Pesquisas apontam que alunos matriculados em escolas de tempo integral aprendem mais Matemática e Língua Portuguesa do que os que estudam em período parcial, de 4 horas. Porém, os impactos positivos podem ir além da educação.
Naercio Menezes Filho, economista e professor titular da Cátedra Ruth Cardoso no Insper, diz que há evidências, identificadas em pesquisas, de que os municípios que aumentam a proporção da matrícula do ensino médio integral sentem, quatro ou cinco anos depois, o reflexo na redução de índices de homicídio e aumento das taxas de emprego, além do crescimento de alunos ensino superior.
“Parece bem claro que o ensino em tempo integral tem efeitos importantes, mas precisa ser complementado com uma educação de qualidade em todas as instâncias, que começa na educação infantil. É um elo que se forma em 11 anos ou mais em que a criança fica na escola”, afirmou Naercio durante o Reconstrução da Educação, evento promovido pelo Estadão nesta segunda-feira, 18, no Museu do Ipiranga, na zona sul da capital. As vagas são gratuitas, mas limitadas. As inscrições devem ser feitas neste link. Também é possível acompanhar a transmissão pelo YouTube.
Para Roberta Loboda Biondi Nastari, líder de Pesquisa em Gestão Educacional do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Educação e Economia Social (Lepes/USP), o ensino em tempo integral responde a um novo perfil de sociedade que necessita de uma escola que assuma novos papéis. “Hoje, há uma demanda mais ampla, a sociedade precisa de um espaço de aprendizagem, que desenvolva não só habilidades cognitivas, mas socioemocionais, que o aluno possa ser ouvido e seja um ambiente positivo.”
A expansão da modalidade, entretanto, é um dos entraves. Somente 22% das escolas brasileiras funcionam em tempo integral em 2021, segundo dados do governo federal. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) era de que este índice chegasse a 50% entre as escolas públicas até 2024.
Naercio vê o custo da escola integral como um dos obstáculos para o aumento de matrículas. Segundo ele, a modalidade tem valor de 30% a 50% maior do que a escola em tempo parcial, e seria impossível garantir a expansão para todos os ciclos no País inteiro. O economista lembra que o terceiro setor tem feito parcerias em algumas redes para aumentar a oferta.
“Também há o fato de que muitos alunos trabalham e estudam e não daria para obrigar o estudante a ficar todo o dia na escola. Dificilmente o Brasil vai conseguir universalizar o ensino integral no curto prazo.”
Para Pilar Lacerda, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, um dos desafios de garantir a expansão esbarra na necessidade de mudança de mentalidade do formato da escola. “É necessário aumentar as escolas de maneira que se garanta a aprendizagem e a qualidade. Não dá para a gente insistir na mesma fórmula, é preciso mudar o pensamento de que a educação para pobre não precisa ser boa.”
Um dos pontos de mudança citados por Pilar são as salas de aulas tradicionais, com carteiras enfileiradas. “Em muitas escolas do mundo as carteiras não existem mais, é necessário pensar nisso para a educação de tempo integral. A escola precisa de um prédio diferente, com comida saudável e dar mais autonomia para criança.”
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Formação de professores
A carga horária de professores existente hoje, que exige que ele trabalhe em mais de uma escola, e os contratos temporários, realidade para a maioria dos profissionais em muitas redes de ensino públicas, são outras dificuldades para a expansão da modalidade, de acordo com os especialistas.
“É preciso pensar na estabilidade da carreira do professor e na possibilidade de ele conseguir se dedicar exclusivamente em uma escola. Quando ele tem 40 horas de dedicação exclusiva, pode ter tempo de estudo, de oferecer uma oficina”, afirma Pilar.
Outra necessidade reforçada por Roberta é de que haja possibilidades de formação para que esse docente seja “menos conteudista” e tenha outras competências como liderança que o ajudem a mediar a construção de conhecimento entre os estudantes.
Reconstrução da Educação
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