Naquela época, aos 21 anos o sujeito era mais velho do que é hoje. Vivia-se menos, e a gente amadurecia à força, antes do que ocorre atualmente. Era estudante de Direito e trabalhava no extinto Jornal da Bahia. Os suplementos literários eram muito badalados e cheguei a dirigir um deles. Mexia com isso e já era metido a literato. Comecei a publicar artigos e crônicas e tanta coisa que já me esqueci. Era intelectual de porta de livraria, juntamente com a turma daquele tempo.
Morava em Salvador e lia, como leio até hoje, Shakespeare. Éramos fascinados pelos romancistas americanos: Hemingway, Faulkner, Scott Fitzgerald. E Sartre – quem não lesse era um ignorante (risos). Éramos todos de esquerda. Queríamos ser revolucionários e modificar a sociedade. Líamos muito os filósofos marxistas. Queríamos mudar o mundo para melhor e fazer a diferença com a nossa atividade.
Eu me interessava por tudo. Colecionei protozoários, porque gostava de microscopia e biologia. Mas a minha coisa mesmo era escrever, embora só mais tarde eu tenha contemplado a ideia de viver de escrever, porque isso era considerado impossível. Não se pagava direito autoral no Brasil, a não ser em casos raríssimos.
A gente nunca se acha velho, mas, de repente, nos surpreendemos velho mesmo. Não só porque o corpo não responde mais da forma que respondia aos estímulos ou à vontade do seu dono, como a pessoa desenvolve um certo fastio.Hoje, tenho poucas ilusões sobre a humanidade. Os avanços tecnológicos parecem ameaçar coisas que podem vir a não ser caras às pessoas no futuro, mas que hoje me são fundamentais, como a privacidade e a liberdade.
As coisas que eu quero saber agora são as mesmas que todo mundo quer saber: quem sou eu, de que me trato, o que é isto aqui, para onde vamos, se é que vamos a algum lugar. Mas não sou mais movido a uma grande curiosidade (risos). /Depoimento dado a Thiago Mattos