O reitor da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Gilberto Carlotti Junior, ofereceu nesta terça-feira, 10, aumentar o número de bolsas que ajudam na permanência de alunos pobres na instituição e se comprometeu novamente em contratar 1.027 novos professores, numa tentativa de encerrar a greve de estudantes. A paralisação começou no dia 20 de setembro e se estende por várias unidades. Carlotti entregou um documento com 24 propostas aos alunos que faziam manifestação na porta da reitoria.
“Cada dia sem aula na USP é para mim um dia triste e difícil. Uma universidade como a nossa não pode parar”, disse o reitor em vídeo divulgado nesta quarta-feira, após entregar o documento. “Avançamos e melhoramos o que já estava sendo feito, no limite da responsabilidade”, completou.
Segundo ele, as 1.027 novas vagas para professores “representam o maior programa de contratação já realizado numa universidade brasileira” e a ampliação das bolsas mostra a “boa vontade” da reitoria em negociar.
“Então, vamos voltar às aulas, às pesquisas e às nossas rotinas, é isso que a sociedade espera de nós”, pediu Carlotti. “No nosso brasão está escrito: com a ciência, vencerá. Com a ciência, o conhecimento e o diálogo, a USP vencerá.”
“Uma demanda que a gente tinha era o aumento do valor do auxílio permanência, que é de R$ 800, e o fim do teto de bolsas. A reitoria se baliza na distribuição das bolsas que ela mesma definiu e não de acordo com a necessidade dos estudantes. A gente queria o fim desse teto para que todo estudante que precisasse desse auxílio pudesse recebê-lo e não ficasse refém desse teto”, disse Pedro Chiquitti, estudante de História e diretor do Diretório Central Estudantil da USP (DCE), após receber o documento. Ele também diz que a reitoria “jogou para o futuro” muitas definições sobre as bolsas.
No entanto, para Chiquitti, as propostas são “uma vitória concreta”, mesmo considerando as 1.027 contratações um número “enxuto”. Os alunos farão assembleia nesta quarta-feira, 11, para votar a continuidade ou não da greve após a proposta da reitoria.
“A reitoria informa que nenhum curso será fechado por falta de professores”, diz o documento da USP. Além disso, o reitor se compromete em criar “uma força tarefa” para contratar professores temporários em no máximo 45 dias, enquanto a seleção, que demora meses, estiver em curso.
“A reitoria realizará uma nova rodada de distribuição das bolsas PUB não contempladas ainda este ano”, diz o documento, em referência ao Programa Unificado de Bolsas (PUB). Também, com relação a outra bolsa oferecida pela universidade, a USP se dispôs a “reanalisar as solicitações negadas para o recebimento de auxílio desde que estas sejam justificadas, acompanhadas de novos dados e documentos comprobatórios”.
Houve também um comprometimento de monitorar o “perfil discente para o acompanhamento e aprimoramento da política de permanência estudantil e seu respectivo orçamento” e ainda analisar questões específicas dos alunos na USP Leste, unidade que fica numa região com menos estrutura.
Para o câmpus na zona leste da capital, a reitoria também disse que vai construir um prédio com uma creche em parceria com a secretaria municipal da Educação. Outro ponto que era reivindicado pelos estudantes era uma política voltada para alunos indígenas. O documento afirma que a USP “implementará a Comissão de Acesso Indígena”.
Na segunda-feira, mais de 130 professores da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) divulgaram uma carta em que pedem a retomada das aulas e o fim da greve de alunos. A unidade está sem atividades desde o dia 29, com piquetes nas portas das salas.
Segundo o texto, a “paralisação e indefinição em relação à retomada traz prejuízos não só ao calendário acadêmico atual, mas também às atividades de pesquisa e manutenção da excelência acadêmica desta faculdade, pela qual a FEAUSP é reconhecida internacionalmente”.
Estudantes da USP estão em greve desde o dia 20 e a adesão à paralisação foi sendo aprovada nas unidades ao longo dos dias. Na semana passada, em reunião de negociação com os grevistas, a USP anunciou que iria liberar mais 148 novas vagas para contratação de professores, adicionais às 879 que já tinham sido aprovadas para diferentes unidades. A principal reivindicação da greve era o déficit de professores na instituição, que perdeu 800 docentes em uma década.