Da rima ao algoritmo: jovem programadora usa poesia para ensinar linguagem de computação


Poesia Compilada utiliza poemas para ensinar linguagem computacional a alunos de escolas públicas do RN

Por Letícia França

Quando o amor pela literatura e pela computação falou mais alto, Soraya Roberta, de 26 anos, deu voz à imaginação e provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas. Da rima ao algoritmo, a analista de sistemas criou o projeto ‘Poesia Compilada’ e passou a utilizar poemas para ensinar linguagem de computação a alunos de escolas públicas no Rio Grande do Norte. A iniciativa tomou forma em 2018, quando a jovem ainda cursava Sistemas de Informação na universidade federal. Mas a ideia, na verdade, já havia nascido anos antes.

Filha de mãe analfabeta, a jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras. Ainda na infância, no município de Jardim do Seridó, a menina se destacou em todas as Olimpíadas de Língua Portuguesa das quais participou. Ela cresceu ouvindo o pai recitar poemas na sala de casa. A virada de chave para a tecnologia aconteceu ainda na infância, quando ela desejou comprar um computador e percebeu que, por ser de uma família humilde, só conseguiria alcançar esse objetivo se entrasse para o curso técnico de Informática do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Caicó.

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Soraya Roberta provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas: literatura e computação Foto: Acervo pessoal

Em 2012, a história do ‘Poesia Compilada’ começou, portanto, a ser escrita. No primeiro ano do ensino médio integrado, Soraya foi desafiada pelo professor de Língua Portuguesa a criar um gênero textual que conversasse com a área de computação. “Tive a ideia de fazer poesia com códigos. Vi que a estrutura sintática e semântica de um poema se assemelhava à da programação de algoritmos. Então comecei a escrever textos nesse formato”, contou a idealizadora.

Naquele ano, a ideia ficou apenas entre as paredes da sala de aula. Somente três anos depois, a estudante viu a sua invenção ganhar novo fôlego quando participou de um evento de tecnologia. “Com o reconhecimento, resolvi criar uma página no Facebook porque os colegas da área também queriam produzir e compartilhar seus próprios poemas lá”, relembrou.

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O movimento de divulgação nas redes sociais fez com que o ‘Poesia Compilada’ ganhasse cada vez mais espaço - na computação e no coração da estudante. Mas foi só em 2016, após uma experiência frustrada no primeiro ano da faculdade, que Soraya entendeu que realmente era hora de tirar o projeto do papel.

“Dos vinte alunos, 16 reprovaram, inclusive eu. Fiquei indignada e comecei a pesquisar o que poderia explicar tantos números de reprovação. Descobri que era algo comum nos cursos de Computação”, revelou. O motivo, para ela, era a falta de formação pedagógica dos professores e a ausência de pensamento crítico dos alunos. “É preciso ensinar algoritmos de forma contextualizada e com fundamentação na realidade das pessoas, no cotidiano brasileiro. E isso precisa vir desde a base”, defendeu.

O ‘Poesia Compilada’ renasceu, portanto, como uma alternativa a esses problemas de ensino. Com a licença poética na ponta da língua, Soraya arregaçou as mangas e decidiu retornar à sua cidade natal para plantar a mudança na educação da região. “Percebi que a raiz do problema não estava nos estudantes que ingressavam na graduação, mas sim naqueles que estavam na educação básica”, disse. Em 2017, o projeto se transformou em pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e, como ação de extensão, começou a ser aplicado em duas escolas públicas de Jardim do Seridó. “Ministramos aulas em turmas do ensino fundamental e ensinamos para esses jovens o pensamento computacional por meio de poemas”, contou.

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Filha de mãe analfabeta,jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras Foto: Acervo pessoal

Mesmo com as deficiências estruturais das escolas, que não dispunham de computadores e Internet, Soraya usou a metodologia desplugada para alcançar mais de 120 alunos de diferentes turmas. No conteúdo, os versos de poetas brasileiros fizeram sucesso e serviram de guia para o ensino de algoritmos. Tudo era escrito à mão, na folha de caderno ou na lousa da sala de aula. A pesquisadora estimulava que os alunos identificassem problemas no cotidiano, que iam desde a dificuldade de deslocamento para a escola até a falta de comida em casa, e os transformassem em estrofes. Cada parte do poema ganhava códigos da linguagem computacional à medida que Soraya explicava os conceitos aos alunos.

As aulas do ‘Poesia Compilada’ geraram inúmeros resultados para os alunos. “Melhoraram a escrita, eles adquiriram pensamento crítico e até a assiduidade em sala foi potencializada. Eles passaram a assistir às aulas com mais engajamento, porque ficou mais fácil entender o que estava sendo passado de conteúdo nas demais disciplinas”, comemorou.

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Como via de mão dupla, as ações também impactaram a universitária e fez florescer nela o anseio de dedicar todas as suas formações posteriores a essa missão. “Eu me sentia muito como aquelas crianças: querendo aprender algo que não tinha como ser aplicado. Eu sou do interior e sei que o ensino da computação não chega lá. As escolas de robótica que surgem só ficam na capital. A escola pública não tem acesso a isso”, analisa Soraya. E acrescenta: “Quando o assunto é programação, os sotaques que se ouvem são do Sul e Sudeste. Então, para mim, é uma conquista levantar a bandeira de que no interior do Rio Grande do Norte também têm pessoas que falam e discutem sobre computação”.

Para a programadora, é preciso formar os professores das escolas públicas para que sejam os propagadores do conhecimento prático. “Para ensinar algoritmos, é preciso também olhar a realidade do Brasil. Refletir sobre a nossa cultura, os nossos valores e os nossos problemas”, explica Soraya. Esse desejo de ser um eixo transformador na educação básica seguiu a pesquisadora também no Mestrado. Durante a pós-graduação, ela decidiu unir o pensamento computacional ao método de Paulo Freire para formar professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, assim, colaborar para uma alfabetização mais crítica.

Para este ano, o objetivo de Soraya Roberta é unir os dois projetos – de graduação e mestrado – e difundir o ‘Poesia Compilada’ para os professores de todo o Brasil. A meta é desenvolver uma plataforma de cursos – online e gratuita – para a formação desses educadores de maneira mais efetiva. Para conseguir viabilizar a iniciativa, a jovem lançou uma campanha de financiamento coletivo no www.apoia.se/poesiacompilada. “Percebo que muitos trabalhos acadêmicos não têm seguimento porque param nos professores. É o professor que, numa sala de aula da educação básica, realmente vai colocar nossas iniciativas para frente. Por isso, quero formá-los e torná-los propagadores do 'Poesia Compilada’ para todo o país”, conclui.

Quando o amor pela literatura e pela computação falou mais alto, Soraya Roberta, de 26 anos, deu voz à imaginação e provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas. Da rima ao algoritmo, a analista de sistemas criou o projeto ‘Poesia Compilada’ e passou a utilizar poemas para ensinar linguagem de computação a alunos de escolas públicas no Rio Grande do Norte. A iniciativa tomou forma em 2018, quando a jovem ainda cursava Sistemas de Informação na universidade federal. Mas a ideia, na verdade, já havia nascido anos antes.

Filha de mãe analfabeta, a jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras. Ainda na infância, no município de Jardim do Seridó, a menina se destacou em todas as Olimpíadas de Língua Portuguesa das quais participou. Ela cresceu ouvindo o pai recitar poemas na sala de casa. A virada de chave para a tecnologia aconteceu ainda na infância, quando ela desejou comprar um computador e percebeu que, por ser de uma família humilde, só conseguiria alcançar esse objetivo se entrasse para o curso técnico de Informática do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Caicó.

Soraya Roberta provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas: literatura e computação Foto: Acervo pessoal

Em 2012, a história do ‘Poesia Compilada’ começou, portanto, a ser escrita. No primeiro ano do ensino médio integrado, Soraya foi desafiada pelo professor de Língua Portuguesa a criar um gênero textual que conversasse com a área de computação. “Tive a ideia de fazer poesia com códigos. Vi que a estrutura sintática e semântica de um poema se assemelhava à da programação de algoritmos. Então comecei a escrever textos nesse formato”, contou a idealizadora.

Naquele ano, a ideia ficou apenas entre as paredes da sala de aula. Somente três anos depois, a estudante viu a sua invenção ganhar novo fôlego quando participou de um evento de tecnologia. “Com o reconhecimento, resolvi criar uma página no Facebook porque os colegas da área também queriam produzir e compartilhar seus próprios poemas lá”, relembrou.

O movimento de divulgação nas redes sociais fez com que o ‘Poesia Compilada’ ganhasse cada vez mais espaço - na computação e no coração da estudante. Mas foi só em 2016, após uma experiência frustrada no primeiro ano da faculdade, que Soraya entendeu que realmente era hora de tirar o projeto do papel.

“Dos vinte alunos, 16 reprovaram, inclusive eu. Fiquei indignada e comecei a pesquisar o que poderia explicar tantos números de reprovação. Descobri que era algo comum nos cursos de Computação”, revelou. O motivo, para ela, era a falta de formação pedagógica dos professores e a ausência de pensamento crítico dos alunos. “É preciso ensinar algoritmos de forma contextualizada e com fundamentação na realidade das pessoas, no cotidiano brasileiro. E isso precisa vir desde a base”, defendeu.

O ‘Poesia Compilada’ renasceu, portanto, como uma alternativa a esses problemas de ensino. Com a licença poética na ponta da língua, Soraya arregaçou as mangas e decidiu retornar à sua cidade natal para plantar a mudança na educação da região. “Percebi que a raiz do problema não estava nos estudantes que ingressavam na graduação, mas sim naqueles que estavam na educação básica”, disse. Em 2017, o projeto se transformou em pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e, como ação de extensão, começou a ser aplicado em duas escolas públicas de Jardim do Seridó. “Ministramos aulas em turmas do ensino fundamental e ensinamos para esses jovens o pensamento computacional por meio de poemas”, contou.

Filha de mãe analfabeta,jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras Foto: Acervo pessoal

Mesmo com as deficiências estruturais das escolas, que não dispunham de computadores e Internet, Soraya usou a metodologia desplugada para alcançar mais de 120 alunos de diferentes turmas. No conteúdo, os versos de poetas brasileiros fizeram sucesso e serviram de guia para o ensino de algoritmos. Tudo era escrito à mão, na folha de caderno ou na lousa da sala de aula. A pesquisadora estimulava que os alunos identificassem problemas no cotidiano, que iam desde a dificuldade de deslocamento para a escola até a falta de comida em casa, e os transformassem em estrofes. Cada parte do poema ganhava códigos da linguagem computacional à medida que Soraya explicava os conceitos aos alunos.

As aulas do ‘Poesia Compilada’ geraram inúmeros resultados para os alunos. “Melhoraram a escrita, eles adquiriram pensamento crítico e até a assiduidade em sala foi potencializada. Eles passaram a assistir às aulas com mais engajamento, porque ficou mais fácil entender o que estava sendo passado de conteúdo nas demais disciplinas”, comemorou.

Como via de mão dupla, as ações também impactaram a universitária e fez florescer nela o anseio de dedicar todas as suas formações posteriores a essa missão. “Eu me sentia muito como aquelas crianças: querendo aprender algo que não tinha como ser aplicado. Eu sou do interior e sei que o ensino da computação não chega lá. As escolas de robótica que surgem só ficam na capital. A escola pública não tem acesso a isso”, analisa Soraya. E acrescenta: “Quando o assunto é programação, os sotaques que se ouvem são do Sul e Sudeste. Então, para mim, é uma conquista levantar a bandeira de que no interior do Rio Grande do Norte também têm pessoas que falam e discutem sobre computação”.

Para a programadora, é preciso formar os professores das escolas públicas para que sejam os propagadores do conhecimento prático. “Para ensinar algoritmos, é preciso também olhar a realidade do Brasil. Refletir sobre a nossa cultura, os nossos valores e os nossos problemas”, explica Soraya. Esse desejo de ser um eixo transformador na educação básica seguiu a pesquisadora também no Mestrado. Durante a pós-graduação, ela decidiu unir o pensamento computacional ao método de Paulo Freire para formar professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, assim, colaborar para uma alfabetização mais crítica.

Para este ano, o objetivo de Soraya Roberta é unir os dois projetos – de graduação e mestrado – e difundir o ‘Poesia Compilada’ para os professores de todo o Brasil. A meta é desenvolver uma plataforma de cursos – online e gratuita – para a formação desses educadores de maneira mais efetiva. Para conseguir viabilizar a iniciativa, a jovem lançou uma campanha de financiamento coletivo no www.apoia.se/poesiacompilada. “Percebo que muitos trabalhos acadêmicos não têm seguimento porque param nos professores. É o professor que, numa sala de aula da educação básica, realmente vai colocar nossas iniciativas para frente. Por isso, quero formá-los e torná-los propagadores do 'Poesia Compilada’ para todo o país”, conclui.

Quando o amor pela literatura e pela computação falou mais alto, Soraya Roberta, de 26 anos, deu voz à imaginação e provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas. Da rima ao algoritmo, a analista de sistemas criou o projeto ‘Poesia Compilada’ e passou a utilizar poemas para ensinar linguagem de computação a alunos de escolas públicas no Rio Grande do Norte. A iniciativa tomou forma em 2018, quando a jovem ainda cursava Sistemas de Informação na universidade federal. Mas a ideia, na verdade, já havia nascido anos antes.

Filha de mãe analfabeta, a jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras. Ainda na infância, no município de Jardim do Seridó, a menina se destacou em todas as Olimpíadas de Língua Portuguesa das quais participou. Ela cresceu ouvindo o pai recitar poemas na sala de casa. A virada de chave para a tecnologia aconteceu ainda na infância, quando ela desejou comprar um computador e percebeu que, por ser de uma família humilde, só conseguiria alcançar esse objetivo se entrasse para o curso técnico de Informática do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Caicó.

Soraya Roberta provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas: literatura e computação Foto: Acervo pessoal

Em 2012, a história do ‘Poesia Compilada’ começou, portanto, a ser escrita. No primeiro ano do ensino médio integrado, Soraya foi desafiada pelo professor de Língua Portuguesa a criar um gênero textual que conversasse com a área de computação. “Tive a ideia de fazer poesia com códigos. Vi que a estrutura sintática e semântica de um poema se assemelhava à da programação de algoritmos. Então comecei a escrever textos nesse formato”, contou a idealizadora.

Naquele ano, a ideia ficou apenas entre as paredes da sala de aula. Somente três anos depois, a estudante viu a sua invenção ganhar novo fôlego quando participou de um evento de tecnologia. “Com o reconhecimento, resolvi criar uma página no Facebook porque os colegas da área também queriam produzir e compartilhar seus próprios poemas lá”, relembrou.

O movimento de divulgação nas redes sociais fez com que o ‘Poesia Compilada’ ganhasse cada vez mais espaço - na computação e no coração da estudante. Mas foi só em 2016, após uma experiência frustrada no primeiro ano da faculdade, que Soraya entendeu que realmente era hora de tirar o projeto do papel.

“Dos vinte alunos, 16 reprovaram, inclusive eu. Fiquei indignada e comecei a pesquisar o que poderia explicar tantos números de reprovação. Descobri que era algo comum nos cursos de Computação”, revelou. O motivo, para ela, era a falta de formação pedagógica dos professores e a ausência de pensamento crítico dos alunos. “É preciso ensinar algoritmos de forma contextualizada e com fundamentação na realidade das pessoas, no cotidiano brasileiro. E isso precisa vir desde a base”, defendeu.

O ‘Poesia Compilada’ renasceu, portanto, como uma alternativa a esses problemas de ensino. Com a licença poética na ponta da língua, Soraya arregaçou as mangas e decidiu retornar à sua cidade natal para plantar a mudança na educação da região. “Percebi que a raiz do problema não estava nos estudantes que ingressavam na graduação, mas sim naqueles que estavam na educação básica”, disse. Em 2017, o projeto se transformou em pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e, como ação de extensão, começou a ser aplicado em duas escolas públicas de Jardim do Seridó. “Ministramos aulas em turmas do ensino fundamental e ensinamos para esses jovens o pensamento computacional por meio de poemas”, contou.

Filha de mãe analfabeta,jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras Foto: Acervo pessoal

Mesmo com as deficiências estruturais das escolas, que não dispunham de computadores e Internet, Soraya usou a metodologia desplugada para alcançar mais de 120 alunos de diferentes turmas. No conteúdo, os versos de poetas brasileiros fizeram sucesso e serviram de guia para o ensino de algoritmos. Tudo era escrito à mão, na folha de caderno ou na lousa da sala de aula. A pesquisadora estimulava que os alunos identificassem problemas no cotidiano, que iam desde a dificuldade de deslocamento para a escola até a falta de comida em casa, e os transformassem em estrofes. Cada parte do poema ganhava códigos da linguagem computacional à medida que Soraya explicava os conceitos aos alunos.

As aulas do ‘Poesia Compilada’ geraram inúmeros resultados para os alunos. “Melhoraram a escrita, eles adquiriram pensamento crítico e até a assiduidade em sala foi potencializada. Eles passaram a assistir às aulas com mais engajamento, porque ficou mais fácil entender o que estava sendo passado de conteúdo nas demais disciplinas”, comemorou.

Como via de mão dupla, as ações também impactaram a universitária e fez florescer nela o anseio de dedicar todas as suas formações posteriores a essa missão. “Eu me sentia muito como aquelas crianças: querendo aprender algo que não tinha como ser aplicado. Eu sou do interior e sei que o ensino da computação não chega lá. As escolas de robótica que surgem só ficam na capital. A escola pública não tem acesso a isso”, analisa Soraya. E acrescenta: “Quando o assunto é programação, os sotaques que se ouvem são do Sul e Sudeste. Então, para mim, é uma conquista levantar a bandeira de que no interior do Rio Grande do Norte também têm pessoas que falam e discutem sobre computação”.

Para a programadora, é preciso formar os professores das escolas públicas para que sejam os propagadores do conhecimento prático. “Para ensinar algoritmos, é preciso também olhar a realidade do Brasil. Refletir sobre a nossa cultura, os nossos valores e os nossos problemas”, explica Soraya. Esse desejo de ser um eixo transformador na educação básica seguiu a pesquisadora também no Mestrado. Durante a pós-graduação, ela decidiu unir o pensamento computacional ao método de Paulo Freire para formar professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, assim, colaborar para uma alfabetização mais crítica.

Para este ano, o objetivo de Soraya Roberta é unir os dois projetos – de graduação e mestrado – e difundir o ‘Poesia Compilada’ para os professores de todo o Brasil. A meta é desenvolver uma plataforma de cursos – online e gratuita – para a formação desses educadores de maneira mais efetiva. Para conseguir viabilizar a iniciativa, a jovem lançou uma campanha de financiamento coletivo no www.apoia.se/poesiacompilada. “Percebo que muitos trabalhos acadêmicos não têm seguimento porque param nos professores. É o professor que, numa sala de aula da educação básica, realmente vai colocar nossas iniciativas para frente. Por isso, quero formá-los e torná-los propagadores do 'Poesia Compilada’ para todo o país”, conclui.

Quando o amor pela literatura e pela computação falou mais alto, Soraya Roberta, de 26 anos, deu voz à imaginação e provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas. Da rima ao algoritmo, a analista de sistemas criou o projeto ‘Poesia Compilada’ e passou a utilizar poemas para ensinar linguagem de computação a alunos de escolas públicas no Rio Grande do Norte. A iniciativa tomou forma em 2018, quando a jovem ainda cursava Sistemas de Informação na universidade federal. Mas a ideia, na verdade, já havia nascido anos antes.

Filha de mãe analfabeta, a jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras. Ainda na infância, no município de Jardim do Seridó, a menina se destacou em todas as Olimpíadas de Língua Portuguesa das quais participou. Ela cresceu ouvindo o pai recitar poemas na sala de casa. A virada de chave para a tecnologia aconteceu ainda na infância, quando ela desejou comprar um computador e percebeu que, por ser de uma família humilde, só conseguiria alcançar esse objetivo se entrasse para o curso técnico de Informática do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Caicó.

Soraya Roberta provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas: literatura e computação Foto: Acervo pessoal

Em 2012, a história do ‘Poesia Compilada’ começou, portanto, a ser escrita. No primeiro ano do ensino médio integrado, Soraya foi desafiada pelo professor de Língua Portuguesa a criar um gênero textual que conversasse com a área de computação. “Tive a ideia de fazer poesia com códigos. Vi que a estrutura sintática e semântica de um poema se assemelhava à da programação de algoritmos. Então comecei a escrever textos nesse formato”, contou a idealizadora.

Naquele ano, a ideia ficou apenas entre as paredes da sala de aula. Somente três anos depois, a estudante viu a sua invenção ganhar novo fôlego quando participou de um evento de tecnologia. “Com o reconhecimento, resolvi criar uma página no Facebook porque os colegas da área também queriam produzir e compartilhar seus próprios poemas lá”, relembrou.

O movimento de divulgação nas redes sociais fez com que o ‘Poesia Compilada’ ganhasse cada vez mais espaço - na computação e no coração da estudante. Mas foi só em 2016, após uma experiência frustrada no primeiro ano da faculdade, que Soraya entendeu que realmente era hora de tirar o projeto do papel.

“Dos vinte alunos, 16 reprovaram, inclusive eu. Fiquei indignada e comecei a pesquisar o que poderia explicar tantos números de reprovação. Descobri que era algo comum nos cursos de Computação”, revelou. O motivo, para ela, era a falta de formação pedagógica dos professores e a ausência de pensamento crítico dos alunos. “É preciso ensinar algoritmos de forma contextualizada e com fundamentação na realidade das pessoas, no cotidiano brasileiro. E isso precisa vir desde a base”, defendeu.

O ‘Poesia Compilada’ renasceu, portanto, como uma alternativa a esses problemas de ensino. Com a licença poética na ponta da língua, Soraya arregaçou as mangas e decidiu retornar à sua cidade natal para plantar a mudança na educação da região. “Percebi que a raiz do problema não estava nos estudantes que ingressavam na graduação, mas sim naqueles que estavam na educação básica”, disse. Em 2017, o projeto se transformou em pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e, como ação de extensão, começou a ser aplicado em duas escolas públicas de Jardim do Seridó. “Ministramos aulas em turmas do ensino fundamental e ensinamos para esses jovens o pensamento computacional por meio de poemas”, contou.

Filha de mãe analfabeta,jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras Foto: Acervo pessoal

Mesmo com as deficiências estruturais das escolas, que não dispunham de computadores e Internet, Soraya usou a metodologia desplugada para alcançar mais de 120 alunos de diferentes turmas. No conteúdo, os versos de poetas brasileiros fizeram sucesso e serviram de guia para o ensino de algoritmos. Tudo era escrito à mão, na folha de caderno ou na lousa da sala de aula. A pesquisadora estimulava que os alunos identificassem problemas no cotidiano, que iam desde a dificuldade de deslocamento para a escola até a falta de comida em casa, e os transformassem em estrofes. Cada parte do poema ganhava códigos da linguagem computacional à medida que Soraya explicava os conceitos aos alunos.

As aulas do ‘Poesia Compilada’ geraram inúmeros resultados para os alunos. “Melhoraram a escrita, eles adquiriram pensamento crítico e até a assiduidade em sala foi potencializada. Eles passaram a assistir às aulas com mais engajamento, porque ficou mais fácil entender o que estava sendo passado de conteúdo nas demais disciplinas”, comemorou.

Como via de mão dupla, as ações também impactaram a universitária e fez florescer nela o anseio de dedicar todas as suas formações posteriores a essa missão. “Eu me sentia muito como aquelas crianças: querendo aprender algo que não tinha como ser aplicado. Eu sou do interior e sei que o ensino da computação não chega lá. As escolas de robótica que surgem só ficam na capital. A escola pública não tem acesso a isso”, analisa Soraya. E acrescenta: “Quando o assunto é programação, os sotaques que se ouvem são do Sul e Sudeste. Então, para mim, é uma conquista levantar a bandeira de que no interior do Rio Grande do Norte também têm pessoas que falam e discutem sobre computação”.

Para a programadora, é preciso formar os professores das escolas públicas para que sejam os propagadores do conhecimento prático. “Para ensinar algoritmos, é preciso também olhar a realidade do Brasil. Refletir sobre a nossa cultura, os nossos valores e os nossos problemas”, explica Soraya. Esse desejo de ser um eixo transformador na educação básica seguiu a pesquisadora também no Mestrado. Durante a pós-graduação, ela decidiu unir o pensamento computacional ao método de Paulo Freire para formar professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, assim, colaborar para uma alfabetização mais crítica.

Para este ano, o objetivo de Soraya Roberta é unir os dois projetos – de graduação e mestrado – e difundir o ‘Poesia Compilada’ para os professores de todo o Brasil. A meta é desenvolver uma plataforma de cursos – online e gratuita – para a formação desses educadores de maneira mais efetiva. Para conseguir viabilizar a iniciativa, a jovem lançou uma campanha de financiamento coletivo no www.apoia.se/poesiacompilada. “Percebo que muitos trabalhos acadêmicos não têm seguimento porque param nos professores. É o professor que, numa sala de aula da educação básica, realmente vai colocar nossas iniciativas para frente. Por isso, quero formá-los e torná-los propagadores do 'Poesia Compilada’ para todo o país”, conclui.

Quando o amor pela literatura e pela computação falou mais alto, Soraya Roberta, de 26 anos, deu voz à imaginação e provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas. Da rima ao algoritmo, a analista de sistemas criou o projeto ‘Poesia Compilada’ e passou a utilizar poemas para ensinar linguagem de computação a alunos de escolas públicas no Rio Grande do Norte. A iniciativa tomou forma em 2018, quando a jovem ainda cursava Sistemas de Informação na universidade federal. Mas a ideia, na verdade, já havia nascido anos antes.

Filha de mãe analfabeta, a jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras. Ainda na infância, no município de Jardim do Seridó, a menina se destacou em todas as Olimpíadas de Língua Portuguesa das quais participou. Ela cresceu ouvindo o pai recitar poemas na sala de casa. A virada de chave para a tecnologia aconteceu ainda na infância, quando ela desejou comprar um computador e percebeu que, por ser de uma família humilde, só conseguiria alcançar esse objetivo se entrasse para o curso técnico de Informática do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Caicó.

Soraya Roberta provou que é possível unir essas duas áreas completamente opostas: literatura e computação Foto: Acervo pessoal

Em 2012, a história do ‘Poesia Compilada’ começou, portanto, a ser escrita. No primeiro ano do ensino médio integrado, Soraya foi desafiada pelo professor de Língua Portuguesa a criar um gênero textual que conversasse com a área de computação. “Tive a ideia de fazer poesia com códigos. Vi que a estrutura sintática e semântica de um poema se assemelhava à da programação de algoritmos. Então comecei a escrever textos nesse formato”, contou a idealizadora.

Naquele ano, a ideia ficou apenas entre as paredes da sala de aula. Somente três anos depois, a estudante viu a sua invenção ganhar novo fôlego quando participou de um evento de tecnologia. “Com o reconhecimento, resolvi criar uma página no Facebook porque os colegas da área também queriam produzir e compartilhar seus próprios poemas lá”, relembrou.

O movimento de divulgação nas redes sociais fez com que o ‘Poesia Compilada’ ganhasse cada vez mais espaço - na computação e no coração da estudante. Mas foi só em 2016, após uma experiência frustrada no primeiro ano da faculdade, que Soraya entendeu que realmente era hora de tirar o projeto do papel.

“Dos vinte alunos, 16 reprovaram, inclusive eu. Fiquei indignada e comecei a pesquisar o que poderia explicar tantos números de reprovação. Descobri que era algo comum nos cursos de Computação”, revelou. O motivo, para ela, era a falta de formação pedagógica dos professores e a ausência de pensamento crítico dos alunos. “É preciso ensinar algoritmos de forma contextualizada e com fundamentação na realidade das pessoas, no cotidiano brasileiro. E isso precisa vir desde a base”, defendeu.

O ‘Poesia Compilada’ renasceu, portanto, como uma alternativa a esses problemas de ensino. Com a licença poética na ponta da língua, Soraya arregaçou as mangas e decidiu retornar à sua cidade natal para plantar a mudança na educação da região. “Percebi que a raiz do problema não estava nos estudantes que ingressavam na graduação, mas sim naqueles que estavam na educação básica”, disse. Em 2017, o projeto se transformou em pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e, como ação de extensão, começou a ser aplicado em duas escolas públicas de Jardim do Seridó. “Ministramos aulas em turmas do ensino fundamental e ensinamos para esses jovens o pensamento computacional por meio de poemas”, contou.

Filha de mãe analfabeta,jovem foi apresentada à escrita por incentivo da tia, que é professora de Letras Foto: Acervo pessoal

Mesmo com as deficiências estruturais das escolas, que não dispunham de computadores e Internet, Soraya usou a metodologia desplugada para alcançar mais de 120 alunos de diferentes turmas. No conteúdo, os versos de poetas brasileiros fizeram sucesso e serviram de guia para o ensino de algoritmos. Tudo era escrito à mão, na folha de caderno ou na lousa da sala de aula. A pesquisadora estimulava que os alunos identificassem problemas no cotidiano, que iam desde a dificuldade de deslocamento para a escola até a falta de comida em casa, e os transformassem em estrofes. Cada parte do poema ganhava códigos da linguagem computacional à medida que Soraya explicava os conceitos aos alunos.

As aulas do ‘Poesia Compilada’ geraram inúmeros resultados para os alunos. “Melhoraram a escrita, eles adquiriram pensamento crítico e até a assiduidade em sala foi potencializada. Eles passaram a assistir às aulas com mais engajamento, porque ficou mais fácil entender o que estava sendo passado de conteúdo nas demais disciplinas”, comemorou.

Como via de mão dupla, as ações também impactaram a universitária e fez florescer nela o anseio de dedicar todas as suas formações posteriores a essa missão. “Eu me sentia muito como aquelas crianças: querendo aprender algo que não tinha como ser aplicado. Eu sou do interior e sei que o ensino da computação não chega lá. As escolas de robótica que surgem só ficam na capital. A escola pública não tem acesso a isso”, analisa Soraya. E acrescenta: “Quando o assunto é programação, os sotaques que se ouvem são do Sul e Sudeste. Então, para mim, é uma conquista levantar a bandeira de que no interior do Rio Grande do Norte também têm pessoas que falam e discutem sobre computação”.

Para a programadora, é preciso formar os professores das escolas públicas para que sejam os propagadores do conhecimento prático. “Para ensinar algoritmos, é preciso também olhar a realidade do Brasil. Refletir sobre a nossa cultura, os nossos valores e os nossos problemas”, explica Soraya. Esse desejo de ser um eixo transformador na educação básica seguiu a pesquisadora também no Mestrado. Durante a pós-graduação, ela decidiu unir o pensamento computacional ao método de Paulo Freire para formar professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, assim, colaborar para uma alfabetização mais crítica.

Para este ano, o objetivo de Soraya Roberta é unir os dois projetos – de graduação e mestrado – e difundir o ‘Poesia Compilada’ para os professores de todo o Brasil. A meta é desenvolver uma plataforma de cursos – online e gratuita – para a formação desses educadores de maneira mais efetiva. Para conseguir viabilizar a iniciativa, a jovem lançou uma campanha de financiamento coletivo no www.apoia.se/poesiacompilada. “Percebo que muitos trabalhos acadêmicos não têm seguimento porque param nos professores. É o professor que, numa sala de aula da educação básica, realmente vai colocar nossas iniciativas para frente. Por isso, quero formá-los e torná-los propagadores do 'Poesia Compilada’ para todo o país”, conclui.

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