Maioria das escolas estaduais de SP não tem computador e conexão suficientes: ‘Wi-Fi não pega’


Só 39% das 5,3 mil unidades de ensino estão preparadas para atender as turmas, apesar de estratégia de uso de materiais digitais; secretaria diz que está ampliando número de equipamentos e velocidade de internet

Por Renata Cafardo
Atualização:

Apesar da intenção da secretaria da educação de São Paulo de usar apenas materiais digitais, só 1.953 (39%) das 5,3 mil escolas estaduais têm wi-fi, computadores e outros equipamentos para atender a maioria das turmas. A informação está no Plano Plurianual do governo do Estado, apresentado pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) há cerca de 15 dias, que explicita as metas do governo entre 2024 e 2027.

O documento também não coloca como objetivo equipar todas as escolas públicas com conectividade e equipamentos até o fim do período.

Após forte repercussão negativa, o secretário de Educação, Renato Feder, recuou da decisão de desistir dos livros didáticos impressos. Mesmo assim, o governo manteve e está ampliando os materiais digitais, com aulas organizadas em slides de Power Point, que precisam ser dadas com computador, TV e internet.

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Além de exigirem tecnologia, os materiais têm erros de informação histórica, geográfica e de matemática. Entre os equívocos, está a informação de que a cidade de São Paulo possui praia, que a Lei Áurea não foi assinada pela Princesa Isabel, e que uma divisão de 36 por 9 tem 6 como resultado.

Em entrevista ao Estadão no começo de agosto, ao justificar a recusa de 10 milhões livros didáticos comprados pelo Ministério da Educação (MEC), Feder disse que “a aula é uma grande TV, que passa os slides em Power Point, alunos com papel e caneta, anotando e fazendo exercícios”.

O governo Tarcísio também impôs a obrigatoriedade de as chamadas serem feitas pelos professores em um aplicativo de celular e instalou sem autorização de docentes e estudantes outro aplicativo em seus aparelhos pessoais.

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O Estadão conversou com professores da capital, litoral e interior e esteve em escolas estaduais cujas salas de aula não têm nenhuma conexão com a internet ou a rede wi-fi é fraca e está disponível apenas em alguns ambientes. Faltam notebooks e TVs que possibilitariam as aulas dadas por meio de slides, como recomenda o governo desde abril.

Professores também reclamam que, apesar do discurso de incentivo à tecnologia, a rede de internet da secretaria bloqueia o acesso a vídeos e filmes que poderiam complementar as atividades nas aulas.

“Há pressão para que os professores façam a chamada no aplicativo, mas o wi-fi não pega na sala de aula e eles precisam usar o plano de dados do celular, internet só tem no prédio administrativo”, conta a diretora de uma escola de uma cidade na Grande São Paulo, que pediu para não ser identificada por medo de represálias do governo. Ela também paga uma rede de wi-fi particular para a escola porque a oferecida pelo Estado para o prédio da direção não é rápida o suficiente.

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A reportagem esteve na escola nesta semana e constatou que não há TVs em nenhuma das 18 salas de aula. São 1.200 alunos na escola. Os aparelhos de 43 polegadas foram enviados à rede estadual ainda durante o governo de João Doria (PSDB), mas por falta de segurança - a escola já foi assaltada várias vezes e teve até as fiações roubadas - elas ficam trancadas em um depósito e podem ser levadas com um carrinho quando o professor requisitar. No entanto, por falta de internet, raramente são solicitadas e os docentes usam lousas comuns.

TVs em depósito fechado com trancas e grades em escola estadual da Grande São Paulo Foto: RENATA CAFARDO/ESTADÃO

A professora de história Janaína de Paula, que dá aulas numa escola estadual de Itaquera, na zona leste, diz que, como suas salas são no terceiro subsolo, o wi-fi não funciona. “Para pegar tem que ir com o celular num canto.” Ela disse que comprou um projetor para passar slides para a turma e também usa o próprio notebook.

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Segundo dados do Plano Plurianual apresentado por Tarcísio à Assembleia Legislativa, a educação é um dos “objetivos estratégicos”. Uma das metas da área é referente à “disponibilização de recursos e equipamentos de tecnologia” nas escolas “visando a formação integral dos estudantes por meio da inclusão na cultura digital”.

A meta é aumentar das atuais 1.953 escolas com “cobertura wi-fi e parque tecnológico completo” para 2.500 em 2024. Em 2025, o objetivo é chegar a 3.500 e, em 2026, a 5 mil escolas. A mesma quantidade permanece como meta para 2027, não totalizando as 5,3 mil unidades da rede estadual de ensino ao final dos quatro anos. O Plano Plurianual é uma lei enviada pelo governo que prevê objetivos para todas as áreas do Estado.

Livros didáticos expostos em sala de aula da rede estadual Foto: Renata Cafardo/Estadão
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Em nota ao Estadão, a secretaria da educação diz que “iniciou o ano com 1.953 unidades”, mas que “estruturou um cronograma para ampliar o número de equipamentos (computadores, notebooks e tablets) nas unidades e as redes de internet de alta velocidade e wi-fi nas escolas”. Segundo a secretaria, “96% das escolas da rede contam com conexão dedicada de 100 mbps e 73% wi-fi nas salas de aula”. A conexão dedicada é exclusiva para um determinado local, mas para que ela chegue a vários ambientes, como salas de aula, é preciso aparelhos roteadores de wi-fi e qualidade da rede. O governo também afirma que entregará este mês cerca de 290 mil novos notebooks.

Sobre a meta final de conectividade e equipamentos não ser de 100% das escolas, o governo afirmou que das 5.346 escolas estaduais paulistas, 159 são classes em penitenciárias e 86 na Fundação Casa, que teriam impeditivo de segurança. Mas além das 5.002 escolas estaduais regulares, há ainda 40 escolas indígenas, 16 em áreas de assentamento, 4 em quilombos e 39 centros de educação de jovens e adultos.

Segundo o governo, uma escola com “parque tecnológico completo”, como menciona o Plano Pluanual, tem “computadores (desktops, notebooks ou tablets) suficientes para atender uma a cada três classes em um determinado turno”, além de “internet igual ou superior a 100 mbps com cobertura de rede sem fio (wi-fi) em todas as salas de aula”.

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YouTube, streaming e redes sociais

Janaína e outros professores ouvidos pelo Estadão também reclamam que não podem passar vídeos do YouTube ou trechos de filmes em plataformas de streaming para os alunos, mesmo com senha pessoal, porque a rede do Estado tem um bloqueio de acesso. Em março, a gestão de Feder justificou a iniciativa, dizendo que a intenção era impedir usos inapropriados no ambiente escolar de redes sociais e outras plataformas.

No entanto, há aulas nos próprios slides oferecidos pelo governo que discutem elementos das redes sociais, como os memes, que são tema de estudo em material de Língua Portuguesa, no 2º ano do ensino médio. “Se o aluno tem dúvidas, não podemos mostrar na prática porque não abrem nem para o professor”, diz um professor de Português que também pediu para não ter seu nome publicado.

Em nota ao Estadão, o governo disse que as plataformas de streamings e as redes sociais são bloqueadas e que o YouTube só não pode ser acessado nas semanas de provas externas, feitas pela secretaria, que ocorrem a cada dois meses.

“A secretaria quer só o digital deles, não temos autonomia para sugerir atividades digitais que consideramos interessantes para os alunos”, diz outro professor, que trabalha numa escola estadual de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. O uso de YouTube e plataformas de streaming é comum em escolas particulares como forma de engajar os alunos e trazer conteúdos diferenciados.

Na escola de Itanhaém faltam notebooks e TVs para todas as salas, mas mesmo onde eles existem, o funcionamento é precário. “Se um professor está dando a aula na plataforma digital e um outro vai esquentar sua comida no microondas da escola, cai o disjuntor”, conta o professor. “Também não tem pilha para os controles das TVs, tem que tirar de um pra por em outro.”

Carrinho com notebooks fornecidos pela rede estadual: professores reclamam que não há quantidade suficiente para todos os alunos Foto: RENATA CAFARDO/ESTADÃO

Já em uma escola de Sorocaba, no interior do Estado, os professores reclamam de falta de equipamentos. “Recebemos 145 tablets para cerca de 1.400 alunos. São 10 tablets por classe de 35 a 40 alunos e eles são obrigados a se revezar no uso do equipamento. Quando um termina, o outro começa e uma atividade que deveria demorar de 15 a 20 minutos acaba durando uma hora ou mais”, disse um dos professores.

Em Porto Feliz, também no interior, os docentes afirmam que a internet também não funciona em toda a escola. “Tem algumas salas que ficam fora do prédio principal onde não funciona internet de jeito nenhum. Aí, a gente não consegue acessar aula, atividades, fazer chamada, registrar a aula. E agora, como precisamos acessar os slides, a aula fica comprometida”, conta um professor.

Outro professor, de uma escola da região de Campinas, disse que a escola paga pela própria rede de wi-fi e só recentemente o Estado forneceu internet sem fio, mas que o sinal não é bom em todos os ambientes e não é possível usá-la em todas as salas ao mesmo tempo. “Muitas vezes precisamos usar os chips dos celulares que foram fornecidos durante a pandemia porque o wi-fi não pega”, conta. Além disso, ele diz que os equipamentos fornecidos são insuficientes e não suportam o uso das plataformas digitais. “Os computadores são velhos, não comportam muitos arquivos como ppt ou pdf”, conta.

‘Uma escola tecnológica significa acesso pleno a vários recursos: livros digitais e físicos’, diz especialista

Especialistas dizem que, ao introduzir o uso de materiais digitais, as redes de ensino precisam antes entender as diferenças de estrutura de tecnologia entre escolas. “Para a redução da desigualdade de aprendizagem, é fundamental que cada secretário de educação esteja atento à realidade, que é diversa, e as políticas precisam ser condizentes com isso. Ao se pensar em um material pedagógico exclusivamente digital é preciso saber se cada uma das salas de aula da rede vai rodar esse processo”, diz a diretora-executiva do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), Julia Sant’Anna, entidade que atua em apoio de políticas públicas para o uso da tecnologia em escolas públicas.

Ela afirma que hoje não é possível saber exatamente as condições de conectividade de todas as escolas brasileiras porque não há ainda um monitoramento, mas que o País está longe de alcançar os benefícios que a tecnologia pode trazer para a aprendizagem e para a gestão das redes de ensino.

“A grande maioria não tem um diário de classe informatizado, o que facilitaria a busca ativa do aluno que evade. E, além da velocidade, a conexão precisa ser estável, como a de fibra, com wi-fi, e com um monitoramento constante para ver se a rede que está boa hoje não vai cair amanhã”, completa.

“Uma escola tecnológica significa acesso pleno a vários recursos: livros digitais e físicos; equipamentos conectados, desconectados; e mediações virtuais e materiais. Não cabe à administração a imposição de apenas uma das mídias, digital ou física, com exclusividade”, diz o pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade de Columbia, Rodrigo Barbosa e Silva.

A declaração faz parte de um estudo que fez uma compilação de opiniões de especialistas da Stanford Lemann Center Expert Network, uma rede ligada à Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, sobre materiais digitais após a polêmica em São Paulo. “A sociedade moderna é construída com recursos diversos e disponíveis para cada situação particular. A escola próxima da sociedade deve ser um ambiente de opções, não de exclusões”, completa.

Para outro especialista do grupo, o doutorando em Educação da Universidade de Kobe, Danilo Leite, além das políticas para uso de tecnologia serem diferentes para cada contexto, já que há escolas com mais ou menos conectividade e equipamentos, não só a estrutura deve ser considerada. “A capacidade ou formação dos professores e gestores é muito importante, se os profissionais não têm formação, ou se a comunidade escolar não tem essa intenção em seu projeto pedagógico, a entrada de materiais didáticos digitais deve ser mais restrita”, afirma.

Na opinião da pesquisadora colaboradora no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) Fernanda Yamamoto, a rede de ensino pode até atuar para minimizar desigualdades internas, mas quando o estudante vai para casa, não há garantia de que terá equipamentos e internet, por isso os livros são importantes. “Além de os materiais físicos garantirem o direito à aprendizagem fora do ambiente escolar, podem também induzir que os alunos se engajem com eles de formas mais produtivas do que quando acessados somente através de telas.” / COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA

Apesar da intenção da secretaria da educação de São Paulo de usar apenas materiais digitais, só 1.953 (39%) das 5,3 mil escolas estaduais têm wi-fi, computadores e outros equipamentos para atender a maioria das turmas. A informação está no Plano Plurianual do governo do Estado, apresentado pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) há cerca de 15 dias, que explicita as metas do governo entre 2024 e 2027.

O documento também não coloca como objetivo equipar todas as escolas públicas com conectividade e equipamentos até o fim do período.

Após forte repercussão negativa, o secretário de Educação, Renato Feder, recuou da decisão de desistir dos livros didáticos impressos. Mesmo assim, o governo manteve e está ampliando os materiais digitais, com aulas organizadas em slides de Power Point, que precisam ser dadas com computador, TV e internet.

Além de exigirem tecnologia, os materiais têm erros de informação histórica, geográfica e de matemática. Entre os equívocos, está a informação de que a cidade de São Paulo possui praia, que a Lei Áurea não foi assinada pela Princesa Isabel, e que uma divisão de 36 por 9 tem 6 como resultado.

Em entrevista ao Estadão no começo de agosto, ao justificar a recusa de 10 milhões livros didáticos comprados pelo Ministério da Educação (MEC), Feder disse que “a aula é uma grande TV, que passa os slides em Power Point, alunos com papel e caneta, anotando e fazendo exercícios”.

O governo Tarcísio também impôs a obrigatoriedade de as chamadas serem feitas pelos professores em um aplicativo de celular e instalou sem autorização de docentes e estudantes outro aplicativo em seus aparelhos pessoais.

O Estadão conversou com professores da capital, litoral e interior e esteve em escolas estaduais cujas salas de aula não têm nenhuma conexão com a internet ou a rede wi-fi é fraca e está disponível apenas em alguns ambientes. Faltam notebooks e TVs que possibilitariam as aulas dadas por meio de slides, como recomenda o governo desde abril.

Professores também reclamam que, apesar do discurso de incentivo à tecnologia, a rede de internet da secretaria bloqueia o acesso a vídeos e filmes que poderiam complementar as atividades nas aulas.

“Há pressão para que os professores façam a chamada no aplicativo, mas o wi-fi não pega na sala de aula e eles precisam usar o plano de dados do celular, internet só tem no prédio administrativo”, conta a diretora de uma escola de uma cidade na Grande São Paulo, que pediu para não ser identificada por medo de represálias do governo. Ela também paga uma rede de wi-fi particular para a escola porque a oferecida pelo Estado para o prédio da direção não é rápida o suficiente.

A reportagem esteve na escola nesta semana e constatou que não há TVs em nenhuma das 18 salas de aula. São 1.200 alunos na escola. Os aparelhos de 43 polegadas foram enviados à rede estadual ainda durante o governo de João Doria (PSDB), mas por falta de segurança - a escola já foi assaltada várias vezes e teve até as fiações roubadas - elas ficam trancadas em um depósito e podem ser levadas com um carrinho quando o professor requisitar. No entanto, por falta de internet, raramente são solicitadas e os docentes usam lousas comuns.

TVs em depósito fechado com trancas e grades em escola estadual da Grande São Paulo Foto: RENATA CAFARDO/ESTADÃO

A professora de história Janaína de Paula, que dá aulas numa escola estadual de Itaquera, na zona leste, diz que, como suas salas são no terceiro subsolo, o wi-fi não funciona. “Para pegar tem que ir com o celular num canto.” Ela disse que comprou um projetor para passar slides para a turma e também usa o próprio notebook.

Segundo dados do Plano Plurianual apresentado por Tarcísio à Assembleia Legislativa, a educação é um dos “objetivos estratégicos”. Uma das metas da área é referente à “disponibilização de recursos e equipamentos de tecnologia” nas escolas “visando a formação integral dos estudantes por meio da inclusão na cultura digital”.

A meta é aumentar das atuais 1.953 escolas com “cobertura wi-fi e parque tecnológico completo” para 2.500 em 2024. Em 2025, o objetivo é chegar a 3.500 e, em 2026, a 5 mil escolas. A mesma quantidade permanece como meta para 2027, não totalizando as 5,3 mil unidades da rede estadual de ensino ao final dos quatro anos. O Plano Plurianual é uma lei enviada pelo governo que prevê objetivos para todas as áreas do Estado.

Livros didáticos expostos em sala de aula da rede estadual Foto: Renata Cafardo/Estadão

Em nota ao Estadão, a secretaria da educação diz que “iniciou o ano com 1.953 unidades”, mas que “estruturou um cronograma para ampliar o número de equipamentos (computadores, notebooks e tablets) nas unidades e as redes de internet de alta velocidade e wi-fi nas escolas”. Segundo a secretaria, “96% das escolas da rede contam com conexão dedicada de 100 mbps e 73% wi-fi nas salas de aula”. A conexão dedicada é exclusiva para um determinado local, mas para que ela chegue a vários ambientes, como salas de aula, é preciso aparelhos roteadores de wi-fi e qualidade da rede. O governo também afirma que entregará este mês cerca de 290 mil novos notebooks.

Sobre a meta final de conectividade e equipamentos não ser de 100% das escolas, o governo afirmou que das 5.346 escolas estaduais paulistas, 159 são classes em penitenciárias e 86 na Fundação Casa, que teriam impeditivo de segurança. Mas além das 5.002 escolas estaduais regulares, há ainda 40 escolas indígenas, 16 em áreas de assentamento, 4 em quilombos e 39 centros de educação de jovens e adultos.

Segundo o governo, uma escola com “parque tecnológico completo”, como menciona o Plano Pluanual, tem “computadores (desktops, notebooks ou tablets) suficientes para atender uma a cada três classes em um determinado turno”, além de “internet igual ou superior a 100 mbps com cobertura de rede sem fio (wi-fi) em todas as salas de aula”.

YouTube, streaming e redes sociais

Janaína e outros professores ouvidos pelo Estadão também reclamam que não podem passar vídeos do YouTube ou trechos de filmes em plataformas de streaming para os alunos, mesmo com senha pessoal, porque a rede do Estado tem um bloqueio de acesso. Em março, a gestão de Feder justificou a iniciativa, dizendo que a intenção era impedir usos inapropriados no ambiente escolar de redes sociais e outras plataformas.

No entanto, há aulas nos próprios slides oferecidos pelo governo que discutem elementos das redes sociais, como os memes, que são tema de estudo em material de Língua Portuguesa, no 2º ano do ensino médio. “Se o aluno tem dúvidas, não podemos mostrar na prática porque não abrem nem para o professor”, diz um professor de Português que também pediu para não ter seu nome publicado.

Em nota ao Estadão, o governo disse que as plataformas de streamings e as redes sociais são bloqueadas e que o YouTube só não pode ser acessado nas semanas de provas externas, feitas pela secretaria, que ocorrem a cada dois meses.

“A secretaria quer só o digital deles, não temos autonomia para sugerir atividades digitais que consideramos interessantes para os alunos”, diz outro professor, que trabalha numa escola estadual de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. O uso de YouTube e plataformas de streaming é comum em escolas particulares como forma de engajar os alunos e trazer conteúdos diferenciados.

Na escola de Itanhaém faltam notebooks e TVs para todas as salas, mas mesmo onde eles existem, o funcionamento é precário. “Se um professor está dando a aula na plataforma digital e um outro vai esquentar sua comida no microondas da escola, cai o disjuntor”, conta o professor. “Também não tem pilha para os controles das TVs, tem que tirar de um pra por em outro.”

Carrinho com notebooks fornecidos pela rede estadual: professores reclamam que não há quantidade suficiente para todos os alunos Foto: RENATA CAFARDO/ESTADÃO

Já em uma escola de Sorocaba, no interior do Estado, os professores reclamam de falta de equipamentos. “Recebemos 145 tablets para cerca de 1.400 alunos. São 10 tablets por classe de 35 a 40 alunos e eles são obrigados a se revezar no uso do equipamento. Quando um termina, o outro começa e uma atividade que deveria demorar de 15 a 20 minutos acaba durando uma hora ou mais”, disse um dos professores.

Em Porto Feliz, também no interior, os docentes afirmam que a internet também não funciona em toda a escola. “Tem algumas salas que ficam fora do prédio principal onde não funciona internet de jeito nenhum. Aí, a gente não consegue acessar aula, atividades, fazer chamada, registrar a aula. E agora, como precisamos acessar os slides, a aula fica comprometida”, conta um professor.

Outro professor, de uma escola da região de Campinas, disse que a escola paga pela própria rede de wi-fi e só recentemente o Estado forneceu internet sem fio, mas que o sinal não é bom em todos os ambientes e não é possível usá-la em todas as salas ao mesmo tempo. “Muitas vezes precisamos usar os chips dos celulares que foram fornecidos durante a pandemia porque o wi-fi não pega”, conta. Além disso, ele diz que os equipamentos fornecidos são insuficientes e não suportam o uso das plataformas digitais. “Os computadores são velhos, não comportam muitos arquivos como ppt ou pdf”, conta.

‘Uma escola tecnológica significa acesso pleno a vários recursos: livros digitais e físicos’, diz especialista

Especialistas dizem que, ao introduzir o uso de materiais digitais, as redes de ensino precisam antes entender as diferenças de estrutura de tecnologia entre escolas. “Para a redução da desigualdade de aprendizagem, é fundamental que cada secretário de educação esteja atento à realidade, que é diversa, e as políticas precisam ser condizentes com isso. Ao se pensar em um material pedagógico exclusivamente digital é preciso saber se cada uma das salas de aula da rede vai rodar esse processo”, diz a diretora-executiva do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), Julia Sant’Anna, entidade que atua em apoio de políticas públicas para o uso da tecnologia em escolas públicas.

Ela afirma que hoje não é possível saber exatamente as condições de conectividade de todas as escolas brasileiras porque não há ainda um monitoramento, mas que o País está longe de alcançar os benefícios que a tecnologia pode trazer para a aprendizagem e para a gestão das redes de ensino.

“A grande maioria não tem um diário de classe informatizado, o que facilitaria a busca ativa do aluno que evade. E, além da velocidade, a conexão precisa ser estável, como a de fibra, com wi-fi, e com um monitoramento constante para ver se a rede que está boa hoje não vai cair amanhã”, completa.

“Uma escola tecnológica significa acesso pleno a vários recursos: livros digitais e físicos; equipamentos conectados, desconectados; e mediações virtuais e materiais. Não cabe à administração a imposição de apenas uma das mídias, digital ou física, com exclusividade”, diz o pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade de Columbia, Rodrigo Barbosa e Silva.

A declaração faz parte de um estudo que fez uma compilação de opiniões de especialistas da Stanford Lemann Center Expert Network, uma rede ligada à Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, sobre materiais digitais após a polêmica em São Paulo. “A sociedade moderna é construída com recursos diversos e disponíveis para cada situação particular. A escola próxima da sociedade deve ser um ambiente de opções, não de exclusões”, completa.

Para outro especialista do grupo, o doutorando em Educação da Universidade de Kobe, Danilo Leite, além das políticas para uso de tecnologia serem diferentes para cada contexto, já que há escolas com mais ou menos conectividade e equipamentos, não só a estrutura deve ser considerada. “A capacidade ou formação dos professores e gestores é muito importante, se os profissionais não têm formação, ou se a comunidade escolar não tem essa intenção em seu projeto pedagógico, a entrada de materiais didáticos digitais deve ser mais restrita”, afirma.

Na opinião da pesquisadora colaboradora no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) Fernanda Yamamoto, a rede de ensino pode até atuar para minimizar desigualdades internas, mas quando o estudante vai para casa, não há garantia de que terá equipamentos e internet, por isso os livros são importantes. “Além de os materiais físicos garantirem o direito à aprendizagem fora do ambiente escolar, podem também induzir que os alunos se engajem com eles de formas mais produtivas do que quando acessados somente através de telas.” / COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA

Apesar da intenção da secretaria da educação de São Paulo de usar apenas materiais digitais, só 1.953 (39%) das 5,3 mil escolas estaduais têm wi-fi, computadores e outros equipamentos para atender a maioria das turmas. A informação está no Plano Plurianual do governo do Estado, apresentado pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) há cerca de 15 dias, que explicita as metas do governo entre 2024 e 2027.

O documento também não coloca como objetivo equipar todas as escolas públicas com conectividade e equipamentos até o fim do período.

Após forte repercussão negativa, o secretário de Educação, Renato Feder, recuou da decisão de desistir dos livros didáticos impressos. Mesmo assim, o governo manteve e está ampliando os materiais digitais, com aulas organizadas em slides de Power Point, que precisam ser dadas com computador, TV e internet.

Além de exigirem tecnologia, os materiais têm erros de informação histórica, geográfica e de matemática. Entre os equívocos, está a informação de que a cidade de São Paulo possui praia, que a Lei Áurea não foi assinada pela Princesa Isabel, e que uma divisão de 36 por 9 tem 6 como resultado.

Em entrevista ao Estadão no começo de agosto, ao justificar a recusa de 10 milhões livros didáticos comprados pelo Ministério da Educação (MEC), Feder disse que “a aula é uma grande TV, que passa os slides em Power Point, alunos com papel e caneta, anotando e fazendo exercícios”.

O governo Tarcísio também impôs a obrigatoriedade de as chamadas serem feitas pelos professores em um aplicativo de celular e instalou sem autorização de docentes e estudantes outro aplicativo em seus aparelhos pessoais.

O Estadão conversou com professores da capital, litoral e interior e esteve em escolas estaduais cujas salas de aula não têm nenhuma conexão com a internet ou a rede wi-fi é fraca e está disponível apenas em alguns ambientes. Faltam notebooks e TVs que possibilitariam as aulas dadas por meio de slides, como recomenda o governo desde abril.

Professores também reclamam que, apesar do discurso de incentivo à tecnologia, a rede de internet da secretaria bloqueia o acesso a vídeos e filmes que poderiam complementar as atividades nas aulas.

“Há pressão para que os professores façam a chamada no aplicativo, mas o wi-fi não pega na sala de aula e eles precisam usar o plano de dados do celular, internet só tem no prédio administrativo”, conta a diretora de uma escola de uma cidade na Grande São Paulo, que pediu para não ser identificada por medo de represálias do governo. Ela também paga uma rede de wi-fi particular para a escola porque a oferecida pelo Estado para o prédio da direção não é rápida o suficiente.

A reportagem esteve na escola nesta semana e constatou que não há TVs em nenhuma das 18 salas de aula. São 1.200 alunos na escola. Os aparelhos de 43 polegadas foram enviados à rede estadual ainda durante o governo de João Doria (PSDB), mas por falta de segurança - a escola já foi assaltada várias vezes e teve até as fiações roubadas - elas ficam trancadas em um depósito e podem ser levadas com um carrinho quando o professor requisitar. No entanto, por falta de internet, raramente são solicitadas e os docentes usam lousas comuns.

TVs em depósito fechado com trancas e grades em escola estadual da Grande São Paulo Foto: RENATA CAFARDO/ESTADÃO

A professora de história Janaína de Paula, que dá aulas numa escola estadual de Itaquera, na zona leste, diz que, como suas salas são no terceiro subsolo, o wi-fi não funciona. “Para pegar tem que ir com o celular num canto.” Ela disse que comprou um projetor para passar slides para a turma e também usa o próprio notebook.

Segundo dados do Plano Plurianual apresentado por Tarcísio à Assembleia Legislativa, a educação é um dos “objetivos estratégicos”. Uma das metas da área é referente à “disponibilização de recursos e equipamentos de tecnologia” nas escolas “visando a formação integral dos estudantes por meio da inclusão na cultura digital”.

A meta é aumentar das atuais 1.953 escolas com “cobertura wi-fi e parque tecnológico completo” para 2.500 em 2024. Em 2025, o objetivo é chegar a 3.500 e, em 2026, a 5 mil escolas. A mesma quantidade permanece como meta para 2027, não totalizando as 5,3 mil unidades da rede estadual de ensino ao final dos quatro anos. O Plano Plurianual é uma lei enviada pelo governo que prevê objetivos para todas as áreas do Estado.

Livros didáticos expostos em sala de aula da rede estadual Foto: Renata Cafardo/Estadão

Em nota ao Estadão, a secretaria da educação diz que “iniciou o ano com 1.953 unidades”, mas que “estruturou um cronograma para ampliar o número de equipamentos (computadores, notebooks e tablets) nas unidades e as redes de internet de alta velocidade e wi-fi nas escolas”. Segundo a secretaria, “96% das escolas da rede contam com conexão dedicada de 100 mbps e 73% wi-fi nas salas de aula”. A conexão dedicada é exclusiva para um determinado local, mas para que ela chegue a vários ambientes, como salas de aula, é preciso aparelhos roteadores de wi-fi e qualidade da rede. O governo também afirma que entregará este mês cerca de 290 mil novos notebooks.

Sobre a meta final de conectividade e equipamentos não ser de 100% das escolas, o governo afirmou que das 5.346 escolas estaduais paulistas, 159 são classes em penitenciárias e 86 na Fundação Casa, que teriam impeditivo de segurança. Mas além das 5.002 escolas estaduais regulares, há ainda 40 escolas indígenas, 16 em áreas de assentamento, 4 em quilombos e 39 centros de educação de jovens e adultos.

Segundo o governo, uma escola com “parque tecnológico completo”, como menciona o Plano Pluanual, tem “computadores (desktops, notebooks ou tablets) suficientes para atender uma a cada três classes em um determinado turno”, além de “internet igual ou superior a 100 mbps com cobertura de rede sem fio (wi-fi) em todas as salas de aula”.

YouTube, streaming e redes sociais

Janaína e outros professores ouvidos pelo Estadão também reclamam que não podem passar vídeos do YouTube ou trechos de filmes em plataformas de streaming para os alunos, mesmo com senha pessoal, porque a rede do Estado tem um bloqueio de acesso. Em março, a gestão de Feder justificou a iniciativa, dizendo que a intenção era impedir usos inapropriados no ambiente escolar de redes sociais e outras plataformas.

No entanto, há aulas nos próprios slides oferecidos pelo governo que discutem elementos das redes sociais, como os memes, que são tema de estudo em material de Língua Portuguesa, no 2º ano do ensino médio. “Se o aluno tem dúvidas, não podemos mostrar na prática porque não abrem nem para o professor”, diz um professor de Português que também pediu para não ter seu nome publicado.

Em nota ao Estadão, o governo disse que as plataformas de streamings e as redes sociais são bloqueadas e que o YouTube só não pode ser acessado nas semanas de provas externas, feitas pela secretaria, que ocorrem a cada dois meses.

“A secretaria quer só o digital deles, não temos autonomia para sugerir atividades digitais que consideramos interessantes para os alunos”, diz outro professor, que trabalha numa escola estadual de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. O uso de YouTube e plataformas de streaming é comum em escolas particulares como forma de engajar os alunos e trazer conteúdos diferenciados.

Na escola de Itanhaém faltam notebooks e TVs para todas as salas, mas mesmo onde eles existem, o funcionamento é precário. “Se um professor está dando a aula na plataforma digital e um outro vai esquentar sua comida no microondas da escola, cai o disjuntor”, conta o professor. “Também não tem pilha para os controles das TVs, tem que tirar de um pra por em outro.”

Carrinho com notebooks fornecidos pela rede estadual: professores reclamam que não há quantidade suficiente para todos os alunos Foto: RENATA CAFARDO/ESTADÃO

Já em uma escola de Sorocaba, no interior do Estado, os professores reclamam de falta de equipamentos. “Recebemos 145 tablets para cerca de 1.400 alunos. São 10 tablets por classe de 35 a 40 alunos e eles são obrigados a se revezar no uso do equipamento. Quando um termina, o outro começa e uma atividade que deveria demorar de 15 a 20 minutos acaba durando uma hora ou mais”, disse um dos professores.

Em Porto Feliz, também no interior, os docentes afirmam que a internet também não funciona em toda a escola. “Tem algumas salas que ficam fora do prédio principal onde não funciona internet de jeito nenhum. Aí, a gente não consegue acessar aula, atividades, fazer chamada, registrar a aula. E agora, como precisamos acessar os slides, a aula fica comprometida”, conta um professor.

Outro professor, de uma escola da região de Campinas, disse que a escola paga pela própria rede de wi-fi e só recentemente o Estado forneceu internet sem fio, mas que o sinal não é bom em todos os ambientes e não é possível usá-la em todas as salas ao mesmo tempo. “Muitas vezes precisamos usar os chips dos celulares que foram fornecidos durante a pandemia porque o wi-fi não pega”, conta. Além disso, ele diz que os equipamentos fornecidos são insuficientes e não suportam o uso das plataformas digitais. “Os computadores são velhos, não comportam muitos arquivos como ppt ou pdf”, conta.

‘Uma escola tecnológica significa acesso pleno a vários recursos: livros digitais e físicos’, diz especialista

Especialistas dizem que, ao introduzir o uso de materiais digitais, as redes de ensino precisam antes entender as diferenças de estrutura de tecnologia entre escolas. “Para a redução da desigualdade de aprendizagem, é fundamental que cada secretário de educação esteja atento à realidade, que é diversa, e as políticas precisam ser condizentes com isso. Ao se pensar em um material pedagógico exclusivamente digital é preciso saber se cada uma das salas de aula da rede vai rodar esse processo”, diz a diretora-executiva do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), Julia Sant’Anna, entidade que atua em apoio de políticas públicas para o uso da tecnologia em escolas públicas.

Ela afirma que hoje não é possível saber exatamente as condições de conectividade de todas as escolas brasileiras porque não há ainda um monitoramento, mas que o País está longe de alcançar os benefícios que a tecnologia pode trazer para a aprendizagem e para a gestão das redes de ensino.

“A grande maioria não tem um diário de classe informatizado, o que facilitaria a busca ativa do aluno que evade. E, além da velocidade, a conexão precisa ser estável, como a de fibra, com wi-fi, e com um monitoramento constante para ver se a rede que está boa hoje não vai cair amanhã”, completa.

“Uma escola tecnológica significa acesso pleno a vários recursos: livros digitais e físicos; equipamentos conectados, desconectados; e mediações virtuais e materiais. Não cabe à administração a imposição de apenas uma das mídias, digital ou física, com exclusividade”, diz o pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade de Columbia, Rodrigo Barbosa e Silva.

A declaração faz parte de um estudo que fez uma compilação de opiniões de especialistas da Stanford Lemann Center Expert Network, uma rede ligada à Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, sobre materiais digitais após a polêmica em São Paulo. “A sociedade moderna é construída com recursos diversos e disponíveis para cada situação particular. A escola próxima da sociedade deve ser um ambiente de opções, não de exclusões”, completa.

Para outro especialista do grupo, o doutorando em Educação da Universidade de Kobe, Danilo Leite, além das políticas para uso de tecnologia serem diferentes para cada contexto, já que há escolas com mais ou menos conectividade e equipamentos, não só a estrutura deve ser considerada. “A capacidade ou formação dos professores e gestores é muito importante, se os profissionais não têm formação, ou se a comunidade escolar não tem essa intenção em seu projeto pedagógico, a entrada de materiais didáticos digitais deve ser mais restrita”, afirma.

Na opinião da pesquisadora colaboradora no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) Fernanda Yamamoto, a rede de ensino pode até atuar para minimizar desigualdades internas, mas quando o estudante vai para casa, não há garantia de que terá equipamentos e internet, por isso os livros são importantes. “Além de os materiais físicos garantirem o direito à aprendizagem fora do ambiente escolar, podem também induzir que os alunos se engajem com eles de formas mais produtivas do que quando acessados somente através de telas.” / COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA

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