O professor Rafael Leão, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é investigado pela Polícia Civil por ter tentado agredir um aluno com uma faca no interior do câmpus, em Campinas, interior de São Paulo. O fato ocorreu na manhã desta terça-feira, 3, e foi registrado por um vídeo postado em redes sociais. A reitoria da Unicamp informou que, além do inquérito instaurado pela Polícia Civil, a conduta do docente será averiguada em procedimento administrativo.
A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou em nota que o professor usou spray de pimenta e uma faca para se defender, após ser impedido de ministrar aula por um grupo de alunos.
A nota da SSP informa que a Polícia Militar foi acionada para conter um tumulto durante manifestação de estudantes. “No local, os PMs apuraram que um professor de 44 anos chegou na unidade para ministrar aula, quando foi impedido por um grupo de alunos. O professor foi derrubado no chão e usou um spray de pimenta e uma faca para se defender”, diz a nota.
Segundo a SSP, as partes foram conduzidas à delegacia, onde foram ouvidas e qualificadas. O caso foi registrado como lesão corporal e incitação ao crime no plantão do 1.º Distrito Policial de Campinas e encaminhado ao Juizado Especial Criminal.
O professor também registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil alegando ter se defendido das agressões dos alunos. Ele alegou que já sofreu ameaças de alunos e, por isso, costumava levar spray de pimenta. Ele disse que, ao chegar na sala, viu um grupo de jovens aglomerado na entrada, mas não soube informar se o grupo era de estudantes da Unicamp. Um teria investido contra ele, comunicando que não haveria aula por causa da paralisação.
No boletim, Leão afirma ainda que foi empurrado até cair ao chão, tendo sofrido lesões na cintura, por isso teria se munido do spray e da faca. Após a confusão, ele viu alunos vindo em sua direção e temeu ser linchado, por isso usou o spray contra o grupo.
Ao Estadão, o advogado José Pedro Said Junior, que defende o professor, disse que ele já prestou esclarecimentos na delegacia de Polícia e se colocou à disposição das autoridades. “Os fatos serão devidamente apurados na esfera cabível, em busca da verdade e, neste momento, devem ser repelidas as acusações que, porventura, sejam direcionadas ao professor”, disse.
O estudante Gustavo Bispo, que integra o Diretório Central Estudantil (DCE), disse que estava comunicando os professores sobre a decisão da assembleia de paralisação, quando o professor avançou contra ele. “Ele nem quis me ouvir, pegou meu braço, me derrubou no chão. Aí quis me agredir com o canivete, quando o seguraram.”
O estudante João Gabriel Jesus, que aparece nas imagens segurando o professor, afirmou que o docente reagiu quando um grupo foi conversar com ele sobre a paralisação. “Houve votação em assembleia e o movimento é legítimo, mas o professor reagiu e puxou a faca em direção aos estudantes. Nós chamamos os seguranças e nos posicionamos nas saídas para que ele não fugisse. Foi aí que ele veio em minha direção espirrando o spray de pimenta. Nesse avanço, eu consegui pegar ele pelo braço e imobilizar até que a segurança o desarmasse”, contou.
Conforme o site da Unicamp, o professor Rafael Leão é doutor em Matemática, supervisor em pós-doutorado e tem vasta produção técnica na universidade.
As imagens da suposta agressão foram publicadas no perfil X (antigo Twitter) da deputada estadual Mônica Seixas, do PSOL. Junto com a vereadora de Campinas Mariana Conti, do mesmo partido, elas enviaram ofício nesta terça-feira à reitoria da Unicamp cobrando providências.
No texto, as parlamentares afirmam ser injustificável um docente circular livremente pelo campus da universidade portando armas letais e usá-las para agredir estudantes. Elas questionam que medidas a universidade pretende tomar para garantir que novos episódios de violência não se repitam. Pesquisa feita pela deputada mostrou que o professor havia postado facas e machados em suas redes sociais, o que ela considerou “conteúdo violento”.
Em nota, a Reitoria da Unicamp repudiou os atos de violência praticados no câmpus de Barão Geraldo. “A conduta do docente, para além do inquérito policial instaurado, será averiguada por meio dos procedimentos administrativos adequados e serão tomadas as medidas cabíveis”, disse.
“Ressalte-se, ainda, que a Reitoria vem alertando que a proliferação de atos de violência com justificativa ou motivação política não é salutar para a convivência entre diferentes. É preciso, nesse momento, calma e serenidade para que os conflitos sejam tratados de forma adequada e os problemas, dirimidos”, acrescentou.
Já o DCE disse em nota que os estudantes “não serão impedidos de se manifestar de maneira democrática e pacífica”. O diretório cobrou também a imediata exoneração do docente.
Segundo a nota, após o agressor ser imobilizado, a segurança retirou a faca que estava em seu poder. O DCE diz que o docente portava a faca com a finalidade de ferir estudantes, “o que é inaceitável”.
Estudantes da Unicamp aprovaram uma paralisação nesta terça-feira em apoio aos protestos contra a privatização de órgãos estaduais e a contra a precarização das universidades estaduais paulistas. Conforme as mensagens dos diretórios acadêmicos, o movimento também apoia a greve dos estudantes da Universidade de São Paulo (USP) pela contratação de mais professores.