‘Não adianta prédio sofisticado se não há professor preparado e com salário atraente em cada sala’


Claudia Costin defende a educação em tempo integral e a implementação de reforço na rede pública para combater evasão escolar; estudo da OCDE revela desafios na aprendizagem

Por Isabela Moya
Atualização:
Foto: Alex Silva/Estadão
Entrevista comClaudia CostinEx-diretora de educação do Banco Mundial e atual presidente do Instituto Singularidades

O Brasil tem um quarto dos jovens sem trabalhar nem estudar, segundo dados trazidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para resolver o problema, uma das principais soluções é expandir o ensino integral, na visão da economista e professora Claudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial e atual presidente do Instituto Singularidades, voltado para a formação docente.

Segundo ela, o ensino integral vem como uma solução para a desigualdade enfrentada por muitas mulheres, que acabam por abandonar os estudos ou não podem trabalhar por terem de cuidar dos irmãos mais novos ou por engravidarem.

O maior tempo na escola também ajuda, continua a especialista, na tentativa de evitar a evasão escolar, ao dar mais tempo para que sejam criados reforços para estudantes que não estão acompanhando o conteúdo em sala de aula.

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O modelo em tempo integral também exige que os professores sejam contratados de apenas uma escola, o que, junto com melhor remuneração, aumenta a valorização dos docentes, peça-chave para a melhora da qualidade da educação, defende Claudia, que já foi secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Ela defende ainda uma calibrar melhor a política de repetência. “A reprovação causa desperdício, mas passar para frente sem aprender também não resolve o problema. Não é aprovar sem que o aluno aprenda nem reprovar como medida punitiva”.

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Os dados da organização internacional mostram ainda que o governo brasileiro reduziu o investimento em educação do ensino fundamental ao superior entre 2015 e 2021, mesmo gastando menos de um terço do que a média dos países desenvolvidos. Além disso, o Brasil paga aos docentes cerca de metade do que ganham os professores da OCDE.

O maior tempo na escola também ajuda, diz a especialista, na tentativa de evitar a evasão escolar, ao dar mais tempo para que sejam criados reforços para estudantes que não estão acompanhando o conteúdo em sala de aula Foto: WavebreakmediaMicro/Adobe Stock

“Não adianta construir prédios sofisticados para mostrar em campanhas eleitorais, se não há professor preparado com salário atraente em cada sala de aula. É um problema que nós temos que levar mais a sério”, declara a profissional.

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Praticamente um quarto dos jovens brasileiros não trabalham nem estudam. O que isso representa para o Brasil?

É uma situação muito triste. Mas não quer dizer que eles não fazem nada. Por exemplo, é um percentual mais alto de mulheres “nem-nem” do que homens, e isso tem a ver com o cuidar das crianças pequenas e dos idosos. Isso é uma característica do nosso sistema educacional, em que as crianças estão meio período só. Em média, os países com bons sistemas educacionais têm de 7 a 9 horas na escola. Então, a escola oferece tudo que é necessário em termos não só de ensino e aprendizagem, mas de enriquecimento de currículo e até de cuidado. Quando a mulher está no mercado de trabalho, como é o caso do Brasil, e há um número um pouco maior de crianças, a menina mais velha cuida dos pequenos no horário que eles não estão na escola. E isso faz com que o percentual de meninas “nem nem” seja maior. Também tem o agravante da gravidez adolescente. Já os meninos, embora em percentual menor, estão nessa situação porque estão no trabalho informal e precarizado.

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O que o Brasil pode fazer de mais efetivo para combater essa alta taxa?

Tem algumas medidas que o Brasil vem tomando. Passar as escolas para o que nós chamamos de tempo integral - e que eles nem usam essa expressão, porque é natural que é tempo integral - vai ser muito importante para várias coisas, como liberar as meninas mais velhas do cuidado dos menores, para a aprendizagem dos alunos, para os professores poderem dar aula em uma escola só e melhorar a qualidade do ensino com isso.

Tem uma outra coisa que o Brasil decidiu recentemente, que é o Pé de Meia, que dá chance para complementar a renda estudando, isso tem um valor importante e vários países fizeram isso no momento em que precisavam avançar nesse sentido.

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A outra coisa que começou a ser feita um pouco depois da pandemia, e foi apoiada inclusive pela UNICEF no Brasil, é a busca ativa dos alunos que abandonaram a escola, e mostrar caminhos para eles para que a escola tenha sentido. E eu sei que entre quem não é da área de educação, às vezes isso pode soar demagógico, mas não é, é evitar repetência. E evitar repetência, porque o maior preditor de abandono escolar, entre todos os fatores, é a reprovação do aluno. Porque o aluno não aprende mais ao ser reprovado, e as chances de abandonar a escola são imensas. Tem um dado no relatório (da OCDE) que deve ser observado, que fala em completar o ensino no prazo definido, e isso no Brasil não acontece. Por que eles introduziram esse dado no relatório? Porque o Brasil é famoso, tristemente famoso, por distorção da idade sérica. O aluno vai repetindo, ele ao repetir, não aprende aquilo que ele deveria ter aprendido, ninguém endereça a insuficiência de aprendizagem dele, ele repete, repete, até o momento que vai abandonar, ou seus pais chegam à conclusão que ele não foi feito para estudar.

Ao não repetir um aluno, como evitar que ele continue com o déficit na aprendizagem e não acompanhe a turma?

Nós temos que criar um sistema de recomposição das aprendizagens, e isso lida bem com a desigualdade educacional. Um menino de classe média e alta, se ele vai mal na escola, o pai contrata um professor particular. Uma criança ou jovem de meio vulnerável não tem esse recurso. Ou a escola resolve o seu problema, monitora a aprendizagem e resolve a insuficiência de aprendizagem, ou esse menino vai abandonar os estudos. Por isso é importante haver avaliações diagnósticas constantes, para saber exatamente o que cada aluno não está aprendendo. E ter um tempo dentro da escola - mais um motivo para ter tempo integral - para que o aluno tenha o apoio necessário para recompor aquele aprendizado que ele não conseguiu ter.

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Para a recuperação da aprendizagem (que funciona no formato de reforço escolar), é preciso ter informações sobre o que cada aluno não aprendeu. Da mesma maneira que nós da educação criticamos muito o negacionismo científico em saúde, por vezes nós educadores não trabalhamos com dados também. A gente precisa ter, e hoje a tecnologia pode ser um apoio para isso, dados sobre a aprendizagem de cada aluno. Não basta saber que ele não está indo bem. O que ele não entendeu? Ele não entendeu porcentagem porque ele não entendeu fração? Então vamos voltar a ensinar fração para esse aluno.

A escola tem que ter uma saída para esse aluno que não aprende, não no fim do ano no conselho de classe, durante o ano quando ainda dá para recuperar. Porque de fato a reprovação causa um desperdício [do aluno, que tem maior tendência para evadir], mas passar para frente sem aprender também não resolve o problema. Então não é nem aprovar sem que o aluno aprenda, nem reprovar como medida punitiva. Mais um motivo para pensar em jornada escolar estendida.

Você mencionou sobre a busca ativa, as escolas já estão fazendo isso?

Começou a ser feito logo depois da pandemia, eu me lembro bem da busca ativa que o Espírito Santo fez, que foi exemplar. É verdade que é um estado pequeno, mas mais recentemente o Pará fez isso, e é um estado bem mais complexo, porque a busca ativa passa por atravessar rios, garantir que todo aluno permaneça na escola. Agora, não basta trazer o aluno, é importante que o aluno seja bem vindo e acolhido na escola.

Há ainda o fato de que a parcela da população brasileira com idade para trabalhar estar chegando no auge, período chamado de “bônus demográfico”. Se não aproveitarmos para reverter a situação dos “nem-nem” neste momento, pode trazer consequências não só para a população jovem, como também para os mais velhos, em idade para se aposentar?

Nós estamos tendo cada vez menos crianças nascendo. Há um desafio de aumentar a produtividade do trabalho em tempos em que postos de trabalho serão extintos. Pesquisadores da Universidade de Oxford falam que até 2030, 3 bilhões de postos de trabalho vão ser extintos. Lógico que outros postos vão ser criados, mas eles vão demandar competências muito mais complexas. Então, nós temos que melhorar a produtividade do trabalho.

Mas ao ter menos gente, também temos uma oportunidade, porque se nascem cada vez menos crianças, cria-se um espaço nas escolas para as escolas terem tempo integral. Não precisa dobrar o número de escolas para colocar todo mundo em tempo integral e podemos aproveitar os espaços ociosos. Então, de fato, tem uma ameaça, mas tem também uma oportunidade a ser aproveitada.

Já em relação ao investimento em educação, entre 2015 e 2021 o País, no geral, reduziu os gastos, diferente do que fizeram os países da OCDE. O País precisa andar na direção contrária, como fez com a etapa do ensino infantil?

O Brasil expandiu a rede de educação infantil de uma maneira importante, inclusive por ter tornado obrigatória a escolaridade a partir dos 4 (anos), mesmo que não tenha, de fato, universalizado [as crianças com] 4 e 5 [anos], mas avançou. Eu acho importante investir em educação infantil. O próprio Reckman, o [que ganhou o] prêmio Nobel de Economia, mostra que a educação infantil é o investimento que dá mais retorno em termos de resultados de vida no futuro.

Porém, o País não lidou com a questão essencial, que é a atratividade da carreira de professor. O país paga cerca da metade do que a OCDE paga para os professores. E mais do que isso, com esse negócio da escola sem tempo integral, os professores, especialmente no fundamental 2 e no médio, tem que muitas vezes dar aula em três escolas diferentes para completar a carga horária de 40 horas. O Brasil gasta mal em educação e gasta pouco. Gasta pouco porque não remunera o professor como deveria ser e gasta mal porque não contrata os professores para 40 horas em uma única escola, que é uma solução que a gente poderia construir a partir de escolas em tempo integral.

E a outra parte que se conecta com isso é que nós temos um número insuficiente de professores. Muitas vezes, secretários de Fazenda, governadores, ou prefeitos, não autorizam preencher as vagas que estão faltando de professores que se aposentam. E a aposentadoria de docentes no Brasil tende a ser mais cedo do que em outros países. Então, parte do problema é professores insuficientes e professores contratados para cargas horárias fragmentadas e salários baixos. Não adianta construir prédios sofisticados para mostrar em campanhas eleitorais, se não há professor preparado com salário atraente em cada sala de aula. É um problema que nós temos que levar mais a sério.

E como gastar esse dinheiro de forma mais eficiente?

Algumas coisas que nós já fizemos, ou pelo menos começamos a fazer, que é ter um currículo nacional [a BNCC]. Nenhum desses países da OCDE atuava sem currículo. A outra coisa para gastar melhor em educação é colocar ter um percentual do currículo associado às áreas de leitura, literatura e matemática. É importante desenvolver as competências básicas para ler boa literatura e ter salas de leitura, inclusive, com livros de boa literatura e despertar a paixão pela leitura nos jovens. E fazê-los escrever bem e ter raciocínio matemático. Não é que não se deve prestar atenção em outras disciplinas, mas a carga de matemática, principalmente no Brasil, é baixíssima. A leitura também.

E precisamos dotar as escolas de laboratórios. Não é laboratório de informática para experimento científico. A gente aprende pela experimentação. Você tem que investir na conectividade das escolas. A gente está muito aquém do que deveríamos estar em conectividade para atender a aprendizagem dos alunos. A gente tem conexão nas escolas para questões administrativas. Mas tem uma conexão insuficiente, equipamento insuficiente para usar isso no processo de ensino. E olhar para a questão da inclusão das crianças cegas, com audiolivros e livros em braile.

Por fim, gastar dinheiro no que interessa, que é o professor. Garantir que ele tenha momentos de aprendizagem dentro da escola, ter reuniões com seus pares, analisar o processo de ensino, olhar para os dados de aprendizagem e pagar melhor os professores.

A valorização do professor também tem relação com diminuir a carga horária dele? Porque o relatório da OCDE também mostra que no Brasil a carga horária do professor é cerca de 100 horas anuais a mais do que a média dos países desenvolvidos.

O que acontece aqui no Brasil é que nós computamos na carga horária esse um terço de tempo de atividades extra-classe e isso não dá certo. E nós temos poucas horas de aula, mas o professor indo para diferentes escolas. Nós temos mais dias de aula do que muitos países. Vários países estão com 180 dias de aula. No Brasil são 200. A gente perdeu uma chance, na hora que fizemos essa mudança, de aumentar as horas de aula. Porque o mais importante é a escola ensinar o aluno a pensar, não a decorar. A pensar historicamente, cientificamente, matematicamente. E isso não se ensina com uma aula de 45 minutos. Tinha que ser muito mais uma educação “mão na massa”, com aulas mais dialogadas, com mais uso de laboratório para que o aluno possa aprender melhor. Então, não é o problema do número de horas que cada professor trabalha, é o como ele trabalha na sua escola.

O Brasil tem um quarto dos jovens sem trabalhar nem estudar, segundo dados trazidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para resolver o problema, uma das principais soluções é expandir o ensino integral, na visão da economista e professora Claudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial e atual presidente do Instituto Singularidades, voltado para a formação docente.

Segundo ela, o ensino integral vem como uma solução para a desigualdade enfrentada por muitas mulheres, que acabam por abandonar os estudos ou não podem trabalhar por terem de cuidar dos irmãos mais novos ou por engravidarem.

O maior tempo na escola também ajuda, continua a especialista, na tentativa de evitar a evasão escolar, ao dar mais tempo para que sejam criados reforços para estudantes que não estão acompanhando o conteúdo em sala de aula.

O modelo em tempo integral também exige que os professores sejam contratados de apenas uma escola, o que, junto com melhor remuneração, aumenta a valorização dos docentes, peça-chave para a melhora da qualidade da educação, defende Claudia, que já foi secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Ela defende ainda uma calibrar melhor a política de repetência. “A reprovação causa desperdício, mas passar para frente sem aprender também não resolve o problema. Não é aprovar sem que o aluno aprenda nem reprovar como medida punitiva”.

Os dados da organização internacional mostram ainda que o governo brasileiro reduziu o investimento em educação do ensino fundamental ao superior entre 2015 e 2021, mesmo gastando menos de um terço do que a média dos países desenvolvidos. Além disso, o Brasil paga aos docentes cerca de metade do que ganham os professores da OCDE.

O maior tempo na escola também ajuda, diz a especialista, na tentativa de evitar a evasão escolar, ao dar mais tempo para que sejam criados reforços para estudantes que não estão acompanhando o conteúdo em sala de aula Foto: WavebreakmediaMicro/Adobe Stock

“Não adianta construir prédios sofisticados para mostrar em campanhas eleitorais, se não há professor preparado com salário atraente em cada sala de aula. É um problema que nós temos que levar mais a sério”, declara a profissional.

Praticamente um quarto dos jovens brasileiros não trabalham nem estudam. O que isso representa para o Brasil?

É uma situação muito triste. Mas não quer dizer que eles não fazem nada. Por exemplo, é um percentual mais alto de mulheres “nem-nem” do que homens, e isso tem a ver com o cuidar das crianças pequenas e dos idosos. Isso é uma característica do nosso sistema educacional, em que as crianças estão meio período só. Em média, os países com bons sistemas educacionais têm de 7 a 9 horas na escola. Então, a escola oferece tudo que é necessário em termos não só de ensino e aprendizagem, mas de enriquecimento de currículo e até de cuidado. Quando a mulher está no mercado de trabalho, como é o caso do Brasil, e há um número um pouco maior de crianças, a menina mais velha cuida dos pequenos no horário que eles não estão na escola. E isso faz com que o percentual de meninas “nem nem” seja maior. Também tem o agravante da gravidez adolescente. Já os meninos, embora em percentual menor, estão nessa situação porque estão no trabalho informal e precarizado.

O que o Brasil pode fazer de mais efetivo para combater essa alta taxa?

Tem algumas medidas que o Brasil vem tomando. Passar as escolas para o que nós chamamos de tempo integral - e que eles nem usam essa expressão, porque é natural que é tempo integral - vai ser muito importante para várias coisas, como liberar as meninas mais velhas do cuidado dos menores, para a aprendizagem dos alunos, para os professores poderem dar aula em uma escola só e melhorar a qualidade do ensino com isso.

Tem uma outra coisa que o Brasil decidiu recentemente, que é o Pé de Meia, que dá chance para complementar a renda estudando, isso tem um valor importante e vários países fizeram isso no momento em que precisavam avançar nesse sentido.

A outra coisa que começou a ser feita um pouco depois da pandemia, e foi apoiada inclusive pela UNICEF no Brasil, é a busca ativa dos alunos que abandonaram a escola, e mostrar caminhos para eles para que a escola tenha sentido. E eu sei que entre quem não é da área de educação, às vezes isso pode soar demagógico, mas não é, é evitar repetência. E evitar repetência, porque o maior preditor de abandono escolar, entre todos os fatores, é a reprovação do aluno. Porque o aluno não aprende mais ao ser reprovado, e as chances de abandonar a escola são imensas. Tem um dado no relatório (da OCDE) que deve ser observado, que fala em completar o ensino no prazo definido, e isso no Brasil não acontece. Por que eles introduziram esse dado no relatório? Porque o Brasil é famoso, tristemente famoso, por distorção da idade sérica. O aluno vai repetindo, ele ao repetir, não aprende aquilo que ele deveria ter aprendido, ninguém endereça a insuficiência de aprendizagem dele, ele repete, repete, até o momento que vai abandonar, ou seus pais chegam à conclusão que ele não foi feito para estudar.

Ao não repetir um aluno, como evitar que ele continue com o déficit na aprendizagem e não acompanhe a turma?

Nós temos que criar um sistema de recomposição das aprendizagens, e isso lida bem com a desigualdade educacional. Um menino de classe média e alta, se ele vai mal na escola, o pai contrata um professor particular. Uma criança ou jovem de meio vulnerável não tem esse recurso. Ou a escola resolve o seu problema, monitora a aprendizagem e resolve a insuficiência de aprendizagem, ou esse menino vai abandonar os estudos. Por isso é importante haver avaliações diagnósticas constantes, para saber exatamente o que cada aluno não está aprendendo. E ter um tempo dentro da escola - mais um motivo para ter tempo integral - para que o aluno tenha o apoio necessário para recompor aquele aprendizado que ele não conseguiu ter.

Para a recuperação da aprendizagem (que funciona no formato de reforço escolar), é preciso ter informações sobre o que cada aluno não aprendeu. Da mesma maneira que nós da educação criticamos muito o negacionismo científico em saúde, por vezes nós educadores não trabalhamos com dados também. A gente precisa ter, e hoje a tecnologia pode ser um apoio para isso, dados sobre a aprendizagem de cada aluno. Não basta saber que ele não está indo bem. O que ele não entendeu? Ele não entendeu porcentagem porque ele não entendeu fração? Então vamos voltar a ensinar fração para esse aluno.

A escola tem que ter uma saída para esse aluno que não aprende, não no fim do ano no conselho de classe, durante o ano quando ainda dá para recuperar. Porque de fato a reprovação causa um desperdício [do aluno, que tem maior tendência para evadir], mas passar para frente sem aprender também não resolve o problema. Então não é nem aprovar sem que o aluno aprenda, nem reprovar como medida punitiva. Mais um motivo para pensar em jornada escolar estendida.

Você mencionou sobre a busca ativa, as escolas já estão fazendo isso?

Começou a ser feito logo depois da pandemia, eu me lembro bem da busca ativa que o Espírito Santo fez, que foi exemplar. É verdade que é um estado pequeno, mas mais recentemente o Pará fez isso, e é um estado bem mais complexo, porque a busca ativa passa por atravessar rios, garantir que todo aluno permaneça na escola. Agora, não basta trazer o aluno, é importante que o aluno seja bem vindo e acolhido na escola.

Há ainda o fato de que a parcela da população brasileira com idade para trabalhar estar chegando no auge, período chamado de “bônus demográfico”. Se não aproveitarmos para reverter a situação dos “nem-nem” neste momento, pode trazer consequências não só para a população jovem, como também para os mais velhos, em idade para se aposentar?

Nós estamos tendo cada vez menos crianças nascendo. Há um desafio de aumentar a produtividade do trabalho em tempos em que postos de trabalho serão extintos. Pesquisadores da Universidade de Oxford falam que até 2030, 3 bilhões de postos de trabalho vão ser extintos. Lógico que outros postos vão ser criados, mas eles vão demandar competências muito mais complexas. Então, nós temos que melhorar a produtividade do trabalho.

Mas ao ter menos gente, também temos uma oportunidade, porque se nascem cada vez menos crianças, cria-se um espaço nas escolas para as escolas terem tempo integral. Não precisa dobrar o número de escolas para colocar todo mundo em tempo integral e podemos aproveitar os espaços ociosos. Então, de fato, tem uma ameaça, mas tem também uma oportunidade a ser aproveitada.

Já em relação ao investimento em educação, entre 2015 e 2021 o País, no geral, reduziu os gastos, diferente do que fizeram os países da OCDE. O País precisa andar na direção contrária, como fez com a etapa do ensino infantil?

O Brasil expandiu a rede de educação infantil de uma maneira importante, inclusive por ter tornado obrigatória a escolaridade a partir dos 4 (anos), mesmo que não tenha, de fato, universalizado [as crianças com] 4 e 5 [anos], mas avançou. Eu acho importante investir em educação infantil. O próprio Reckman, o [que ganhou o] prêmio Nobel de Economia, mostra que a educação infantil é o investimento que dá mais retorno em termos de resultados de vida no futuro.

Porém, o País não lidou com a questão essencial, que é a atratividade da carreira de professor. O país paga cerca da metade do que a OCDE paga para os professores. E mais do que isso, com esse negócio da escola sem tempo integral, os professores, especialmente no fundamental 2 e no médio, tem que muitas vezes dar aula em três escolas diferentes para completar a carga horária de 40 horas. O Brasil gasta mal em educação e gasta pouco. Gasta pouco porque não remunera o professor como deveria ser e gasta mal porque não contrata os professores para 40 horas em uma única escola, que é uma solução que a gente poderia construir a partir de escolas em tempo integral.

E a outra parte que se conecta com isso é que nós temos um número insuficiente de professores. Muitas vezes, secretários de Fazenda, governadores, ou prefeitos, não autorizam preencher as vagas que estão faltando de professores que se aposentam. E a aposentadoria de docentes no Brasil tende a ser mais cedo do que em outros países. Então, parte do problema é professores insuficientes e professores contratados para cargas horárias fragmentadas e salários baixos. Não adianta construir prédios sofisticados para mostrar em campanhas eleitorais, se não há professor preparado com salário atraente em cada sala de aula. É um problema que nós temos que levar mais a sério.

E como gastar esse dinheiro de forma mais eficiente?

Algumas coisas que nós já fizemos, ou pelo menos começamos a fazer, que é ter um currículo nacional [a BNCC]. Nenhum desses países da OCDE atuava sem currículo. A outra coisa para gastar melhor em educação é colocar ter um percentual do currículo associado às áreas de leitura, literatura e matemática. É importante desenvolver as competências básicas para ler boa literatura e ter salas de leitura, inclusive, com livros de boa literatura e despertar a paixão pela leitura nos jovens. E fazê-los escrever bem e ter raciocínio matemático. Não é que não se deve prestar atenção em outras disciplinas, mas a carga de matemática, principalmente no Brasil, é baixíssima. A leitura também.

E precisamos dotar as escolas de laboratórios. Não é laboratório de informática para experimento científico. A gente aprende pela experimentação. Você tem que investir na conectividade das escolas. A gente está muito aquém do que deveríamos estar em conectividade para atender a aprendizagem dos alunos. A gente tem conexão nas escolas para questões administrativas. Mas tem uma conexão insuficiente, equipamento insuficiente para usar isso no processo de ensino. E olhar para a questão da inclusão das crianças cegas, com audiolivros e livros em braile.

Por fim, gastar dinheiro no que interessa, que é o professor. Garantir que ele tenha momentos de aprendizagem dentro da escola, ter reuniões com seus pares, analisar o processo de ensino, olhar para os dados de aprendizagem e pagar melhor os professores.

A valorização do professor também tem relação com diminuir a carga horária dele? Porque o relatório da OCDE também mostra que no Brasil a carga horária do professor é cerca de 100 horas anuais a mais do que a média dos países desenvolvidos.

O que acontece aqui no Brasil é que nós computamos na carga horária esse um terço de tempo de atividades extra-classe e isso não dá certo. E nós temos poucas horas de aula, mas o professor indo para diferentes escolas. Nós temos mais dias de aula do que muitos países. Vários países estão com 180 dias de aula. No Brasil são 200. A gente perdeu uma chance, na hora que fizemos essa mudança, de aumentar as horas de aula. Porque o mais importante é a escola ensinar o aluno a pensar, não a decorar. A pensar historicamente, cientificamente, matematicamente. E isso não se ensina com uma aula de 45 minutos. Tinha que ser muito mais uma educação “mão na massa”, com aulas mais dialogadas, com mais uso de laboratório para que o aluno possa aprender melhor. Então, não é o problema do número de horas que cada professor trabalha, é o como ele trabalha na sua escola.

O Brasil tem um quarto dos jovens sem trabalhar nem estudar, segundo dados trazidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para resolver o problema, uma das principais soluções é expandir o ensino integral, na visão da economista e professora Claudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial e atual presidente do Instituto Singularidades, voltado para a formação docente.

Segundo ela, o ensino integral vem como uma solução para a desigualdade enfrentada por muitas mulheres, que acabam por abandonar os estudos ou não podem trabalhar por terem de cuidar dos irmãos mais novos ou por engravidarem.

O maior tempo na escola também ajuda, continua a especialista, na tentativa de evitar a evasão escolar, ao dar mais tempo para que sejam criados reforços para estudantes que não estão acompanhando o conteúdo em sala de aula.

O modelo em tempo integral também exige que os professores sejam contratados de apenas uma escola, o que, junto com melhor remuneração, aumenta a valorização dos docentes, peça-chave para a melhora da qualidade da educação, defende Claudia, que já foi secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Ela defende ainda uma calibrar melhor a política de repetência. “A reprovação causa desperdício, mas passar para frente sem aprender também não resolve o problema. Não é aprovar sem que o aluno aprenda nem reprovar como medida punitiva”.

Os dados da organização internacional mostram ainda que o governo brasileiro reduziu o investimento em educação do ensino fundamental ao superior entre 2015 e 2021, mesmo gastando menos de um terço do que a média dos países desenvolvidos. Além disso, o Brasil paga aos docentes cerca de metade do que ganham os professores da OCDE.

O maior tempo na escola também ajuda, diz a especialista, na tentativa de evitar a evasão escolar, ao dar mais tempo para que sejam criados reforços para estudantes que não estão acompanhando o conteúdo em sala de aula Foto: WavebreakmediaMicro/Adobe Stock

“Não adianta construir prédios sofisticados para mostrar em campanhas eleitorais, se não há professor preparado com salário atraente em cada sala de aula. É um problema que nós temos que levar mais a sério”, declara a profissional.

Praticamente um quarto dos jovens brasileiros não trabalham nem estudam. O que isso representa para o Brasil?

É uma situação muito triste. Mas não quer dizer que eles não fazem nada. Por exemplo, é um percentual mais alto de mulheres “nem-nem” do que homens, e isso tem a ver com o cuidar das crianças pequenas e dos idosos. Isso é uma característica do nosso sistema educacional, em que as crianças estão meio período só. Em média, os países com bons sistemas educacionais têm de 7 a 9 horas na escola. Então, a escola oferece tudo que é necessário em termos não só de ensino e aprendizagem, mas de enriquecimento de currículo e até de cuidado. Quando a mulher está no mercado de trabalho, como é o caso do Brasil, e há um número um pouco maior de crianças, a menina mais velha cuida dos pequenos no horário que eles não estão na escola. E isso faz com que o percentual de meninas “nem nem” seja maior. Também tem o agravante da gravidez adolescente. Já os meninos, embora em percentual menor, estão nessa situação porque estão no trabalho informal e precarizado.

O que o Brasil pode fazer de mais efetivo para combater essa alta taxa?

Tem algumas medidas que o Brasil vem tomando. Passar as escolas para o que nós chamamos de tempo integral - e que eles nem usam essa expressão, porque é natural que é tempo integral - vai ser muito importante para várias coisas, como liberar as meninas mais velhas do cuidado dos menores, para a aprendizagem dos alunos, para os professores poderem dar aula em uma escola só e melhorar a qualidade do ensino com isso.

Tem uma outra coisa que o Brasil decidiu recentemente, que é o Pé de Meia, que dá chance para complementar a renda estudando, isso tem um valor importante e vários países fizeram isso no momento em que precisavam avançar nesse sentido.

A outra coisa que começou a ser feita um pouco depois da pandemia, e foi apoiada inclusive pela UNICEF no Brasil, é a busca ativa dos alunos que abandonaram a escola, e mostrar caminhos para eles para que a escola tenha sentido. E eu sei que entre quem não é da área de educação, às vezes isso pode soar demagógico, mas não é, é evitar repetência. E evitar repetência, porque o maior preditor de abandono escolar, entre todos os fatores, é a reprovação do aluno. Porque o aluno não aprende mais ao ser reprovado, e as chances de abandonar a escola são imensas. Tem um dado no relatório (da OCDE) que deve ser observado, que fala em completar o ensino no prazo definido, e isso no Brasil não acontece. Por que eles introduziram esse dado no relatório? Porque o Brasil é famoso, tristemente famoso, por distorção da idade sérica. O aluno vai repetindo, ele ao repetir, não aprende aquilo que ele deveria ter aprendido, ninguém endereça a insuficiência de aprendizagem dele, ele repete, repete, até o momento que vai abandonar, ou seus pais chegam à conclusão que ele não foi feito para estudar.

Ao não repetir um aluno, como evitar que ele continue com o déficit na aprendizagem e não acompanhe a turma?

Nós temos que criar um sistema de recomposição das aprendizagens, e isso lida bem com a desigualdade educacional. Um menino de classe média e alta, se ele vai mal na escola, o pai contrata um professor particular. Uma criança ou jovem de meio vulnerável não tem esse recurso. Ou a escola resolve o seu problema, monitora a aprendizagem e resolve a insuficiência de aprendizagem, ou esse menino vai abandonar os estudos. Por isso é importante haver avaliações diagnósticas constantes, para saber exatamente o que cada aluno não está aprendendo. E ter um tempo dentro da escola - mais um motivo para ter tempo integral - para que o aluno tenha o apoio necessário para recompor aquele aprendizado que ele não conseguiu ter.

Para a recuperação da aprendizagem (que funciona no formato de reforço escolar), é preciso ter informações sobre o que cada aluno não aprendeu. Da mesma maneira que nós da educação criticamos muito o negacionismo científico em saúde, por vezes nós educadores não trabalhamos com dados também. A gente precisa ter, e hoje a tecnologia pode ser um apoio para isso, dados sobre a aprendizagem de cada aluno. Não basta saber que ele não está indo bem. O que ele não entendeu? Ele não entendeu porcentagem porque ele não entendeu fração? Então vamos voltar a ensinar fração para esse aluno.

A escola tem que ter uma saída para esse aluno que não aprende, não no fim do ano no conselho de classe, durante o ano quando ainda dá para recuperar. Porque de fato a reprovação causa um desperdício [do aluno, que tem maior tendência para evadir], mas passar para frente sem aprender também não resolve o problema. Então não é nem aprovar sem que o aluno aprenda, nem reprovar como medida punitiva. Mais um motivo para pensar em jornada escolar estendida.

Você mencionou sobre a busca ativa, as escolas já estão fazendo isso?

Começou a ser feito logo depois da pandemia, eu me lembro bem da busca ativa que o Espírito Santo fez, que foi exemplar. É verdade que é um estado pequeno, mas mais recentemente o Pará fez isso, e é um estado bem mais complexo, porque a busca ativa passa por atravessar rios, garantir que todo aluno permaneça na escola. Agora, não basta trazer o aluno, é importante que o aluno seja bem vindo e acolhido na escola.

Há ainda o fato de que a parcela da população brasileira com idade para trabalhar estar chegando no auge, período chamado de “bônus demográfico”. Se não aproveitarmos para reverter a situação dos “nem-nem” neste momento, pode trazer consequências não só para a população jovem, como também para os mais velhos, em idade para se aposentar?

Nós estamos tendo cada vez menos crianças nascendo. Há um desafio de aumentar a produtividade do trabalho em tempos em que postos de trabalho serão extintos. Pesquisadores da Universidade de Oxford falam que até 2030, 3 bilhões de postos de trabalho vão ser extintos. Lógico que outros postos vão ser criados, mas eles vão demandar competências muito mais complexas. Então, nós temos que melhorar a produtividade do trabalho.

Mas ao ter menos gente, também temos uma oportunidade, porque se nascem cada vez menos crianças, cria-se um espaço nas escolas para as escolas terem tempo integral. Não precisa dobrar o número de escolas para colocar todo mundo em tempo integral e podemos aproveitar os espaços ociosos. Então, de fato, tem uma ameaça, mas tem também uma oportunidade a ser aproveitada.

Já em relação ao investimento em educação, entre 2015 e 2021 o País, no geral, reduziu os gastos, diferente do que fizeram os países da OCDE. O País precisa andar na direção contrária, como fez com a etapa do ensino infantil?

O Brasil expandiu a rede de educação infantil de uma maneira importante, inclusive por ter tornado obrigatória a escolaridade a partir dos 4 (anos), mesmo que não tenha, de fato, universalizado [as crianças com] 4 e 5 [anos], mas avançou. Eu acho importante investir em educação infantil. O próprio Reckman, o [que ganhou o] prêmio Nobel de Economia, mostra que a educação infantil é o investimento que dá mais retorno em termos de resultados de vida no futuro.

Porém, o País não lidou com a questão essencial, que é a atratividade da carreira de professor. O país paga cerca da metade do que a OCDE paga para os professores. E mais do que isso, com esse negócio da escola sem tempo integral, os professores, especialmente no fundamental 2 e no médio, tem que muitas vezes dar aula em três escolas diferentes para completar a carga horária de 40 horas. O Brasil gasta mal em educação e gasta pouco. Gasta pouco porque não remunera o professor como deveria ser e gasta mal porque não contrata os professores para 40 horas em uma única escola, que é uma solução que a gente poderia construir a partir de escolas em tempo integral.

E a outra parte que se conecta com isso é que nós temos um número insuficiente de professores. Muitas vezes, secretários de Fazenda, governadores, ou prefeitos, não autorizam preencher as vagas que estão faltando de professores que se aposentam. E a aposentadoria de docentes no Brasil tende a ser mais cedo do que em outros países. Então, parte do problema é professores insuficientes e professores contratados para cargas horárias fragmentadas e salários baixos. Não adianta construir prédios sofisticados para mostrar em campanhas eleitorais, se não há professor preparado com salário atraente em cada sala de aula. É um problema que nós temos que levar mais a sério.

E como gastar esse dinheiro de forma mais eficiente?

Algumas coisas que nós já fizemos, ou pelo menos começamos a fazer, que é ter um currículo nacional [a BNCC]. Nenhum desses países da OCDE atuava sem currículo. A outra coisa para gastar melhor em educação é colocar ter um percentual do currículo associado às áreas de leitura, literatura e matemática. É importante desenvolver as competências básicas para ler boa literatura e ter salas de leitura, inclusive, com livros de boa literatura e despertar a paixão pela leitura nos jovens. E fazê-los escrever bem e ter raciocínio matemático. Não é que não se deve prestar atenção em outras disciplinas, mas a carga de matemática, principalmente no Brasil, é baixíssima. A leitura também.

E precisamos dotar as escolas de laboratórios. Não é laboratório de informática para experimento científico. A gente aprende pela experimentação. Você tem que investir na conectividade das escolas. A gente está muito aquém do que deveríamos estar em conectividade para atender a aprendizagem dos alunos. A gente tem conexão nas escolas para questões administrativas. Mas tem uma conexão insuficiente, equipamento insuficiente para usar isso no processo de ensino. E olhar para a questão da inclusão das crianças cegas, com audiolivros e livros em braile.

Por fim, gastar dinheiro no que interessa, que é o professor. Garantir que ele tenha momentos de aprendizagem dentro da escola, ter reuniões com seus pares, analisar o processo de ensino, olhar para os dados de aprendizagem e pagar melhor os professores.

A valorização do professor também tem relação com diminuir a carga horária dele? Porque o relatório da OCDE também mostra que no Brasil a carga horária do professor é cerca de 100 horas anuais a mais do que a média dos países desenvolvidos.

O que acontece aqui no Brasil é que nós computamos na carga horária esse um terço de tempo de atividades extra-classe e isso não dá certo. E nós temos poucas horas de aula, mas o professor indo para diferentes escolas. Nós temos mais dias de aula do que muitos países. Vários países estão com 180 dias de aula. No Brasil são 200. A gente perdeu uma chance, na hora que fizemos essa mudança, de aumentar as horas de aula. Porque o mais importante é a escola ensinar o aluno a pensar, não a decorar. A pensar historicamente, cientificamente, matematicamente. E isso não se ensina com uma aula de 45 minutos. Tinha que ser muito mais uma educação “mão na massa”, com aulas mais dialogadas, com mais uso de laboratório para que o aluno possa aprender melhor. Então, não é o problema do número de horas que cada professor trabalha, é o como ele trabalha na sua escola.

Tudo Sobre
Entrevista por Isabela Moya

Repórter de Educação no Estadão, já escreveu também sobre Saúde na Agência Estado. Formada em Jornalismo pela UFSC, pós-graduanda em Política e Relações Internacionais pela FESP-SP e especializada em Jornalismo Econômico pela FGV.

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