algumas vezes até trazendo um olhar diferente do especialista da disciplina na formulação das questões. E depois tem o meu papel, como coordenador acadêmico, que, além de participar da seleção das bancas, é o de fazer a revisão final da prova”, diz Carvalho.
Todos os alunos fazem prova objetiva com 60 questões objetivas, além da Redação. Cada escola da FGV, além disso, escolhe uma ou mais provas discursivas específicas para complementar a avaliação. Em geral, as bancas são formadas por professores do ensino superior que possuem contato grande, de alguma maneira, também com o ensino médio.
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Interno e externo
No caso da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a elaboração também é um processo longo. “A instituição trabalha com bancas por áreas do conhecimento, compostas por profissionais da casa e também externos”, afirma a professora Alexandra Geraldini, pró-reitora de Graduação.
A prova é constituída por uma Redação, escrita em Língua Portuguesa, a partir de uma única proposta, e uma prova objetiva composta por 50 questões no formato múltipla escolha, conforme a distribuição de áreas adotada pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nas bancas há em torno de 20 profissionais, com exceção da Redação, que reúne entre 20 e 25 profissionais.
“Participam docentes experientes no ensino superior e médio, com ampla experiência na elaboração de itens para os processos seletivos. Além disso, há um revisor de Língua Portuguesa e também dois que fazem uma avaliação geral da prova, sendo pelo menos um pedagogo ou psicopedagogo”, diz a professora Alexandra.
Entre fevereiro e março de cada ano, há uma reunião com outras universidades, para trocar informações sobre as datas dos processos. A partir da definição do calendário, os processos administrativos começam a ser planejados.
Processo semelhante ocorre ainda na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), conforme relata o coordenador de Processos Seletivos, Milton Pignatari Filho. “Temos equipes específicas para cada uma das disciplinas. Em cada uma delas, a formulação de questões segue um estilo específico. E um ponto comum: buscar o raciocínio crítico na busca de resoluções.”