O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC), Manuel Palácios, disse que é preciso ajustar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) às necessidades dessa etapa. “O Enem não pode ser um instrumento congelado” afirmou, em evento da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave) em Campinas, nesta quarta-feira, 31.
Um projeto de lei para mudar o novo ensino médio deve ser apresentado nos próximos dias pelo governo federal. A proposta, no entanto, não vai prever mudanças ainda no exame realizado por cerca de 4 milhões de estudantes no País. Segundo o Estadão apurou, em reuniões recentes de discussão do novo ensino médio, o ministro Camilo Santana preferiu não incluir o Enem nos debates.
Apesar de defender modificações na prova, Palacios disse nesta quarta que o “timing” para modificações no Enem de 2024 “já está vencido”. “Qual o prazo mínimo para avisar os estudantes que o Enem vai mudar?”, questionou o presidente do Inep. Mais tarde, Palácios disse que seriam necessários cerca de dois anos, diante da importância da previsibilidade para os alunos. Os candidatos precisam saber com antecedência “o que vai cair na prova” para se prepararem.
Além de se adequar ao novo ensino médio, o Enem, que é o mesmo desde 2009, precisa também ser alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). E ainda, segundo Palacios, são necessárias mudanças na forma como as questões são apresentadas. Para ele, seria importante, por exemplo, que o Enem tivesse textos mais longos, que fossem abordados em diversas questões, como já fazem várias avaliações internacionais.
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“Você vai mostrar que tudo o que o aluno aprendeu em todas as áreas, Matemática, Ciências, se traduza na compreensão de textos mais complexos”, diz Palacios. Hoje o Enem usa textos mais curtos e fragmentados em cada uma das questões.
Secretários de educação, no entanto, no mesmo evento em Campinas, cobraram mudanças na prova. “É um erro discutir o ensino médio sem discutir o Enem”, disse o atual secretário de educação do Pará, Rossieli Soares, também ex-secretário de São Paulo e ex-ministro da Educação, .
“É preciso calibrar as expectativas dos estudantes sobre quando o Enem vai mudar. Isso não pode ficar em aberto”, completou o presidente do conselho de secretários (Consed) e titular da pasta em Espírito Santo, Vitor de Angelo. Para ele, o Enem tem de refletir o resultado das discussões que vem sendo feitas no MEC desde o início do ano para o novo ensino médio. Ele cobrou que a mudança do Enem seja colocada em um calendário para acabar com as angústias dos estudantes.
Um dos pontos que deveria ser incluído, segundo os secretários, é a avaliação dos itinerários formativos. “Qual o sentido de ter a parte flexível do currículo se ela não vai ser avaliada no ingresso para a universidade?”, questionou o secretário do Espírito Santo.
Além disso, Rossieli acredita que a proposta do MEC de ter cargas horárias diferentes para o ensino técnico e para o restante dos alunos pode prejudicar o interesse pelo Enem.
Isso porque, se o exame continuar avaliando apenas a formação básica, ou seja, as disciplinas como Português, Matemática, Física, História, o estudante do técnico terá menos horas de preparação. “Ele pode se desinteressar pelo ensino técnico por causa do Enem”, afirma.
Governo ajusta proposta para abrir espaço para cursos técnicos
Como mostrou o Estadão, a carga horária da formação básica dos alunos que fazem ensino técnico deverá ser um pouco menor do que a ofertada para o restante dos estudantes, com 2,1 mil horas. A parte técnica ficaria com 900 horas. Já a formação para o restante dos alunos, que são maioria, ela terá 2,4 mil horas e a formação específica para itinerário, de 600 horas.
Palacios disse ao Estadão que as discussões sobre o novo ensino médio ainda precisam ser finalizadas para que um novo Enem seja pensado.
Apesar de o MEC ter anunciado no início do governo Lula que a prova seria mudada, considerando uma avaliação também dos itinerários, Camilo voltou atrás em abril após pressões e afirmou que o Enem não mudará em 2024. Ele tem declarado também que prefere que o exame avalie apenas a formação geral básica para evitar desigualdades, já que as escolas não conseguem oferecer a carga horária flexível com a mesma qualidade.