Blog dos Colégios

REGGIO EMILIA, uma experiência transformadora


Por Escola Lourenço Castanho

Muito se ouve falar sobre as inovações desenvolvidas em Reggio Emila. Marcia Dalla Stela, diretora no Ensino Infantil da Lourenço Castanho, teve a oportunidade de conhecer mais a fundo essa experiência e compartilha com a Revista suas impressões.

A história dessa experiência inovadora em educação infantil surge no pós Segunda Guerra Mundial num momento que poderia ser de prostração e de perda, mas foi de reconstrução de paradigmas. As mulheres de Reggio Emilia, região norte da Itália, queriam mais que um lugar onde deixar seus filhos, buscavam uma escola de qualidade. Em 1945, os materiais bélicos são vendidos e o dinheiro arrecadado é destinado à construção da primeira escola da comunidade: Scuola Comunale del Infanzia - XXV Aprile, em Villa Cella, lugarejo distante cerca de 8 km da cidade. A essa iniciativa une-se o jovem pedagogo Loris Malaguzzi, que ajudou o grupo a instituir o regime de autogestão comunitária. Anos mais tarde, após formar-se psicólogo em Roma, Malaguzzi seria um dos principais articuladores do movimento que gestaria a rede de creches e escolas da infância de Reggio Emilia, a primeira delas fundada em 1963. Loris Malaguzzi dialoga com a pedagogia de vanguarda da época: Piaget, Vygotsky, Frenet, autores que não haviam ainda sido traduzidos na Itália. Assim, a construção pedagógica das escolas se concretiza dentro de uma perspectiva sócio-construtivista em que o conhecimento se constrói através da ação do sujeito, se constrói no contexto, propiciando às crianças aprenderem pelas experiências e nas experiências da ação e do fazer. Hoje, Reggio Emilia é uma cidade que tem por volta de 173 mil habitantes em que as crianças de 0 - 6 anos representam 6% da população. 65,8% delas frequentam as escolas públicas, num total de 6630 alunos. Para acolher todas, a cidade possui 12 Creches e 21 Escolas da Infância. Os princípios do projeto de Reggio Emilia baseiam-se em três pilares: a educação é um direito, a educação é de responsabilidade da comunidade, da sociedade civil e dos governos e a educação é um bem comum.

Justamente por considerar a educação um bem comum, direito universal e inaliável, foi criada, em 2011, a Fondazione Reggio Children-Centro Loris Malaguzzi, que hoje está em 34 países do mundo promovendo e divulgando a proposta educativa de Reggio. De 11 a 14 de maio de 2014, a diretora do Ensino Infantil da Lourenço Castanho, Marcia Dalla Stella, viajou para a Itália para conhecer mais de perto o projeto. A iniciativa se deu por meio da RedSOLARE, uma associação latino americana em defesa da Cultura da Infância cujo objetivo é a valorização desta fase da vida e a difusão da prática educativa de Reggio Emília, conhecida internacionalmente como Reggio Aproach, ou abordagem Reggiana. A associação garante espaços de diálogos, interlocução e parceria entre instituições que são diferentes em termos de estrutura, funcionamento e organização, e estão inseridas em contexto socioeconômico diferente, mas guardam entre si o desejo de multiplicar ações que favoreçam a educação infantil de qualidade e o olhar diferenciado para a criança. Segundo Marcia, a viagem foi um convite ao questionamento, à busca de diálogo, de trocas. Algumas marcas da abordagem reggiana ficaram evidenciadas como, por exemplo, o fato de Reggio ser uma cidade fundamentalmente envolvida e preocupada com a educação das crianças e o fato de os adultos se reconhecerem como educadores. Embora os contextos sejam diferentes, essa é uma experiência que deixa marcas importantes, aponta a diretora. Ir à Reggio, de certa forma, gera uma inquietação, embora não se possa pensar na cópia de modelos ou reprodução de práticas, uma vez que cada cidade, cada país vive uma realidade específica. "Durante as apresentações dos projetos, relatos, ações, visitas, tive a sensação de querer saber mais e a certeza de que não existem fórmulas prontas. O mais importante é pensar que, como educadores, precisamos garantir um espaço de aprendizagem em que a criança tenha prioridade, seja olhada em sua integralidade e, para isso, é preciso acreditar em ações que promovam experiências de qualidade. Nas escolas que fazem uso do modelo Reggio Children, os alunos são vistos e tratados como protagonistas de suas próprias histórias. Cada projeto leva-os à criação de um sentimento de pertencimento de grupo, mas também a descobrirem suas próprias individualidades.", relata Marcia. Na viagem, dois dias são separados para o grupo se dividir e visitar escolas. As impressões de Marcia sobre essas visitas ressaltam a participação da comunidade no convívio escolar por meio do acompanhamento do desempenho dos alunos por parte dos pais e também pela exposição dos trabalhos das crianças em eventos e locais da cidade. Outro fator a chamar a atenção é que as crianças passam bastante tempo em locais abertos: pequenos parquinhos com brinquedos de madeira. Tudo, segunda Marcia, parece ser pensado para que a criança desenvolva seu conhecimento não só pela aprendizagem dentro da sala de aula, mas também pelo tato, pelos odores, pelo contato com a realidade. Como a pedagogia da Reggio está fundada no fazer infantil, nas creches e escolas de Reggio há diversidade de materiais e presença da arte não como disciplina paralela, mas como parte do processo cotidiano de conhecimento. Os atelieristas trabalham em conjunto com os professores tendo, inclusive, paridade salarial. Os temas são trabalhados por meio de projetos, com os alunos seguindo rotas próprias, porém sempre baseadas em um princípio norteador: cada um pode seguir seu caminho, mas é preciso haver a costura de um acordo coletivo entre todos os envolvidos na empreitada. Outro ponto fundamental do modelo reggiano é a organização do trabalho educativo. A prática da pesquisa e o rever constante de projetos e atitudes é primordial para todos educadores. A esse processo chamam "projetação". Os professores têm 6 horas semanais à parte das horas-aula para pensarem os projetos já encaminhados e os futuros projetos.

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Conheça mais sobre o projeto Reggio Emilia e seus desdobramentos educacionais nas obras:

La educacion infantil em Reggio Emilia, de Loris Malaguzzi. Editora Octaedro. O papel do ateliê na educação infantil - A inspiração de Reggio Emilia. Lella Gandini et alii. Editora PENSO-ARTMED.

Texto: Roberta Alves.

Muito se ouve falar sobre as inovações desenvolvidas em Reggio Emila. Marcia Dalla Stela, diretora no Ensino Infantil da Lourenço Castanho, teve a oportunidade de conhecer mais a fundo essa experiência e compartilha com a Revista suas impressões.

A história dessa experiência inovadora em educação infantil surge no pós Segunda Guerra Mundial num momento que poderia ser de prostração e de perda, mas foi de reconstrução de paradigmas. As mulheres de Reggio Emilia, região norte da Itália, queriam mais que um lugar onde deixar seus filhos, buscavam uma escola de qualidade. Em 1945, os materiais bélicos são vendidos e o dinheiro arrecadado é destinado à construção da primeira escola da comunidade: Scuola Comunale del Infanzia - XXV Aprile, em Villa Cella, lugarejo distante cerca de 8 km da cidade. A essa iniciativa une-se o jovem pedagogo Loris Malaguzzi, que ajudou o grupo a instituir o regime de autogestão comunitária. Anos mais tarde, após formar-se psicólogo em Roma, Malaguzzi seria um dos principais articuladores do movimento que gestaria a rede de creches e escolas da infância de Reggio Emilia, a primeira delas fundada em 1963. Loris Malaguzzi dialoga com a pedagogia de vanguarda da época: Piaget, Vygotsky, Frenet, autores que não haviam ainda sido traduzidos na Itália. Assim, a construção pedagógica das escolas se concretiza dentro de uma perspectiva sócio-construtivista em que o conhecimento se constrói através da ação do sujeito, se constrói no contexto, propiciando às crianças aprenderem pelas experiências e nas experiências da ação e do fazer. Hoje, Reggio Emilia é uma cidade que tem por volta de 173 mil habitantes em que as crianças de 0 - 6 anos representam 6% da população. 65,8% delas frequentam as escolas públicas, num total de 6630 alunos. Para acolher todas, a cidade possui 12 Creches e 21 Escolas da Infância. Os princípios do projeto de Reggio Emilia baseiam-se em três pilares: a educação é um direito, a educação é de responsabilidade da comunidade, da sociedade civil e dos governos e a educação é um bem comum.

Justamente por considerar a educação um bem comum, direito universal e inaliável, foi criada, em 2011, a Fondazione Reggio Children-Centro Loris Malaguzzi, que hoje está em 34 países do mundo promovendo e divulgando a proposta educativa de Reggio. De 11 a 14 de maio de 2014, a diretora do Ensino Infantil da Lourenço Castanho, Marcia Dalla Stella, viajou para a Itália para conhecer mais de perto o projeto. A iniciativa se deu por meio da RedSOLARE, uma associação latino americana em defesa da Cultura da Infância cujo objetivo é a valorização desta fase da vida e a difusão da prática educativa de Reggio Emília, conhecida internacionalmente como Reggio Aproach, ou abordagem Reggiana. A associação garante espaços de diálogos, interlocução e parceria entre instituições que são diferentes em termos de estrutura, funcionamento e organização, e estão inseridas em contexto socioeconômico diferente, mas guardam entre si o desejo de multiplicar ações que favoreçam a educação infantil de qualidade e o olhar diferenciado para a criança. Segundo Marcia, a viagem foi um convite ao questionamento, à busca de diálogo, de trocas. Algumas marcas da abordagem reggiana ficaram evidenciadas como, por exemplo, o fato de Reggio ser uma cidade fundamentalmente envolvida e preocupada com a educação das crianças e o fato de os adultos se reconhecerem como educadores. Embora os contextos sejam diferentes, essa é uma experiência que deixa marcas importantes, aponta a diretora. Ir à Reggio, de certa forma, gera uma inquietação, embora não se possa pensar na cópia de modelos ou reprodução de práticas, uma vez que cada cidade, cada país vive uma realidade específica. "Durante as apresentações dos projetos, relatos, ações, visitas, tive a sensação de querer saber mais e a certeza de que não existem fórmulas prontas. O mais importante é pensar que, como educadores, precisamos garantir um espaço de aprendizagem em que a criança tenha prioridade, seja olhada em sua integralidade e, para isso, é preciso acreditar em ações que promovam experiências de qualidade. Nas escolas que fazem uso do modelo Reggio Children, os alunos são vistos e tratados como protagonistas de suas próprias histórias. Cada projeto leva-os à criação de um sentimento de pertencimento de grupo, mas também a descobrirem suas próprias individualidades.", relata Marcia. Na viagem, dois dias são separados para o grupo se dividir e visitar escolas. As impressões de Marcia sobre essas visitas ressaltam a participação da comunidade no convívio escolar por meio do acompanhamento do desempenho dos alunos por parte dos pais e também pela exposição dos trabalhos das crianças em eventos e locais da cidade. Outro fator a chamar a atenção é que as crianças passam bastante tempo em locais abertos: pequenos parquinhos com brinquedos de madeira. Tudo, segunda Marcia, parece ser pensado para que a criança desenvolva seu conhecimento não só pela aprendizagem dentro da sala de aula, mas também pelo tato, pelos odores, pelo contato com a realidade. Como a pedagogia da Reggio está fundada no fazer infantil, nas creches e escolas de Reggio há diversidade de materiais e presença da arte não como disciplina paralela, mas como parte do processo cotidiano de conhecimento. Os atelieristas trabalham em conjunto com os professores tendo, inclusive, paridade salarial. Os temas são trabalhados por meio de projetos, com os alunos seguindo rotas próprias, porém sempre baseadas em um princípio norteador: cada um pode seguir seu caminho, mas é preciso haver a costura de um acordo coletivo entre todos os envolvidos na empreitada. Outro ponto fundamental do modelo reggiano é a organização do trabalho educativo. A prática da pesquisa e o rever constante de projetos e atitudes é primordial para todos educadores. A esse processo chamam "projetação". Os professores têm 6 horas semanais à parte das horas-aula para pensarem os projetos já encaminhados e os futuros projetos.

Conheça mais sobre o projeto Reggio Emilia e seus desdobramentos educacionais nas obras:

La educacion infantil em Reggio Emilia, de Loris Malaguzzi. Editora Octaedro. O papel do ateliê na educação infantil - A inspiração de Reggio Emilia. Lella Gandini et alii. Editora PENSO-ARTMED.

Texto: Roberta Alves.

Muito se ouve falar sobre as inovações desenvolvidas em Reggio Emila. Marcia Dalla Stela, diretora no Ensino Infantil da Lourenço Castanho, teve a oportunidade de conhecer mais a fundo essa experiência e compartilha com a Revista suas impressões.

A história dessa experiência inovadora em educação infantil surge no pós Segunda Guerra Mundial num momento que poderia ser de prostração e de perda, mas foi de reconstrução de paradigmas. As mulheres de Reggio Emilia, região norte da Itália, queriam mais que um lugar onde deixar seus filhos, buscavam uma escola de qualidade. Em 1945, os materiais bélicos são vendidos e o dinheiro arrecadado é destinado à construção da primeira escola da comunidade: Scuola Comunale del Infanzia - XXV Aprile, em Villa Cella, lugarejo distante cerca de 8 km da cidade. A essa iniciativa une-se o jovem pedagogo Loris Malaguzzi, que ajudou o grupo a instituir o regime de autogestão comunitária. Anos mais tarde, após formar-se psicólogo em Roma, Malaguzzi seria um dos principais articuladores do movimento que gestaria a rede de creches e escolas da infância de Reggio Emilia, a primeira delas fundada em 1963. Loris Malaguzzi dialoga com a pedagogia de vanguarda da época: Piaget, Vygotsky, Frenet, autores que não haviam ainda sido traduzidos na Itália. Assim, a construção pedagógica das escolas se concretiza dentro de uma perspectiva sócio-construtivista em que o conhecimento se constrói através da ação do sujeito, se constrói no contexto, propiciando às crianças aprenderem pelas experiências e nas experiências da ação e do fazer. Hoje, Reggio Emilia é uma cidade que tem por volta de 173 mil habitantes em que as crianças de 0 - 6 anos representam 6% da população. 65,8% delas frequentam as escolas públicas, num total de 6630 alunos. Para acolher todas, a cidade possui 12 Creches e 21 Escolas da Infância. Os princípios do projeto de Reggio Emilia baseiam-se em três pilares: a educação é um direito, a educação é de responsabilidade da comunidade, da sociedade civil e dos governos e a educação é um bem comum.

Justamente por considerar a educação um bem comum, direito universal e inaliável, foi criada, em 2011, a Fondazione Reggio Children-Centro Loris Malaguzzi, que hoje está em 34 países do mundo promovendo e divulgando a proposta educativa de Reggio. De 11 a 14 de maio de 2014, a diretora do Ensino Infantil da Lourenço Castanho, Marcia Dalla Stella, viajou para a Itália para conhecer mais de perto o projeto. A iniciativa se deu por meio da RedSOLARE, uma associação latino americana em defesa da Cultura da Infância cujo objetivo é a valorização desta fase da vida e a difusão da prática educativa de Reggio Emília, conhecida internacionalmente como Reggio Aproach, ou abordagem Reggiana. A associação garante espaços de diálogos, interlocução e parceria entre instituições que são diferentes em termos de estrutura, funcionamento e organização, e estão inseridas em contexto socioeconômico diferente, mas guardam entre si o desejo de multiplicar ações que favoreçam a educação infantil de qualidade e o olhar diferenciado para a criança. Segundo Marcia, a viagem foi um convite ao questionamento, à busca de diálogo, de trocas. Algumas marcas da abordagem reggiana ficaram evidenciadas como, por exemplo, o fato de Reggio ser uma cidade fundamentalmente envolvida e preocupada com a educação das crianças e o fato de os adultos se reconhecerem como educadores. Embora os contextos sejam diferentes, essa é uma experiência que deixa marcas importantes, aponta a diretora. Ir à Reggio, de certa forma, gera uma inquietação, embora não se possa pensar na cópia de modelos ou reprodução de práticas, uma vez que cada cidade, cada país vive uma realidade específica. "Durante as apresentações dos projetos, relatos, ações, visitas, tive a sensação de querer saber mais e a certeza de que não existem fórmulas prontas. O mais importante é pensar que, como educadores, precisamos garantir um espaço de aprendizagem em que a criança tenha prioridade, seja olhada em sua integralidade e, para isso, é preciso acreditar em ações que promovam experiências de qualidade. Nas escolas que fazem uso do modelo Reggio Children, os alunos são vistos e tratados como protagonistas de suas próprias histórias. Cada projeto leva-os à criação de um sentimento de pertencimento de grupo, mas também a descobrirem suas próprias individualidades.", relata Marcia. Na viagem, dois dias são separados para o grupo se dividir e visitar escolas. As impressões de Marcia sobre essas visitas ressaltam a participação da comunidade no convívio escolar por meio do acompanhamento do desempenho dos alunos por parte dos pais e também pela exposição dos trabalhos das crianças em eventos e locais da cidade. Outro fator a chamar a atenção é que as crianças passam bastante tempo em locais abertos: pequenos parquinhos com brinquedos de madeira. Tudo, segunda Marcia, parece ser pensado para que a criança desenvolva seu conhecimento não só pela aprendizagem dentro da sala de aula, mas também pelo tato, pelos odores, pelo contato com a realidade. Como a pedagogia da Reggio está fundada no fazer infantil, nas creches e escolas de Reggio há diversidade de materiais e presença da arte não como disciplina paralela, mas como parte do processo cotidiano de conhecimento. Os atelieristas trabalham em conjunto com os professores tendo, inclusive, paridade salarial. Os temas são trabalhados por meio de projetos, com os alunos seguindo rotas próprias, porém sempre baseadas em um princípio norteador: cada um pode seguir seu caminho, mas é preciso haver a costura de um acordo coletivo entre todos os envolvidos na empreitada. Outro ponto fundamental do modelo reggiano é a organização do trabalho educativo. A prática da pesquisa e o rever constante de projetos e atitudes é primordial para todos educadores. A esse processo chamam "projetação". Os professores têm 6 horas semanais à parte das horas-aula para pensarem os projetos já encaminhados e os futuros projetos.

Conheça mais sobre o projeto Reggio Emilia e seus desdobramentos educacionais nas obras:

La educacion infantil em Reggio Emilia, de Loris Malaguzzi. Editora Octaedro. O papel do ateliê na educação infantil - A inspiração de Reggio Emilia. Lella Gandini et alii. Editora PENSO-ARTMED.

Texto: Roberta Alves.

Muito se ouve falar sobre as inovações desenvolvidas em Reggio Emila. Marcia Dalla Stela, diretora no Ensino Infantil da Lourenço Castanho, teve a oportunidade de conhecer mais a fundo essa experiência e compartilha com a Revista suas impressões.

A história dessa experiência inovadora em educação infantil surge no pós Segunda Guerra Mundial num momento que poderia ser de prostração e de perda, mas foi de reconstrução de paradigmas. As mulheres de Reggio Emilia, região norte da Itália, queriam mais que um lugar onde deixar seus filhos, buscavam uma escola de qualidade. Em 1945, os materiais bélicos são vendidos e o dinheiro arrecadado é destinado à construção da primeira escola da comunidade: Scuola Comunale del Infanzia - XXV Aprile, em Villa Cella, lugarejo distante cerca de 8 km da cidade. A essa iniciativa une-se o jovem pedagogo Loris Malaguzzi, que ajudou o grupo a instituir o regime de autogestão comunitária. Anos mais tarde, após formar-se psicólogo em Roma, Malaguzzi seria um dos principais articuladores do movimento que gestaria a rede de creches e escolas da infância de Reggio Emilia, a primeira delas fundada em 1963. Loris Malaguzzi dialoga com a pedagogia de vanguarda da época: Piaget, Vygotsky, Frenet, autores que não haviam ainda sido traduzidos na Itália. Assim, a construção pedagógica das escolas se concretiza dentro de uma perspectiva sócio-construtivista em que o conhecimento se constrói através da ação do sujeito, se constrói no contexto, propiciando às crianças aprenderem pelas experiências e nas experiências da ação e do fazer. Hoje, Reggio Emilia é uma cidade que tem por volta de 173 mil habitantes em que as crianças de 0 - 6 anos representam 6% da população. 65,8% delas frequentam as escolas públicas, num total de 6630 alunos. Para acolher todas, a cidade possui 12 Creches e 21 Escolas da Infância. Os princípios do projeto de Reggio Emilia baseiam-se em três pilares: a educação é um direito, a educação é de responsabilidade da comunidade, da sociedade civil e dos governos e a educação é um bem comum.

Justamente por considerar a educação um bem comum, direito universal e inaliável, foi criada, em 2011, a Fondazione Reggio Children-Centro Loris Malaguzzi, que hoje está em 34 países do mundo promovendo e divulgando a proposta educativa de Reggio. De 11 a 14 de maio de 2014, a diretora do Ensino Infantil da Lourenço Castanho, Marcia Dalla Stella, viajou para a Itália para conhecer mais de perto o projeto. A iniciativa se deu por meio da RedSOLARE, uma associação latino americana em defesa da Cultura da Infância cujo objetivo é a valorização desta fase da vida e a difusão da prática educativa de Reggio Emília, conhecida internacionalmente como Reggio Aproach, ou abordagem Reggiana. A associação garante espaços de diálogos, interlocução e parceria entre instituições que são diferentes em termos de estrutura, funcionamento e organização, e estão inseridas em contexto socioeconômico diferente, mas guardam entre si o desejo de multiplicar ações que favoreçam a educação infantil de qualidade e o olhar diferenciado para a criança. Segundo Marcia, a viagem foi um convite ao questionamento, à busca de diálogo, de trocas. Algumas marcas da abordagem reggiana ficaram evidenciadas como, por exemplo, o fato de Reggio ser uma cidade fundamentalmente envolvida e preocupada com a educação das crianças e o fato de os adultos se reconhecerem como educadores. Embora os contextos sejam diferentes, essa é uma experiência que deixa marcas importantes, aponta a diretora. Ir à Reggio, de certa forma, gera uma inquietação, embora não se possa pensar na cópia de modelos ou reprodução de práticas, uma vez que cada cidade, cada país vive uma realidade específica. "Durante as apresentações dos projetos, relatos, ações, visitas, tive a sensação de querer saber mais e a certeza de que não existem fórmulas prontas. O mais importante é pensar que, como educadores, precisamos garantir um espaço de aprendizagem em que a criança tenha prioridade, seja olhada em sua integralidade e, para isso, é preciso acreditar em ações que promovam experiências de qualidade. Nas escolas que fazem uso do modelo Reggio Children, os alunos são vistos e tratados como protagonistas de suas próprias histórias. Cada projeto leva-os à criação de um sentimento de pertencimento de grupo, mas também a descobrirem suas próprias individualidades.", relata Marcia. Na viagem, dois dias são separados para o grupo se dividir e visitar escolas. As impressões de Marcia sobre essas visitas ressaltam a participação da comunidade no convívio escolar por meio do acompanhamento do desempenho dos alunos por parte dos pais e também pela exposição dos trabalhos das crianças em eventos e locais da cidade. Outro fator a chamar a atenção é que as crianças passam bastante tempo em locais abertos: pequenos parquinhos com brinquedos de madeira. Tudo, segunda Marcia, parece ser pensado para que a criança desenvolva seu conhecimento não só pela aprendizagem dentro da sala de aula, mas também pelo tato, pelos odores, pelo contato com a realidade. Como a pedagogia da Reggio está fundada no fazer infantil, nas creches e escolas de Reggio há diversidade de materiais e presença da arte não como disciplina paralela, mas como parte do processo cotidiano de conhecimento. Os atelieristas trabalham em conjunto com os professores tendo, inclusive, paridade salarial. Os temas são trabalhados por meio de projetos, com os alunos seguindo rotas próprias, porém sempre baseadas em um princípio norteador: cada um pode seguir seu caminho, mas é preciso haver a costura de um acordo coletivo entre todos os envolvidos na empreitada. Outro ponto fundamental do modelo reggiano é a organização do trabalho educativo. A prática da pesquisa e o rever constante de projetos e atitudes é primordial para todos educadores. A esse processo chamam "projetação". Os professores têm 6 horas semanais à parte das horas-aula para pensarem os projetos já encaminhados e os futuros projetos.

Conheça mais sobre o projeto Reggio Emilia e seus desdobramentos educacionais nas obras:

La educacion infantil em Reggio Emilia, de Loris Malaguzzi. Editora Octaedro. O papel do ateliê na educação infantil - A inspiração de Reggio Emilia. Lella Gandini et alii. Editora PENSO-ARTMED.

Texto: Roberta Alves.

Muito se ouve falar sobre as inovações desenvolvidas em Reggio Emila. Marcia Dalla Stela, diretora no Ensino Infantil da Lourenço Castanho, teve a oportunidade de conhecer mais a fundo essa experiência e compartilha com a Revista suas impressões.

A história dessa experiência inovadora em educação infantil surge no pós Segunda Guerra Mundial num momento que poderia ser de prostração e de perda, mas foi de reconstrução de paradigmas. As mulheres de Reggio Emilia, região norte da Itália, queriam mais que um lugar onde deixar seus filhos, buscavam uma escola de qualidade. Em 1945, os materiais bélicos são vendidos e o dinheiro arrecadado é destinado à construção da primeira escola da comunidade: Scuola Comunale del Infanzia - XXV Aprile, em Villa Cella, lugarejo distante cerca de 8 km da cidade. A essa iniciativa une-se o jovem pedagogo Loris Malaguzzi, que ajudou o grupo a instituir o regime de autogestão comunitária. Anos mais tarde, após formar-se psicólogo em Roma, Malaguzzi seria um dos principais articuladores do movimento que gestaria a rede de creches e escolas da infância de Reggio Emilia, a primeira delas fundada em 1963. Loris Malaguzzi dialoga com a pedagogia de vanguarda da época: Piaget, Vygotsky, Frenet, autores que não haviam ainda sido traduzidos na Itália. Assim, a construção pedagógica das escolas se concretiza dentro de uma perspectiva sócio-construtivista em que o conhecimento se constrói através da ação do sujeito, se constrói no contexto, propiciando às crianças aprenderem pelas experiências e nas experiências da ação e do fazer. Hoje, Reggio Emilia é uma cidade que tem por volta de 173 mil habitantes em que as crianças de 0 - 6 anos representam 6% da população. 65,8% delas frequentam as escolas públicas, num total de 6630 alunos. Para acolher todas, a cidade possui 12 Creches e 21 Escolas da Infância. Os princípios do projeto de Reggio Emilia baseiam-se em três pilares: a educação é um direito, a educação é de responsabilidade da comunidade, da sociedade civil e dos governos e a educação é um bem comum.

Justamente por considerar a educação um bem comum, direito universal e inaliável, foi criada, em 2011, a Fondazione Reggio Children-Centro Loris Malaguzzi, que hoje está em 34 países do mundo promovendo e divulgando a proposta educativa de Reggio. De 11 a 14 de maio de 2014, a diretora do Ensino Infantil da Lourenço Castanho, Marcia Dalla Stella, viajou para a Itália para conhecer mais de perto o projeto. A iniciativa se deu por meio da RedSOLARE, uma associação latino americana em defesa da Cultura da Infância cujo objetivo é a valorização desta fase da vida e a difusão da prática educativa de Reggio Emília, conhecida internacionalmente como Reggio Aproach, ou abordagem Reggiana. A associação garante espaços de diálogos, interlocução e parceria entre instituições que são diferentes em termos de estrutura, funcionamento e organização, e estão inseridas em contexto socioeconômico diferente, mas guardam entre si o desejo de multiplicar ações que favoreçam a educação infantil de qualidade e o olhar diferenciado para a criança. Segundo Marcia, a viagem foi um convite ao questionamento, à busca de diálogo, de trocas. Algumas marcas da abordagem reggiana ficaram evidenciadas como, por exemplo, o fato de Reggio ser uma cidade fundamentalmente envolvida e preocupada com a educação das crianças e o fato de os adultos se reconhecerem como educadores. Embora os contextos sejam diferentes, essa é uma experiência que deixa marcas importantes, aponta a diretora. Ir à Reggio, de certa forma, gera uma inquietação, embora não se possa pensar na cópia de modelos ou reprodução de práticas, uma vez que cada cidade, cada país vive uma realidade específica. "Durante as apresentações dos projetos, relatos, ações, visitas, tive a sensação de querer saber mais e a certeza de que não existem fórmulas prontas. O mais importante é pensar que, como educadores, precisamos garantir um espaço de aprendizagem em que a criança tenha prioridade, seja olhada em sua integralidade e, para isso, é preciso acreditar em ações que promovam experiências de qualidade. Nas escolas que fazem uso do modelo Reggio Children, os alunos são vistos e tratados como protagonistas de suas próprias histórias. Cada projeto leva-os à criação de um sentimento de pertencimento de grupo, mas também a descobrirem suas próprias individualidades.", relata Marcia. Na viagem, dois dias são separados para o grupo se dividir e visitar escolas. As impressões de Marcia sobre essas visitas ressaltam a participação da comunidade no convívio escolar por meio do acompanhamento do desempenho dos alunos por parte dos pais e também pela exposição dos trabalhos das crianças em eventos e locais da cidade. Outro fator a chamar a atenção é que as crianças passam bastante tempo em locais abertos: pequenos parquinhos com brinquedos de madeira. Tudo, segunda Marcia, parece ser pensado para que a criança desenvolva seu conhecimento não só pela aprendizagem dentro da sala de aula, mas também pelo tato, pelos odores, pelo contato com a realidade. Como a pedagogia da Reggio está fundada no fazer infantil, nas creches e escolas de Reggio há diversidade de materiais e presença da arte não como disciplina paralela, mas como parte do processo cotidiano de conhecimento. Os atelieristas trabalham em conjunto com os professores tendo, inclusive, paridade salarial. Os temas são trabalhados por meio de projetos, com os alunos seguindo rotas próprias, porém sempre baseadas em um princípio norteador: cada um pode seguir seu caminho, mas é preciso haver a costura de um acordo coletivo entre todos os envolvidos na empreitada. Outro ponto fundamental do modelo reggiano é a organização do trabalho educativo. A prática da pesquisa e o rever constante de projetos e atitudes é primordial para todos educadores. A esse processo chamam "projetação". Os professores têm 6 horas semanais à parte das horas-aula para pensarem os projetos já encaminhados e os futuros projetos.

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