Mães e pais brasileiros que moram no exterior disseram que não tiveram dúvidas sobre mandar seus filhos para a escola quando o governo determinou a retomada. “Confio no governo, nos dados. Não tive a menor questão com isso, mandei na hora pra escola”, conta a arquiteta Ana Sangirardi Harstall, de 46 anos, que mora em Nuremberg, na Alemanha.
Na semana passada, os três filhos entraram em férias, mas a escola havia sido reaberta em maio para as duas meninas, de 6 e 10 anos, que estavam em fim de ciclo escolar. Para o mais velho, de 14 anos, o retorno foi só em junho.
Ela conta que os alunos alternavam semanas em casa e na escola, mas não precisavam usar máscaras na aulas. “A professora gritava ‘corona’ quando as crianças tentavam se abraçar”, conta. “Mas foi tranquilo, elas foram se acostumando e não soubemos de ninguém infectado.” A Alemanha tem atualmente cerca de 200 mil casos e 9 mil mortes; recentemente voltou a ter aumento de casos.
A administradora brasileira Marina dos Prazeres, de 37 anos, também viu com naturalidade a volta às aulas em junho, em Brisbane, na Austrália. O Estado onde mora tem só seis mortes por causa do coronavírus, mas o país registrou em julho aumento no número de casos diários. A cidade de Melbourne voltou a ter lockdown.
Seus três filhos, de 2, 5 e 8 anos, não precisaram usar máscaras na classe, mas cada turma passou a chegar em um horário diferente para não haver aglomeração e mesas foram separadas. “As crianças estavam tão felizes de estar de volta, que nem sentiram”, conta. “Tudo aqui foi muito bem feito e todo mundo respeita.
Em Israel, as escolas ficaram fechadas só de março a maio e, quando reabriram, houve grande aumento de casos. A brasileira Michele Teitelbaum, de 43 anos, diz que os três filhos adolescentes tiveram as férias de verão adiantadas para começo de junho por causa disso e continuam sem aulas.
Ela acredita que as escolas acabaram reabrindo por pressão econômica. Michele é dona de uma creche e viu que os pais deixaram de pagar mensalidades depois do fechamento. O governo, no entanto, permitiu que as escolas de educação infantil não parassem novamente. “Mas é tudo muito incerto, faço compras para a escola de três em três dias para as coisas não estragarem, acho que pode mudar tudo de repente”, diz Michele.
Bolhas
Em Londres, onde mora o arquiteto Mateus Pereira, de 39 anos, a creche do filho voltou a funcionar no fim de junho. Ele conta que a escola organizou um esquema de “bolhas” em que cada criança fica restrita a um pequeno grupo e com uma só cuidadora. “Ele comentou que queria brincar com um amigo e não podia, mas nada muito traumático”, conta. Os pais também tiveram de se organizar para entregar os filhos um por um e sem entrar na instituição.
Com base em experiências do exterior, procedimentos parecidos estão sendo pensados por escolas brasileiras. O Porto Seguro, assim como outros colégios particulares de elite, recebeu consultoria do Hospital Albert Einstein e também fará as “bolhas”. “O conceito é o de que ampliamos só um pouco o isolamento nessa primeira etapa”, diz a diretora Silmara Casadei.
A aluna do colégio Allegra Guardiano, de 12 anos, apesar de saber que não vai mais haver trabalho em dupla ou papo na fila da cantina, não se preocupa muito com as mudanças “Eu quero voltar, a gente já perdeu um semestre inteiro.” A mãe Letícia Barlati, socióloga, diz que está cada vez mais difícil administrar os três filhos em casa e defende o retorno, quando a governo autorizar e houver segurança. “Apesar de não saber como eles vão lidar com a questão do distanciamento na escola, o lado emocional, por estarem muito tempo longe dos amigos, está preocupante.”
O brasileiro Rinaldo Bastos, de 51 anos, que mora na Flórida, nos Estados Unidos, diz algo parecido. A filha, de 16 anos, engordou cinco quilos na quarentena porque come alimentos menos saudáveis e deixou de fazer os treinos de natação. Na semana passada, ele foi avisado que ela voltará às aulas no dia 21. A cidade fez uma votação e os pais podiam escolher se queriam que os filhos retornassem à escola totalmente presencial, híbrida ou que se mantivessem a distância. Bastos escolheu a primeira opção. “Ela precisa sair de casa.”
O país é o mais afetado pelo coronavírus no mundo, com 153 mil mortes. A Flórida registrou em julho o maior número de casos por dia em um Estado americano, 15 mil, mas está flexibilizando todas as atividades, motivo de polêmica nos EUA.
No vizinho Canadá, com situação bem mais controlada e 8 mil mortos até agora, Estados estão sendo mais cautelosos. “Ainda estamos esperando a definição se será um modelo híbrido, online ou presencial em setembro”, diz a engenheira brasileira Ana Paula Borelli Leão, de 42 anos, que mora em Toronto. Ela conta que, apesar do medo, enviaria o filho Bento, de 6 anos, para a escola se ela for reaberta. “Está em fase de alfabetização e o online não funcionou muito para ele.”
Economia
No Colégio Dante, as turmas de crianças mais novas e os do último ano do ensino médio serão as primeiras a retornar, como muitos países também fizeram. “Eu sou otimista, acho que temos condição de terminar o ano de maneira muito interessante”, diz a diretora Valdenice Minatel. “Qualquer dia que tivemos no presencial com esses alunos, vamos aproveitar”.
Outra preocupação de muitas escolas é econômica. Segundo estimativa da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), 90% dos contratos para crianças de 0 a 3 anos foram rompidos. A matrícula só é obrigatória no Brasil acima de 4 anos de idade.
Segundo o Estadão mostrou, por outro lado, o fato de muitas mães terem voltado a trabalhar com a flexibilização, fez surgir creches improvisadas e irregulares em São Paulo. “Não faz sentido abrir shoppings, restaurantes, bares, escritórios e a escola, não”, diz o presidente da Fenep, Ademar Batista.