Fracasso em avaliação internacional de ensino se deve à covid ou era assim antes? Leia análise


Brasil mostra que desafios na educação começam já nos anos iniciais

Por Ernesto Martins Faria
Atualização:

Hoje foram divulgados os resultados do Pirls 2021 (sigla em inglês de Progress in International Reading Literacy Study), estudo internacional que avalia o progresso em leitura de estudantes do 4.º ano do ensino fundamental. A avaliação é aplicada desde 2001, a cada cinco anos, e essa foi a primeira edição que o Brasil participou. No total, foram avaliadas 57 nações. Embora menos conhecida que outras avaliações internacionais, como o Pisa, por exemplo, havia grande expectativa no meio acadêmico pelos seus resultados, pois é a primeira vez que saberíamos como os estudantes brasileiros dos anos iniciais do ensino fundamental estão em perspectiva internacional.

Desde a criação do Ideb (índice composto pela média dos estudantes em Língua Portuguesa e Matemática no Sistema de Avaliação da Educação Básica - Saeb e pelas taxas de aprovação), em 2007, temos acompanhado avanços consistentes dos resultados de aprendizagem do 5.º ano do ensino fundamental. Os anos iniciais evoluíram 1,6 pontos no Ideb e o resultado de Leitura evoluiu mais de 35 pontos na Escala Saeb. Ao passo que os índices dos anos finais do ensino fundamental melhoraram pouco e o Ensino Médio ficou praticamente estagnado, a primeira etapa do ensino fundamental parecia ilustrar avanços resultantes de boas políticas públicas, como maior monitoramento e bons programas de alfabetização.

No entanto, esses resultados ainda geram alguns questionamentos: por que os alunos que estão terminando tão melhor no 5.º ano não conseguem bom desempenho nos anos seguintes do ensino fundamental e no ensino médio? Por que esse avanço não reflete de forma relevante nos índices educacionais das etapas seguintes? O Pirls poderia ajudar nessa resposta, apontando se estamos de fato bem ou não nos anos iniciais do ensino fundamental.

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Assim, o retrato que o estudo nos traz é preocupante. Cerca de 75% dos alunos brasileiros de 10 anos estão atrás da média de praticamente todos os países desenvolvidos que fizeram a avaliação. Os alunos brasileiros só possuem uma boa compreensão leitora em textos considerados de baixa complexidade. E aí a nova pergunta que fica é: a situação já era assim ou isso se deve ao impacto brutal da pandemia de covid-19 no ensino no Brasil?

O diagnóstico necessita de mais aprofundamento, mas o cenário não parece ter relação apenas com a pandemia. A distância do Brasil para qualquer país desenvolvido é muito significativa. Ou até mesmo para países como Macedônia do Norte, Montenegro e Uzbequistão. É fato que tivemos boas políticas nos anos iniciais do ensino fundamental, mas também tem sido indicado por muitos especialistas que o Saeb tem se mostrado pouco exigente para avaliar a qualidade da educação na etapa. E o Pirls escancara isso.

Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).

Hoje foram divulgados os resultados do Pirls 2021 (sigla em inglês de Progress in International Reading Literacy Study), estudo internacional que avalia o progresso em leitura de estudantes do 4.º ano do ensino fundamental. A avaliação é aplicada desde 2001, a cada cinco anos, e essa foi a primeira edição que o Brasil participou. No total, foram avaliadas 57 nações. Embora menos conhecida que outras avaliações internacionais, como o Pisa, por exemplo, havia grande expectativa no meio acadêmico pelos seus resultados, pois é a primeira vez que saberíamos como os estudantes brasileiros dos anos iniciais do ensino fundamental estão em perspectiva internacional.

Desde a criação do Ideb (índice composto pela média dos estudantes em Língua Portuguesa e Matemática no Sistema de Avaliação da Educação Básica - Saeb e pelas taxas de aprovação), em 2007, temos acompanhado avanços consistentes dos resultados de aprendizagem do 5.º ano do ensino fundamental. Os anos iniciais evoluíram 1,6 pontos no Ideb e o resultado de Leitura evoluiu mais de 35 pontos na Escala Saeb. Ao passo que os índices dos anos finais do ensino fundamental melhoraram pouco e o Ensino Médio ficou praticamente estagnado, a primeira etapa do ensino fundamental parecia ilustrar avanços resultantes de boas políticas públicas, como maior monitoramento e bons programas de alfabetização.

No entanto, esses resultados ainda geram alguns questionamentos: por que os alunos que estão terminando tão melhor no 5.º ano não conseguem bom desempenho nos anos seguintes do ensino fundamental e no ensino médio? Por que esse avanço não reflete de forma relevante nos índices educacionais das etapas seguintes? O Pirls poderia ajudar nessa resposta, apontando se estamos de fato bem ou não nos anos iniciais do ensino fundamental.

Assim, o retrato que o estudo nos traz é preocupante. Cerca de 75% dos alunos brasileiros de 10 anos estão atrás da média de praticamente todos os países desenvolvidos que fizeram a avaliação. Os alunos brasileiros só possuem uma boa compreensão leitora em textos considerados de baixa complexidade. E aí a nova pergunta que fica é: a situação já era assim ou isso se deve ao impacto brutal da pandemia de covid-19 no ensino no Brasil?

O diagnóstico necessita de mais aprofundamento, mas o cenário não parece ter relação apenas com a pandemia. A distância do Brasil para qualquer país desenvolvido é muito significativa. Ou até mesmo para países como Macedônia do Norte, Montenegro e Uzbequistão. É fato que tivemos boas políticas nos anos iniciais do ensino fundamental, mas também tem sido indicado por muitos especialistas que o Saeb tem se mostrado pouco exigente para avaliar a qualidade da educação na etapa. E o Pirls escancara isso.

Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).

Hoje foram divulgados os resultados do Pirls 2021 (sigla em inglês de Progress in International Reading Literacy Study), estudo internacional que avalia o progresso em leitura de estudantes do 4.º ano do ensino fundamental. A avaliação é aplicada desde 2001, a cada cinco anos, e essa foi a primeira edição que o Brasil participou. No total, foram avaliadas 57 nações. Embora menos conhecida que outras avaliações internacionais, como o Pisa, por exemplo, havia grande expectativa no meio acadêmico pelos seus resultados, pois é a primeira vez que saberíamos como os estudantes brasileiros dos anos iniciais do ensino fundamental estão em perspectiva internacional.

Desde a criação do Ideb (índice composto pela média dos estudantes em Língua Portuguesa e Matemática no Sistema de Avaliação da Educação Básica - Saeb e pelas taxas de aprovação), em 2007, temos acompanhado avanços consistentes dos resultados de aprendizagem do 5.º ano do ensino fundamental. Os anos iniciais evoluíram 1,6 pontos no Ideb e o resultado de Leitura evoluiu mais de 35 pontos na Escala Saeb. Ao passo que os índices dos anos finais do ensino fundamental melhoraram pouco e o Ensino Médio ficou praticamente estagnado, a primeira etapa do ensino fundamental parecia ilustrar avanços resultantes de boas políticas públicas, como maior monitoramento e bons programas de alfabetização.

No entanto, esses resultados ainda geram alguns questionamentos: por que os alunos que estão terminando tão melhor no 5.º ano não conseguem bom desempenho nos anos seguintes do ensino fundamental e no ensino médio? Por que esse avanço não reflete de forma relevante nos índices educacionais das etapas seguintes? O Pirls poderia ajudar nessa resposta, apontando se estamos de fato bem ou não nos anos iniciais do ensino fundamental.

Assim, o retrato que o estudo nos traz é preocupante. Cerca de 75% dos alunos brasileiros de 10 anos estão atrás da média de praticamente todos os países desenvolvidos que fizeram a avaliação. Os alunos brasileiros só possuem uma boa compreensão leitora em textos considerados de baixa complexidade. E aí a nova pergunta que fica é: a situação já era assim ou isso se deve ao impacto brutal da pandemia de covid-19 no ensino no Brasil?

O diagnóstico necessita de mais aprofundamento, mas o cenário não parece ter relação apenas com a pandemia. A distância do Brasil para qualquer país desenvolvido é muito significativa. Ou até mesmo para países como Macedônia do Norte, Montenegro e Uzbequistão. É fato que tivemos boas políticas nos anos iniciais do ensino fundamental, mas também tem sido indicado por muitos especialistas que o Saeb tem se mostrado pouco exigente para avaliar a qualidade da educação na etapa. E o Pirls escancara isso.

Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).

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