A diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, Regina Scarpa, diz ser “doloroso” ver o caso de racismo ocorrido no colégio com a filha da atriz Samara Filippo virar um “Fla-flu” nas redes sociais. “Uma questão tão séria e profunda sendo tratada como se estivéssemos em um debate público sobre expulsar ou não expulsar”, afirmou ao Estadão, em entrevista exclusiva em que detalha o episódio e como a escola atuou no processo.
Desde que o caso se tornou público no começo da semana, o Vera Cruz vinha se manifestando por meio de notas. Ao saber do que tinha acontecido, ela diz que a escola acolheu a vítima e tratou o assunto em todas as salas, nomeando como racismo e classificando como uma situação “impensável”, “abjeta” e “horrorosa”.
A diretora considera “inaceitável” a afirmação de Samara de que o caso de preconceito racial demostra que projeto antirracista da escola não tem funcionado. O Vera Cruz foi pioneiro em uma política, que inclui mudança de currículos, contratação de profissionais negros e bolsas para alunos, e inspirou outros colégios particulares. “Não nos parece correto que a mãe da vítima, sem conhecer o projeto e nem nunca dele ter participado, afirme publicamente que ele ‘falha miseravelmente’.”
“Ela tem declarado em entrevistas e nas redes sociais que sua filha vinha sendo vítima de constantes agressões, o que nunca foi trazido ao conhecimento da escola, nem por ela, nem por sua filha”, completa Regina, dizendo que houve somente um caso, há dois anos, que foi “bastante cuidado”.
Ela ainda sustenta que a escola não expulsou as meninas responsáveis pelo racismo porque isso seria “a sanção mais extrema que pode ser adotada” quando se deixa de acreditar “na possibilidade de transformação dos sujeitos envolvidos ou na possibilidade de cura da vítima”.
Mas que isso não quer dizer, segundo a educadora, que as alunas não tenham entendido a seriedade do que fizeram. “Apesar da dor, e não haverá combate ao racismo sem dor, com o passar do tempo, o fato poderia ser visto como uma grande lição e aprendizado para todos, inclusive para a vítima, agressoras e famílias“, afirma. “Tenho a certeza de que estamos formando uma geração antirracista. Há muito por fazer, mas os avanços são visíveis.”
Como a escola soube do caso de racismo?
A informação foi trazida inicialmente à professora pela própria aluna que sofreu a violência, no momento em que abriu seu caderno. É muito importante destacar esse ponto, pois revela que a aluna percebe a escola como um ambiente seguro no qual os conflitos vividos encontram lugar de acolhimento, reflexão e reparação. Por considerar o episódio bastante sério, a professora imediatamente acionou a orientadora e o coordenador, que passaram a conduzir o caso.
A própria aluna usou desde o início a palavra “racismo” para descrever o que tinha sofrido, palavra que foi usada por todos da escola ao se referirem publicamente sobre o caso, desde o primeiro momento. Esses fatos são também muito relevantes, pois indicam que a aluna reconhece que o combate ao racismo, para além do tratamento de conflitos vividos pelos alunos, tem lugar efetivo no cotidiano escolar. E que escola tem escuta consequente e confronta as situações de discriminação e violência racistas.
Como a escola atuou nos dias seguintes com a vítima, as duas meninas envolvidas na agressão, e suas famílias?
Desde o primeiro momento, a aluna foi acolhida, podendo relatar o que ocorreu, presenciando muitas das ações subsequentes e sendo acompanhada pela orientadora durante aquela manhã e as seguintes. A ação de acolhimento é, sempre, a primeira medida adotada pela escola diante de toda e qualquer situação de agressão racista. Em seguida, na mesma manhã, orientadora e coordenador passaram em todas as salas do 9º ano para relatar aos alunos que havia ocorrido uma situação de violência racista, expressamente adjetivada de “impensável”, “abjeta”, “horrorosa”, e que nós esperávamos que os responsáveis se apresentassem para que pudessem assumir a responsabilidade pelo que haviam feito. Dissemos que confiávamos que isso ia acontecer e que esperávamos não receber nenhuma denúncia. Informamos que aguardaríamos até o fim da manhã seguinte e que até lá a viagem de estudo do meio, que seria em maio, estaria suspensa, podendo ser cancelada caso os agressores não se manifestassem.
Em seguida, escrevemos um e-mail à família da aluna que fora vítima da agressão, informando que estávamos tomando providências sobre o caso e que pretendíamos nos reunir com ela em breve. Acompanhamos a aluna na saída e fizemos duas conversas com a mãe dela, no mesmo dia. Enviamos comunicado a todas as famílias do 9º ano pedindo que conversassem com seus filhos e filhas sobre uma grave situação de agressão racista vivida naquela série.
Antes mesmo de essa mensagem chegar a todas as famílias já começamos a receber contatos das mães das duas alunas envolvidas na agressão, que tinham assumido para elas o que haviam feito. Graças à ação da escola, as alunas efetivamente se apresentaram, primeiro em casa, depois diante da escola, para se responsabilizarem. A partir desse momento, passamos também a nos comunicarmos com as famílias das alunas agressoras, que foram convocadas para reuniões, com as filhas. As três alunas foram acompanhadas de perto pela orientadora e pela equipe de professores, enquanto fazíamos a apuração do caso. Nesses dois dias, os contatos com as famílias das alunas envolvidas foram muitos, seja presencialmente, seja por e-mail.
A escola mediou um encontro entre a vítima e as outras alunas envolvidas? Foi um pedido da vítima? E por que isso foi considerado importante?
Nem sempre um encontro entre todos os sujeitos envolvidos em uma situação de agressão racista é possível, ainda que seja sempre o desejável, sobretudo em se tratando de uma escola, se o que se busca é a construção das possibilidades de convivência entre todos. Racismo, assim como antirracismo, é relação. Sabemos também que esse encontro às vezes pode se dar logo depois do ocorrido, às vezes exige mais tempo. Neste caso, o encontro entre as alunas foi um pedido quase simultâneo das três envolvidas, tendo sido formulado primeiro pela aluna que foi vítima da situação. Na escola, o encontro entre alunos que se envolvem em conflitos de diversas naturezas é sempre realizado com a mediação de profissionais experientes e qualificados. Ele é compreendido como aspecto central de um projeto que se propõe a não silenciar sobre o racismo, a nomeá-lo, a expressar os sentimentos e cuidar deles. De um lado, queremos fortalecer o aluno ou aluna que foi vítima de discriminação racial, que tem o que dizer aos outros e cuja indignação precisa ser expressa e ouvida. Do outro, pretendemos colaborar para o surgimento e a manifestação da vergonha e do arrependimento, sentimentos absolutamente fundamentais na construção da personalidade moral, importante processo vivido por crianças e adolescentes. O objetivo da escola é sempre buscar alternativas de reparação e avanços na qualidade humana e ética das relações interpessoais e, neste caso, avaliamos que era exatamente o que podia e o que precisava ocorrer.
Por que a escola decidiu pela suspensão e não pela expulsão das alunas?
Quando consideramos que a maior parte da apuração sobre o caso já havia podido ocorrer, tomamos as primeiras medidas de sanção, entendendo que ainda havia mais a apurar. Comunicamos às alunas envolvidas e a suas famílias as medidas, que foram a proibição de participação na viagem de estudo do meio, que é um dos eventos mais importantes e aguardados pelos alunos na conclusão do ensino fundamental. Além disso, uma suspensão imediata, por tempo indeterminado, que tinha como objetivo a proteção da vítima e das alunas responsáveis pela agressão, que já estavam plenamente conscientes do que tinham feito. Desde o primeiro momento, comunicamos às famílias das três alunas que, a depender do que ainda fosse apurado, outras sanções poderiam ser adotadas. Informamos também que estávamos construindo o que proporíamos como medidas de reparação. A apuração ágil e cuidadosa do caso permitiu fazer com que as primeiras medidas de sanção fossem adotadas e publicadas em apenas dois dias desde que recebemos a notícia do ocorrido.
A convivência e a construção permanente das relações são o melhor ecossistema para promoção das aprendizagens e das transformações que almejamos ao construirmos e mantermos um projeto de educação para as relações raciais. E isso não significa fechar os olhos para as dificuldades que as vítimas encontrarão muitas vezes para conviver com aqueles que perpetraram agressões. Significa, sim, entender a complexidade com que o racismo estrutura a nossa sociedade e se manifesta.
A expulsão é a sanção mais extrema que pode ser adotada pela escola e é uma opção quando deixamos de acreditar, pelas condições contextuais de cada caso, na possibilidade de transformação dos sujeitos envolvidos ou na possibilidade de cura da vítima diante da maneira como a ação sofrida a atingiu. Para chegarmos a essa decisão, o que é mais central em todo esse processo, é o contato profundo e verdadeiro que temos com os sujeitos das ações: os adolescentes envolvidos diretamente. Essas situações são enormemente complexas e muito difíceis para pessoas que, nas escolas, tomam decisões não apenas sobre os casos que se apresentam, mas sobre todo o processo formativo que os alunos e as alunas vivem na instituição.
Como a escola tem lidado com o assédio e as críticas sobre a forma como tem atuado no caso? Há acusações de que a escola esteja protegendo as alunas que praticaram racismo.
O primeiro a dizer sobre isso é que a dor da vítima é nossa também; que a dor da mãe é nossa também. Em segundo lugar, é preciso afirmar que lamentamos a exposição pública do caso, envolvendo menores de idade, pois a melhor maneira de cuidar de tudo isso é protegendo e envolvendo plenamente as alunas e suas famílias, bem como entendendo de que maneiras o caso deve ser tratado com os demais alunos da escola.
Quanto ao assédio dos veículos de comunicação, salvo raras e honrosas exceções, do nosso ponto de vista, o episódio foi tratado de maneira parcial e superficial. A exposição midiática de um caso que mobiliza questões tão profundas coloca as alunas em risco e isso é muito sério. É um tanto doloroso para uma escola ver que uma questão tão séria e profunda tenha sido reduzida a um caso de redes sociais, ambiente avesso à complexidade, e onde o que sempre importa é o aumento da aprovação ou desaprovação, os comentários de qualquer pessoa, os cancelamentos. Doloroso ainda ver a questão tratada como se estivéssemos em um debate público, que nada considera a respeito de nenhum dos sujeitos em formação diretamente envolvidos, vítimas ou agressores, sobre expulsar ou não expulsar. Sofre o Vera Cruz, mas sofrem também todas as escolas ao verem seu trabalho sério reduzido a um “Fla-flu” de redes sociais.
O que nos mantém coesos e serenos é a certeza de que por mais difíceis que sejam as situações vividas e por maiores que sejam as pressões externas, não renunciamos a nossos princípios educacionais e continuamos acreditando na transformação de todos para a construção de relações mais humanas e amorosas. Temos também a segurança de que estamos formando novas gerações de cidadãos antirracistas capazes de fundamentar e sustentar suas convicções. Há muito por fazer, mas os avanços são muito visíveis.
Temos o dever de proteger todos os nossos alunos e alunas, em quaisquer situações. Nesta semana por exemplo, protegemos do assédio da mídia sobretudo a aluna que foi vítima da agressão. Protegê-la de novas situações de violência racial, assim como a todos os nossos alunos negros, é aquilo que nos compete enquanto escola que desenvolve um projeto de educação antirracista.
Proteger as alunas agressoras significa garantir todas as condições para que elas entrem efetivamente em contato com a seriedade do que fizeram e assumam suas responsabilidades. A execração pública não diz respeito a essas intenções. Cuidar para que elas possam realmente fazer isso é tarefa precípua de uma escola que merece ser chamada de escola.
Há quem sustente (inclusive a mãe da vítima, Samara Felippo) que a política antirracista da escola não tem funcionado e o caso seria um exemplo disso.
Infelizmente é ingênua a suposição de que uma escola que se propõe a um programa de educação antirracista estará automaticamente livre do racismo, ao contrário torna-se o ambiente onde as manifestações racistas podem ser nomeadas e não silenciadas, onde os agredidos encontram espaço de proteção e, o que é mais importante, de autoafirmação racial e de fortalecimento para enfrentar essas situações.
Desde o início fomos solidários com a dores de todos, em particular das adolescentes e de suas famílias. Por outro lado, não nos parece correto que a mãe da vítima, sem conhecer o projeto e nem nunca dele ter participado, afirme publicamente que ele “falha miseravelmente”. É uma afirmação inaceitável.
Cida Bento, em entrevista ao Estadão, disse que instituições que têm políticas de equidade, como o Vera Cruz, precisam também olhar para os ressentimentos que podem ser causados nas pessoas brancas. Acha que a escola teve esse olhar?
Aqui no Vera, a ampliação da diversidade racial e a criação de um projeto de educação antirracista foi uma demanda da própria comunidade de famílias e educadores. Mesmo assim, nos defrontamos muitas vezes com afirmações desse tipo “Vocês estão monotemáticos!”, “De novo a História da África e dos Povos Originários?”. Respondemos que não se trata apenas de um tema, mas de diretrizes curriculares ancoradas na legislação brasileira e nas diretrizes da ONU, da UNESCO e do UNICEF. Temos um projeto de educação antirracista e sempre abrimos as reuniões com famílias levando notícias de seu andamento.
Lutar por uma educação para as relações raciais numa escola majoritariamente branca que pertence a uma sociedade racista, além de nos colocar em confronto com a nossa própria educação, exige dos educadores um estado permanente de alerta e de estudo. Por isso, o diálogo com ativistas e organizações negras, como o Instituto Luiz Gama, e intelectuais como Cida Bento assim como Sueli Carneiro, Ednéia Gonçalves, Lia Wainer Schucman, Silvio Almeida, Denise Carreira dentre tantos outros, têm sido excelentes professores iluminando nosso percurso de ampliação do letramento racial.
Como esse caso está sendo trabalhado com os alunos de outras salas, com professores e outros funcionários?
Graças à mobilização da comunidade e da escola, a grande repercussão do caso tem contribuído para a ampliação das reflexões sobre o racismo e, principalmente, sobre as abordagens educacionais para a construção de uma sociedade antirracista. Tanto as famílias e seus diversos grupos de discussão quanto as salas de aula puderam exercer a crítica ao tratamento midiático dado ao episódio quanto manifestar suas posições e se confrontar mais uma vez com a imensa complexidade do tema e a urgência de enfrentá-lo como escola e sociedade.
Todas as turmas de 6º ano à 3º ano do ensino médio puderam discutir o caso com os respectivos orientadores. Além disso, fizemos hoje mesmo uma reunião de um grupo de alunos do 8º ano, que chamamos de Grupo Guardião da Diversidade, em que o caso foi discutido. O tema fundamental mais uma vez foi a construção do projeto de educação para as relações raciais da escola e o que está nas nossas mãos fazer para construir uma sociedade cada vez mais livre do racismo. É impressionante e emocionante entrar em contato com o que nossos alunos já são capazes de dizer e de pensar sobre isso.
Com as equipes, em todos os segmentos, o caso vem sendo abordado desde a última semana, na perspectiva da formação continuada de todos. Além disso, a equipe também é diversa, também é capaz de, reconhecendo e praticando os princípios da escola, expressar discordâncias entre si, fazer perguntas, chamar a atenção uns dos outros para aspectos não levados em consideração por uma ou outra manifestação. Tudo isso é riquíssimo para o fortalecimento do projeto e para que todos possam entender de que maneiras abordar tudo isso com os alunos.
O que acha da decisão das famílias das duas alunas envolvidas na agressão de saírem da escola?
A educação é a principal ferramenta de combate ao racismo estrutural. E não sou eu quem está dizendo isso. Essa é a conclusão do 3º Fórum de Pessoas Afrodescendentes da ONU, composto pelas maiores lideranças negras de todo o mundo, ocorrido no mês passado. As escolas, por meio de seus currículos eurocentrados, ensinaram aos negros que os brancos são superiores. Pouco se ensina nas escolas sobre o papel dos países colonizadores no processo de escravização e os danos históricos dele decorrentes. O Vera tem desenvolvido um projeto sistêmico de educação para as relações étnico-raciais. Acreditamos que teria sido importante a permanência das alunas para que o resultado fosse o fortalecimento e engajamento de todas na luta antirracista; são alunas de 14 anos em pleno processo de formação.
Apesar da dor, e não haverá combate ao racismo sem dor, com o passar do tempo o fato poderia ser visto como uma grande lição e aprendizado para todos, inclusive para a vítima, agressoras e famílias. Com a saída das alunas, vejo com tristeza o impedimento do trabalho da escola e, como resultado, uma experiência de ressentimentos, de ódio e de separação entre as pessoas. No entanto, com toda a exposição midiática do caso, embora lamente, compreendo e respeito a decisão das famílias.
A atriz Samara Felippo disse que a filha já tinha sofrido racismo no Vera Cruz em outras ocasiões. Isso é verdade?
O único caso de que temos registro ocorreu em 2022 quando a aluna cursava o 7º ano. Em setembro daquele ano, algumas meninas se reuniram na casa de uma delas e aconteceu de um carregador de celular sumir. As envolvidas eram outras alunas. O caso foi trazido para dentro da escola e bastante cuidado por nós. A aluna envolvida sofreu sanções e a colega acusada de maneira injusta foi devidamente acolhida. Desde então, não tivemos mais conhecimento de nenhuma situação de violência racial vivida pela aluna, e nem praticada pelas mesmas colegas que, então, arcaram com suas responsabilidades.
Qual o perfil das alunas envolvidas, eram reincidentes em algum tipo de problema ou agressão?
Primeiramente, as alunas envolvidas são adolescentes de 14 anos e, como tais, já viveram, evidentemente, situações de conflito com colegas. Isso não as caracteriza distintivamente em relação a nenhum outro adolescente, pois são todas vivências típicas dessa faixa etária. Não temos notícia de qualquer situação em que tenham se envolvido antes dessa que tivesse a mínima relação com atitudes racistas por parte delas. A mãe da aluna que foi vítima dessa agressão tem declarado em entrevistas e nas redes sociais que sua filha vinha sendo vítima de constantes agressões, o que nunca foi trazido ao conhecimento da escola, nem por ela, nem por sua filha.
Como acredita que a escola vai sair desse episódio?
Como disse Cida Bento, em entrevista a este jornal, não é assistindo a palestras que se dá o letramento racial da comunidade escolar, mas, sim, com cada um se defrontando com seu próprio racismo, quando a instituição diminui o racismo institucional e aumenta a convivência interracial. Toda situação dilemática nos coloca numa posição muito difícil de escolha e nos interroga em relação aos nossos valores. Não é uma simples questão de opinião.
No Brasil, infelizmente, a educação tem sido uma área muito desprestigiada, os professores pouco valorizados e o saber e a autoridade da escola continuamente atacados no encaminhamento dos mais diferentes temas. Todos querem decidir o que as escolas têm que fazer. Precisamos ser respeitados em nossa profissionalidade, em nossos conhecimentos específicos adquiridos com muito estudo, em nossas dezenas de anos dedicados a sustentar projetos pedagógicos e educacionais.
Certamente a escola já está saindo mais fortalecida desse doloroso processo. Nesta semana mais de 100 famílias se organizaram de forma autônoma para discutir coletivamente as situações de racismo, num encontro emocionante. Também me surpreendi com a profundidade das relações que os alunos foram capazes de estabelecer quando indagados sobre o papel das escolas na perpetuação do racismo estrutural. Tenho a certeza de que estamos formando uma geração antirracista.
A escola foi procurada pelo Ministério Público ou outros órgãos da Justiça a respeito de eventuais ações movidas pela mãe? Há algum tipo de acusação formal contra a escola?
Não há acusação quanto à conduta da escola que, desde o começo, foi muito diligente na condução do caso. Fomos procurados pela delegacia de polícia para. esclarecimentos sobre o inquérito instaurado pelo registro de um boletim de ocorrência. Este BO foi declarado à delegacia de polícia pela mãe da aluna na própria segunda-feira, dia em que tomamos conhecimento dos fatos e que a tornamos ciente de que a escola já havia acolhido sua filha, tomado as primeiras decisões de maneira imediata e severa e de que apenas iniciava a apuração dos fatos e a identificação dos responsáveis.