Como os professores podem ajudar na inclusão de alunos com deficiência?


Há 1,8 milhão de alunos da educação especial em escolas regulares; especialista cobra gestão, planejamento e oferta de recursos

Por Caio Possati
Atualização:

Cerca de 1,8 milhão de estudantes da chamada educação especial - com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotação - estão matriculados nas escolas regulares no Brasil, do nível infantil ao ensino médio. O crescimento da inclusão é comemorado por especialistas da área. Ao mesmo tempo, o aumento da presença de meninos e meninas com ritmos próprios de aprendizagem, em escolas comuns, tem imposto aos professores novos desafios na hora de dar aula, propor atividades e fazer avaliações para um público cada vez mais diverso.

Augusto Galery, coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes, entidade sem fins lucrativos voltada à educação inclusiva, elenca três pilares que uma escola precisa ter para que as aulas promovam, de fato, a inclusão. O primeiro é ter uma gestão que apoie o professor; o segundo, permitir que o professor conheça a turma com antecedência para fazer um planejamento prévio das atividades; e, terceiro, ofertar os recursos necessários aos estudantes e educadores, como um intérprete de libras em sala que tenha uma pessoa com deficiência auditiva.

”Esses são os três pontos que podem fazer um professor dizer: tenho condições de dar uma aula inclusiva”, diz Galery, também doutor em psicologia social. O especialista, no entanto, entende que os profissionais não podem ter uma posição passiva na ausência desses pilares, e devem, sempre que possível, lançar mão de materiais pedagógicos acessíveis, como habilitar legendas ou audiodescrição em uma atividade com filme.

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”Tem um caso muito interessante que chegou a nós (do Instituto Rodrigo Mendes) de um professor de Física que, para ensinar o conceito de reflexão de luz para um estudante cego, construiu maquetes com outros alunos e, com barbantes, representou esse movimento que os raios fazem ao atingir uma superfície”, conta.

Bruno Silva Alves, Ivanildo Sampaio de Barros e Lívia Rodrigues Batista atuam nos programas de inclusão do Senac em São Paulo. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Desenho Universal

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Referência na área da reabilitação física, a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) possui um departamento de pedagogia que ajuda professores a preparar e estimular cognitivamente as crianças com deficiência motora, do ensino fundamental 1, para serem inseridas no ensino regular. “A (pergunta) mais comum que eu escuto deles é se a criança está realmente aprendendo”, diz Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD. “Como muitas vezes as crianças não falam ou escrevem, os professores não sabem como mensurar esse aprendizado.”

Segundo ela, o auxílio de computadores com teclados adaptados, com dispositivos de fala, pode ajudar nestes momentos. A dúvida sobre como avaliar e mensurar o conhecimento também poderia ser respondida por meio de uma técnica da educação inclusiva chamada de Desenho Universal.

Nela, um professor, diante de uma sala de aula com perfis e ritmos de aprendizado diversos, precisa variar na forma de apresentar seus conteúdos e estimular novos jeitos de os alunos se expressarem e serem avaliados. “A prova nem sempre precisa ser escrita. Pode variar, ser oral, ou em grupo”, diz Galery.

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Além disso, faz parte do Desenho Universal proporcionar maior engajamento por parte dos estudantes pelo aprendizado. E isso se atinge, segundo o especialista, explicando os motivos de estarem aprendendo determinado conteúdo. “A aula precisa ter a ver com a vida das pessoas. Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento.”

Lúdico e lego

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Para a educação infantil, a Fundação Dorina Nowill, entidade dedicada a pessoas cegas e com baixa visão, entendeu que um caminho para a promoção de uma maior inclusão é pelo lúdico (pela brincadeira). A organização desenvolveu um programa que ajuda crianças deficientes visuais a se alfabetizarem em braile, utilizando peças do brinquedo Lego especialmente adaptadas.

A entidade se juntou com a própria empresa dinamarquesa que fabrica o jogo e pediu que as peças fossem produzidas de forma que os encaixes representassem o alfabeto braile. Ou seja, ao passar a mão sobre o brinquedo, a pessoa estaria também tateando uma letra ou número do alfabeto para cegos. Para se tornar ainda mais inclusivo, a fundação pediu para que as letras e os números representados fossem também impressos na peça. O motivo: para que professores e outras crianças, que não têm deficiência, possam aprender essa nova linguagem durante a brincadeira.

Lego Braille Bricks foi desenvolvido em conjunto pela Fundação Dorina Nowill e pela empresa dinamarquesa responsável pelo jogo com o objetivo de promover a inclusão de crianças com deficiência visual. Foto: Fundação Dorina Nowill/Reprodução
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“Todos os educadores falam da importância que tem o lúdico na aprendizagem. Não só para os (estudantes) mais novos, mas para todos”, diz Ika Fleury, membro do Conselho Curador da Fundação Dorina Nowill para Cegos e Membro do Projeto Lego Braille Bricks.

O kit com as peças adaptadas, que recebe o nome de Lego Braille Brick, é distribuído em escolas públicas do Brasil por meio de parcerias que a fundação faz com as secretarias municipais de Educação. O foco é o uso para crianças de 4 a 10 anos. Segundo os dados da própria fundação, 4.924 escolas, de 128 cidades, já receberam o kit. Dados do Censo Escolar apontam que das 1,8 milhões de matrículas feitas pela educação especial em escolas regulares, cerca de 86,8 mil são feitas por estudantes com baixa visão (4,8%) e 7,3 mil são cegas (0,4%).

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Formação e escuta

Na faculdade Belas Artes, em São Paulo, todos os professores são obrigados a fazer uma formação de educação inclusiva fornecida pela própria universidade, com duração de dois anos. “O professor precisa saber como lidar com um aluno dentro do espectro autista ou com alguém com hiperatividade”, diz a psicóloga e professora Josiane Tonelotto, superintendente acadêmica da Belas Artes. Essa formação é realizada pelo Serviço de Atendimento Psicopedagógico (SAP), um departamento específico da instituição criado para lidar com a inclusão desse público e para fazer a interface com os professores e a família dos estudantes.

Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento

Augusto Galery, Coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes

Nas unidades do Senac, instituição educacional que oferece cursos de graduação e técnicos para os que estão no ensino médio, também não faltam recursos materiais e humanos aos professores. “Teve uma atividade feita no curso de massoterapia, que um estudante surdocego precisava entender a anatomia dos músculos do corpo”, lembra a psicóloga Andreza Matsumoto, responsável pelo Programa de Inclusão e Diversidade do Senac.

”Para explicar o conteúdo, a gente usou uma impressora para traduzir os mapas visuais do corpo humano e, a partir disso, construir maquetes para que ele pudesse tocar e entender, com a ajuda de um intérprete de libras tátil (que faz as libras na mão do aluno), as estruturas e funções dos músculos”, diz Andreza.

Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD: “A (pergunta) mais comum que eu escuto dos professores é se a criança está realmente aprendendo”. Foto: AACD/Divulgação

Essa situação faz a psicóloga chamar a atenção para outro elemento importante na educação inclusiva, e que os professores precisam sempre praticar: ouvir o estudante. “Tudo isso aconteceu em articulação com o próprio aluno. Não adianta a gente criar soluções mirabolantes que saiam só da nossa cabeça, precisa fazer sentido para o estudante. E, às vezes, o próprio estudante vai nos indicar qual é o caminho para isso”, diz.

Em nota, o Ministério da Educação informou que em 2024, por meio da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica (Renafor), lançou 79 cursos voltados para professores do Atendimento Educacional Especializado e para gestores educacionais, “objetivando assegurar o acesso, a permanência, a aprendizagem e a participação do público da educação especial, entre os quais o estudante com deficiência física”.

Cerca de 1,8 milhão de estudantes da chamada educação especial - com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotação - estão matriculados nas escolas regulares no Brasil, do nível infantil ao ensino médio. O crescimento da inclusão é comemorado por especialistas da área. Ao mesmo tempo, o aumento da presença de meninos e meninas com ritmos próprios de aprendizagem, em escolas comuns, tem imposto aos professores novos desafios na hora de dar aula, propor atividades e fazer avaliações para um público cada vez mais diverso.

Augusto Galery, coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes, entidade sem fins lucrativos voltada à educação inclusiva, elenca três pilares que uma escola precisa ter para que as aulas promovam, de fato, a inclusão. O primeiro é ter uma gestão que apoie o professor; o segundo, permitir que o professor conheça a turma com antecedência para fazer um planejamento prévio das atividades; e, terceiro, ofertar os recursos necessários aos estudantes e educadores, como um intérprete de libras em sala que tenha uma pessoa com deficiência auditiva.

”Esses são os três pontos que podem fazer um professor dizer: tenho condições de dar uma aula inclusiva”, diz Galery, também doutor em psicologia social. O especialista, no entanto, entende que os profissionais não podem ter uma posição passiva na ausência desses pilares, e devem, sempre que possível, lançar mão de materiais pedagógicos acessíveis, como habilitar legendas ou audiodescrição em uma atividade com filme.

”Tem um caso muito interessante que chegou a nós (do Instituto Rodrigo Mendes) de um professor de Física que, para ensinar o conceito de reflexão de luz para um estudante cego, construiu maquetes com outros alunos e, com barbantes, representou esse movimento que os raios fazem ao atingir uma superfície”, conta.

Bruno Silva Alves, Ivanildo Sampaio de Barros e Lívia Rodrigues Batista atuam nos programas de inclusão do Senac em São Paulo. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Desenho Universal

Referência na área da reabilitação física, a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) possui um departamento de pedagogia que ajuda professores a preparar e estimular cognitivamente as crianças com deficiência motora, do ensino fundamental 1, para serem inseridas no ensino regular. “A (pergunta) mais comum que eu escuto deles é se a criança está realmente aprendendo”, diz Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD. “Como muitas vezes as crianças não falam ou escrevem, os professores não sabem como mensurar esse aprendizado.”

Segundo ela, o auxílio de computadores com teclados adaptados, com dispositivos de fala, pode ajudar nestes momentos. A dúvida sobre como avaliar e mensurar o conhecimento também poderia ser respondida por meio de uma técnica da educação inclusiva chamada de Desenho Universal.

Nela, um professor, diante de uma sala de aula com perfis e ritmos de aprendizado diversos, precisa variar na forma de apresentar seus conteúdos e estimular novos jeitos de os alunos se expressarem e serem avaliados. “A prova nem sempre precisa ser escrita. Pode variar, ser oral, ou em grupo”, diz Galery.

Além disso, faz parte do Desenho Universal proporcionar maior engajamento por parte dos estudantes pelo aprendizado. E isso se atinge, segundo o especialista, explicando os motivos de estarem aprendendo determinado conteúdo. “A aula precisa ter a ver com a vida das pessoas. Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento.”

Lúdico e lego

Para a educação infantil, a Fundação Dorina Nowill, entidade dedicada a pessoas cegas e com baixa visão, entendeu que um caminho para a promoção de uma maior inclusão é pelo lúdico (pela brincadeira). A organização desenvolveu um programa que ajuda crianças deficientes visuais a se alfabetizarem em braile, utilizando peças do brinquedo Lego especialmente adaptadas.

A entidade se juntou com a própria empresa dinamarquesa que fabrica o jogo e pediu que as peças fossem produzidas de forma que os encaixes representassem o alfabeto braile. Ou seja, ao passar a mão sobre o brinquedo, a pessoa estaria também tateando uma letra ou número do alfabeto para cegos. Para se tornar ainda mais inclusivo, a fundação pediu para que as letras e os números representados fossem também impressos na peça. O motivo: para que professores e outras crianças, que não têm deficiência, possam aprender essa nova linguagem durante a brincadeira.

Lego Braille Bricks foi desenvolvido em conjunto pela Fundação Dorina Nowill e pela empresa dinamarquesa responsável pelo jogo com o objetivo de promover a inclusão de crianças com deficiência visual. Foto: Fundação Dorina Nowill/Reprodução

“Todos os educadores falam da importância que tem o lúdico na aprendizagem. Não só para os (estudantes) mais novos, mas para todos”, diz Ika Fleury, membro do Conselho Curador da Fundação Dorina Nowill para Cegos e Membro do Projeto Lego Braille Bricks.

O kit com as peças adaptadas, que recebe o nome de Lego Braille Brick, é distribuído em escolas públicas do Brasil por meio de parcerias que a fundação faz com as secretarias municipais de Educação. O foco é o uso para crianças de 4 a 10 anos. Segundo os dados da própria fundação, 4.924 escolas, de 128 cidades, já receberam o kit. Dados do Censo Escolar apontam que das 1,8 milhões de matrículas feitas pela educação especial em escolas regulares, cerca de 86,8 mil são feitas por estudantes com baixa visão (4,8%) e 7,3 mil são cegas (0,4%).

Formação e escuta

Na faculdade Belas Artes, em São Paulo, todos os professores são obrigados a fazer uma formação de educação inclusiva fornecida pela própria universidade, com duração de dois anos. “O professor precisa saber como lidar com um aluno dentro do espectro autista ou com alguém com hiperatividade”, diz a psicóloga e professora Josiane Tonelotto, superintendente acadêmica da Belas Artes. Essa formação é realizada pelo Serviço de Atendimento Psicopedagógico (SAP), um departamento específico da instituição criado para lidar com a inclusão desse público e para fazer a interface com os professores e a família dos estudantes.

Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento

Augusto Galery, Coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes

Nas unidades do Senac, instituição educacional que oferece cursos de graduação e técnicos para os que estão no ensino médio, também não faltam recursos materiais e humanos aos professores. “Teve uma atividade feita no curso de massoterapia, que um estudante surdocego precisava entender a anatomia dos músculos do corpo”, lembra a psicóloga Andreza Matsumoto, responsável pelo Programa de Inclusão e Diversidade do Senac.

”Para explicar o conteúdo, a gente usou uma impressora para traduzir os mapas visuais do corpo humano e, a partir disso, construir maquetes para que ele pudesse tocar e entender, com a ajuda de um intérprete de libras tátil (que faz as libras na mão do aluno), as estruturas e funções dos músculos”, diz Andreza.

Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD: “A (pergunta) mais comum que eu escuto dos professores é se a criança está realmente aprendendo”. Foto: AACD/Divulgação

Essa situação faz a psicóloga chamar a atenção para outro elemento importante na educação inclusiva, e que os professores precisam sempre praticar: ouvir o estudante. “Tudo isso aconteceu em articulação com o próprio aluno. Não adianta a gente criar soluções mirabolantes que saiam só da nossa cabeça, precisa fazer sentido para o estudante. E, às vezes, o próprio estudante vai nos indicar qual é o caminho para isso”, diz.

Em nota, o Ministério da Educação informou que em 2024, por meio da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica (Renafor), lançou 79 cursos voltados para professores do Atendimento Educacional Especializado e para gestores educacionais, “objetivando assegurar o acesso, a permanência, a aprendizagem e a participação do público da educação especial, entre os quais o estudante com deficiência física”.

Cerca de 1,8 milhão de estudantes da chamada educação especial - com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotação - estão matriculados nas escolas regulares no Brasil, do nível infantil ao ensino médio. O crescimento da inclusão é comemorado por especialistas da área. Ao mesmo tempo, o aumento da presença de meninos e meninas com ritmos próprios de aprendizagem, em escolas comuns, tem imposto aos professores novos desafios na hora de dar aula, propor atividades e fazer avaliações para um público cada vez mais diverso.

Augusto Galery, coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes, entidade sem fins lucrativos voltada à educação inclusiva, elenca três pilares que uma escola precisa ter para que as aulas promovam, de fato, a inclusão. O primeiro é ter uma gestão que apoie o professor; o segundo, permitir que o professor conheça a turma com antecedência para fazer um planejamento prévio das atividades; e, terceiro, ofertar os recursos necessários aos estudantes e educadores, como um intérprete de libras em sala que tenha uma pessoa com deficiência auditiva.

”Esses são os três pontos que podem fazer um professor dizer: tenho condições de dar uma aula inclusiva”, diz Galery, também doutor em psicologia social. O especialista, no entanto, entende que os profissionais não podem ter uma posição passiva na ausência desses pilares, e devem, sempre que possível, lançar mão de materiais pedagógicos acessíveis, como habilitar legendas ou audiodescrição em uma atividade com filme.

”Tem um caso muito interessante que chegou a nós (do Instituto Rodrigo Mendes) de um professor de Física que, para ensinar o conceito de reflexão de luz para um estudante cego, construiu maquetes com outros alunos e, com barbantes, representou esse movimento que os raios fazem ao atingir uma superfície”, conta.

Bruno Silva Alves, Ivanildo Sampaio de Barros e Lívia Rodrigues Batista atuam nos programas de inclusão do Senac em São Paulo. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Desenho Universal

Referência na área da reabilitação física, a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) possui um departamento de pedagogia que ajuda professores a preparar e estimular cognitivamente as crianças com deficiência motora, do ensino fundamental 1, para serem inseridas no ensino regular. “A (pergunta) mais comum que eu escuto deles é se a criança está realmente aprendendo”, diz Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD. “Como muitas vezes as crianças não falam ou escrevem, os professores não sabem como mensurar esse aprendizado.”

Segundo ela, o auxílio de computadores com teclados adaptados, com dispositivos de fala, pode ajudar nestes momentos. A dúvida sobre como avaliar e mensurar o conhecimento também poderia ser respondida por meio de uma técnica da educação inclusiva chamada de Desenho Universal.

Nela, um professor, diante de uma sala de aula com perfis e ritmos de aprendizado diversos, precisa variar na forma de apresentar seus conteúdos e estimular novos jeitos de os alunos se expressarem e serem avaliados. “A prova nem sempre precisa ser escrita. Pode variar, ser oral, ou em grupo”, diz Galery.

Além disso, faz parte do Desenho Universal proporcionar maior engajamento por parte dos estudantes pelo aprendizado. E isso se atinge, segundo o especialista, explicando os motivos de estarem aprendendo determinado conteúdo. “A aula precisa ter a ver com a vida das pessoas. Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento.”

Lúdico e lego

Para a educação infantil, a Fundação Dorina Nowill, entidade dedicada a pessoas cegas e com baixa visão, entendeu que um caminho para a promoção de uma maior inclusão é pelo lúdico (pela brincadeira). A organização desenvolveu um programa que ajuda crianças deficientes visuais a se alfabetizarem em braile, utilizando peças do brinquedo Lego especialmente adaptadas.

A entidade se juntou com a própria empresa dinamarquesa que fabrica o jogo e pediu que as peças fossem produzidas de forma que os encaixes representassem o alfabeto braile. Ou seja, ao passar a mão sobre o brinquedo, a pessoa estaria também tateando uma letra ou número do alfabeto para cegos. Para se tornar ainda mais inclusivo, a fundação pediu para que as letras e os números representados fossem também impressos na peça. O motivo: para que professores e outras crianças, que não têm deficiência, possam aprender essa nova linguagem durante a brincadeira.

Lego Braille Bricks foi desenvolvido em conjunto pela Fundação Dorina Nowill e pela empresa dinamarquesa responsável pelo jogo com o objetivo de promover a inclusão de crianças com deficiência visual. Foto: Fundação Dorina Nowill/Reprodução

“Todos os educadores falam da importância que tem o lúdico na aprendizagem. Não só para os (estudantes) mais novos, mas para todos”, diz Ika Fleury, membro do Conselho Curador da Fundação Dorina Nowill para Cegos e Membro do Projeto Lego Braille Bricks.

O kit com as peças adaptadas, que recebe o nome de Lego Braille Brick, é distribuído em escolas públicas do Brasil por meio de parcerias que a fundação faz com as secretarias municipais de Educação. O foco é o uso para crianças de 4 a 10 anos. Segundo os dados da própria fundação, 4.924 escolas, de 128 cidades, já receberam o kit. Dados do Censo Escolar apontam que das 1,8 milhões de matrículas feitas pela educação especial em escolas regulares, cerca de 86,8 mil são feitas por estudantes com baixa visão (4,8%) e 7,3 mil são cegas (0,4%).

Formação e escuta

Na faculdade Belas Artes, em São Paulo, todos os professores são obrigados a fazer uma formação de educação inclusiva fornecida pela própria universidade, com duração de dois anos. “O professor precisa saber como lidar com um aluno dentro do espectro autista ou com alguém com hiperatividade”, diz a psicóloga e professora Josiane Tonelotto, superintendente acadêmica da Belas Artes. Essa formação é realizada pelo Serviço de Atendimento Psicopedagógico (SAP), um departamento específico da instituição criado para lidar com a inclusão desse público e para fazer a interface com os professores e a família dos estudantes.

Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento

Augusto Galery, Coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes

Nas unidades do Senac, instituição educacional que oferece cursos de graduação e técnicos para os que estão no ensino médio, também não faltam recursos materiais e humanos aos professores. “Teve uma atividade feita no curso de massoterapia, que um estudante surdocego precisava entender a anatomia dos músculos do corpo”, lembra a psicóloga Andreza Matsumoto, responsável pelo Programa de Inclusão e Diversidade do Senac.

”Para explicar o conteúdo, a gente usou uma impressora para traduzir os mapas visuais do corpo humano e, a partir disso, construir maquetes para que ele pudesse tocar e entender, com a ajuda de um intérprete de libras tátil (que faz as libras na mão do aluno), as estruturas e funções dos músculos”, diz Andreza.

Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD: “A (pergunta) mais comum que eu escuto dos professores é se a criança está realmente aprendendo”. Foto: AACD/Divulgação

Essa situação faz a psicóloga chamar a atenção para outro elemento importante na educação inclusiva, e que os professores precisam sempre praticar: ouvir o estudante. “Tudo isso aconteceu em articulação com o próprio aluno. Não adianta a gente criar soluções mirabolantes que saiam só da nossa cabeça, precisa fazer sentido para o estudante. E, às vezes, o próprio estudante vai nos indicar qual é o caminho para isso”, diz.

Em nota, o Ministério da Educação informou que em 2024, por meio da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica (Renafor), lançou 79 cursos voltados para professores do Atendimento Educacional Especializado e para gestores educacionais, “objetivando assegurar o acesso, a permanência, a aprendizagem e a participação do público da educação especial, entre os quais o estudante com deficiência física”.

Cerca de 1,8 milhão de estudantes da chamada educação especial - com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotação - estão matriculados nas escolas regulares no Brasil, do nível infantil ao ensino médio. O crescimento da inclusão é comemorado por especialistas da área. Ao mesmo tempo, o aumento da presença de meninos e meninas com ritmos próprios de aprendizagem, em escolas comuns, tem imposto aos professores novos desafios na hora de dar aula, propor atividades e fazer avaliações para um público cada vez mais diverso.

Augusto Galery, coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes, entidade sem fins lucrativos voltada à educação inclusiva, elenca três pilares que uma escola precisa ter para que as aulas promovam, de fato, a inclusão. O primeiro é ter uma gestão que apoie o professor; o segundo, permitir que o professor conheça a turma com antecedência para fazer um planejamento prévio das atividades; e, terceiro, ofertar os recursos necessários aos estudantes e educadores, como um intérprete de libras em sala que tenha uma pessoa com deficiência auditiva.

”Esses são os três pontos que podem fazer um professor dizer: tenho condições de dar uma aula inclusiva”, diz Galery, também doutor em psicologia social. O especialista, no entanto, entende que os profissionais não podem ter uma posição passiva na ausência desses pilares, e devem, sempre que possível, lançar mão de materiais pedagógicos acessíveis, como habilitar legendas ou audiodescrição em uma atividade com filme.

”Tem um caso muito interessante que chegou a nós (do Instituto Rodrigo Mendes) de um professor de Física que, para ensinar o conceito de reflexão de luz para um estudante cego, construiu maquetes com outros alunos e, com barbantes, representou esse movimento que os raios fazem ao atingir uma superfície”, conta.

Bruno Silva Alves, Ivanildo Sampaio de Barros e Lívia Rodrigues Batista atuam nos programas de inclusão do Senac em São Paulo. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Desenho Universal

Referência na área da reabilitação física, a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) possui um departamento de pedagogia que ajuda professores a preparar e estimular cognitivamente as crianças com deficiência motora, do ensino fundamental 1, para serem inseridas no ensino regular. “A (pergunta) mais comum que eu escuto deles é se a criança está realmente aprendendo”, diz Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD. “Como muitas vezes as crianças não falam ou escrevem, os professores não sabem como mensurar esse aprendizado.”

Segundo ela, o auxílio de computadores com teclados adaptados, com dispositivos de fala, pode ajudar nestes momentos. A dúvida sobre como avaliar e mensurar o conhecimento também poderia ser respondida por meio de uma técnica da educação inclusiva chamada de Desenho Universal.

Nela, um professor, diante de uma sala de aula com perfis e ritmos de aprendizado diversos, precisa variar na forma de apresentar seus conteúdos e estimular novos jeitos de os alunos se expressarem e serem avaliados. “A prova nem sempre precisa ser escrita. Pode variar, ser oral, ou em grupo”, diz Galery.

Além disso, faz parte do Desenho Universal proporcionar maior engajamento por parte dos estudantes pelo aprendizado. E isso se atinge, segundo o especialista, explicando os motivos de estarem aprendendo determinado conteúdo. “A aula precisa ter a ver com a vida das pessoas. Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento.”

Lúdico e lego

Para a educação infantil, a Fundação Dorina Nowill, entidade dedicada a pessoas cegas e com baixa visão, entendeu que um caminho para a promoção de uma maior inclusão é pelo lúdico (pela brincadeira). A organização desenvolveu um programa que ajuda crianças deficientes visuais a se alfabetizarem em braile, utilizando peças do brinquedo Lego especialmente adaptadas.

A entidade se juntou com a própria empresa dinamarquesa que fabrica o jogo e pediu que as peças fossem produzidas de forma que os encaixes representassem o alfabeto braile. Ou seja, ao passar a mão sobre o brinquedo, a pessoa estaria também tateando uma letra ou número do alfabeto para cegos. Para se tornar ainda mais inclusivo, a fundação pediu para que as letras e os números representados fossem também impressos na peça. O motivo: para que professores e outras crianças, que não têm deficiência, possam aprender essa nova linguagem durante a brincadeira.

Lego Braille Bricks foi desenvolvido em conjunto pela Fundação Dorina Nowill e pela empresa dinamarquesa responsável pelo jogo com o objetivo de promover a inclusão de crianças com deficiência visual. Foto: Fundação Dorina Nowill/Reprodução

“Todos os educadores falam da importância que tem o lúdico na aprendizagem. Não só para os (estudantes) mais novos, mas para todos”, diz Ika Fleury, membro do Conselho Curador da Fundação Dorina Nowill para Cegos e Membro do Projeto Lego Braille Bricks.

O kit com as peças adaptadas, que recebe o nome de Lego Braille Brick, é distribuído em escolas públicas do Brasil por meio de parcerias que a fundação faz com as secretarias municipais de Educação. O foco é o uso para crianças de 4 a 10 anos. Segundo os dados da própria fundação, 4.924 escolas, de 128 cidades, já receberam o kit. Dados do Censo Escolar apontam que das 1,8 milhões de matrículas feitas pela educação especial em escolas regulares, cerca de 86,8 mil são feitas por estudantes com baixa visão (4,8%) e 7,3 mil são cegas (0,4%).

Formação e escuta

Na faculdade Belas Artes, em São Paulo, todos os professores são obrigados a fazer uma formação de educação inclusiva fornecida pela própria universidade, com duração de dois anos. “O professor precisa saber como lidar com um aluno dentro do espectro autista ou com alguém com hiperatividade”, diz a psicóloga e professora Josiane Tonelotto, superintendente acadêmica da Belas Artes. Essa formação é realizada pelo Serviço de Atendimento Psicopedagógico (SAP), um departamento específico da instituição criado para lidar com a inclusão desse público e para fazer a interface com os professores e a família dos estudantes.

Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento

Augusto Galery, Coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes

Nas unidades do Senac, instituição educacional que oferece cursos de graduação e técnicos para os que estão no ensino médio, também não faltam recursos materiais e humanos aos professores. “Teve uma atividade feita no curso de massoterapia, que um estudante surdocego precisava entender a anatomia dos músculos do corpo”, lembra a psicóloga Andreza Matsumoto, responsável pelo Programa de Inclusão e Diversidade do Senac.

”Para explicar o conteúdo, a gente usou uma impressora para traduzir os mapas visuais do corpo humano e, a partir disso, construir maquetes para que ele pudesse tocar e entender, com a ajuda de um intérprete de libras tátil (que faz as libras na mão do aluno), as estruturas e funções dos músculos”, diz Andreza.

Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD: “A (pergunta) mais comum que eu escuto dos professores é se a criança está realmente aprendendo”. Foto: AACD/Divulgação

Essa situação faz a psicóloga chamar a atenção para outro elemento importante na educação inclusiva, e que os professores precisam sempre praticar: ouvir o estudante. “Tudo isso aconteceu em articulação com o próprio aluno. Não adianta a gente criar soluções mirabolantes que saiam só da nossa cabeça, precisa fazer sentido para o estudante. E, às vezes, o próprio estudante vai nos indicar qual é o caminho para isso”, diz.

Em nota, o Ministério da Educação informou que em 2024, por meio da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica (Renafor), lançou 79 cursos voltados para professores do Atendimento Educacional Especializado e para gestores educacionais, “objetivando assegurar o acesso, a permanência, a aprendizagem e a participação do público da educação especial, entre os quais o estudante com deficiência física”.

Cerca de 1,8 milhão de estudantes da chamada educação especial - com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotação - estão matriculados nas escolas regulares no Brasil, do nível infantil ao ensino médio. O crescimento da inclusão é comemorado por especialistas da área. Ao mesmo tempo, o aumento da presença de meninos e meninas com ritmos próprios de aprendizagem, em escolas comuns, tem imposto aos professores novos desafios na hora de dar aula, propor atividades e fazer avaliações para um público cada vez mais diverso.

Augusto Galery, coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes, entidade sem fins lucrativos voltada à educação inclusiva, elenca três pilares que uma escola precisa ter para que as aulas promovam, de fato, a inclusão. O primeiro é ter uma gestão que apoie o professor; o segundo, permitir que o professor conheça a turma com antecedência para fazer um planejamento prévio das atividades; e, terceiro, ofertar os recursos necessários aos estudantes e educadores, como um intérprete de libras em sala que tenha uma pessoa com deficiência auditiva.

”Esses são os três pontos que podem fazer um professor dizer: tenho condições de dar uma aula inclusiva”, diz Galery, também doutor em psicologia social. O especialista, no entanto, entende que os profissionais não podem ter uma posição passiva na ausência desses pilares, e devem, sempre que possível, lançar mão de materiais pedagógicos acessíveis, como habilitar legendas ou audiodescrição em uma atividade com filme.

”Tem um caso muito interessante que chegou a nós (do Instituto Rodrigo Mendes) de um professor de Física que, para ensinar o conceito de reflexão de luz para um estudante cego, construiu maquetes com outros alunos e, com barbantes, representou esse movimento que os raios fazem ao atingir uma superfície”, conta.

Bruno Silva Alves, Ivanildo Sampaio de Barros e Lívia Rodrigues Batista atuam nos programas de inclusão do Senac em São Paulo. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Desenho Universal

Referência na área da reabilitação física, a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) possui um departamento de pedagogia que ajuda professores a preparar e estimular cognitivamente as crianças com deficiência motora, do ensino fundamental 1, para serem inseridas no ensino regular. “A (pergunta) mais comum que eu escuto deles é se a criança está realmente aprendendo”, diz Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD. “Como muitas vezes as crianças não falam ou escrevem, os professores não sabem como mensurar esse aprendizado.”

Segundo ela, o auxílio de computadores com teclados adaptados, com dispositivos de fala, pode ajudar nestes momentos. A dúvida sobre como avaliar e mensurar o conhecimento também poderia ser respondida por meio de uma técnica da educação inclusiva chamada de Desenho Universal.

Nela, um professor, diante de uma sala de aula com perfis e ritmos de aprendizado diversos, precisa variar na forma de apresentar seus conteúdos e estimular novos jeitos de os alunos se expressarem e serem avaliados. “A prova nem sempre precisa ser escrita. Pode variar, ser oral, ou em grupo”, diz Galery.

Além disso, faz parte do Desenho Universal proporcionar maior engajamento por parte dos estudantes pelo aprendizado. E isso se atinge, segundo o especialista, explicando os motivos de estarem aprendendo determinado conteúdo. “A aula precisa ter a ver com a vida das pessoas. Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento.”

Lúdico e lego

Para a educação infantil, a Fundação Dorina Nowill, entidade dedicada a pessoas cegas e com baixa visão, entendeu que um caminho para a promoção de uma maior inclusão é pelo lúdico (pela brincadeira). A organização desenvolveu um programa que ajuda crianças deficientes visuais a se alfabetizarem em braile, utilizando peças do brinquedo Lego especialmente adaptadas.

A entidade se juntou com a própria empresa dinamarquesa que fabrica o jogo e pediu que as peças fossem produzidas de forma que os encaixes representassem o alfabeto braile. Ou seja, ao passar a mão sobre o brinquedo, a pessoa estaria também tateando uma letra ou número do alfabeto para cegos. Para se tornar ainda mais inclusivo, a fundação pediu para que as letras e os números representados fossem também impressos na peça. O motivo: para que professores e outras crianças, que não têm deficiência, possam aprender essa nova linguagem durante a brincadeira.

Lego Braille Bricks foi desenvolvido em conjunto pela Fundação Dorina Nowill e pela empresa dinamarquesa responsável pelo jogo com o objetivo de promover a inclusão de crianças com deficiência visual. Foto: Fundação Dorina Nowill/Reprodução

“Todos os educadores falam da importância que tem o lúdico na aprendizagem. Não só para os (estudantes) mais novos, mas para todos”, diz Ika Fleury, membro do Conselho Curador da Fundação Dorina Nowill para Cegos e Membro do Projeto Lego Braille Bricks.

O kit com as peças adaptadas, que recebe o nome de Lego Braille Brick, é distribuído em escolas públicas do Brasil por meio de parcerias que a fundação faz com as secretarias municipais de Educação. O foco é o uso para crianças de 4 a 10 anos. Segundo os dados da própria fundação, 4.924 escolas, de 128 cidades, já receberam o kit. Dados do Censo Escolar apontam que das 1,8 milhões de matrículas feitas pela educação especial em escolas regulares, cerca de 86,8 mil são feitas por estudantes com baixa visão (4,8%) e 7,3 mil são cegas (0,4%).

Formação e escuta

Na faculdade Belas Artes, em São Paulo, todos os professores são obrigados a fazer uma formação de educação inclusiva fornecida pela própria universidade, com duração de dois anos. “O professor precisa saber como lidar com um aluno dentro do espectro autista ou com alguém com hiperatividade”, diz a psicóloga e professora Josiane Tonelotto, superintendente acadêmica da Belas Artes. Essa formação é realizada pelo Serviço de Atendimento Psicopedagógico (SAP), um departamento específico da instituição criado para lidar com a inclusão desse público e para fazer a interface com os professores e a família dos estudantes.

Para uma aula mais inclusiva, há três princípios: diversificar a forma de apresentar os conteúdos, diversificar a forma de expressão e diversificar a forma de engajamento

Augusto Galery, Coordenador de gestão educacional do instituto Rodrigo Mendes

Nas unidades do Senac, instituição educacional que oferece cursos de graduação e técnicos para os que estão no ensino médio, também não faltam recursos materiais e humanos aos professores. “Teve uma atividade feita no curso de massoterapia, que um estudante surdocego precisava entender a anatomia dos músculos do corpo”, lembra a psicóloga Andreza Matsumoto, responsável pelo Programa de Inclusão e Diversidade do Senac.

”Para explicar o conteúdo, a gente usou uma impressora para traduzir os mapas visuais do corpo humano e, a partir disso, construir maquetes para que ele pudesse tocar e entender, com a ajuda de um intérprete de libras tátil (que faz as libras na mão do aluno), as estruturas e funções dos músculos”, diz Andreza.

Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD: “A (pergunta) mais comum que eu escuto dos professores é se a criança está realmente aprendendo”. Foto: AACD/Divulgação

Essa situação faz a psicóloga chamar a atenção para outro elemento importante na educação inclusiva, e que os professores precisam sempre praticar: ouvir o estudante. “Tudo isso aconteceu em articulação com o próprio aluno. Não adianta a gente criar soluções mirabolantes que saiam só da nossa cabeça, precisa fazer sentido para o estudante. E, às vezes, o próprio estudante vai nos indicar qual é o caminho para isso”, diz.

Em nota, o Ministério da Educação informou que em 2024, por meio da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica (Renafor), lançou 79 cursos voltados para professores do Atendimento Educacional Especializado e para gestores educacionais, “objetivando assegurar o acesso, a permanência, a aprendizagem e a participação do público da educação especial, entre os quais o estudante com deficiência física”.

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