O Fundo Patrimonial da Universidade de São Paulo (USP) recebe doações de pessoas de dentro ou fora da comunidade universitária, investe os valores obtidos e destina os rendimentos a iniciativas para o fortalecimento da USP. Recentemente, um professor de Antropologia da universidade, Stelio Marras, fez a maior doação que o fundo já recebeu, de R$ 25 milhões.
Além dele, oito doadores já contribuíram com um valor total de R$ 34 milhões. Somados à doação de Marras, os repasses atingem R$ 59 milhões direcionados para a mais importante instituição de ensino superior da América Latina, que completou 90 anos em 2024.
A maioria dos doadores tem relação próxima da USP, como ex-alunos, professores ou conselheiros do Fundo Patrimonial.
A doação de Marras foi para um subfundo, o USP Diversa, específico para bancar bolsas de permanência estudantil para alunos egressos do ensino público e PPI (pretos, pardos e indígenas) em situação de vulnerabilidade socioeconômica. O objetivo é permitir que esses estudantes possam se dedicar aos estudos e concluir a graduação no tempo ideal do curso.
O antropólogo afirma que divulgou sua contribuição para estimular que outros façam doações do tipo. O Fundo Patrimonial da USP informa que, após a doação de Marras, outras três pessoas - sendo um professores e duas pessoas de fora da comunidade universitária - já procuraram a universidade para fazerem doações.
Veja quem são os doadores do Fundo Patrimonial da USP:
José Luiz Setúbal
Também herdeiro e acionista do Itaú, é médico e tem residência em Pediatria pela Faculdade de Medicina de USP. É presidente e instituidor da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, vice-presidente do Instituto PENSI e presidente do conselho da Associação Fundo Areguá. É também conselheiro do Fundo Patrimonial da universidade.
Também atua como membro titular da Academia Brasileira de Pediatria e como conselheiro em várias instituições: Fundação Tide Setúbal; Instituto de Ensino e Pesquisa Alberto Santos Dumont; Associação Paulista de Fundações; Instituto Gerando Falcões; e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Neca Setúbal
Formada em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política pela USP, Maria Alice Setúbal, mais conhecida como Neca, é também doutora em Psicologia da Educação. Autora de diversas obras voltadas à área educacional, ganhou o Prêmio Jabuti em 2006 com o livro Cortes e Recortes da Terra Paulista na categoria “didático ou paradidático do ensino fundamental e médio”.
Foi professora e também coordenadora de Educação para América Latina e Caribe pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Além disso, é herdeira e acionista do Itaú Unibanco.
Atualmente, faz parte do Conselho Consultivo da USP e é conselheira em diversas entidades, como: Fundação Padre Anchieta, Fundação Itaú; Conselho do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp; Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec Educação); Conselho Estratégico Universidade Sociedade da Unifesp; LiveLab; Museu da Favela; Pacto de Promoção pela Equidade Racial; Instituto Identidades do Brasil (IDBR); Fórum Setúbal; e Fundação José Luiz Egydio Setubal.
Celso Lafer
Professor emérito da USP, é formado pela Faculdade de Direito da universidade conselheiro do Fundo Patrimonial. Também faz parte da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras.
Foi ministro das Relações Exteriores e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e embaixador do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e junto às Nações Unidas. Também já presidiu a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Lafer diz que a universidade precisa de apoio mais abrangente, para além de um projeto específico com o setor privado, e que a USP deve ter também um fundo como hoje têm as grandes universidades no mundo.
Atualmente, ele preside o Conselho do Museu Lasar Segall e o Conselho da Fundação Fernando Henrique Cardoso, além de integrar o Conselho de Administração da Klabin.
Candido e Teresa Bracher
Candido Bracher é banqueiro, ex-presidente do Itaú, e Teresa é ambientalista e criadora da Casa do Coração - ACTC (Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração), que atende crianças e adolescentes com cardiopatia grave, oferecendo hospedagem, alimentação e atendimento para não residentes em São Paulo.
Ela é ainda fundadora do Documenta Pantanal e do Instituto Taquari Vivo e integra o conselho do Instituto Acaia, SOS Pantanal, Associação Onçafari e Acaia Pantanal.
O casal é dono de algumas fazendas da Aliança 5P, grupo que busca conservar o Pantanal e formar um dos maiores corredores privados de vida selvagem do planeta por meio da aquisição de propriedades na região.
Cristiane Sultani
Idealizadora e presidente do Conselho de Administração do Instituto Beja (entidade de filantropia para fins sociais e ambientais), é conselheira do Fundo Patrimonial da universidade e realizou o primeiro aporte do USP Diversa, no valor de R$ 5 milhões.
Cristiane Sultani foi convidada pela cantora Marisa Monte, embaixadora do programa, a pensar no Programa USP Diversa.
Jayme Garfinkel
Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP, é filho do fundador da Porto Seguro. Esteve à frente da empresa por 47 anos, como diretor-presidente e presidente do Conselho de Administração, e hoje é acionista controlador do Grupo Porto Seguro.
Atua como presidente da ONG educacional Associação Crescer Sempre e do conselho do Instituto Ação pela Paz, que trabalha para a melhoria do Sistema Prisional com foco na redução da reincidência criminal.
Família Tassinari
A Família Tassinari é dona da Morlan, metalúrgica fundada por Pedro Tassinari, engenheiro químico formado pela Poli. Alguns de seus filhos e netos também estudaram na universidade.
Segundo Eduardo Tassinari, filho do fundador da empresa, a escolha pelo USP Diversa foi com o objetivo de dar suporte a um instrumento efetivo de inclusão social.
Stelio Marras
O maior doador do Fundo Patrimonial é professor de antropologia da USP, que se formou desde a graduação até o doutorado na universidade. Ele recebeu um imóvel em Poços de Caldas (MG) de herança, com valor estimado de R$ 25 milhões, o qual deixou para a sua alma mater. Ele inaugurou a área de Antropologia da Ciência e da Tecnologia na USP.
Sergio Comolatti
É presidente do Conselho de Administração do Grupo Comolatti, um dos mais tradicionais grupos empresariais do setor automativo do País, que ele comandou por cerca de três décadas. Ele também preside o Instituto Comolatti.
Como funciona a doação para o Fundo Patrimonial da USP?
É possível doar imóveis, dinheiro, carros, joias, obras de arte e itens de valor cultural e histórico, como livros, manuscritos, instrumentos musicais, entre outros.
Para participar, um contato é oferecido por meio do site do programa: https://uspfundopatrimonial.org.br/
Segundo o Monitor de Fundos Patrimoniais do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), no Brasil, existem cerca de 107 fundos ativos, boa parte pertencente a universidades.
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Juntos, os fundos somam pelo menos R$ 157 bilhões. No mundo, o valor administrado por fundos patrimoniais chega a US$ 1,5 trilhão, segundo estudo da Fundação Dom Cabral.
Os endowments, como são chamados esses fundos nos Estados Unidos, são responsáveis por grande parte do financiamento das maiores universidades americanas, entre elas Harvard, Princeton, Stanford e Yale.