O médico e professor João Carlos Di Genio, fundador do Colégio Objetivo e da Universidade Paulista (Unip) costumava dizer que a inteligência e os talentos devem ser tratados como a riqueza de um país. Ao longo de sua carreira de empreendedor, ele buscou seguir essa visão ao construir um dos maiores grupos de educação do Brasil.
Di Genio morreu no sábado, 11, vítima de infarto aos 82 anos, em sua residência nos Jardins, na zona oeste de São Paulo. No próximo dia 27 de fevereiro, ele completaria 83 anos. Deixa esposa e três filhos.
Di Genio dedicou sua vida à educação. Após passar em primeiro lugar em duas universidades para cursar medicina em 1961, ele começou a lecionar física em um curso preparatório para vestibular. Pouco tempo depois, em 1965, ele criou o cursinho Objetivo junto com o então estudante de medicina Dráuzio Varella e os médicos Roger Patti e Tadasi Itto.
Com o tempo, Di Genio e seus sócios abriram mais unidades do Colégio Objetivo e avançaram para o ensino superior em 1972, com a criação das faculdades Objetivo, que passaram a se chamar Unip, em 1988.
O cursinho e o Colégio Objetivo se tornaram uns dos mais respeitados em suas áreas, enquanto a Unip virou a maior universidade particular do País. Atualmente, são mais de 300 mil alunos de nível médio e 530 mil no ensino superior. Neste ano, a Unip lançou o seu primeiro curso de medicina, com mensalidade de R$ 9 mil. Até 2017, a universidade era um negócio sem fins lucrativos.
A paixão de Di Genio pela educação e o seu empenho nos negócios abriu caminho para outros empreendedores e investidores que formaram grandes grupos de educação que vieram depois dele.
Um deles foi o empresário Chaim Zaher, presidente do Grupo SEB, que começou na área como franqueado do Objetivo no interior de São Paulo. Antes de fechar a parceria, Zaher chegou a dormir no banheiro de uma escola para conseguir contato com um professor próximo de Di Genio. Conseguiu o acordo e assumiu a administração de várias franquias do Objetivo. Em 1984, se tornou sócio de Di Genio, quem costuma chamar de "o grande visionário" do setor de educação.
"O Brasil perde um grande brasileiro, e eu perco também um amigo e compadre, meu padrinho de casamento. Tudo o que sei sobre educação, aprendi com ele, a partir do seu exemplo. Tenho orgulho de ter sido discípulo de um mestre inovador, visionário e realizador. Di Genio fará falta na educação e deixará saudades", disse Zaher.
O empreendedor estimulava o crescimento dos negócios de forma orgânica, sem depender de fusões e aquisições. Em 2008, sua empresa educacional chegou a receber uma proposta de compra pelo grupo americano Apollo por R$ 2,5 bilhões, mas Di Genio não teve interesse. Menos de 10 anos mais tarde, em 2017, a Unip já faturava, por ano, o mesmo valor da proposta. A postura dele em relação aos negócios destoa do caminho seguido por outros grupos de educação privados, como Cogna (antiga Kroton), Yduqs (antiga Estácio) e o Grupo Ânima, que apostaram em aquisições para se consolidar e crescer no setor.
A Associação Brasileira de Sistemas e Plataformas de Ensino (Abraspe) lamentou a perda de Di Gênio. "Um homem visionário e de grande espírito empreendedor. Sua obra trouxe profundos impactos para a educação do Brasil e ajudou a transformar a vida de milhares de estudantes ao longo das últimas décadas. Di Genio foi um inovador, implantando um exitoso modelo de escolas, que modernizou e apontou caminhos para a melhoria da nossa educação. O País perde um grande empresário e educador", disse em nota o presidente da Abraspe, José Henrique del Castillo Melo.
O patrimônio de Di Genio é estimado em R$ 7 bilhões pela revista Forbes. Além dos negócios educacionais e de mídia, ele era dono de cinco fazendas e era considerado um dos maiores proprietários de imóveis de São Paulo. Ele era dono, por exemplo, da maioria dos imóveis das 30 unidades da Unip.
Amor pela educação
Uma das histórias que ilustram a paixão do empresário pela educação aconteceu em janeiro de 1977. Uma tempestade de verão alagou a cidade de São Paulo e atrasou a chegada de alunos para o vestibular da Fuvest. A prova era às 8h, mas a organização permitiu a entrada de alunos até às 11h15.
Di Genio tomou uma atitude radical para levar os alunos ilhados até os locais das provas: alugou um helicóptero para levá-los. Pelo rádio, ele emitiu um comunicado para que os interessados na carona fossem ao Campo de Marte ou ao Clube Atlético Juventus. Após uma disputa por vagas no helicóptero, o coordenador da Fuvest, José Goldemberg, aceitou a sugestão de Di Genio e mandou ao Campo de Marte um professor, três fiscais e 150 provas.
Di Genio também tinha uma relação forte com a cultura. Ainda em 1972, ele criou o festival de música Fico (Festival Interno do Colégio Objetivo), que já tem 50 anos de história e revelou nomes da música como Rogério Flausino (Jota Quest), Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso) e Dinho Ouro Preto (Capital Inicial). “Através da educação, ele mostrou que é possível mudar o mundo”, informou o Grupo Mix de Comunicação, composto pela Rádio Mix, fundada em 1997, a Rádio Trianon, o site de variedades Vírgula e redes de TV, que também faz parte dos empreendimentos do empresário.
Neste domingo, 13, empresários, educadores e políticos prestam homenagens a João Carlos Di Genio em redes sociais. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, prestou homenagem a Di Genio. "Com tristeza nos despedimos do Professor Dr. João Carlos di Genio. Homem diferenciado e de honrada história. Suas contribuições para a educação brasileira permanecerão como bom legado", disse Ribeiro. Marta Suplicy, ex-ministra da cultura e do turismo, lamentou a morte do professor. “Di Genio era visionário e fez muito pelo ensino em nosso país”, disse.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, lamentou a morte e manifestou solidariedade aos amigos e familiares de Di Gênio. "Manifesto profundo pesar pelo falecimento do Professor João Carlos Di Genio, um dos maiores fomentadores do ensino no país. Grande entusiasta da educação, Di Genio inspirava seus projetos na concretização dos sonhos de seus alunos. Meus sentimentos aos amigos e familiares", disse Mendes.
O professor e escritor Gabriel Chalita prestou condolências pela morte de Di Genio.