‘Formamos alunos para serem críticos, mas movimento que usa força não cabe na USP’, diz reitor


Dirigente diz não entender real motivo da greve e lembra mobilização conjunta com alunos em defesa da democracia em 2022; paralisação cresceu esta semana, com barricadas, e docentes recorrem até a aulas online

Por Renata Cafardo
Atualização:
Entrevista comCarlos Gilberto Carlotti JuniorReitor da USP

Uma greve de estudantes, iniciada na semana passada na Universidade de São Paulo (USP), cresceu nos últimos dias, com relatos de professores impedidos por alunos de entrar em prédios da instituição. Parte deles recorre até a aulas online para manter as atividades, como mostrou o Estadão. Em entrevista exclusiva, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior pede que os alunos que querem ter aulas se manifestem. “As pessoas precisam se mobilizar, tanto professores quanto alunos, no sentido de mostrar o que realmente querem. Uma minoria faz barricadas e ninguém tem aula”, afirmou ao Estadão. “Não vamos usar a força.”

Carlotti, que assumiu a reitoria no ano passado, diz não compreender o real motivo da greve, que paralisou nos últimos dias algumas das maiores faculdades da USP, como a de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a de Direito e a Escola Politécnica. A reivindicação principal é o déficit de professores, o que levou ao cancelamento de disciplinas em algumas unidades.

“Não tem sentido uma greve prolongada quando as coisas já estão se resolvendo. Ficamos muito tempo sem contratar, diminuiu o número de docentes, é verdade. Mas desde o primeiro dia da gestão tentamos resolver o problema”, afirma ele, que está na Alemanha, para fechar parcerias internacionais - a negociação direta com os grevistas está a cargo da vice-reitora nesta quinta-feira, 28.

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“Prefiro pensar a USP como uma universidade que defende a liberdade, até de divergir, mas conversando. Formamos os nossos alunos para que sejam críticos, mas esse tipo de movimento, que usa a força, não cabe dentro da USP”, diz ele, sobre queixas de professores sobre agressões e barricadas.

Como mostrou o Estadão, em uma década, a USP perdeu cerca de 800 professores, após anos sem novas contratações em virtude da crise financeira e da proibição a concursos na pandemia. Em 2022, a reitoria havia autorizado contratar 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, mas adiantou as vagas para este ano após pedidos e pressões.

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Mesmo assim, os ânimos não se acalmaram e a greve eclodiu. Alunos que lideram o movimento e parte dos professores veem o plano como insuficiente e cobram mais agilidade nas soluções. Os estudantes à frente da greve dizem que a ação é “justa”, “necessária” e negam agir com violência.

Como os processos de contratação são lentos, com concurso e seleção, o reitor sugere que as unidades chamem professores temporários para as disciplinas com problemas. “O docente que entra na USP fica 40 anos. Não dá para você ficar agilizando, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm de entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos.”

O reitor Carlos Carlotti Júnior diz não entender os reais motivos da greve atual na universidade Foto: Marcello Chello/Estadão - 21/10/2021
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Como avalia a greve atual? Boa parte das unidades está sem aulas, com piquetes, barricadas.

Tem de ter muita paciência, porque esses movimentos são difusos, têm uma pauta muito grande, além da contratação dos docentes. A contratação dos docentes está bem encaminhada. Se tivermos um pouco de paciência, o número de docentes volta aos 6 mil que tínhamos em 2014. Ainda em 2022 e 2023, tivemos mais perdas de professores. Mas até o fim de 2024, já devemos ter aí 5,7 mil, 5,8 mil professores. Aí ficamos mais tranquilos. É impossível fazer com uma velocidade muito grande as contratações. Obviamente a administração central tem falhas, mas sinceramente não justifica uma greve com essa intensidade. Os alunos precisariam entender melhor, se informar melhor, e não colocar em risco a saúde da universidade, por um assunto que você pode resolver localmente.

A universidade vai tomar alguma atitude em relação aos piquetes e barricadas que impedem a entrada de professores?

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O mecanismo de força é muito ruim, não devemos responder com um mecanismo de força ou com a mesma intensidade, com a mesma metodologia. O que procuramos fazer é o convencimento, o esclarecimento, tanto da sociedade quanto dos alunos. Se a maioria dos alunos quer ter aula é só ir lá votar nas assembleias e terminar a greve. As pessoas precisam se mobilizar, tanto professores quanto alunos, no sentido de mostrarem o que realmente querem. Uma minoria faz essas barricadas e ninguém tem aula. Não estou propondo confronto, mas se manifestar na diretoria, com professores, com seus próprios colegas.

O senhor vai chamar a Guarda Universitária ou a Polícia Militar para forçar a abertura?

Isso não vamos fazer. Não vamos usar a força.

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Acessos às salas de aulas da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, foram bloqueadas pelos alunos com cadeiras e mesas. Foto: Felipe Rau/ Estadão

Alguns professores já dão aulas online, como na pandemia. Como vê isso?

É bem diferente da situação da pandemia. Estávamos impedidos de dar aula. Agora são os alunos que não estão presentes. A grande maioria dos professores quer dar aula. A universidade não vai tomar uma posição geral de induzir ou de solicitar que os professores façam atividade online. Mas se algum professor quiser fazer alguma atividade, se achar que faz sentido, pode realizar. Não será como na pandemia. Hoje não tem sentido: a universidade está aí, os laboratórios estão aí, os professores estão aí. Não podemos regredir.

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A USP está parada?

Temos muitas unidades funcionando e outras unidades grandes que estão fazendo paralisações por um ou dois dias. Mas temos alguns câmpus inteiros funcionando: Piracicaba, Pirassununga, grande parte de Lorena, Bauru, a maior parte de Ribeirão (Preto). São Paulo, não. Mas espero que em poucos dias se resolva. Não tem sentido uma greve prolongada quando as coisas já estão se resolvendo. Ficamos muito tempo sem contratar, diminuiu o número de docentes, é verdade. Mas desde o primeiro dia dessa gestão, tentamos resolver esse problema. Quando começa a resolver, tem um movimento grevista. Isso é difícil de entender.

Diretores e professores falam de agressões verbais presenciais e pelas redes sociais...

Particularmente não sofri nada, mas recebi vários comentários de colegas impedidos de dar aula, trancados, não puderam entrar ou sair, ter acesso à unidade para fazer pesquisa. Vejo com muita preocupação. No 11 de agosto do ano passado, fizemos um grande movimento da universidade com a sociedade, defendendo o Estado de Direito, as eleições do Brasil. E, na mesma faculdade, temos um professor impedido de entrar. Esses valores que defendemos são valores para a sociedade. Na época, tivemos muito apoio do movimento estudantil. E fizemos também movimentos após os atos violentos de 8 de janeiro em Brasília. Agora, como podemos fazer dentro da nossa casa, jogar cadeiras, impedir pessoas de dar aulas? Prefiro pensar USP como uma universidade que defende a liberdade, até de divergir, mas conversando, argumentando e utilizando a inteligência. Formamos nossos alunos para que sejam críticos, mas esse tipo de movimento, que usa a força, não cabe dentro da Universidade de São Paulo.

Os alunos precisariam entender melhor, se informar melhor, e não colocar em risco a saúde da universidade, por um assunto que você pode resolver localmente

A Adusp diz que a reitoria poderia ajudar em uma força-tarefa para contratações mais rápidas.

Isso é parcialmente possível. Primeiro, a unidade tem de pedir a vaga, dizer para qual departamento será. Isso não posso agilizar: são reuniões do departamento, de congregação, e depois esse pedido vem para reitoria. Combinei na reitoria que vamos dar a resposta em 24 horas; antes demorava. Mas adiantamos as vagas e nem todo mundo fez os pedidos ainda. Devemos ter ao menos umas 400 vagas que ainda não foram pedidas pelas unidades, dentro daquelas 879. Porque a reitoria dá, por exemplo, 70 vagas para a FFLCH, e ela precisa dizer como vai usá-las. Depois tem o prazo para o edital de contratação ficar aberto, inscrição, banca. São procedimentos que não dá para encurtar muito porque são regimentais. O que podemos adiantar são as contratações temporárias, porque são feitas em menos tempo. E o número de provas é menor também.

Mas há muitas críticas com relação à precarização da universidade com professores temporários.

O temporário não é ideal. Ideal é o definitivo. Mas como tem um problema, estão dizendo que não tem professor, tem de fazer algo. A contratação do temporário pode fazer em cerca de 45 dias. Ele fica na vaga durante 6 ou 8 meses até o definitivo ser contratado.

Já há unidades resolvendo o problema atual com temporários?

Algumas sim. Mas as unidades estão muito lentas para fazer esses pedidos. Por exemplo: o Japonês (habilitação do curso de Letras). A FFLCH tem condições de fazer o pedido e a contratação, assim como no Coreano (as duas áreas tiveram disciplinas canceladas por falta de docentes). A Adusp, então, tem parte de razão: se as unidades e a reitoria forem mais céleres, dá para ganhar tempo. Nos professores definitivos não muito, mas nos temporários dá pra ganhar um tempo importante. Na última semana, tivemos concurso em que nenhum professor foi escolhido porque se concluiu que todos os inscritos não tinham o perfil. Por isso seria bom que contratássemos temporários por um tempo, fizéssemos boas escolhas. Porque o docente que entra na USP fica 40 anos. Não dá para agilizar, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm que entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos.

Não dá para agilizar, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm que entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos

O que fazer com essas disciplinas que foram canceladas este semestre?

O número de disciplinas que não tiveram docentes, que foram canceladas, é muito baixo. Fica principalmente na área de Letras, Japonês e Coreano. Quer dizer, não seria motivo para tanta reivindicação. Aparece muito a palavra ‘solidariedade’. Quer dizer: aqui na minha unidade não tem problema, mas vamos entrar em greve em solidariedade aos alunos da FFLCH.

E os alunos que não podem se formar porque perderam disciplinas?

É contratar o temporário para ele ter aula e finalizar o seu curso.

Clara Moreno, 23 anos, aluna de Artes Visuais, está entre os estudantes da USP que foram impedidos de cursar as últimas disciplinas necessárias para a conclusão do curso por conta da falta de professores. Foto: Felipe Rau/ Estadão

Ainda dá tempo neste semestre?

Dá tempo. É um número muito pequeno de disciplinas Na FFLCH são menos de três. Não vou saber te dizer na USP toda porque quando uma disciplina não é oferecida tem vários motivos - a menos frequente é a falta de professor. Tem falta de aluno, disciplinas que já saíram do currículo e ainda continuam no sistema. Quando faz o levantamento aparecem várias disciplinas em várias unidades. Mas quando vê caso a caso, são poucas que não foram oferecidas e que impedem a formação do aluno, não mais do que dois ou três cursos. Mas é muito difícil a reitoria saber todos esses detalhes que acontecem dentro das unidades. Não é que quero jogar responsabilidade para elas, mas quem sabe o que está acontecendo naquela disciplina é o departamento, às vezes é uma área dentro do departamento. Todo mundo tem de se envolver.

Como vê um movimento de greve logo após a universidade ser 1ª no ranking internacional pela primeira vez em anos?

O ranking e a posição número um da USP na América Latina abrem portas para a universidade, de parcerias internacionais, como estou fazendo agora na Europa, viajando pela Alemanha e França. Minha preocupação é que essa greve cause problema na imagem da universidade, lembrando ainda que temos nos próximos meses uma negociação que vai mudar os parâmetros de financiamento da universidade (O orçamento da USP hoje vem de uma porcentagem da arrecadação do ICMS do Estado, imposto que deverá deixar de existir com a aprovação da reforma tributária). É importante que a USP esteja forte nessa negociação. Vamos ter de negociar com a Alesp (Assembleia Legislativa), com governo do Estado. Como será a negociação se a imagem da USP foi uma imagem de greve, de que não tem professor, de baixa qualidade do ensino? E essa imagem está longe da realidade, a universidade está melhorando, produzindo mais, internacionalizando mais.

Umas das reivindicações dos alunos é o aumento do valor da bolsa de permanência para alunos pobres. Isso está sendo negociado com eles?

Sim, estamos conversando com os alunos. Fizemos muitas coisas, aumentamos o valor da bolsa, mas podemos melhorar também. Podemos discutir com os alunos critério de distribuição, tudo que for para melhorar estamos dispostos, mas tem pontos difíceis. Alunos e alunas não aceitam que tenhamos outras fontes de permanência estudantil, querem que a USP seja responsável por 100%. E trabalhamos com um projeto do endowment para que isso manter grande número de bolsas, buscando apoio de ex-alunos, de empresas. O Itaú foi um deles, mas temos uns 10 parceiros. Temos uma empresa que paga bolsas somente para mulheres negras da área de matemática e computação. É o tipo de iniciativa que devemos valorizar, são pessoas que querem ajudar. Qual universidade do mundo que arca com todos os custos de bolsas para alunos?

Uma greve de estudantes, iniciada na semana passada na Universidade de São Paulo (USP), cresceu nos últimos dias, com relatos de professores impedidos por alunos de entrar em prédios da instituição. Parte deles recorre até a aulas online para manter as atividades, como mostrou o Estadão. Em entrevista exclusiva, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior pede que os alunos que querem ter aulas se manifestem. “As pessoas precisam se mobilizar, tanto professores quanto alunos, no sentido de mostrar o que realmente querem. Uma minoria faz barricadas e ninguém tem aula”, afirmou ao Estadão. “Não vamos usar a força.”

Carlotti, que assumiu a reitoria no ano passado, diz não compreender o real motivo da greve, que paralisou nos últimos dias algumas das maiores faculdades da USP, como a de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a de Direito e a Escola Politécnica. A reivindicação principal é o déficit de professores, o que levou ao cancelamento de disciplinas em algumas unidades.

“Não tem sentido uma greve prolongada quando as coisas já estão se resolvendo. Ficamos muito tempo sem contratar, diminuiu o número de docentes, é verdade. Mas desde o primeiro dia da gestão tentamos resolver o problema”, afirma ele, que está na Alemanha, para fechar parcerias internacionais - a negociação direta com os grevistas está a cargo da vice-reitora nesta quinta-feira, 28.

“Prefiro pensar a USP como uma universidade que defende a liberdade, até de divergir, mas conversando. Formamos os nossos alunos para que sejam críticos, mas esse tipo de movimento, que usa a força, não cabe dentro da USP”, diz ele, sobre queixas de professores sobre agressões e barricadas.

Como mostrou o Estadão, em uma década, a USP perdeu cerca de 800 professores, após anos sem novas contratações em virtude da crise financeira e da proibição a concursos na pandemia. Em 2022, a reitoria havia autorizado contratar 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, mas adiantou as vagas para este ano após pedidos e pressões.

Mesmo assim, os ânimos não se acalmaram e a greve eclodiu. Alunos que lideram o movimento e parte dos professores veem o plano como insuficiente e cobram mais agilidade nas soluções. Os estudantes à frente da greve dizem que a ação é “justa”, “necessária” e negam agir com violência.

Como os processos de contratação são lentos, com concurso e seleção, o reitor sugere que as unidades chamem professores temporários para as disciplinas com problemas. “O docente que entra na USP fica 40 anos. Não dá para você ficar agilizando, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm de entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos.”

O reitor Carlos Carlotti Júnior diz não entender os reais motivos da greve atual na universidade Foto: Marcello Chello/Estadão - 21/10/2021

Como avalia a greve atual? Boa parte das unidades está sem aulas, com piquetes, barricadas.

Tem de ter muita paciência, porque esses movimentos são difusos, têm uma pauta muito grande, além da contratação dos docentes. A contratação dos docentes está bem encaminhada. Se tivermos um pouco de paciência, o número de docentes volta aos 6 mil que tínhamos em 2014. Ainda em 2022 e 2023, tivemos mais perdas de professores. Mas até o fim de 2024, já devemos ter aí 5,7 mil, 5,8 mil professores. Aí ficamos mais tranquilos. É impossível fazer com uma velocidade muito grande as contratações. Obviamente a administração central tem falhas, mas sinceramente não justifica uma greve com essa intensidade. Os alunos precisariam entender melhor, se informar melhor, e não colocar em risco a saúde da universidade, por um assunto que você pode resolver localmente.

A universidade vai tomar alguma atitude em relação aos piquetes e barricadas que impedem a entrada de professores?

O mecanismo de força é muito ruim, não devemos responder com um mecanismo de força ou com a mesma intensidade, com a mesma metodologia. O que procuramos fazer é o convencimento, o esclarecimento, tanto da sociedade quanto dos alunos. Se a maioria dos alunos quer ter aula é só ir lá votar nas assembleias e terminar a greve. As pessoas precisam se mobilizar, tanto professores quanto alunos, no sentido de mostrarem o que realmente querem. Uma minoria faz essas barricadas e ninguém tem aula. Não estou propondo confronto, mas se manifestar na diretoria, com professores, com seus próprios colegas.

O senhor vai chamar a Guarda Universitária ou a Polícia Militar para forçar a abertura?

Isso não vamos fazer. Não vamos usar a força.

Acessos às salas de aulas da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, foram bloqueadas pelos alunos com cadeiras e mesas. Foto: Felipe Rau/ Estadão

Alguns professores já dão aulas online, como na pandemia. Como vê isso?

É bem diferente da situação da pandemia. Estávamos impedidos de dar aula. Agora são os alunos que não estão presentes. A grande maioria dos professores quer dar aula. A universidade não vai tomar uma posição geral de induzir ou de solicitar que os professores façam atividade online. Mas se algum professor quiser fazer alguma atividade, se achar que faz sentido, pode realizar. Não será como na pandemia. Hoje não tem sentido: a universidade está aí, os laboratórios estão aí, os professores estão aí. Não podemos regredir.

A USP está parada?

Temos muitas unidades funcionando e outras unidades grandes que estão fazendo paralisações por um ou dois dias. Mas temos alguns câmpus inteiros funcionando: Piracicaba, Pirassununga, grande parte de Lorena, Bauru, a maior parte de Ribeirão (Preto). São Paulo, não. Mas espero que em poucos dias se resolva. Não tem sentido uma greve prolongada quando as coisas já estão se resolvendo. Ficamos muito tempo sem contratar, diminuiu o número de docentes, é verdade. Mas desde o primeiro dia dessa gestão, tentamos resolver esse problema. Quando começa a resolver, tem um movimento grevista. Isso é difícil de entender.

Diretores e professores falam de agressões verbais presenciais e pelas redes sociais...

Particularmente não sofri nada, mas recebi vários comentários de colegas impedidos de dar aula, trancados, não puderam entrar ou sair, ter acesso à unidade para fazer pesquisa. Vejo com muita preocupação. No 11 de agosto do ano passado, fizemos um grande movimento da universidade com a sociedade, defendendo o Estado de Direito, as eleições do Brasil. E, na mesma faculdade, temos um professor impedido de entrar. Esses valores que defendemos são valores para a sociedade. Na época, tivemos muito apoio do movimento estudantil. E fizemos também movimentos após os atos violentos de 8 de janeiro em Brasília. Agora, como podemos fazer dentro da nossa casa, jogar cadeiras, impedir pessoas de dar aulas? Prefiro pensar USP como uma universidade que defende a liberdade, até de divergir, mas conversando, argumentando e utilizando a inteligência. Formamos nossos alunos para que sejam críticos, mas esse tipo de movimento, que usa a força, não cabe dentro da Universidade de São Paulo.

Os alunos precisariam entender melhor, se informar melhor, e não colocar em risco a saúde da universidade, por um assunto que você pode resolver localmente

A Adusp diz que a reitoria poderia ajudar em uma força-tarefa para contratações mais rápidas.

Isso é parcialmente possível. Primeiro, a unidade tem de pedir a vaga, dizer para qual departamento será. Isso não posso agilizar: são reuniões do departamento, de congregação, e depois esse pedido vem para reitoria. Combinei na reitoria que vamos dar a resposta em 24 horas; antes demorava. Mas adiantamos as vagas e nem todo mundo fez os pedidos ainda. Devemos ter ao menos umas 400 vagas que ainda não foram pedidas pelas unidades, dentro daquelas 879. Porque a reitoria dá, por exemplo, 70 vagas para a FFLCH, e ela precisa dizer como vai usá-las. Depois tem o prazo para o edital de contratação ficar aberto, inscrição, banca. São procedimentos que não dá para encurtar muito porque são regimentais. O que podemos adiantar são as contratações temporárias, porque são feitas em menos tempo. E o número de provas é menor também.

Mas há muitas críticas com relação à precarização da universidade com professores temporários.

O temporário não é ideal. Ideal é o definitivo. Mas como tem um problema, estão dizendo que não tem professor, tem de fazer algo. A contratação do temporário pode fazer em cerca de 45 dias. Ele fica na vaga durante 6 ou 8 meses até o definitivo ser contratado.

Já há unidades resolvendo o problema atual com temporários?

Algumas sim. Mas as unidades estão muito lentas para fazer esses pedidos. Por exemplo: o Japonês (habilitação do curso de Letras). A FFLCH tem condições de fazer o pedido e a contratação, assim como no Coreano (as duas áreas tiveram disciplinas canceladas por falta de docentes). A Adusp, então, tem parte de razão: se as unidades e a reitoria forem mais céleres, dá para ganhar tempo. Nos professores definitivos não muito, mas nos temporários dá pra ganhar um tempo importante. Na última semana, tivemos concurso em que nenhum professor foi escolhido porque se concluiu que todos os inscritos não tinham o perfil. Por isso seria bom que contratássemos temporários por um tempo, fizéssemos boas escolhas. Porque o docente que entra na USP fica 40 anos. Não dá para agilizar, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm que entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos.

Não dá para agilizar, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm que entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos

O que fazer com essas disciplinas que foram canceladas este semestre?

O número de disciplinas que não tiveram docentes, que foram canceladas, é muito baixo. Fica principalmente na área de Letras, Japonês e Coreano. Quer dizer, não seria motivo para tanta reivindicação. Aparece muito a palavra ‘solidariedade’. Quer dizer: aqui na minha unidade não tem problema, mas vamos entrar em greve em solidariedade aos alunos da FFLCH.

E os alunos que não podem se formar porque perderam disciplinas?

É contratar o temporário para ele ter aula e finalizar o seu curso.

Clara Moreno, 23 anos, aluna de Artes Visuais, está entre os estudantes da USP que foram impedidos de cursar as últimas disciplinas necessárias para a conclusão do curso por conta da falta de professores. Foto: Felipe Rau/ Estadão

Ainda dá tempo neste semestre?

Dá tempo. É um número muito pequeno de disciplinas Na FFLCH são menos de três. Não vou saber te dizer na USP toda porque quando uma disciplina não é oferecida tem vários motivos - a menos frequente é a falta de professor. Tem falta de aluno, disciplinas que já saíram do currículo e ainda continuam no sistema. Quando faz o levantamento aparecem várias disciplinas em várias unidades. Mas quando vê caso a caso, são poucas que não foram oferecidas e que impedem a formação do aluno, não mais do que dois ou três cursos. Mas é muito difícil a reitoria saber todos esses detalhes que acontecem dentro das unidades. Não é que quero jogar responsabilidade para elas, mas quem sabe o que está acontecendo naquela disciplina é o departamento, às vezes é uma área dentro do departamento. Todo mundo tem de se envolver.

Como vê um movimento de greve logo após a universidade ser 1ª no ranking internacional pela primeira vez em anos?

O ranking e a posição número um da USP na América Latina abrem portas para a universidade, de parcerias internacionais, como estou fazendo agora na Europa, viajando pela Alemanha e França. Minha preocupação é que essa greve cause problema na imagem da universidade, lembrando ainda que temos nos próximos meses uma negociação que vai mudar os parâmetros de financiamento da universidade (O orçamento da USP hoje vem de uma porcentagem da arrecadação do ICMS do Estado, imposto que deverá deixar de existir com a aprovação da reforma tributária). É importante que a USP esteja forte nessa negociação. Vamos ter de negociar com a Alesp (Assembleia Legislativa), com governo do Estado. Como será a negociação se a imagem da USP foi uma imagem de greve, de que não tem professor, de baixa qualidade do ensino? E essa imagem está longe da realidade, a universidade está melhorando, produzindo mais, internacionalizando mais.

Umas das reivindicações dos alunos é o aumento do valor da bolsa de permanência para alunos pobres. Isso está sendo negociado com eles?

Sim, estamos conversando com os alunos. Fizemos muitas coisas, aumentamos o valor da bolsa, mas podemos melhorar também. Podemos discutir com os alunos critério de distribuição, tudo que for para melhorar estamos dispostos, mas tem pontos difíceis. Alunos e alunas não aceitam que tenhamos outras fontes de permanência estudantil, querem que a USP seja responsável por 100%. E trabalhamos com um projeto do endowment para que isso manter grande número de bolsas, buscando apoio de ex-alunos, de empresas. O Itaú foi um deles, mas temos uns 10 parceiros. Temos uma empresa que paga bolsas somente para mulheres negras da área de matemática e computação. É o tipo de iniciativa que devemos valorizar, são pessoas que querem ajudar. Qual universidade do mundo que arca com todos os custos de bolsas para alunos?

Uma greve de estudantes, iniciada na semana passada na Universidade de São Paulo (USP), cresceu nos últimos dias, com relatos de professores impedidos por alunos de entrar em prédios da instituição. Parte deles recorre até a aulas online para manter as atividades, como mostrou o Estadão. Em entrevista exclusiva, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior pede que os alunos que querem ter aulas se manifestem. “As pessoas precisam se mobilizar, tanto professores quanto alunos, no sentido de mostrar o que realmente querem. Uma minoria faz barricadas e ninguém tem aula”, afirmou ao Estadão. “Não vamos usar a força.”

Carlotti, que assumiu a reitoria no ano passado, diz não compreender o real motivo da greve, que paralisou nos últimos dias algumas das maiores faculdades da USP, como a de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a de Direito e a Escola Politécnica. A reivindicação principal é o déficit de professores, o que levou ao cancelamento de disciplinas em algumas unidades.

“Não tem sentido uma greve prolongada quando as coisas já estão se resolvendo. Ficamos muito tempo sem contratar, diminuiu o número de docentes, é verdade. Mas desde o primeiro dia da gestão tentamos resolver o problema”, afirma ele, que está na Alemanha, para fechar parcerias internacionais - a negociação direta com os grevistas está a cargo da vice-reitora nesta quinta-feira, 28.

“Prefiro pensar a USP como uma universidade que defende a liberdade, até de divergir, mas conversando. Formamos os nossos alunos para que sejam críticos, mas esse tipo de movimento, que usa a força, não cabe dentro da USP”, diz ele, sobre queixas de professores sobre agressões e barricadas.

Como mostrou o Estadão, em uma década, a USP perdeu cerca de 800 professores, após anos sem novas contratações em virtude da crise financeira e da proibição a concursos na pandemia. Em 2022, a reitoria havia autorizado contratar 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, mas adiantou as vagas para este ano após pedidos e pressões.

Mesmo assim, os ânimos não se acalmaram e a greve eclodiu. Alunos que lideram o movimento e parte dos professores veem o plano como insuficiente e cobram mais agilidade nas soluções. Os estudantes à frente da greve dizem que a ação é “justa”, “necessária” e negam agir com violência.

Como os processos de contratação são lentos, com concurso e seleção, o reitor sugere que as unidades chamem professores temporários para as disciplinas com problemas. “O docente que entra na USP fica 40 anos. Não dá para você ficar agilizando, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm de entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos.”

O reitor Carlos Carlotti Júnior diz não entender os reais motivos da greve atual na universidade Foto: Marcello Chello/Estadão - 21/10/2021

Como avalia a greve atual? Boa parte das unidades está sem aulas, com piquetes, barricadas.

Tem de ter muita paciência, porque esses movimentos são difusos, têm uma pauta muito grande, além da contratação dos docentes. A contratação dos docentes está bem encaminhada. Se tivermos um pouco de paciência, o número de docentes volta aos 6 mil que tínhamos em 2014. Ainda em 2022 e 2023, tivemos mais perdas de professores. Mas até o fim de 2024, já devemos ter aí 5,7 mil, 5,8 mil professores. Aí ficamos mais tranquilos. É impossível fazer com uma velocidade muito grande as contratações. Obviamente a administração central tem falhas, mas sinceramente não justifica uma greve com essa intensidade. Os alunos precisariam entender melhor, se informar melhor, e não colocar em risco a saúde da universidade, por um assunto que você pode resolver localmente.

A universidade vai tomar alguma atitude em relação aos piquetes e barricadas que impedem a entrada de professores?

O mecanismo de força é muito ruim, não devemos responder com um mecanismo de força ou com a mesma intensidade, com a mesma metodologia. O que procuramos fazer é o convencimento, o esclarecimento, tanto da sociedade quanto dos alunos. Se a maioria dos alunos quer ter aula é só ir lá votar nas assembleias e terminar a greve. As pessoas precisam se mobilizar, tanto professores quanto alunos, no sentido de mostrarem o que realmente querem. Uma minoria faz essas barricadas e ninguém tem aula. Não estou propondo confronto, mas se manifestar na diretoria, com professores, com seus próprios colegas.

O senhor vai chamar a Guarda Universitária ou a Polícia Militar para forçar a abertura?

Isso não vamos fazer. Não vamos usar a força.

Acessos às salas de aulas da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, foram bloqueadas pelos alunos com cadeiras e mesas. Foto: Felipe Rau/ Estadão

Alguns professores já dão aulas online, como na pandemia. Como vê isso?

É bem diferente da situação da pandemia. Estávamos impedidos de dar aula. Agora são os alunos que não estão presentes. A grande maioria dos professores quer dar aula. A universidade não vai tomar uma posição geral de induzir ou de solicitar que os professores façam atividade online. Mas se algum professor quiser fazer alguma atividade, se achar que faz sentido, pode realizar. Não será como na pandemia. Hoje não tem sentido: a universidade está aí, os laboratórios estão aí, os professores estão aí. Não podemos regredir.

A USP está parada?

Temos muitas unidades funcionando e outras unidades grandes que estão fazendo paralisações por um ou dois dias. Mas temos alguns câmpus inteiros funcionando: Piracicaba, Pirassununga, grande parte de Lorena, Bauru, a maior parte de Ribeirão (Preto). São Paulo, não. Mas espero que em poucos dias se resolva. Não tem sentido uma greve prolongada quando as coisas já estão se resolvendo. Ficamos muito tempo sem contratar, diminuiu o número de docentes, é verdade. Mas desde o primeiro dia dessa gestão, tentamos resolver esse problema. Quando começa a resolver, tem um movimento grevista. Isso é difícil de entender.

Diretores e professores falam de agressões verbais presenciais e pelas redes sociais...

Particularmente não sofri nada, mas recebi vários comentários de colegas impedidos de dar aula, trancados, não puderam entrar ou sair, ter acesso à unidade para fazer pesquisa. Vejo com muita preocupação. No 11 de agosto do ano passado, fizemos um grande movimento da universidade com a sociedade, defendendo o Estado de Direito, as eleições do Brasil. E, na mesma faculdade, temos um professor impedido de entrar. Esses valores que defendemos são valores para a sociedade. Na época, tivemos muito apoio do movimento estudantil. E fizemos também movimentos após os atos violentos de 8 de janeiro em Brasília. Agora, como podemos fazer dentro da nossa casa, jogar cadeiras, impedir pessoas de dar aulas? Prefiro pensar USP como uma universidade que defende a liberdade, até de divergir, mas conversando, argumentando e utilizando a inteligência. Formamos nossos alunos para que sejam críticos, mas esse tipo de movimento, que usa a força, não cabe dentro da Universidade de São Paulo.

Os alunos precisariam entender melhor, se informar melhor, e não colocar em risco a saúde da universidade, por um assunto que você pode resolver localmente

A Adusp diz que a reitoria poderia ajudar em uma força-tarefa para contratações mais rápidas.

Isso é parcialmente possível. Primeiro, a unidade tem de pedir a vaga, dizer para qual departamento será. Isso não posso agilizar: são reuniões do departamento, de congregação, e depois esse pedido vem para reitoria. Combinei na reitoria que vamos dar a resposta em 24 horas; antes demorava. Mas adiantamos as vagas e nem todo mundo fez os pedidos ainda. Devemos ter ao menos umas 400 vagas que ainda não foram pedidas pelas unidades, dentro daquelas 879. Porque a reitoria dá, por exemplo, 70 vagas para a FFLCH, e ela precisa dizer como vai usá-las. Depois tem o prazo para o edital de contratação ficar aberto, inscrição, banca. São procedimentos que não dá para encurtar muito porque são regimentais. O que podemos adiantar são as contratações temporárias, porque são feitas em menos tempo. E o número de provas é menor também.

Mas há muitas críticas com relação à precarização da universidade com professores temporários.

O temporário não é ideal. Ideal é o definitivo. Mas como tem um problema, estão dizendo que não tem professor, tem de fazer algo. A contratação do temporário pode fazer em cerca de 45 dias. Ele fica na vaga durante 6 ou 8 meses até o definitivo ser contratado.

Já há unidades resolvendo o problema atual com temporários?

Algumas sim. Mas as unidades estão muito lentas para fazer esses pedidos. Por exemplo: o Japonês (habilitação do curso de Letras). A FFLCH tem condições de fazer o pedido e a contratação, assim como no Coreano (as duas áreas tiveram disciplinas canceladas por falta de docentes). A Adusp, então, tem parte de razão: se as unidades e a reitoria forem mais céleres, dá para ganhar tempo. Nos professores definitivos não muito, mas nos temporários dá pra ganhar um tempo importante. Na última semana, tivemos concurso em que nenhum professor foi escolhido porque se concluiu que todos os inscritos não tinham o perfil. Por isso seria bom que contratássemos temporários por um tempo, fizéssemos boas escolhas. Porque o docente que entra na USP fica 40 anos. Não dá para agilizar, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm que entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos.

Não dá para agilizar, contratando de qualquer jeito. Isso é o que as pessoas têm que entender. Estamos pensando não só hoje, mas no ano que vem, daqui 5 anos, 20 anos

O que fazer com essas disciplinas que foram canceladas este semestre?

O número de disciplinas que não tiveram docentes, que foram canceladas, é muito baixo. Fica principalmente na área de Letras, Japonês e Coreano. Quer dizer, não seria motivo para tanta reivindicação. Aparece muito a palavra ‘solidariedade’. Quer dizer: aqui na minha unidade não tem problema, mas vamos entrar em greve em solidariedade aos alunos da FFLCH.

E os alunos que não podem se formar porque perderam disciplinas?

É contratar o temporário para ele ter aula e finalizar o seu curso.

Clara Moreno, 23 anos, aluna de Artes Visuais, está entre os estudantes da USP que foram impedidos de cursar as últimas disciplinas necessárias para a conclusão do curso por conta da falta de professores. Foto: Felipe Rau/ Estadão

Ainda dá tempo neste semestre?

Dá tempo. É um número muito pequeno de disciplinas Na FFLCH são menos de três. Não vou saber te dizer na USP toda porque quando uma disciplina não é oferecida tem vários motivos - a menos frequente é a falta de professor. Tem falta de aluno, disciplinas que já saíram do currículo e ainda continuam no sistema. Quando faz o levantamento aparecem várias disciplinas em várias unidades. Mas quando vê caso a caso, são poucas que não foram oferecidas e que impedem a formação do aluno, não mais do que dois ou três cursos. Mas é muito difícil a reitoria saber todos esses detalhes que acontecem dentro das unidades. Não é que quero jogar responsabilidade para elas, mas quem sabe o que está acontecendo naquela disciplina é o departamento, às vezes é uma área dentro do departamento. Todo mundo tem de se envolver.

Como vê um movimento de greve logo após a universidade ser 1ª no ranking internacional pela primeira vez em anos?

O ranking e a posição número um da USP na América Latina abrem portas para a universidade, de parcerias internacionais, como estou fazendo agora na Europa, viajando pela Alemanha e França. Minha preocupação é que essa greve cause problema na imagem da universidade, lembrando ainda que temos nos próximos meses uma negociação que vai mudar os parâmetros de financiamento da universidade (O orçamento da USP hoje vem de uma porcentagem da arrecadação do ICMS do Estado, imposto que deverá deixar de existir com a aprovação da reforma tributária). É importante que a USP esteja forte nessa negociação. Vamos ter de negociar com a Alesp (Assembleia Legislativa), com governo do Estado. Como será a negociação se a imagem da USP foi uma imagem de greve, de que não tem professor, de baixa qualidade do ensino? E essa imagem está longe da realidade, a universidade está melhorando, produzindo mais, internacionalizando mais.

Umas das reivindicações dos alunos é o aumento do valor da bolsa de permanência para alunos pobres. Isso está sendo negociado com eles?

Sim, estamos conversando com os alunos. Fizemos muitas coisas, aumentamos o valor da bolsa, mas podemos melhorar também. Podemos discutir com os alunos critério de distribuição, tudo que for para melhorar estamos dispostos, mas tem pontos difíceis. Alunos e alunas não aceitam que tenhamos outras fontes de permanência estudantil, querem que a USP seja responsável por 100%. E trabalhamos com um projeto do endowment para que isso manter grande número de bolsas, buscando apoio de ex-alunos, de empresas. O Itaú foi um deles, mas temos uns 10 parceiros. Temos uma empresa que paga bolsas somente para mulheres negras da área de matemática e computação. É o tipo de iniciativa que devemos valorizar, são pessoas que querem ajudar. Qual universidade do mundo que arca com todos os custos de bolsas para alunos?

Entrevista por Renata Cafardo

Repórter especial do ‘Estadão’ e fundadora da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca)

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