Enem: gabarito oficial confirma visão preconceituosa em questões sobre agronegócio e competitividade


Especialistas veem viés ideológico; parlamentares chegaram a pedir a anulação das perguntas, mas medida foi descartada pelo Inep

Por Redação
Atualização:

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou nesta terça-feira, 14, o gabarito oficial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com as respostas de todas as questões, incluindo as perguntas que abordaram o agronegócio e a competitividade econômica e que foram alvo de críticas do setor e de especialistas. Para economistas e educadores, as respostas consideradas certas, embora já fossem esperadas, confirmam a abordagem preconceituosa e enviesada contra dois pilares importantes para o desenvolvimento do País.

A questão sobre o agronegócio dizia que no Cerrado o “conhecimento local” está subordinado “à lógica do agronegócio” e que o “capital impõe conhecimentos biotecnológicos” que trazem consequências negativas para a população do campo. O trecho faz parte de um artigo publicado na Revista de Geografia da Universidade Estadual de Goiás. De acordo com os elementos descritos no texto, a respeito da territorialização da produção, o candidato tinha as seguintes opções para assinalar:

  • A - cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida.
  • B - descaso aos latifundiários, impactando a plantação de alimentos para a exportação.
  • C - desprezo ao assalariado, afetando o engajamento dos sindicatos para o trabalhador.
  • D - desrespeito aos governantes, comprometendo a criação de empregos para o lavrador.
  • E - assédio ao empresariado, dificultando o investimento de maquinários para a produção.
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A resposta correta divulgada pelo Inep nesta terça-feira é A: “cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida”, classificando, portanto, o agronegócio como algo ruim para a população local. Para os especialistas, tecnicamente a resposta assinalada deveria ser essa porque o aluno era obrigado a se ater ao que era trazido no texto e no enunciado, mas a abordagem, dizem, é preconceituosa.

“Fica explícito o preconceito com o agronegócio. É preciso observar que a pergunta se refere ao que está escrito no texto e não à opinião do aluno. Pode-se dizer que há preconceito? Sim, mas na seleção do texto, não na pergunta. A pergunta pede que o aluno identifique o que está escrito”, afirma a presidente do Instituto Singularidades e ex-diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 Foto: Reprodução
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Para o engenheiro agrônomo João José Demarchi, pesquisador da Secretaria de Estado da Agricultura de São Paulo, a resposta considerada certa define como negativas práticas que podem ser positivas em muitos contextos, como a mecanização. “A mecanização, de modo geral, facilita o trabalho humano. Posso ver um lado bom, desenvolvimentista, que agrega valor, que dá qualidade de vida. Posso também olhar para o lado de desagregação, de desumanização, de desalojamento de pessoas, como a questão nos leva a entender”, afirma o especialista. “Se os pequenos produtores são deslocados, na grande maioria, é por falta de política pública, por falta de associativismo e de agregação”.

O especialista afirma que falta profundidade e conhecimento na formulação das questões. “Quando eu leio uma questão com tantos subtópicos, isso já me assusta. Vejo como isso é tratado de forma rasa e equivocada. A gente não está aqui para esconder nenhum problema, a gente tem problemas, mas a forma como os assuntos são tratados é muito superficial. É lógico que as respostas vão ser rasas, as perguntas vão estar repletas de desconhecimento da nossa realidade”.

A associação De Olho no Material Escolar, que monitora os conteúdos educacionais relativos ao agronegócio, afirma que “a resposta “A” poderia estar certa, considerando apenas o enunciado e os elementos do texto, mas existe um vício de origem na formulação que passa por uma visão desatualizada sobre a ocupação do bioma Cerrado e da produção agropecuária no Brasil”.

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A entidade afirma que dados estatísticos oficiais numerosos que demonstram o contrário do que indica a opção aponta como ‘correta’. “Em verdade, os trabalhadores rurais migraram para o Cerrado após a ciência gerar soluções para que as terras inférteis do Cerrado pudessem, primeiramente, produzir alimentos de forma eficiente e, posteriormente, ampliando a diversificação de atividades agrícolas com a produção fibras (algodão), celulose (eucalipto) e combustíveis renováveis (etanol de cana e de milho)”, diz a associação.

Ao contrário do que a resposta apontada no gabarito do INEP afirma, o que ocorreu de fato foi a possibilidade de vida em novas regiões ainda não efetivamente povoadas pelos brasileiros, com grandes oportunidades. A prova disso são os altos índices de IDH nas cidades criadas a partir do nada pela economia agrícola, e amplamente divulgados pela mídia e em dados oficiais.

Em outra questão, relacionou-se a competitividade na economia à pratica de dumping ao fazer essa relação entre o texto e a resposta considerada correta. O texto selecionado é da autoria do geógrafo Milton Santos, premiado internacionalmente e morto em 2001, no livro Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. A prática de dumping - quando se baixa o preço deliberadamente para eliminar a concorrência - é condenada pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

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Entre as opções para assinalar como uma “prática econômica considerada moralmente condenável”, os estudantes tinham:

  • A - Adoção do dumping comercial.
  • B - Fusão da função administrativa.
  • C - Criação de holding empresarial.
  • D - Limitação do mercado monopolista.
  • E - Modernização da produção industrial.
 Foto: Reprodução
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A resposta correta divulgada pelo Inep é A: “adoção do dumping comercial”.

Especialistas condenaram a associação da competitividade a uma prática nociva como o dumping. “A competitividade é vista como algo bom na economia. Um país se tornar competitivo é investir na infraestrutura, na educação”, afirma Armando Castelar, professor e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para ele, as duas questões têm textos “carregados e adjetivados”.

Em reação a essas perguntas, a Frente Parlamente do Agronegócio, que possui 347 congressistas, chegou a pedir a anulação de questões da prova.

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A anulação foi descartada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo exame. O presidente do Inep, Manual Palácios, disse que os itens foram elaborados por professores externos ao governo e selecionados em gestões passadas. Segundo o presidente do Inep, as questões que constam no Enem deste ano foram produzidas ainda na gestão Jair Bolsonaro (PL).

As questões do Enem são elaboradas por professores externos ao Ministério da Educação (MEC) e depois pré-testadas para verificar a escala de dificuldade, capacidade de diferenciar os níveis dos candidatos e probabilidade de acerto ao acaso. Um dos problemas recorrentes do Enem é a baixa quantidade de perguntas no banco de itens do exame, o que muitas vezes leva ao uso de questões que não passaram por essa calibragem.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou nesta terça-feira, 14, o gabarito oficial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com as respostas de todas as questões, incluindo as perguntas que abordaram o agronegócio e a competitividade econômica e que foram alvo de críticas do setor e de especialistas. Para economistas e educadores, as respostas consideradas certas, embora já fossem esperadas, confirmam a abordagem preconceituosa e enviesada contra dois pilares importantes para o desenvolvimento do País.

A questão sobre o agronegócio dizia que no Cerrado o “conhecimento local” está subordinado “à lógica do agronegócio” e que o “capital impõe conhecimentos biotecnológicos” que trazem consequências negativas para a população do campo. O trecho faz parte de um artigo publicado na Revista de Geografia da Universidade Estadual de Goiás. De acordo com os elementos descritos no texto, a respeito da territorialização da produção, o candidato tinha as seguintes opções para assinalar:

  • A - cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida.
  • B - descaso aos latifundiários, impactando a plantação de alimentos para a exportação.
  • C - desprezo ao assalariado, afetando o engajamento dos sindicatos para o trabalhador.
  • D - desrespeito aos governantes, comprometendo a criação de empregos para o lavrador.
  • E - assédio ao empresariado, dificultando o investimento de maquinários para a produção.

A resposta correta divulgada pelo Inep nesta terça-feira é A: “cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida”, classificando, portanto, o agronegócio como algo ruim para a população local. Para os especialistas, tecnicamente a resposta assinalada deveria ser essa porque o aluno era obrigado a se ater ao que era trazido no texto e no enunciado, mas a abordagem, dizem, é preconceituosa.

“Fica explícito o preconceito com o agronegócio. É preciso observar que a pergunta se refere ao que está escrito no texto e não à opinião do aluno. Pode-se dizer que há preconceito? Sim, mas na seleção do texto, não na pergunta. A pergunta pede que o aluno identifique o que está escrito”, afirma a presidente do Instituto Singularidades e ex-diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 Foto: Reprodução

Para o engenheiro agrônomo João José Demarchi, pesquisador da Secretaria de Estado da Agricultura de São Paulo, a resposta considerada certa define como negativas práticas que podem ser positivas em muitos contextos, como a mecanização. “A mecanização, de modo geral, facilita o trabalho humano. Posso ver um lado bom, desenvolvimentista, que agrega valor, que dá qualidade de vida. Posso também olhar para o lado de desagregação, de desumanização, de desalojamento de pessoas, como a questão nos leva a entender”, afirma o especialista. “Se os pequenos produtores são deslocados, na grande maioria, é por falta de política pública, por falta de associativismo e de agregação”.

O especialista afirma que falta profundidade e conhecimento na formulação das questões. “Quando eu leio uma questão com tantos subtópicos, isso já me assusta. Vejo como isso é tratado de forma rasa e equivocada. A gente não está aqui para esconder nenhum problema, a gente tem problemas, mas a forma como os assuntos são tratados é muito superficial. É lógico que as respostas vão ser rasas, as perguntas vão estar repletas de desconhecimento da nossa realidade”.

A associação De Olho no Material Escolar, que monitora os conteúdos educacionais relativos ao agronegócio, afirma que “a resposta “A” poderia estar certa, considerando apenas o enunciado e os elementos do texto, mas existe um vício de origem na formulação que passa por uma visão desatualizada sobre a ocupação do bioma Cerrado e da produção agropecuária no Brasil”.

A entidade afirma que dados estatísticos oficiais numerosos que demonstram o contrário do que indica a opção aponta como ‘correta’. “Em verdade, os trabalhadores rurais migraram para o Cerrado após a ciência gerar soluções para que as terras inférteis do Cerrado pudessem, primeiramente, produzir alimentos de forma eficiente e, posteriormente, ampliando a diversificação de atividades agrícolas com a produção fibras (algodão), celulose (eucalipto) e combustíveis renováveis (etanol de cana e de milho)”, diz a associação.

Ao contrário do que a resposta apontada no gabarito do INEP afirma, o que ocorreu de fato foi a possibilidade de vida em novas regiões ainda não efetivamente povoadas pelos brasileiros, com grandes oportunidades. A prova disso são os altos índices de IDH nas cidades criadas a partir do nada pela economia agrícola, e amplamente divulgados pela mídia e em dados oficiais.

Em outra questão, relacionou-se a competitividade na economia à pratica de dumping ao fazer essa relação entre o texto e a resposta considerada correta. O texto selecionado é da autoria do geógrafo Milton Santos, premiado internacionalmente e morto em 2001, no livro Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. A prática de dumping - quando se baixa o preço deliberadamente para eliminar a concorrência - é condenada pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Entre as opções para assinalar como uma “prática econômica considerada moralmente condenável”, os estudantes tinham:

  • A - Adoção do dumping comercial.
  • B - Fusão da função administrativa.
  • C - Criação de holding empresarial.
  • D - Limitação do mercado monopolista.
  • E - Modernização da produção industrial.
 Foto: Reprodução

A resposta correta divulgada pelo Inep é A: “adoção do dumping comercial”.

Especialistas condenaram a associação da competitividade a uma prática nociva como o dumping. “A competitividade é vista como algo bom na economia. Um país se tornar competitivo é investir na infraestrutura, na educação”, afirma Armando Castelar, professor e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para ele, as duas questões têm textos “carregados e adjetivados”.

Em reação a essas perguntas, a Frente Parlamente do Agronegócio, que possui 347 congressistas, chegou a pedir a anulação de questões da prova.

A anulação foi descartada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo exame. O presidente do Inep, Manual Palácios, disse que os itens foram elaborados por professores externos ao governo e selecionados em gestões passadas. Segundo o presidente do Inep, as questões que constam no Enem deste ano foram produzidas ainda na gestão Jair Bolsonaro (PL).

As questões do Enem são elaboradas por professores externos ao Ministério da Educação (MEC) e depois pré-testadas para verificar a escala de dificuldade, capacidade de diferenciar os níveis dos candidatos e probabilidade de acerto ao acaso. Um dos problemas recorrentes do Enem é a baixa quantidade de perguntas no banco de itens do exame, o que muitas vezes leva ao uso de questões que não passaram por essa calibragem.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou nesta terça-feira, 14, o gabarito oficial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com as respostas de todas as questões, incluindo as perguntas que abordaram o agronegócio e a competitividade econômica e que foram alvo de críticas do setor e de especialistas. Para economistas e educadores, as respostas consideradas certas, embora já fossem esperadas, confirmam a abordagem preconceituosa e enviesada contra dois pilares importantes para o desenvolvimento do País.

A questão sobre o agronegócio dizia que no Cerrado o “conhecimento local” está subordinado “à lógica do agronegócio” e que o “capital impõe conhecimentos biotecnológicos” que trazem consequências negativas para a população do campo. O trecho faz parte de um artigo publicado na Revista de Geografia da Universidade Estadual de Goiás. De acordo com os elementos descritos no texto, a respeito da territorialização da produção, o candidato tinha as seguintes opções para assinalar:

  • A - cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida.
  • B - descaso aos latifundiários, impactando a plantação de alimentos para a exportação.
  • C - desprezo ao assalariado, afetando o engajamento dos sindicatos para o trabalhador.
  • D - desrespeito aos governantes, comprometendo a criação de empregos para o lavrador.
  • E - assédio ao empresariado, dificultando o investimento de maquinários para a produção.

A resposta correta divulgada pelo Inep nesta terça-feira é A: “cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida”, classificando, portanto, o agronegócio como algo ruim para a população local. Para os especialistas, tecnicamente a resposta assinalada deveria ser essa porque o aluno era obrigado a se ater ao que era trazido no texto e no enunciado, mas a abordagem, dizem, é preconceituosa.

“Fica explícito o preconceito com o agronegócio. É preciso observar que a pergunta se refere ao que está escrito no texto e não à opinião do aluno. Pode-se dizer que há preconceito? Sim, mas na seleção do texto, não na pergunta. A pergunta pede que o aluno identifique o que está escrito”, afirma a presidente do Instituto Singularidades e ex-diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 Foto: Reprodução

Para o engenheiro agrônomo João José Demarchi, pesquisador da Secretaria de Estado da Agricultura de São Paulo, a resposta considerada certa define como negativas práticas que podem ser positivas em muitos contextos, como a mecanização. “A mecanização, de modo geral, facilita o trabalho humano. Posso ver um lado bom, desenvolvimentista, que agrega valor, que dá qualidade de vida. Posso também olhar para o lado de desagregação, de desumanização, de desalojamento de pessoas, como a questão nos leva a entender”, afirma o especialista. “Se os pequenos produtores são deslocados, na grande maioria, é por falta de política pública, por falta de associativismo e de agregação”.

O especialista afirma que falta profundidade e conhecimento na formulação das questões. “Quando eu leio uma questão com tantos subtópicos, isso já me assusta. Vejo como isso é tratado de forma rasa e equivocada. A gente não está aqui para esconder nenhum problema, a gente tem problemas, mas a forma como os assuntos são tratados é muito superficial. É lógico que as respostas vão ser rasas, as perguntas vão estar repletas de desconhecimento da nossa realidade”.

A associação De Olho no Material Escolar, que monitora os conteúdos educacionais relativos ao agronegócio, afirma que “a resposta “A” poderia estar certa, considerando apenas o enunciado e os elementos do texto, mas existe um vício de origem na formulação que passa por uma visão desatualizada sobre a ocupação do bioma Cerrado e da produção agropecuária no Brasil”.

A entidade afirma que dados estatísticos oficiais numerosos que demonstram o contrário do que indica a opção aponta como ‘correta’. “Em verdade, os trabalhadores rurais migraram para o Cerrado após a ciência gerar soluções para que as terras inférteis do Cerrado pudessem, primeiramente, produzir alimentos de forma eficiente e, posteriormente, ampliando a diversificação de atividades agrícolas com a produção fibras (algodão), celulose (eucalipto) e combustíveis renováveis (etanol de cana e de milho)”, diz a associação.

Ao contrário do que a resposta apontada no gabarito do INEP afirma, o que ocorreu de fato foi a possibilidade de vida em novas regiões ainda não efetivamente povoadas pelos brasileiros, com grandes oportunidades. A prova disso são os altos índices de IDH nas cidades criadas a partir do nada pela economia agrícola, e amplamente divulgados pela mídia e em dados oficiais.

Em outra questão, relacionou-se a competitividade na economia à pratica de dumping ao fazer essa relação entre o texto e a resposta considerada correta. O texto selecionado é da autoria do geógrafo Milton Santos, premiado internacionalmente e morto em 2001, no livro Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. A prática de dumping - quando se baixa o preço deliberadamente para eliminar a concorrência - é condenada pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Entre as opções para assinalar como uma “prática econômica considerada moralmente condenável”, os estudantes tinham:

  • A - Adoção do dumping comercial.
  • B - Fusão da função administrativa.
  • C - Criação de holding empresarial.
  • D - Limitação do mercado monopolista.
  • E - Modernização da produção industrial.
 Foto: Reprodução

A resposta correta divulgada pelo Inep é A: “adoção do dumping comercial”.

Especialistas condenaram a associação da competitividade a uma prática nociva como o dumping. “A competitividade é vista como algo bom na economia. Um país se tornar competitivo é investir na infraestrutura, na educação”, afirma Armando Castelar, professor e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para ele, as duas questões têm textos “carregados e adjetivados”.

Em reação a essas perguntas, a Frente Parlamente do Agronegócio, que possui 347 congressistas, chegou a pedir a anulação de questões da prova.

A anulação foi descartada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo exame. O presidente do Inep, Manual Palácios, disse que os itens foram elaborados por professores externos ao governo e selecionados em gestões passadas. Segundo o presidente do Inep, as questões que constam no Enem deste ano foram produzidas ainda na gestão Jair Bolsonaro (PL).

As questões do Enem são elaboradas por professores externos ao Ministério da Educação (MEC) e depois pré-testadas para verificar a escala de dificuldade, capacidade de diferenciar os níveis dos candidatos e probabilidade de acerto ao acaso. Um dos problemas recorrentes do Enem é a baixa quantidade de perguntas no banco de itens do exame, o que muitas vezes leva ao uso de questões que não passaram por essa calibragem.

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