Desafios da USP para o futuro: ‘Não basta ter diploma para entrar no mundo do trabalho’, diz reitor


Carlos Gilberto Carlotti Junior fala sobre modernizar os currículos de todos os cursos da universidade, que faz 90 anos. Sustentabilidade e inclusão são outras metas nos próximos anos

Por Renata Cafardo
Atualização:
Foto: Tiago Queiroz
Entrevista comCarlos Gilberto Carlotti Juniormédico neurocirurgião e reitor da USP

Aos 90 anos, a Universidade de São Paulo (USP) é fruto de seu passado glorioso, mas também tem um olhar crítico para o futuro. “Nós precisamos atrair o jovem para a universidade. Não dá para a gente achar que ensina de uma forma e não precisa mudar porque sempre deu certo”, diz o reitor, o médico neurocirurgião Carlos Gilberto Carlotti Junior, de 63 anos.

Ele fala sem medo que a USP “tem falhado” em formar professores para a escola pública e também afirma que já passou da hora de modernizar os currículos em todos os cursos. “Não basta mais ter um diploma para entrar no mundo do trabalho, mesmo um diploma da USP.”

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Carlotti Junior também é defensor da inclusão na instituição como uma marca no caminho para o centenário. Em 2023, ele conseguiu aprovar que os concursos públicos para professor passem a ter cotas para pretos, pardos e indígenas, ampliando a política de ação afirmativa que já existia para alunos.

“Nossa função é formar lideranças em todas as áreas do conhecimento e as lideranças atuais precisam ter uma diversidade”, afirma. “Essa busca da diversidade precisa ser ativa. Não dá para esperar só os movimentos sociais fazerem uma modificação na estrutura econômica do País para depois chegar à universidade.”

Sua outra bandeira nesse aniversário da universidade é o meio ambiente. O reitor diz que seu objetivo é transformar o câmpus “em exemplo de sustentabilidade para transformar as cidades”, cuidando da água, dos resíduos e da produção de energia.

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“A universidade precisa ser uma liderança na sociedade para convencermos as pessoas de que isso precisa ser feito, mas também precisamos dar as soluções. Uma universidade mais engajada com a recuperação do planeta e da nossa condição de vida.”

Veja os principais trechos da entrevista:

O reitor diz que seu objetivo é transformar o campus “em exemplo de sustentabilidade para transformar as cidades” Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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O senhor acredita que a USP, 90 anos depois, mantém os princípios de quando foi criada, de formar lideranças para a sociedade?

Foi a sociedade que criou a USP, não foi o governo ou professores. Foram intelectuais representados por várias pessoas, como Julio de Mesquita Filho (que foi diretor do jornal O Estado de S. Paulo e inspirou a criação da USP). Somos uma universidade criada a partir da sociedade, o que se queria na época era formar líderes e isso continuamos até hoje. Nossa função é formar lideranças em todas as áreas do conhecimento, o que mudou foi que as lideranças atuais precisam ter uma diversidade, e não só ser homogênea, de determinado segmento da população. Essa busca da diversidade precisa ser ativa, precisa ter mecanismos para fazer isso, não dá para esperar só os movimentos sociais fazerem uma modificação na estrutura econômica do País para depois chegar à universidade.

Havia também a ideia de uma faculdade de ciências humanas, exatas e biológicas, numa espécie de curso básico com as áreas integradas pelo qual passariam todos os estudantes. Essa ideia, bem atual, não foi para frente. O que acha disso?

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Sim, as áreas estavam juntas na faculdade e foram saindo: Física, Química, Psicologia. É algo natural, mas a tendência atual é de maior fusão, menor número de escolas e maior interdisciplinaridade. Você não consegue agora reverter movimentos históricos, mas perdemos a possibilidade de ter o que os americanos fazem bem. Talvez hoje nós tivéssemos um ensino que seria bastante moderno, com uma formação humana depois que você vai pra faculdade. Para mudar, precisa ser um plano a longo prazo, mas se fizermos isso poderemos ter um aluno com formação mais plural, mais preparado para enfrentar dificuldades na sua carreira profissional.

Há uma crítica com relação aos currículos da USP, que são ultrapassados, não atraem mais os jovens. O senhor concorda?

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Sim, é uma preocupação. Fizemos um movimento para que todos os cursos apresentassem mudanças curriculares, diminuindo o tempo de sala de aula, com metodologias ativas de ensino, atividade de extensão na grade curricular. Estamos agora entendendo a devolutiva das unidades. Tenho insistido que precisamos atrair os jovens para a universidade, porque hoje muitas vezes ele prefere fazer um curso de extensão, um curso curto, de dois ou três meses, e já se colocar no mercado de trabalho. Isso é uma tendência, querem acelerar a formação.

Há resistência na universidade para essas mudanças?

Não é fácil. Temos resistências, pessoas que falam que fazem aquilo há 20 anos. Dizem: ‘ensino dessa forma e sempre deu certo, por que preciso mudar agora?’ Mas o mundo do trabalho mudou, as necessidades mudaram e se mantivermos o ensino anterior, não vai dar certo. Na área médica, se não tiver no currículo inteligência artificial, não consigo ser médico. Precisamos tornar o ensino mais ativo, o aluno precisa buscar mais o conhecimento porque ele não vai conseguir durante toda sua vida profissional ficar utilizando o conhecimento que ganhou na universidade. A gente não pode imaginar que vai ensinar Química para o aluno e ele ficar[a com aquilo a vida inteira.

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O que precisa ter mais no currículo?

O aluno precisa de noções de empreendedorismo, de comunicação. Se o aluno não souber se comunicar, não consegue fazer nada no mundo profissional. Você precisa fazer com que o aluno saiba se expressar, mostre seu projeto, a sua perspectiva. “Não basta mais ter um diploma para entrar no mundo do trabalho, mesmo um diploma da USP. Ele (o diploma) te dá uma vantagem, mas as pessoas querem saber qual a habilidade você tem, se sabe trabalhar em grupo, interdisciplinarmente. Não é simples, não é um processo que em alguns meses vai resolver, mas estamos sendo insistentes.

'O aluno precisa de noções de empreendedorismo, de comunicação, se o aluno não souber se comunicar hoje, não consegue fazer nada no mundo profissional', diz o reitor Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Há também críticas com relação à formação de professores para a educação básica. Docentes formados pela USP vão, em sua maioria, para a escola particular e não para a pública, um objetivo desde a fundação da universidade.

Isso é uma coisa que temos falhado nos últimos anos, mas estamos melhorando as nossas licenciaturas. O último documento que falava sobre a formação de professores na USP era de 2004, fizemos uma renovação. Outro pedido que tenho feito é que as licenciaturas se aproximem do ensino médio. A formação na USP está fragmentada, especializada, e quando o professor presta concurso na escola pública, muitas vezes não preenche os requisitos. Um exemplo: quando vai contratar um professor de Ciências, ele precisa saber Química, Física, Ciências da Terra. Também já falei com o secretário da Educação que a secretaria não pode demorar muitos anos para abrir concurso porque se não eles vão para as escolas particulares. O Estado precisaria conseguir captar anualmente professores formados na universidade. Mas, a partir de 2024, 100% dos nossos alunos de licenciatura poderão ter bolsa da secretaria da educação para fazer estágios na rede. Falta atividade de acompanhamento de discussão, correção de prova, aulas práticas. nisso que os nossos alunos das licenciaturas vão ajudar. Eles não vão competir com os professores em sala de aula, mas fazer atividades complementares.

O senhor acredita que a sociedade reconhece as contribuições da USP para o País?

Vejo essa perspectiva de a universidade interagir, melhorar a sociedade. E já há várias formas em que fazemos isso: a formação de recursos humanos de excelência no País. Os alunos que formamos estão entre os melhores do mundo. Entregamos à sociedade 8 mil pessoas por ano bastante capacitadas, que passam a ocupar cargos. Temos vários exemplos de pesquisas que mudamos a condição de vida das pessoas. Se somos campeões da agricultura mundial, alimentando 1 bilhão de pessoas, isso se deve muito à Esalq (a escola de agricultura da USP), com trabalhos de recuperação de solo, em controle de pragas. Na Odontologia, EUA e Europa utilizam técnicas desenvolvidas aqui. É claro que sempre gostaríamos de ser mais reconhecidos. Acho que uma coisa que mudará nesse sentido é o Provão Paulista (novo exame de seleção das universidades estaduais paulistas, só para alunos da rede pública).

Como?

Mais de 1,2 milhão de alunos prestaram o Provão Paulista: 400 mil no 1º ano ano, 400 mil no 2º ano e 400 mil no 3º do ensino médio. Eles vão conhecer a USP, Unesp e Unicamp, saberão que são universidades públicas, sem mensalidade. Cada aluno tem família e, se cada uma tiver quatro pessoas, são 4 milhões de pessoas que conhecem a USP. Até hoje tínhamos 10% dos alunos de escola pública de São Paulo que prestavam a Fuvest. Estamos perdendo talentos.

Quais devem ser as prioridades na USP na próxima década para chegar aos 100 anos?

Investir em diversidade e sustentabilidade. Diversidade para trazermos pessoas que necessariamente não nasceram em famílias ricas e que terão maior capacidade de fazer transformação social. A outra é a sustentabilidade: se continuarmos tratando o planeta do jeito que estamos, não teremos cinco gerações para poder ocupar a Terra, e a universidade tem de trabalhar internamente essa questão. Meu objetivo é transformar os nossos câmpus em exemplo de sustentabilidade para transformarmos as cidades em que estamos, cuidado com a água, resíduos sólidos, produção de energia. A universidade precisa ser uma liderança na sociedade para convencer as pessoas que isso precisa ser feito, mas também precisamos dar as soluções. A USP precisa resolver o problema da transição energética, da produção agrícola respeitando o ambiente, parâmetros de reflorestamento. Uma universidade mais engajada com a recuperação do planeta e da nossa condição de vida.

Com a reforma tributária, o ICMS, de onde vem a maior parte do orçamento da USP, deixará de existir. O senhor se preocupa com o financiamento da universidade nos próximos anos? Como está essa negociação no governo?

Toda a sinalização que temos é de confiança. Tenho a palavra do governador. Ee falou que vai manter o financiamento e tem vontade até de colocar isso na Constituição Estadual. Provavelmente nos primeiros anos o Estado de São Paulo terá diminuição do valor arrecadado, de 4% a 7%, mas depois recupera. Não é que vamos diminuir nossa cota-parte. O bolo vai diminuir, e nossa parte também. Temos de ter algum dinheiro em caixa para esse período de mudança tributária. Mas, sinceramente, não estou muito preocupado.

O senhor enfrentou uma greve de alunos, longa, que expôs o problema da falta de professores na USP, que balanço o senhor faz?

Vejo algumas coisas tangíveis, como a demora de contratação de professores, mas também coisas que não conseguimos avaliar. Os alunos vieram de uma pandemia, ficaram anos sem frequentar o ambiente universitário. Eu via um desejo de participar de uma greve. Mesmo em cursos em que não falta professor, faziam greve solidária. Antecipamos a contratação de 2023 e 2024, mas isso não é totalmente bom. Porque, ao contratar um número grande de professores em curto período de tempo, você pode não fazer uma seleção muito boa. Já temos alguns alguns exemplos de concursos sem contratados porque ninguém se mostrou apto. Aí tem de começar o processo novamente, e demora. Mas tudo isso aconteceu porque a universidade ficou nove anos sem contratar. Perdemos o controle do orçamento. O tenho tentado convencer as pessoas é que daqui para frente precisamos de estabilidade, não podemos ter outra crise.

E a internacionalização da USP? Fala-se dela há anos, mas isso ainda é um desafio.

Uma grande modificação que fizemos em 2023 foi trazer laboratórios internacionais para USP: o Pasteur, o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. Vamos ter um laboratório com sete áreas do conhecimento, pesquisadores “full time” (período integral). Também o Max Planck, da Alemanha, que terá o instituto de saúde planetária, e vamos criar também um instituto USP-China. Isso leva a USP ao novo patamar de internacionalização, com laboratórios internacionais aqui na universidade. Não consigo mandar 90 mil alunos para o exterior, então trazemos esses laboratórios. Precisamos melhorar a barreira da língua, temos feito cursos tanto para nossos alunos saírem como para receberem estudantes do exterior. E também lancei para as unidades o desafio de ter uma pós-graduação toda em inglês. Na graduação é mais difícil, porque legalmente precisamos oferecer cursos em português, mas a pós é um caminho para atrair alunos de outros países. Em qualquer país que vou, vem essa pergunta: se meu aluno for lá, poderá fazer o curso em inglês? Já temos 130 disciplinas em inglês na pós-graduação, mas não cursos inteiros.

Aos 90 anos, a Universidade de São Paulo (USP) é fruto de seu passado glorioso, mas também tem um olhar crítico para o futuro. “Nós precisamos atrair o jovem para a universidade. Não dá para a gente achar que ensina de uma forma e não precisa mudar porque sempre deu certo”, diz o reitor, o médico neurocirurgião Carlos Gilberto Carlotti Junior, de 63 anos.

Ele fala sem medo que a USP “tem falhado” em formar professores para a escola pública e também afirma que já passou da hora de modernizar os currículos em todos os cursos. “Não basta mais ter um diploma para entrar no mundo do trabalho, mesmo um diploma da USP.”

Carlotti Junior também é defensor da inclusão na instituição como uma marca no caminho para o centenário. Em 2023, ele conseguiu aprovar que os concursos públicos para professor passem a ter cotas para pretos, pardos e indígenas, ampliando a política de ação afirmativa que já existia para alunos.

“Nossa função é formar lideranças em todas as áreas do conhecimento e as lideranças atuais precisam ter uma diversidade”, afirma. “Essa busca da diversidade precisa ser ativa. Não dá para esperar só os movimentos sociais fazerem uma modificação na estrutura econômica do País para depois chegar à universidade.”

Sua outra bandeira nesse aniversário da universidade é o meio ambiente. O reitor diz que seu objetivo é transformar o câmpus “em exemplo de sustentabilidade para transformar as cidades”, cuidando da água, dos resíduos e da produção de energia.

“A universidade precisa ser uma liderança na sociedade para convencermos as pessoas de que isso precisa ser feito, mas também precisamos dar as soluções. Uma universidade mais engajada com a recuperação do planeta e da nossa condição de vida.”

Veja os principais trechos da entrevista:

O reitor diz que seu objetivo é transformar o campus “em exemplo de sustentabilidade para transformar as cidades” Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O senhor acredita que a USP, 90 anos depois, mantém os princípios de quando foi criada, de formar lideranças para a sociedade?

Foi a sociedade que criou a USP, não foi o governo ou professores. Foram intelectuais representados por várias pessoas, como Julio de Mesquita Filho (que foi diretor do jornal O Estado de S. Paulo e inspirou a criação da USP). Somos uma universidade criada a partir da sociedade, o que se queria na época era formar líderes e isso continuamos até hoje. Nossa função é formar lideranças em todas as áreas do conhecimento, o que mudou foi que as lideranças atuais precisam ter uma diversidade, e não só ser homogênea, de determinado segmento da população. Essa busca da diversidade precisa ser ativa, precisa ter mecanismos para fazer isso, não dá para esperar só os movimentos sociais fazerem uma modificação na estrutura econômica do País para depois chegar à universidade.

Havia também a ideia de uma faculdade de ciências humanas, exatas e biológicas, numa espécie de curso básico com as áreas integradas pelo qual passariam todos os estudantes. Essa ideia, bem atual, não foi para frente. O que acha disso?

Sim, as áreas estavam juntas na faculdade e foram saindo: Física, Química, Psicologia. É algo natural, mas a tendência atual é de maior fusão, menor número de escolas e maior interdisciplinaridade. Você não consegue agora reverter movimentos históricos, mas perdemos a possibilidade de ter o que os americanos fazem bem. Talvez hoje nós tivéssemos um ensino que seria bastante moderno, com uma formação humana depois que você vai pra faculdade. Para mudar, precisa ser um plano a longo prazo, mas se fizermos isso poderemos ter um aluno com formação mais plural, mais preparado para enfrentar dificuldades na sua carreira profissional.

Há uma crítica com relação aos currículos da USP, que são ultrapassados, não atraem mais os jovens. O senhor concorda?

Sim, é uma preocupação. Fizemos um movimento para que todos os cursos apresentassem mudanças curriculares, diminuindo o tempo de sala de aula, com metodologias ativas de ensino, atividade de extensão na grade curricular. Estamos agora entendendo a devolutiva das unidades. Tenho insistido que precisamos atrair os jovens para a universidade, porque hoje muitas vezes ele prefere fazer um curso de extensão, um curso curto, de dois ou três meses, e já se colocar no mercado de trabalho. Isso é uma tendência, querem acelerar a formação.

Há resistência na universidade para essas mudanças?

Não é fácil. Temos resistências, pessoas que falam que fazem aquilo há 20 anos. Dizem: ‘ensino dessa forma e sempre deu certo, por que preciso mudar agora?’ Mas o mundo do trabalho mudou, as necessidades mudaram e se mantivermos o ensino anterior, não vai dar certo. Na área médica, se não tiver no currículo inteligência artificial, não consigo ser médico. Precisamos tornar o ensino mais ativo, o aluno precisa buscar mais o conhecimento porque ele não vai conseguir durante toda sua vida profissional ficar utilizando o conhecimento que ganhou na universidade. A gente não pode imaginar que vai ensinar Química para o aluno e ele ficar[a com aquilo a vida inteira.

O que precisa ter mais no currículo?

O aluno precisa de noções de empreendedorismo, de comunicação. Se o aluno não souber se comunicar, não consegue fazer nada no mundo profissional. Você precisa fazer com que o aluno saiba se expressar, mostre seu projeto, a sua perspectiva. “Não basta mais ter um diploma para entrar no mundo do trabalho, mesmo um diploma da USP. Ele (o diploma) te dá uma vantagem, mas as pessoas querem saber qual a habilidade você tem, se sabe trabalhar em grupo, interdisciplinarmente. Não é simples, não é um processo que em alguns meses vai resolver, mas estamos sendo insistentes.

'O aluno precisa de noções de empreendedorismo, de comunicação, se o aluno não souber se comunicar hoje, não consegue fazer nada no mundo profissional', diz o reitor Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Há também críticas com relação à formação de professores para a educação básica. Docentes formados pela USP vão, em sua maioria, para a escola particular e não para a pública, um objetivo desde a fundação da universidade.

Isso é uma coisa que temos falhado nos últimos anos, mas estamos melhorando as nossas licenciaturas. O último documento que falava sobre a formação de professores na USP era de 2004, fizemos uma renovação. Outro pedido que tenho feito é que as licenciaturas se aproximem do ensino médio. A formação na USP está fragmentada, especializada, e quando o professor presta concurso na escola pública, muitas vezes não preenche os requisitos. Um exemplo: quando vai contratar um professor de Ciências, ele precisa saber Química, Física, Ciências da Terra. Também já falei com o secretário da Educação que a secretaria não pode demorar muitos anos para abrir concurso porque se não eles vão para as escolas particulares. O Estado precisaria conseguir captar anualmente professores formados na universidade. Mas, a partir de 2024, 100% dos nossos alunos de licenciatura poderão ter bolsa da secretaria da educação para fazer estágios na rede. Falta atividade de acompanhamento de discussão, correção de prova, aulas práticas. nisso que os nossos alunos das licenciaturas vão ajudar. Eles não vão competir com os professores em sala de aula, mas fazer atividades complementares.

O senhor acredita que a sociedade reconhece as contribuições da USP para o País?

Vejo essa perspectiva de a universidade interagir, melhorar a sociedade. E já há várias formas em que fazemos isso: a formação de recursos humanos de excelência no País. Os alunos que formamos estão entre os melhores do mundo. Entregamos à sociedade 8 mil pessoas por ano bastante capacitadas, que passam a ocupar cargos. Temos vários exemplos de pesquisas que mudamos a condição de vida das pessoas. Se somos campeões da agricultura mundial, alimentando 1 bilhão de pessoas, isso se deve muito à Esalq (a escola de agricultura da USP), com trabalhos de recuperação de solo, em controle de pragas. Na Odontologia, EUA e Europa utilizam técnicas desenvolvidas aqui. É claro que sempre gostaríamos de ser mais reconhecidos. Acho que uma coisa que mudará nesse sentido é o Provão Paulista (novo exame de seleção das universidades estaduais paulistas, só para alunos da rede pública).

Como?

Mais de 1,2 milhão de alunos prestaram o Provão Paulista: 400 mil no 1º ano ano, 400 mil no 2º ano e 400 mil no 3º do ensino médio. Eles vão conhecer a USP, Unesp e Unicamp, saberão que são universidades públicas, sem mensalidade. Cada aluno tem família e, se cada uma tiver quatro pessoas, são 4 milhões de pessoas que conhecem a USP. Até hoje tínhamos 10% dos alunos de escola pública de São Paulo que prestavam a Fuvest. Estamos perdendo talentos.

Quais devem ser as prioridades na USP na próxima década para chegar aos 100 anos?

Investir em diversidade e sustentabilidade. Diversidade para trazermos pessoas que necessariamente não nasceram em famílias ricas e que terão maior capacidade de fazer transformação social. A outra é a sustentabilidade: se continuarmos tratando o planeta do jeito que estamos, não teremos cinco gerações para poder ocupar a Terra, e a universidade tem de trabalhar internamente essa questão. Meu objetivo é transformar os nossos câmpus em exemplo de sustentabilidade para transformarmos as cidades em que estamos, cuidado com a água, resíduos sólidos, produção de energia. A universidade precisa ser uma liderança na sociedade para convencer as pessoas que isso precisa ser feito, mas também precisamos dar as soluções. A USP precisa resolver o problema da transição energética, da produção agrícola respeitando o ambiente, parâmetros de reflorestamento. Uma universidade mais engajada com a recuperação do planeta e da nossa condição de vida.

Com a reforma tributária, o ICMS, de onde vem a maior parte do orçamento da USP, deixará de existir. O senhor se preocupa com o financiamento da universidade nos próximos anos? Como está essa negociação no governo?

Toda a sinalização que temos é de confiança. Tenho a palavra do governador. Ee falou que vai manter o financiamento e tem vontade até de colocar isso na Constituição Estadual. Provavelmente nos primeiros anos o Estado de São Paulo terá diminuição do valor arrecadado, de 4% a 7%, mas depois recupera. Não é que vamos diminuir nossa cota-parte. O bolo vai diminuir, e nossa parte também. Temos de ter algum dinheiro em caixa para esse período de mudança tributária. Mas, sinceramente, não estou muito preocupado.

O senhor enfrentou uma greve de alunos, longa, que expôs o problema da falta de professores na USP, que balanço o senhor faz?

Vejo algumas coisas tangíveis, como a demora de contratação de professores, mas também coisas que não conseguimos avaliar. Os alunos vieram de uma pandemia, ficaram anos sem frequentar o ambiente universitário. Eu via um desejo de participar de uma greve. Mesmo em cursos em que não falta professor, faziam greve solidária. Antecipamos a contratação de 2023 e 2024, mas isso não é totalmente bom. Porque, ao contratar um número grande de professores em curto período de tempo, você pode não fazer uma seleção muito boa. Já temos alguns alguns exemplos de concursos sem contratados porque ninguém se mostrou apto. Aí tem de começar o processo novamente, e demora. Mas tudo isso aconteceu porque a universidade ficou nove anos sem contratar. Perdemos o controle do orçamento. O tenho tentado convencer as pessoas é que daqui para frente precisamos de estabilidade, não podemos ter outra crise.

E a internacionalização da USP? Fala-se dela há anos, mas isso ainda é um desafio.

Uma grande modificação que fizemos em 2023 foi trazer laboratórios internacionais para USP: o Pasteur, o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. Vamos ter um laboratório com sete áreas do conhecimento, pesquisadores “full time” (período integral). Também o Max Planck, da Alemanha, que terá o instituto de saúde planetária, e vamos criar também um instituto USP-China. Isso leva a USP ao novo patamar de internacionalização, com laboratórios internacionais aqui na universidade. Não consigo mandar 90 mil alunos para o exterior, então trazemos esses laboratórios. Precisamos melhorar a barreira da língua, temos feito cursos tanto para nossos alunos saírem como para receberem estudantes do exterior. E também lancei para as unidades o desafio de ter uma pós-graduação toda em inglês. Na graduação é mais difícil, porque legalmente precisamos oferecer cursos em português, mas a pós é um caminho para atrair alunos de outros países. Em qualquer país que vou, vem essa pergunta: se meu aluno for lá, poderá fazer o curso em inglês? Já temos 130 disciplinas em inglês na pós-graduação, mas não cursos inteiros.

Aos 90 anos, a Universidade de São Paulo (USP) é fruto de seu passado glorioso, mas também tem um olhar crítico para o futuro. “Nós precisamos atrair o jovem para a universidade. Não dá para a gente achar que ensina de uma forma e não precisa mudar porque sempre deu certo”, diz o reitor, o médico neurocirurgião Carlos Gilberto Carlotti Junior, de 63 anos.

Ele fala sem medo que a USP “tem falhado” em formar professores para a escola pública e também afirma que já passou da hora de modernizar os currículos em todos os cursos. “Não basta mais ter um diploma para entrar no mundo do trabalho, mesmo um diploma da USP.”

Carlotti Junior também é defensor da inclusão na instituição como uma marca no caminho para o centenário. Em 2023, ele conseguiu aprovar que os concursos públicos para professor passem a ter cotas para pretos, pardos e indígenas, ampliando a política de ação afirmativa que já existia para alunos.

“Nossa função é formar lideranças em todas as áreas do conhecimento e as lideranças atuais precisam ter uma diversidade”, afirma. “Essa busca da diversidade precisa ser ativa. Não dá para esperar só os movimentos sociais fazerem uma modificação na estrutura econômica do País para depois chegar à universidade.”

Sua outra bandeira nesse aniversário da universidade é o meio ambiente. O reitor diz que seu objetivo é transformar o câmpus “em exemplo de sustentabilidade para transformar as cidades”, cuidando da água, dos resíduos e da produção de energia.

“A universidade precisa ser uma liderança na sociedade para convencermos as pessoas de que isso precisa ser feito, mas também precisamos dar as soluções. Uma universidade mais engajada com a recuperação do planeta e da nossa condição de vida.”

Veja os principais trechos da entrevista:

O reitor diz que seu objetivo é transformar o campus “em exemplo de sustentabilidade para transformar as cidades” Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O senhor acredita que a USP, 90 anos depois, mantém os princípios de quando foi criada, de formar lideranças para a sociedade?

Foi a sociedade que criou a USP, não foi o governo ou professores. Foram intelectuais representados por várias pessoas, como Julio de Mesquita Filho (que foi diretor do jornal O Estado de S. Paulo e inspirou a criação da USP). Somos uma universidade criada a partir da sociedade, o que se queria na época era formar líderes e isso continuamos até hoje. Nossa função é formar lideranças em todas as áreas do conhecimento, o que mudou foi que as lideranças atuais precisam ter uma diversidade, e não só ser homogênea, de determinado segmento da população. Essa busca da diversidade precisa ser ativa, precisa ter mecanismos para fazer isso, não dá para esperar só os movimentos sociais fazerem uma modificação na estrutura econômica do País para depois chegar à universidade.

Havia também a ideia de uma faculdade de ciências humanas, exatas e biológicas, numa espécie de curso básico com as áreas integradas pelo qual passariam todos os estudantes. Essa ideia, bem atual, não foi para frente. O que acha disso?

Sim, as áreas estavam juntas na faculdade e foram saindo: Física, Química, Psicologia. É algo natural, mas a tendência atual é de maior fusão, menor número de escolas e maior interdisciplinaridade. Você não consegue agora reverter movimentos históricos, mas perdemos a possibilidade de ter o que os americanos fazem bem. Talvez hoje nós tivéssemos um ensino que seria bastante moderno, com uma formação humana depois que você vai pra faculdade. Para mudar, precisa ser um plano a longo prazo, mas se fizermos isso poderemos ter um aluno com formação mais plural, mais preparado para enfrentar dificuldades na sua carreira profissional.

Há uma crítica com relação aos currículos da USP, que são ultrapassados, não atraem mais os jovens. O senhor concorda?

Sim, é uma preocupação. Fizemos um movimento para que todos os cursos apresentassem mudanças curriculares, diminuindo o tempo de sala de aula, com metodologias ativas de ensino, atividade de extensão na grade curricular. Estamos agora entendendo a devolutiva das unidades. Tenho insistido que precisamos atrair os jovens para a universidade, porque hoje muitas vezes ele prefere fazer um curso de extensão, um curso curto, de dois ou três meses, e já se colocar no mercado de trabalho. Isso é uma tendência, querem acelerar a formação.

Há resistência na universidade para essas mudanças?

Não é fácil. Temos resistências, pessoas que falam que fazem aquilo há 20 anos. Dizem: ‘ensino dessa forma e sempre deu certo, por que preciso mudar agora?’ Mas o mundo do trabalho mudou, as necessidades mudaram e se mantivermos o ensino anterior, não vai dar certo. Na área médica, se não tiver no currículo inteligência artificial, não consigo ser médico. Precisamos tornar o ensino mais ativo, o aluno precisa buscar mais o conhecimento porque ele não vai conseguir durante toda sua vida profissional ficar utilizando o conhecimento que ganhou na universidade. A gente não pode imaginar que vai ensinar Química para o aluno e ele ficar[a com aquilo a vida inteira.

O que precisa ter mais no currículo?

O aluno precisa de noções de empreendedorismo, de comunicação. Se o aluno não souber se comunicar, não consegue fazer nada no mundo profissional. Você precisa fazer com que o aluno saiba se expressar, mostre seu projeto, a sua perspectiva. “Não basta mais ter um diploma para entrar no mundo do trabalho, mesmo um diploma da USP. Ele (o diploma) te dá uma vantagem, mas as pessoas querem saber qual a habilidade você tem, se sabe trabalhar em grupo, interdisciplinarmente. Não é simples, não é um processo que em alguns meses vai resolver, mas estamos sendo insistentes.

'O aluno precisa de noções de empreendedorismo, de comunicação, se o aluno não souber se comunicar hoje, não consegue fazer nada no mundo profissional', diz o reitor Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Há também críticas com relação à formação de professores para a educação básica. Docentes formados pela USP vão, em sua maioria, para a escola particular e não para a pública, um objetivo desde a fundação da universidade.

Isso é uma coisa que temos falhado nos últimos anos, mas estamos melhorando as nossas licenciaturas. O último documento que falava sobre a formação de professores na USP era de 2004, fizemos uma renovação. Outro pedido que tenho feito é que as licenciaturas se aproximem do ensino médio. A formação na USP está fragmentada, especializada, e quando o professor presta concurso na escola pública, muitas vezes não preenche os requisitos. Um exemplo: quando vai contratar um professor de Ciências, ele precisa saber Química, Física, Ciências da Terra. Também já falei com o secretário da Educação que a secretaria não pode demorar muitos anos para abrir concurso porque se não eles vão para as escolas particulares. O Estado precisaria conseguir captar anualmente professores formados na universidade. Mas, a partir de 2024, 100% dos nossos alunos de licenciatura poderão ter bolsa da secretaria da educação para fazer estágios na rede. Falta atividade de acompanhamento de discussão, correção de prova, aulas práticas. nisso que os nossos alunos das licenciaturas vão ajudar. Eles não vão competir com os professores em sala de aula, mas fazer atividades complementares.

O senhor acredita que a sociedade reconhece as contribuições da USP para o País?

Vejo essa perspectiva de a universidade interagir, melhorar a sociedade. E já há várias formas em que fazemos isso: a formação de recursos humanos de excelência no País. Os alunos que formamos estão entre os melhores do mundo. Entregamos à sociedade 8 mil pessoas por ano bastante capacitadas, que passam a ocupar cargos. Temos vários exemplos de pesquisas que mudamos a condição de vida das pessoas. Se somos campeões da agricultura mundial, alimentando 1 bilhão de pessoas, isso se deve muito à Esalq (a escola de agricultura da USP), com trabalhos de recuperação de solo, em controle de pragas. Na Odontologia, EUA e Europa utilizam técnicas desenvolvidas aqui. É claro que sempre gostaríamos de ser mais reconhecidos. Acho que uma coisa que mudará nesse sentido é o Provão Paulista (novo exame de seleção das universidades estaduais paulistas, só para alunos da rede pública).

Como?

Mais de 1,2 milhão de alunos prestaram o Provão Paulista: 400 mil no 1º ano ano, 400 mil no 2º ano e 400 mil no 3º do ensino médio. Eles vão conhecer a USP, Unesp e Unicamp, saberão que são universidades públicas, sem mensalidade. Cada aluno tem família e, se cada uma tiver quatro pessoas, são 4 milhões de pessoas que conhecem a USP. Até hoje tínhamos 10% dos alunos de escola pública de São Paulo que prestavam a Fuvest. Estamos perdendo talentos.

Quais devem ser as prioridades na USP na próxima década para chegar aos 100 anos?

Investir em diversidade e sustentabilidade. Diversidade para trazermos pessoas que necessariamente não nasceram em famílias ricas e que terão maior capacidade de fazer transformação social. A outra é a sustentabilidade: se continuarmos tratando o planeta do jeito que estamos, não teremos cinco gerações para poder ocupar a Terra, e a universidade tem de trabalhar internamente essa questão. Meu objetivo é transformar os nossos câmpus em exemplo de sustentabilidade para transformarmos as cidades em que estamos, cuidado com a água, resíduos sólidos, produção de energia. A universidade precisa ser uma liderança na sociedade para convencer as pessoas que isso precisa ser feito, mas também precisamos dar as soluções. A USP precisa resolver o problema da transição energética, da produção agrícola respeitando o ambiente, parâmetros de reflorestamento. Uma universidade mais engajada com a recuperação do planeta e da nossa condição de vida.

Com a reforma tributária, o ICMS, de onde vem a maior parte do orçamento da USP, deixará de existir. O senhor se preocupa com o financiamento da universidade nos próximos anos? Como está essa negociação no governo?

Toda a sinalização que temos é de confiança. Tenho a palavra do governador. Ee falou que vai manter o financiamento e tem vontade até de colocar isso na Constituição Estadual. Provavelmente nos primeiros anos o Estado de São Paulo terá diminuição do valor arrecadado, de 4% a 7%, mas depois recupera. Não é que vamos diminuir nossa cota-parte. O bolo vai diminuir, e nossa parte também. Temos de ter algum dinheiro em caixa para esse período de mudança tributária. Mas, sinceramente, não estou muito preocupado.

O senhor enfrentou uma greve de alunos, longa, que expôs o problema da falta de professores na USP, que balanço o senhor faz?

Vejo algumas coisas tangíveis, como a demora de contratação de professores, mas também coisas que não conseguimos avaliar. Os alunos vieram de uma pandemia, ficaram anos sem frequentar o ambiente universitário. Eu via um desejo de participar de uma greve. Mesmo em cursos em que não falta professor, faziam greve solidária. Antecipamos a contratação de 2023 e 2024, mas isso não é totalmente bom. Porque, ao contratar um número grande de professores em curto período de tempo, você pode não fazer uma seleção muito boa. Já temos alguns alguns exemplos de concursos sem contratados porque ninguém se mostrou apto. Aí tem de começar o processo novamente, e demora. Mas tudo isso aconteceu porque a universidade ficou nove anos sem contratar. Perdemos o controle do orçamento. O tenho tentado convencer as pessoas é que daqui para frente precisamos de estabilidade, não podemos ter outra crise.

E a internacionalização da USP? Fala-se dela há anos, mas isso ainda é um desafio.

Uma grande modificação que fizemos em 2023 foi trazer laboratórios internacionais para USP: o Pasteur, o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. Vamos ter um laboratório com sete áreas do conhecimento, pesquisadores “full time” (período integral). Também o Max Planck, da Alemanha, que terá o instituto de saúde planetária, e vamos criar também um instituto USP-China. Isso leva a USP ao novo patamar de internacionalização, com laboratórios internacionais aqui na universidade. Não consigo mandar 90 mil alunos para o exterior, então trazemos esses laboratórios. Precisamos melhorar a barreira da língua, temos feito cursos tanto para nossos alunos saírem como para receberem estudantes do exterior. E também lancei para as unidades o desafio de ter uma pós-graduação toda em inglês. Na graduação é mais difícil, porque legalmente precisamos oferecer cursos em português, mas a pós é um caminho para atrair alunos de outros países. Em qualquer país que vou, vem essa pergunta: se meu aluno for lá, poderá fazer o curso em inglês? Já temos 130 disciplinas em inglês na pós-graduação, mas não cursos inteiros.

Entrevista por Renata Cafardo

Repórter especial do ‘Estadão’ e fundadora da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca)

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