Criança precisa aprender letra cursiva?


Debate voltou à tona por conta da retomada da obrigatoriedade entre as crianças nos Estados Unidos

Por Vanessa Fajardo
Atualização:

Escrever à mão pode ser um grande estímulo para o cérebro. Embora as crianças tenham tido contato com teclas e teclados cada vez mais cedo, o uso contínuo da boa e velha letra cursiva ajuda a desenvolver habilidades cerebrais mais sofisticadas do que as viabilizadas pela tecnologia, de acordo com a neurociência.

“A gente enxerga a letra cursiva como uma expressão muito importante de ativação de diferentes áreas cerebrais. Não encontramos essa mesma conexão ou quantidade de ativação quando se faz letra em bastão ou quando a criança está digitando”, explica Letícia Soster, neuropediatra do Einstein.

A neuropediatra acrescenta que, para escrever à mão, a criança precisa fazer um desenho da letra, relacionando com significado e unindo às próximas, o que é muito poderoso do ponto de vista neurológico.

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”É como treinar o cérebro em mais áreas, de forma eficiente. Além disso, há o aprendizado motor fino e quanto mais integrações a gente fizer entre as áreas cerebrais, melhor para o desenvolvimento cerebral.”

'Respeitamos o tempo e o contexto da criança', diz Camila de Assis Novaes, professora da Lumiar Pinheiros Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

A discussão sobre o uso da letra cursiva voltou à tona nesta semana por conta da retomada da obrigatoriedade entre as crianças do 1.º ao 6.º do ensino fundamental nas escolas públicas da Califórnia, nos Estados Unidos, a partir de 2024, que passarão a ter aulas de caligrafia.

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A mudança fez aumentar a procura por cursos online da plataforma My Cursive, criada pela antropóloga norte-americana Connie Slone, que se diz entusiasta desta escrita.

Os cursos atendem aqueles que querem aprender a fazer a letra cursiva e os docentes que precisam ensinar. São tutoriais que ensinam a escrever todo o alfabeto cursivo e há um material exclusivo para professores com vídeos e planos de aula.

De acordo com Connie, desde a implementação da legislação na Califórnia, 25% das vendas dos cursos provêm de residentes desse estado norte-americano.

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No Brasil, a indicação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é para que no 1.º ano do ensino fundamental as crianças aprendam a “conhecer, diferenciar e relacionar letras em formato imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas”, para que no ano seguinte possam “escrever palavras, frases, textos curtos nas formas imprensa e cursiva.

Respeito ao desenvolvimento individual

Na Escola Lumiar, a letra cursiva é introduzida à medida que os educadores entendem que a criança está pronta para assimilá-la, seja antes ou depois da alfabetização plena.

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“Respeitamos o tempo e o contexto do aprendizado das crianças. É preciso avaliar como o corpo dela se desenvolveu na educação infantil para saber se é possível promover a alfabetização com a letra cursiva. Esse momento precisa entrar depois que ela entendeu os fonemas e vai desenvolver a coordenação motora mais fina”, afirma Camila de Assis Novaes, coordenadora pedagógica da Lumiar Pinheiros.

Heloísa Matos Lins, professora da Faculdade de Educação da Unicamp e líder do grupo de pesquisa INDDHU (Infâncias, Diferenças e Direitos Humanos) na mesma instituição, concorda que o tempo para o desenvolvimento das crianças é bastante variável, e introduzir a letra cursiva nem levá-lo em conta, pode colocar em risco o sucesso do processo de alfabetização e acarretar em problemas ainda maiores.

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Para Heloísa, os fatores sociais, econômicos e culturais precisam ser levados em conta. “A introdução direta de letra cursiva, já no 1.º ano do ensino fundamental, sempre se revelou muito equivocada, historicamente, tanto do ponto de vista do desenvolvimento infantil quanto do ponto de vista dos direitos das crianças, quando se tratou de uma imposição pedagógica. Aliás, esse pode ser também um importante motivo para a evasão escolar de muitas crianças vulneráveis, como a história e as pesquisas na área já mostraram fartamente”, sugere a docente.

Além da evasão de estudantes vulneráveis, a professora acredita que muitos diagnósticos médicos ou psicológicos nos anos iniciais da escolarização ocorrem por conta das dificuldades no aprendizado da letra cursiva, quando ela é introduzida sem considerar toda a individualidade da criança.

Escrita à mão pode ajudar no desenvolvimento da coordenação motora fina e da organização espacial Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
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Mais do que caderno de caligrafia

Em 2022, ainda sob os efeitos do ensino a distância por conta da pandemia, a Lumiar criou um projeto para fazer com que alunos de 4.º, 5.º e 6.º anos do ensino fundamental que escreviam em bastão aprendessem lettering, um estilo de escrita mais desenhado.

Os estudantes, então, produziram um jogo da memória em que relacionavam cartas com desenhos dos animais e seus nomes científicos e curiosidades.

Durante a atividade, a professora também explorou os movimentos, espirais e floreios exigidos para esse tipo de escrita com ajuda de itens de papelaria. “Assim como no curso de lettering, o ensino da letra cursiva não precisa ser só no caderno. Até para entender os movimentos do corpo necessários para fazê-la, é possível utilizar barbante, massinha, tintas com pincéis de diferentes espessuras”, conta a coordenadora Camila.

Para incentivar a retomada da escrita, neste ano, a escola substituiu a plataforma digital em que os estudantes registram os aprendizados, metas e objetivos, para o formato manual.

“O aluno de hoje tem a pressa, o imediatismo de escrever mais rápido no computador, no tablet, e ainda conta com ajuda do corretor automático. No início, quando propomos uma atividade, há uma resistência de escrever manualmente, mas depois eles se empolgam. Com o treino, a escrita fica fluida e eles sempre se orgulham das produções feitas à mão.”

Camila vê vantagens na escrita à mão, entre elas, o desenvolvimento da coordenação motora fina e da organização espacial. “Além disso, há estudos que relacionam a letra cursiva ao desenvolvimento da memória e à diminuição de erros ortográficos. Outra questão é que é uma escrita menos padronizada do que a bastão, o que revela a expressão pessoal da criança.”

Impacto da tecnologia

A tecnologia não pode ser considerada “culpada” pelo desuso da escrita à mão ou pela dificuldade de a criança se apropriar dela.

A neuropediatra Letícia Soster afirma que o uso de telas por um maior período de tempo entre as crianças faz com que o desenvolvimento de algumas habilidades seja deixado para trás; entretanto, pode promover outras, como raciocínio estratégico e lógico. Por isso, segundo ela, ainda é cedo, do ponto de vista científico, para fazer conclusões “demonizando um lado ou outro.”

“Já se provou que a manutenção da letra cursiva é importante para manter integradas várias áreas cerebrais. O uso de tecnologia aparentemente é nocivo para o comportamento, principalmente quando a gente coloca na mão da criança a decisão do que fazer, sem dar limites. Porém, quando monitorado e de forma específica para a educação, o uso da tecnologia pode até desenvolver algumas habilidades que não eram desenvolvidas nas gerações anteriores.”

Escrever à mão pode ser um grande estímulo para o cérebro. Embora as crianças tenham tido contato com teclas e teclados cada vez mais cedo, o uso contínuo da boa e velha letra cursiva ajuda a desenvolver habilidades cerebrais mais sofisticadas do que as viabilizadas pela tecnologia, de acordo com a neurociência.

“A gente enxerga a letra cursiva como uma expressão muito importante de ativação de diferentes áreas cerebrais. Não encontramos essa mesma conexão ou quantidade de ativação quando se faz letra em bastão ou quando a criança está digitando”, explica Letícia Soster, neuropediatra do Einstein.

A neuropediatra acrescenta que, para escrever à mão, a criança precisa fazer um desenho da letra, relacionando com significado e unindo às próximas, o que é muito poderoso do ponto de vista neurológico.

”É como treinar o cérebro em mais áreas, de forma eficiente. Além disso, há o aprendizado motor fino e quanto mais integrações a gente fizer entre as áreas cerebrais, melhor para o desenvolvimento cerebral.”

'Respeitamos o tempo e o contexto da criança', diz Camila de Assis Novaes, professora da Lumiar Pinheiros Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

A discussão sobre o uso da letra cursiva voltou à tona nesta semana por conta da retomada da obrigatoriedade entre as crianças do 1.º ao 6.º do ensino fundamental nas escolas públicas da Califórnia, nos Estados Unidos, a partir de 2024, que passarão a ter aulas de caligrafia.

A mudança fez aumentar a procura por cursos online da plataforma My Cursive, criada pela antropóloga norte-americana Connie Slone, que se diz entusiasta desta escrita.

Os cursos atendem aqueles que querem aprender a fazer a letra cursiva e os docentes que precisam ensinar. São tutoriais que ensinam a escrever todo o alfabeto cursivo e há um material exclusivo para professores com vídeos e planos de aula.

De acordo com Connie, desde a implementação da legislação na Califórnia, 25% das vendas dos cursos provêm de residentes desse estado norte-americano.

No Brasil, a indicação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é para que no 1.º ano do ensino fundamental as crianças aprendam a “conhecer, diferenciar e relacionar letras em formato imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas”, para que no ano seguinte possam “escrever palavras, frases, textos curtos nas formas imprensa e cursiva.

Respeito ao desenvolvimento individual

Na Escola Lumiar, a letra cursiva é introduzida à medida que os educadores entendem que a criança está pronta para assimilá-la, seja antes ou depois da alfabetização plena.

“Respeitamos o tempo e o contexto do aprendizado das crianças. É preciso avaliar como o corpo dela se desenvolveu na educação infantil para saber se é possível promover a alfabetização com a letra cursiva. Esse momento precisa entrar depois que ela entendeu os fonemas e vai desenvolver a coordenação motora mais fina”, afirma Camila de Assis Novaes, coordenadora pedagógica da Lumiar Pinheiros.

Heloísa Matos Lins, professora da Faculdade de Educação da Unicamp e líder do grupo de pesquisa INDDHU (Infâncias, Diferenças e Direitos Humanos) na mesma instituição, concorda que o tempo para o desenvolvimento das crianças é bastante variável, e introduzir a letra cursiva nem levá-lo em conta, pode colocar em risco o sucesso do processo de alfabetização e acarretar em problemas ainda maiores.

Para Heloísa, os fatores sociais, econômicos e culturais precisam ser levados em conta. “A introdução direta de letra cursiva, já no 1.º ano do ensino fundamental, sempre se revelou muito equivocada, historicamente, tanto do ponto de vista do desenvolvimento infantil quanto do ponto de vista dos direitos das crianças, quando se tratou de uma imposição pedagógica. Aliás, esse pode ser também um importante motivo para a evasão escolar de muitas crianças vulneráveis, como a história e as pesquisas na área já mostraram fartamente”, sugere a docente.

Além da evasão de estudantes vulneráveis, a professora acredita que muitos diagnósticos médicos ou psicológicos nos anos iniciais da escolarização ocorrem por conta das dificuldades no aprendizado da letra cursiva, quando ela é introduzida sem considerar toda a individualidade da criança.

Escrita à mão pode ajudar no desenvolvimento da coordenação motora fina e da organização espacial Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Mais do que caderno de caligrafia

Em 2022, ainda sob os efeitos do ensino a distância por conta da pandemia, a Lumiar criou um projeto para fazer com que alunos de 4.º, 5.º e 6.º anos do ensino fundamental que escreviam em bastão aprendessem lettering, um estilo de escrita mais desenhado.

Os estudantes, então, produziram um jogo da memória em que relacionavam cartas com desenhos dos animais e seus nomes científicos e curiosidades.

Durante a atividade, a professora também explorou os movimentos, espirais e floreios exigidos para esse tipo de escrita com ajuda de itens de papelaria. “Assim como no curso de lettering, o ensino da letra cursiva não precisa ser só no caderno. Até para entender os movimentos do corpo necessários para fazê-la, é possível utilizar barbante, massinha, tintas com pincéis de diferentes espessuras”, conta a coordenadora Camila.

Para incentivar a retomada da escrita, neste ano, a escola substituiu a plataforma digital em que os estudantes registram os aprendizados, metas e objetivos, para o formato manual.

“O aluno de hoje tem a pressa, o imediatismo de escrever mais rápido no computador, no tablet, e ainda conta com ajuda do corretor automático. No início, quando propomos uma atividade, há uma resistência de escrever manualmente, mas depois eles se empolgam. Com o treino, a escrita fica fluida e eles sempre se orgulham das produções feitas à mão.”

Camila vê vantagens na escrita à mão, entre elas, o desenvolvimento da coordenação motora fina e da organização espacial. “Além disso, há estudos que relacionam a letra cursiva ao desenvolvimento da memória e à diminuição de erros ortográficos. Outra questão é que é uma escrita menos padronizada do que a bastão, o que revela a expressão pessoal da criança.”

Impacto da tecnologia

A tecnologia não pode ser considerada “culpada” pelo desuso da escrita à mão ou pela dificuldade de a criança se apropriar dela.

A neuropediatra Letícia Soster afirma que o uso de telas por um maior período de tempo entre as crianças faz com que o desenvolvimento de algumas habilidades seja deixado para trás; entretanto, pode promover outras, como raciocínio estratégico e lógico. Por isso, segundo ela, ainda é cedo, do ponto de vista científico, para fazer conclusões “demonizando um lado ou outro.”

“Já se provou que a manutenção da letra cursiva é importante para manter integradas várias áreas cerebrais. O uso de tecnologia aparentemente é nocivo para o comportamento, principalmente quando a gente coloca na mão da criança a decisão do que fazer, sem dar limites. Porém, quando monitorado e de forma específica para a educação, o uso da tecnologia pode até desenvolver algumas habilidades que não eram desenvolvidas nas gerações anteriores.”

Escrever à mão pode ser um grande estímulo para o cérebro. Embora as crianças tenham tido contato com teclas e teclados cada vez mais cedo, o uso contínuo da boa e velha letra cursiva ajuda a desenvolver habilidades cerebrais mais sofisticadas do que as viabilizadas pela tecnologia, de acordo com a neurociência.

“A gente enxerga a letra cursiva como uma expressão muito importante de ativação de diferentes áreas cerebrais. Não encontramos essa mesma conexão ou quantidade de ativação quando se faz letra em bastão ou quando a criança está digitando”, explica Letícia Soster, neuropediatra do Einstein.

A neuropediatra acrescenta que, para escrever à mão, a criança precisa fazer um desenho da letra, relacionando com significado e unindo às próximas, o que é muito poderoso do ponto de vista neurológico.

”É como treinar o cérebro em mais áreas, de forma eficiente. Além disso, há o aprendizado motor fino e quanto mais integrações a gente fizer entre as áreas cerebrais, melhor para o desenvolvimento cerebral.”

'Respeitamos o tempo e o contexto da criança', diz Camila de Assis Novaes, professora da Lumiar Pinheiros Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

A discussão sobre o uso da letra cursiva voltou à tona nesta semana por conta da retomada da obrigatoriedade entre as crianças do 1.º ao 6.º do ensino fundamental nas escolas públicas da Califórnia, nos Estados Unidos, a partir de 2024, que passarão a ter aulas de caligrafia.

A mudança fez aumentar a procura por cursos online da plataforma My Cursive, criada pela antropóloga norte-americana Connie Slone, que se diz entusiasta desta escrita.

Os cursos atendem aqueles que querem aprender a fazer a letra cursiva e os docentes que precisam ensinar. São tutoriais que ensinam a escrever todo o alfabeto cursivo e há um material exclusivo para professores com vídeos e planos de aula.

De acordo com Connie, desde a implementação da legislação na Califórnia, 25% das vendas dos cursos provêm de residentes desse estado norte-americano.

No Brasil, a indicação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é para que no 1.º ano do ensino fundamental as crianças aprendam a “conhecer, diferenciar e relacionar letras em formato imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas”, para que no ano seguinte possam “escrever palavras, frases, textos curtos nas formas imprensa e cursiva.

Respeito ao desenvolvimento individual

Na Escola Lumiar, a letra cursiva é introduzida à medida que os educadores entendem que a criança está pronta para assimilá-la, seja antes ou depois da alfabetização plena.

“Respeitamos o tempo e o contexto do aprendizado das crianças. É preciso avaliar como o corpo dela se desenvolveu na educação infantil para saber se é possível promover a alfabetização com a letra cursiva. Esse momento precisa entrar depois que ela entendeu os fonemas e vai desenvolver a coordenação motora mais fina”, afirma Camila de Assis Novaes, coordenadora pedagógica da Lumiar Pinheiros.

Heloísa Matos Lins, professora da Faculdade de Educação da Unicamp e líder do grupo de pesquisa INDDHU (Infâncias, Diferenças e Direitos Humanos) na mesma instituição, concorda que o tempo para o desenvolvimento das crianças é bastante variável, e introduzir a letra cursiva nem levá-lo em conta, pode colocar em risco o sucesso do processo de alfabetização e acarretar em problemas ainda maiores.

Para Heloísa, os fatores sociais, econômicos e culturais precisam ser levados em conta. “A introdução direta de letra cursiva, já no 1.º ano do ensino fundamental, sempre se revelou muito equivocada, historicamente, tanto do ponto de vista do desenvolvimento infantil quanto do ponto de vista dos direitos das crianças, quando se tratou de uma imposição pedagógica. Aliás, esse pode ser também um importante motivo para a evasão escolar de muitas crianças vulneráveis, como a história e as pesquisas na área já mostraram fartamente”, sugere a docente.

Além da evasão de estudantes vulneráveis, a professora acredita que muitos diagnósticos médicos ou psicológicos nos anos iniciais da escolarização ocorrem por conta das dificuldades no aprendizado da letra cursiva, quando ela é introduzida sem considerar toda a individualidade da criança.

Escrita à mão pode ajudar no desenvolvimento da coordenação motora fina e da organização espacial Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Mais do que caderno de caligrafia

Em 2022, ainda sob os efeitos do ensino a distância por conta da pandemia, a Lumiar criou um projeto para fazer com que alunos de 4.º, 5.º e 6.º anos do ensino fundamental que escreviam em bastão aprendessem lettering, um estilo de escrita mais desenhado.

Os estudantes, então, produziram um jogo da memória em que relacionavam cartas com desenhos dos animais e seus nomes científicos e curiosidades.

Durante a atividade, a professora também explorou os movimentos, espirais e floreios exigidos para esse tipo de escrita com ajuda de itens de papelaria. “Assim como no curso de lettering, o ensino da letra cursiva não precisa ser só no caderno. Até para entender os movimentos do corpo necessários para fazê-la, é possível utilizar barbante, massinha, tintas com pincéis de diferentes espessuras”, conta a coordenadora Camila.

Para incentivar a retomada da escrita, neste ano, a escola substituiu a plataforma digital em que os estudantes registram os aprendizados, metas e objetivos, para o formato manual.

“O aluno de hoje tem a pressa, o imediatismo de escrever mais rápido no computador, no tablet, e ainda conta com ajuda do corretor automático. No início, quando propomos uma atividade, há uma resistência de escrever manualmente, mas depois eles se empolgam. Com o treino, a escrita fica fluida e eles sempre se orgulham das produções feitas à mão.”

Camila vê vantagens na escrita à mão, entre elas, o desenvolvimento da coordenação motora fina e da organização espacial. “Além disso, há estudos que relacionam a letra cursiva ao desenvolvimento da memória e à diminuição de erros ortográficos. Outra questão é que é uma escrita menos padronizada do que a bastão, o que revela a expressão pessoal da criança.”

Impacto da tecnologia

A tecnologia não pode ser considerada “culpada” pelo desuso da escrita à mão ou pela dificuldade de a criança se apropriar dela.

A neuropediatra Letícia Soster afirma que o uso de telas por um maior período de tempo entre as crianças faz com que o desenvolvimento de algumas habilidades seja deixado para trás; entretanto, pode promover outras, como raciocínio estratégico e lógico. Por isso, segundo ela, ainda é cedo, do ponto de vista científico, para fazer conclusões “demonizando um lado ou outro.”

“Já se provou que a manutenção da letra cursiva é importante para manter integradas várias áreas cerebrais. O uso de tecnologia aparentemente é nocivo para o comportamento, principalmente quando a gente coloca na mão da criança a decisão do que fazer, sem dar limites. Porém, quando monitorado e de forma específica para a educação, o uso da tecnologia pode até desenvolver algumas habilidades que não eram desenvolvidas nas gerações anteriores.”

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