Enquanto a maioria dos adolescentes de 14 anos se preocupa com o primeiro amor, jogos de videogame e bandas coreanas, o carioca Caio Temponi tem outras preocupações pela frente. Aprovado em primeiro lugar nos cursos de Direito da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Administração na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Engenharia Civil na Universidade Federal do Cariri, todos quando ainda tinha 13, o jovem ainda foi selecionado para cursar Medicina na Universidade de Fortaleza (Unifor), porém decidiu ficar mais um ano no ensino médio antes de decidir o futuro.
O menino soma ainda três medalhas de ouro na olimpíada “Canguru de Matemática”, um de ouro na Olimpíada Mineira de Matemática (OMM), dois ouros na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Aeronáutica (OBA), uma medalha de prata e uma de bronze na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e uma menção honrosa na Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM). Caio também participou de campeonatos de xadrez, entre elas a Liga X, com três ouros, uma prata e um bronze.
“Eu gosto de fazer provas para testar meus conhecimentos e também ganhar experiência, né? Porque pra quando for para valer mesmo eu já ter aquela bagagem”, brinca o jovem, que se dedica agora a estudar para as provas do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Será a primeira vez que se candidata a este concurso, que só aceita inscrição de alunos no último ano do ensino médio - série que começou a cursar recentemente, após conseguir uma liminar na Justiça.
A mudança não é fácil e pode ser negada com base no artigo 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Conforme essa legislação, é obrigatório para crianças de até três anos de idade, estarem matriculadas na educação infantil; entre quatro e cinco, em pré-escolas; a partir dos seis, com duração de nove anos, no ensino fundamental; e o ensino médio, sem idade definida, mas com duração mínima de três anos.
Pela idade, Caio deveria estar cursando o nono ano do ensino fundamental, mas foi autorizado a completar a segunda série do ensino médio antes de estudá-lo por completo. A mãe dele, Laurismara Temporini, explicou que o filho também “pulou” o primeiro e o terceiro ano do ensino fundamental I e o oitavo ano do ensino fundamental II. “Ele estava saindo do pré quando eu e meu marido notamos que ele tinha uma diferença muito grande em relação às outras crianças”, lembra.
A jornada para o avanço de série teve início na cidade de Três Rios, onde o garoto nasceu, no interior do Rio de Janeiro. Lá, ele foi levado a uma psicóloga, que realizou um teste de QI. O resultado levou a primeira mudança de série, para o segundo ano do ensino fundamental, antes chamado de primeira série.
Ainda de acordo com a mãe, a diferença de Caio para os colegas ainda era perceptível, sendo necessário um outro exame, no terceiro ano, o que possibilitou mais um adiantamento. “A escola me chamou e falou ‘olha, o Caio está mostrando que deve pular novamente, tem que fazer o avanço do cérebro’. Mas eu fiquei um pouquinho com medo e foi quando decidi procurar um neuropsicólogo”, conta.
A família precisou se mudar para a capital do Estado, onde novos testes constataram que ele era superdotado. Com esse documento, os pais ficaram salvaguardados pelo parágrafo IX do artigo 8 da Resolução da Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE) nº02/2001 de que o filho com altas habilidades poderia passar por toda a educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio) em tempo menor que o habitual.
“A gente fica com medo, mesmo sabendo que ele tinha capacidade, que ele estava bem à frente dos amigos”, confessa Laurismara. Para o próprio Caio, entretanto, a mudança foi bem mais simples. “Sempre consegui fazer novas amizades e conhecer novas pessoas, então sempre fui bem tranquilo com relação a isso”, descontrai.
No quinto ano, Caio decidiu fazer a prova para ingressar no sexto ano do Colégio Militar de Juiz de Fora (CMJF), primeiro concurso em que foi aprovado. Na época, ele tinha apenas 9 anos, e não os 10 anos completos exigidos. “Mas ele não queria sair da escola, de qualquer jeito. Disse que faria só por testar”, recorda.
Rotina
A rotina do adolescente começa por volta de 7h30, quando acorda. A manhã é toda dedicada aos estudos, até o almoço. A escola começa às 13h30, de onde ele só sai por volta de 22h. O segredo, ele conta, é se divertir estudando.
“Uma dica muito importante é você criar prazer por aquilo que você está fazendo. Quanto mais você vai estudando, mais vai gostando, então mais você quer estudar e mais você aprende. Tomar gosto por aquilo que você está fazendo é um passo primordial para conseguir ir bem nos estudos”, ensina. Ele acrescenta ainda que não há nenhuma matéria que não goste, mas a preferida é matemática.
Apesar de todo o tempo dedicado às provas, o jovem de 14 anos diz que sempre arruma tempo para sair no final de semana e jogar futebol com os amigos, quando o flamenguista encara a posição de meio de campo. Parte da agenda também é reservada para gravar vídeos para o canal “Gabaritando com Caio Temponi”, que acumula quase 29 mil seguidores.
O primeiro vídeo postado no canal, em janeiro de 2018, mostra o Caio com apenas nove anos nomeando as capitais dos mais diversos países - algo que decorou ainda aos seis. As imagens chamaram a atenção dos produtores do SBT e ele foi chamado para participar do quadro Talentos Infantis, do Programa Silvio Santos.
Porém, este é um dos poucos vídeos que não abordam matemática. O adolescente ensina desde princípios mais básicos, como raiz quadrada, até assuntos tratados em faculdades da área de exatas, como indução finita em igualdades. As aulas são publicadas todas as segundas, quartas e sextas, às 19h.
Os envios mais assistidos são os que ele mostra a rotina de estudos e faz revisão para provas de vestibulares. “Ele ajuda crianças de todo o Brasil na matemática e ama esse canal”, reforça a mãe.
Dentre os comentários nas publicações, um sempre chama atenção: “Nos meus vídeos no YouTube muita gente coloca ‘eu não queria ser seu primo’, porque sofreriam com as comparações. Mas acho que meus primos não se importam muito”, ri.