Faculdade da USP inclui Marilena Chauí em lista de professores negros


Presença motivou questionamentos nas redes sociais sobre a identidade racial da escritora, que ainda não se manifestou; FFLCH informa que se baseou na autoidentificação dos docentes

Por Gonçalo Junior
Atualização:

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) lançou na semana passada o projeto Memória Negra para “reconhecimento e valorização de docentes negros”. Na lista, está a professora emérita da instituição e escritora Marilena Chauí, de 81 anos.

A divulgação do projeto repercutiu nas redes sociais. Parte dos internautas questionou a identificação como de Marilena como negra (preta ou parda). Também motivou reações a inclusão no rol de outra professora: Rose Satiko, docente desde 2005 e coordenadora do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia.

Procurada pelo Estadão, Marilena não se manifestou. Em seu site, a faculdade afirma que o levantamento se baseia na autoidentificação dos docentes.

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A professora, filósofa e escritora Marilena Chauí foi incluída em uma lista de docentes negros da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), o que gerou polêmica nas redes sociais Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula

A professora Rose Satiko se pronunciou nesta quarta-feira, 27. “Neta de japoneses que chegaram a São Paulo nos anos 1930 e de sergipanos com raízes africanas, indígenas e europeias, me defino, na classificação do censo populacional brasileiro, parda. Não haveria outro modo de autoidentificação: escolher apenas uma ascendência (classificação) - amarela, branca, preta ou indígena – implica o apagamento de parte de meus antepassados”.

Satiko revela que, na infância, a designação “japonesa preta” foi utilizada como xingamento por colegas na escola. “A branquitude expressa seu ódio ao racializado, independente da cor”, escreveu a antropóloga. “Afirmar-se parda é recuperar a potência que na infância foi usada para machucar. “Japonesa-preta”, sim.

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A antropóloga afirma ainda que se sente orgulhosa de “fazer parte da memória negra da FFLCH, como o senti ao ter fotos de minha família paterna expostas na Biblioteca Florestan Fernandes na comemoração dos 100 anos da imigração japonesa”.

Até o momento, pelo menos 29 professores negros foram localizados pela equipe do Projeto Memória FFLCH 90 anos. Os perfis dos professores estão no site da universidade, com fotos em preto e branco.

Um dos questionamentos nas redes sociais foi feito pelo professor Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia. “Com qtos anos vcs descobriram que Marilena Chauí era negra? Eu descobri aos 60″, perguntou em uma publicação com quase 100 mil visualizações na rede social X.

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Os comentários dividiram a opinião dos usuários. A autodeclaração é o critério utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para identificar a raça das pessoas.

Apenas 5% dos docentes da faculdade são negros, diz vice-diretora

A vice-diretora Silvana de Souza Nascimento afirma que o principal objetivo do projeto é dar visibilidade e reconhecimento a docentes negras e negros que atuam e atuaram na FFLCH. Professores pretos e pardos somam pouco mais de 5% do quadro docente da faculdade atualmente.

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“A ideia é fortalecer a presença e a memória negra em nossa unidade, destacando as áreas de atuação de cada um e suas contribuições científicas, sociais, culturais e políticas”.

O mapeamento ainda está no início. “Começamos de forma artesanal, perguntando aos próprios docentes quais eram os colegas que passaram por aqui e os que atuam hoje. Pelo método ‘bola de neve’, chegamos ao número de 30, mas a ideia é que possamos levantar documentos, teses e dissertações, publicações e realizar entrevistas para podermos ter uma cartografia ampla e que ela possa se tornar pública”.

O novo perfil de estudantes na USP na última década, beneficiado pela lei de cotas raciais, foi inspiração para o mapeamento e a busca de representatividade negra entre os docentes.

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“Por meio das políticas de cotas, o público universitário estudantil enegreceu, mas isso ainda não se traduziu em representatividade no corpo docente. Para que a universidade seja antirracista é necessário que a presença negra esteja, de fato, em todas as instâncias universitárias. A ideia desse mapeamento é dar visibilidade aos que já estão e aos que já estiveram, reconhecendo suas atuações históricas e ainda minoritárias aqui”, afirma a vice-diretora.

A faculdade ainda não esclareceu se o mapeamento dos professores negros pode ser utilizado em algum tipo de política afirmativa, como priorização em editais, voltada ao corpo docente.

No caso dos alunos que querem ingressar na USP, metade das vagas é reservada para estudantes de escolas públicas. Desse recorte, 37% são direcionadas para pessoas negras (pardos ou pretos) e indígenas (PPIs). Esse número representa o percentual da população de pessoas negras e indígenas no estado de São Paulo.

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Bancas raciais para cotistas causaram polêmica

Parte dos internautas, porém, lembrou das bancas de heteroidentificação de candidatos a cotas raciais, que avaliam se os estudantes aprovados autodeclarados pretos ou pardos têm direito à reserva de vagas no vestibular.

No início do ano, em um caso emblemático, a banca da Universidade de São Paulo (USP) rejeitou a autodeclaração de pardo do estudante Alison Rodrigues e cancelou sua matrícula na Faculdade de Medicina. Ele conseguiu a vaga de volta na Justiça.

Na época, a reitoria da USP rechaçou as acusações de “tribunal racial” e disse que os comitês de heteroidentificação servem para evitar fraudes. Prometeu ainda aperfeiçoar o formato, com entrevistas feitas apenas presencialmente.

Perfil da professora Rose Satiko no site da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP Foto: Memória Negra / FFLCH

Houve controvérsias similares em outras universidades que adotaram modelo semelhante, como a Universidade de Brasília (UnB). A análise com base nas características físicas foi validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017.

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) lançou na semana passada o projeto Memória Negra para “reconhecimento e valorização de docentes negros”. Na lista, está a professora emérita da instituição e escritora Marilena Chauí, de 81 anos.

A divulgação do projeto repercutiu nas redes sociais. Parte dos internautas questionou a identificação como de Marilena como negra (preta ou parda). Também motivou reações a inclusão no rol de outra professora: Rose Satiko, docente desde 2005 e coordenadora do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia.

Procurada pelo Estadão, Marilena não se manifestou. Em seu site, a faculdade afirma que o levantamento se baseia na autoidentificação dos docentes.

A professora, filósofa e escritora Marilena Chauí foi incluída em uma lista de docentes negros da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), o que gerou polêmica nas redes sociais Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula

A professora Rose Satiko se pronunciou nesta quarta-feira, 27. “Neta de japoneses que chegaram a São Paulo nos anos 1930 e de sergipanos com raízes africanas, indígenas e europeias, me defino, na classificação do censo populacional brasileiro, parda. Não haveria outro modo de autoidentificação: escolher apenas uma ascendência (classificação) - amarela, branca, preta ou indígena – implica o apagamento de parte de meus antepassados”.

Satiko revela que, na infância, a designação “japonesa preta” foi utilizada como xingamento por colegas na escola. “A branquitude expressa seu ódio ao racializado, independente da cor”, escreveu a antropóloga. “Afirmar-se parda é recuperar a potência que na infância foi usada para machucar. “Japonesa-preta”, sim.

A antropóloga afirma ainda que se sente orgulhosa de “fazer parte da memória negra da FFLCH, como o senti ao ter fotos de minha família paterna expostas na Biblioteca Florestan Fernandes na comemoração dos 100 anos da imigração japonesa”.

Até o momento, pelo menos 29 professores negros foram localizados pela equipe do Projeto Memória FFLCH 90 anos. Os perfis dos professores estão no site da universidade, com fotos em preto e branco.

Um dos questionamentos nas redes sociais foi feito pelo professor Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia. “Com qtos anos vcs descobriram que Marilena Chauí era negra? Eu descobri aos 60″, perguntou em uma publicação com quase 100 mil visualizações na rede social X.

Os comentários dividiram a opinião dos usuários. A autodeclaração é o critério utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para identificar a raça das pessoas.

Apenas 5% dos docentes da faculdade são negros, diz vice-diretora

A vice-diretora Silvana de Souza Nascimento afirma que o principal objetivo do projeto é dar visibilidade e reconhecimento a docentes negras e negros que atuam e atuaram na FFLCH. Professores pretos e pardos somam pouco mais de 5% do quadro docente da faculdade atualmente.

“A ideia é fortalecer a presença e a memória negra em nossa unidade, destacando as áreas de atuação de cada um e suas contribuições científicas, sociais, culturais e políticas”.

O mapeamento ainda está no início. “Começamos de forma artesanal, perguntando aos próprios docentes quais eram os colegas que passaram por aqui e os que atuam hoje. Pelo método ‘bola de neve’, chegamos ao número de 30, mas a ideia é que possamos levantar documentos, teses e dissertações, publicações e realizar entrevistas para podermos ter uma cartografia ampla e que ela possa se tornar pública”.

O novo perfil de estudantes na USP na última década, beneficiado pela lei de cotas raciais, foi inspiração para o mapeamento e a busca de representatividade negra entre os docentes.

“Por meio das políticas de cotas, o público universitário estudantil enegreceu, mas isso ainda não se traduziu em representatividade no corpo docente. Para que a universidade seja antirracista é necessário que a presença negra esteja, de fato, em todas as instâncias universitárias. A ideia desse mapeamento é dar visibilidade aos que já estão e aos que já estiveram, reconhecendo suas atuações históricas e ainda minoritárias aqui”, afirma a vice-diretora.

A faculdade ainda não esclareceu se o mapeamento dos professores negros pode ser utilizado em algum tipo de política afirmativa, como priorização em editais, voltada ao corpo docente.

No caso dos alunos que querem ingressar na USP, metade das vagas é reservada para estudantes de escolas públicas. Desse recorte, 37% são direcionadas para pessoas negras (pardos ou pretos) e indígenas (PPIs). Esse número representa o percentual da população de pessoas negras e indígenas no estado de São Paulo.

Bancas raciais para cotistas causaram polêmica

Parte dos internautas, porém, lembrou das bancas de heteroidentificação de candidatos a cotas raciais, que avaliam se os estudantes aprovados autodeclarados pretos ou pardos têm direito à reserva de vagas no vestibular.

No início do ano, em um caso emblemático, a banca da Universidade de São Paulo (USP) rejeitou a autodeclaração de pardo do estudante Alison Rodrigues e cancelou sua matrícula na Faculdade de Medicina. Ele conseguiu a vaga de volta na Justiça.

Na época, a reitoria da USP rechaçou as acusações de “tribunal racial” e disse que os comitês de heteroidentificação servem para evitar fraudes. Prometeu ainda aperfeiçoar o formato, com entrevistas feitas apenas presencialmente.

Perfil da professora Rose Satiko no site da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP Foto: Memória Negra / FFLCH

Houve controvérsias similares em outras universidades que adotaram modelo semelhante, como a Universidade de Brasília (UnB). A análise com base nas características físicas foi validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017.

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) lançou na semana passada o projeto Memória Negra para “reconhecimento e valorização de docentes negros”. Na lista, está a professora emérita da instituição e escritora Marilena Chauí, de 81 anos.

A divulgação do projeto repercutiu nas redes sociais. Parte dos internautas questionou a identificação como de Marilena como negra (preta ou parda). Também motivou reações a inclusão no rol de outra professora: Rose Satiko, docente desde 2005 e coordenadora do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia.

Procurada pelo Estadão, Marilena não se manifestou. Em seu site, a faculdade afirma que o levantamento se baseia na autoidentificação dos docentes.

A professora, filósofa e escritora Marilena Chauí foi incluída em uma lista de docentes negros da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), o que gerou polêmica nas redes sociais Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula

A professora Rose Satiko se pronunciou nesta quarta-feira, 27. “Neta de japoneses que chegaram a São Paulo nos anos 1930 e de sergipanos com raízes africanas, indígenas e europeias, me defino, na classificação do censo populacional brasileiro, parda. Não haveria outro modo de autoidentificação: escolher apenas uma ascendência (classificação) - amarela, branca, preta ou indígena – implica o apagamento de parte de meus antepassados”.

Satiko revela que, na infância, a designação “japonesa preta” foi utilizada como xingamento por colegas na escola. “A branquitude expressa seu ódio ao racializado, independente da cor”, escreveu a antropóloga. “Afirmar-se parda é recuperar a potência que na infância foi usada para machucar. “Japonesa-preta”, sim.

A antropóloga afirma ainda que se sente orgulhosa de “fazer parte da memória negra da FFLCH, como o senti ao ter fotos de minha família paterna expostas na Biblioteca Florestan Fernandes na comemoração dos 100 anos da imigração japonesa”.

Até o momento, pelo menos 29 professores negros foram localizados pela equipe do Projeto Memória FFLCH 90 anos. Os perfis dos professores estão no site da universidade, com fotos em preto e branco.

Um dos questionamentos nas redes sociais foi feito pelo professor Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia. “Com qtos anos vcs descobriram que Marilena Chauí era negra? Eu descobri aos 60″, perguntou em uma publicação com quase 100 mil visualizações na rede social X.

Os comentários dividiram a opinião dos usuários. A autodeclaração é o critério utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para identificar a raça das pessoas.

Apenas 5% dos docentes da faculdade são negros, diz vice-diretora

A vice-diretora Silvana de Souza Nascimento afirma que o principal objetivo do projeto é dar visibilidade e reconhecimento a docentes negras e negros que atuam e atuaram na FFLCH. Professores pretos e pardos somam pouco mais de 5% do quadro docente da faculdade atualmente.

“A ideia é fortalecer a presença e a memória negra em nossa unidade, destacando as áreas de atuação de cada um e suas contribuições científicas, sociais, culturais e políticas”.

O mapeamento ainda está no início. “Começamos de forma artesanal, perguntando aos próprios docentes quais eram os colegas que passaram por aqui e os que atuam hoje. Pelo método ‘bola de neve’, chegamos ao número de 30, mas a ideia é que possamos levantar documentos, teses e dissertações, publicações e realizar entrevistas para podermos ter uma cartografia ampla e que ela possa se tornar pública”.

O novo perfil de estudantes na USP na última década, beneficiado pela lei de cotas raciais, foi inspiração para o mapeamento e a busca de representatividade negra entre os docentes.

“Por meio das políticas de cotas, o público universitário estudantil enegreceu, mas isso ainda não se traduziu em representatividade no corpo docente. Para que a universidade seja antirracista é necessário que a presença negra esteja, de fato, em todas as instâncias universitárias. A ideia desse mapeamento é dar visibilidade aos que já estão e aos que já estiveram, reconhecendo suas atuações históricas e ainda minoritárias aqui”, afirma a vice-diretora.

A faculdade ainda não esclareceu se o mapeamento dos professores negros pode ser utilizado em algum tipo de política afirmativa, como priorização em editais, voltada ao corpo docente.

No caso dos alunos que querem ingressar na USP, metade das vagas é reservada para estudantes de escolas públicas. Desse recorte, 37% são direcionadas para pessoas negras (pardos ou pretos) e indígenas (PPIs). Esse número representa o percentual da população de pessoas negras e indígenas no estado de São Paulo.

Bancas raciais para cotistas causaram polêmica

Parte dos internautas, porém, lembrou das bancas de heteroidentificação de candidatos a cotas raciais, que avaliam se os estudantes aprovados autodeclarados pretos ou pardos têm direito à reserva de vagas no vestibular.

No início do ano, em um caso emblemático, a banca da Universidade de São Paulo (USP) rejeitou a autodeclaração de pardo do estudante Alison Rodrigues e cancelou sua matrícula na Faculdade de Medicina. Ele conseguiu a vaga de volta na Justiça.

Na época, a reitoria da USP rechaçou as acusações de “tribunal racial” e disse que os comitês de heteroidentificação servem para evitar fraudes. Prometeu ainda aperfeiçoar o formato, com entrevistas feitas apenas presencialmente.

Perfil da professora Rose Satiko no site da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP Foto: Memória Negra / FFLCH

Houve controvérsias similares em outras universidades que adotaram modelo semelhante, como a Universidade de Brasília (UnB). A análise com base nas características físicas foi validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017.

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